Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 14
"Lanchinho"


Notas iniciais do capítulo

Voltamos a enxergar as coisas da perspectiva de Sam.
Parte porque eu adoraria ver a reação dela as atitudes de Adam em frente à sua mãe.
Ainda não sei como vai funcionar esse revezamento de narrativas, mas vou pensar um pouco, de modo que se torne organizado.
É isso, boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/633748/chapter/14

Em algum momento, talvez em uma vida passada, eu devo ter colado chiclete na cruz. Não era possível existir pessoa mais arrogante que Adam Carter. E que merda era aquela de lanchinho? Eu tinha que conversar seriamente com minha mãe.

"Então, Adam..." ela começou assim que sentou à mesa. Tinha preparado uma mesa de café regrada, desde ovos à suco de fruta natural, coisa que ela não fazia quando apenas eu chegava da escola."Desde quando você e Sam são amigos?"

"Nós não somos amigos." falei entre dentes.

Eu ainda não tinha perdoado Adam. Aquela história de 'você é diferente' não tinha me convencido nem um pouco. Todos diziam aquilo em algum momento e eu estava cansada de repetições, até porque, errar é aceitável, persistir no erro é inadmissível.

Adam lançou-me um olhar divertido antes se virar para minha mãe.

"Não exatamente, estamos nos conhecendo. " ele disse num tom descontraído, pegando uma xícara de café e se servindo de um gole. Torci o nariz involuntariamente. Eu não conseguia gostar daquele líquido marrom que todos afirmavam serem viciados. Para mim, era amargo e eu odiava bebidas quentes.

"Achei estranho. Não vejo nenhum outro garoto com Sam além de Nate." ela abriu um pequeno sorriso. Odiava quando as pessoas falavam de mim como se não estivessem em minha presença. Eu estou ouvindo sabia?

"Mãe!" a adverti sentindo minhas bochechas corarem. Não, por favor, não digam que estou sendo constrangida na frente de Adam. Logo na frente dele.

"O que foi, querida?" ela me olhou repentinamente surpresa.

"Não é nada." falei baixando o olhar e me servindo de um copo de suco. Adam estava sentado ao meu lado e poderia ver pelo canto dos olhos seu sorriso idiota enquanto me fitava.

"Eu estou perguntando porque ela nunca havia falado sobre você, e depois você aparece a trazendo da festa e agora estavam conversando." seu tom era inocente, mas eu sabia muito bem aonde ela queria chegar. Lancei um olhar fulminante em sua direção. Adam também pareceu graça, mas logo retomou sua postura.

"Bom, no dia da festa foi um acidente, já nos acertamos acerca daquilo, não é Sam?" ele diz Sam de forma tão carinhosa que fico espantada e apenas assinto com a cabeça. "E hoje, vim falar sobre um trabalho escolar." não tinha ideia de onde ele havia tirado aquilo, mas o agradeci mentalmente.

Eu odiava mentir, pois eu era uma péssima mentirosa e acabava sempre sendo desmascarada. A mentira saia tão fácil e de forma familiar dos lábios de Adam que por um instante cheguei a pensar que era realmente verdade. Esperava que aquilo não fosse um hábito.

"Pensei que você fosse do terceiro ano." perguntei-me subitamente como ela sabia daquilo. Ah, claro! O pai dele era o namorado de minha mãe. Às vezes eu me esquecia acerca desse pequeno detalhe.

"É um trabalho para o ensino médio todo." ele deu de ombros comendo uma colherada da salada. Tive que explicar para minha mãe que Adam não comia coisas como presunto ou bacon, então ela havia preparado uma salada de frutas especialmente para ele. Um amor, né?

Depois de alguns minutos de silêncio, até então de alivio para mim, minha mãe tentou recomeçar a conversa.

"Adam?" ele ergueu as sobrancelhas e olhou para ela. "Você não se importa que eu e seu pai... Bem..."

"Isso não é da minha conta." ele a cortou no ato, e vi o rosto de minha mãe ficar completamente vermelho. "Não foi minha intenção, mas por favor, não vamos falar sobre meu pai." seu tom era controlado e imaginei o que Antony teria feito para deixar Adam tão ressentido. Mas me aproveitando de suas palavras, não era da minha conta.

"Tudo bem." ela respondeu num tom mais baixo. Alguns segundos constrangedores se passaram, até que Adam olhou em minha direção.

"Podemos conversar sobre o trabalho, Samanta?" ele se levantou.

"Vamos lá pra cima." fiz o mesmo e o guiei pela casa até meu quarto.

Não tinha a intenção de levá-lo até lá, mas imaginei que minha mãe ficaria à espreita se ficássemos na sala, e no meu quarto, seus passos na escada a entregariam imediatamente. Fiquei constrangida quando ele passou pelo batente da porta.

