Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 11
Boliche


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)
Esse capítulo ficou um pouco maior do que os outros... Espero que gostem!



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“Está atrasado.” comentei assim que me sentei no banco do carona.

Adam estava com a camiseta de uma banda de rock que eu desconhecia, o cabelo penteado naquele topete usual e um sorriso discreto nos lábios. Seu jeans era claro e estava usando seu habitual All-Star preto.

Eu havia ficado preocupada com o que vestiria. Não sabia para onde Adam me levaria e isso não facilitava muito as coisas. Acabei optando por uma calça jeans escura, uma camiseta branca soltinha e meu par de sapatilhas mais confortável. Tinha deixado meus cabelos soltos e passado um pouco de delineador em volta dos olhos, os destacando.

“Foram apenas dez minutos. Se vamos ser amigos, a primeira coisa que deve saber sobre mim é que não sou pontual.” ele deu de ombros e ligou o carro, pisando levemente sobre o acelerador.

“Podemos dizer que temos um ponto em comum.”

“Na verdade, dois.” ele observou.

“Como?” ergui a sobrancelha, sabendo que ele me observava pelo canto dos olhos.

“O gosto pelos mesmos livros.”

“Tinha me esquecido disso.” abri um sorriso e ele fez o mesmo. “Pra onde vamos?”

“Eu estava pensando nisso no caminho para cá.” ele segurou o piercing entre os dentes e apoiou um dos braços sobre a janela aberta. “Gosta de boliche?”

“Pra ser sincera, eu nunca joguei.”

“Sério?” ele me olhou surpreso e concordei com um aceno de cabeça. “Então, vamos testar sua sorte de principiante.”

Ao chegarmos, Adam foi me guiando dentre as lojas do shopping, até chegarmos a uma, ao fundo.

Havia algumas pessoas reunidas, algumas em duplas, outras em grupos maiores.

Eu já havia visto uma pista de boliche e tinha uma breve noção de como se jogava e objetivo do jogo. Mas posso te garantir que a teoria é bem melhor que a prática.

Na minha primeira jogada, não consegui derrubar um único pino. Adam tentava me ajudar, me mostrando os movimentos, a forma de colocar os pés e a velocidade que eu deveria jogar a bola. De nada adiantou.

Após cinco lances, Adam tinha um turkey e dois spare, e eu, bom, tinha conseguido derrubar dois pinos.

“Sam, venha aqui!” ele me chamou, gesticulando em sua direção.

“O que?” estava chateada. Tinha o direito, certo?

“Desmancha esse bico e presta atenção.” Ele me deu uma bola e segurou uma das minhas mãos. “Segura assim!” ele a posicionou de forma correta e colocou uma mão sobre minha cintura, me conduzindo até a pista. “Tente focar o máximo que puder.” queria dizer que era impossível focar em alguma coisa além de suas mãos apertando de leve minha cintura. “Não coloca força demais. Aqui.” Ele abaixou meu braço e colocou as mãos sobre meus ombros, uma de cada lado. “Joga!” e fiz o que ele pediu.

Mordi o lábio, ansiosa e soltei um ruído de frustração ao ver que três pinos permaneciam de pé.

“Ah, você foi bem.” ele disse tentando me animar.

“Melhor que nas outras jogadas, você quis dizer.” o olhei cética.

“Isso é verdade!” ele riu.

Arfei e resolvi me sentar. Nos minutos seguintes, fiquei observando Adam jogar. Ele era bom.

“Desistiu?” ele me olhou depois de alguns lances.

“Definitivamente, boliche