Meu quarto era constantemente organizado. Liz costumava dizer que eu tinha TOC ou mania de limpeza, mas era tão ruim gostar das coisas em seus devidos e respectivos lugares?

As paredes de meu quarto eram azuis, minha cor favorita. Nas paredes, desenhos feitos por Liz, como corujas e frases que tinham importante significado para mim. Os móveis brancos davam um contraste interessante. Era pequeno, mas tinha tudo o que eu precisava e era mais do que suficiente. Adam se aproximou da estante de livros e correu os dedos pelos inúmeros títulos, da mesma forma que eu teria feito no apartamento de seu pai.

Até que ele se virou em minha direção. Estava prendendo seu piercing entre os dentes, o que interpretei como uma mania, já que havia perdido as contas de quantas vezes tinha o visto repetir aquele gesto.

"Então estou desculpado?" sua expressão, lábios franzidos e um olhar quase suplicante, me fizeram abrir um pequeno sorriso. Ele ficava estranhamente fofo quando fazia aquilo, mas não disse aquilo em voz alta. Adam poderia ser qualquer coisa, mas fofo não parecia o adjetivo mais adequado para descrevê-lo.

"Ainda não sei se posso confiar em você, Adam." sentei-me na beirada de minha cama e sem que eu lhe desse permissão, ele fez o mesmo. "Não acredito que você pisou com essas botas em meu tapete!" exclamei indignada.

"O quê?" ele perguntou se fazendo de desentendido enquanto repetia o gesto, esfregando o solado contra meu tapete branco.

"Adam!" dei-lhe um empurrão no ombro, e ele parou, caindo na gargalhada. "Você às vezes é tão idiota." revirei os olhos impaciente, mas deixei escapar uma risadinha.

"Você diz isso como se fosse uma coisa ruim." aquele sorriso arrogante estava ali de novo, e ele me irritava profundamente.

"Só queria que pudéssemos nos dar bem sempre, como naquele dia do boliche." deixei escapar, e assim que as palavras saíram, quis recolhe-las no mesmo momento.

"Eu me diverti aquele dia, Sam." o olhei cética. "É sério! Você é engraçada sem ser forçada, é espontâneo, eu gosto disso."

"São as famosas aulas de teatro."

"Ah, claro." ele deu um tapa na própria testa. "Como pude me esquecer disso?" ele riu e eu o acompanhei.

"Uma segunda chance?" ele concordou com a cabeça. "E se você for um idiota novamente eu tenho o direito de esfregar seu rosto no asfalto quente?" ele riu, mas repetiu o gesto anterior. "Tudo bem então."

"Você não liga de ser vista comigo?" ele parecia verdadeiramente curioso.

"Por quê eu ligaria?" encostei as costas na cabeceira da cama e cruzei os braços. Adam se ajeitou melhor, quase deitando-se sobre minha cama, perfeitamente à vontade.

Algumas pessoas tinham bom senso, Adam tinha cara de pau. Ele apoiou o queixo em uma das mãos, enquanto seu cotovelo estava apoiado sobre o colchão.

"Ah, por favor! Olha pra mim, Samanta." ele apontou para si mesmo. Fiz o que ele pediu e ergui a sobrancelha, incentivando-o a continuar. "Acha que se sua mãe não estivesse namorando meu pai, ela gostaria que você tivesse amizade com alguém como eu? As pessoas são preconceituosas, eu sempre soube disso."

"As pessoas só não sabem lidar com o que é diferente, porque isso as assusta. Mas você não deve deixar de você mesmo por causa delas." nunca imaginei que Adam se importasse com isso. Ele parecia ser o tipo de pessoa que não ligava para nada do que os outros pensassem. É, as pessoas são mesmo pré-conceituosas. Eu mesma havia sido.

"Obrigado, Sam." seu sorriso parecia genuíno e eu tive que retribuir. "Eu tenho que ir." fiquei o olhando sem saber o que fazer. Deveria abraçá-lo? Estender minha mão? Até que ele se sentou, inclinou-se e deu um beijo rápido em minha bochecha. "Até amanhã."

Amanhã ? Será que ele falaria comigo na aula? Me daria outro beijo como esse? Minha mãe tinha razão, além de Nate, e ocasionalmente Will, eu não tinha amizade com outros garotos.

Eu havia explicado resumidamente o dia do boliche para Liz e para Nate, mas como eles reagiriam se Adam falasse comigo amanhã depois daquela cena no corredor? E ainda havia Jasmine...

Minha cabeça estava girando sem parar, uma pergunta atrás de outra, quando acenei para Adam e ele desceu às escadas, gritando um agradecimento para minha mãe e saindo em disparada de minha casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Um beijo, um queijo e até o próximo!

Tchau!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Até o Fim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.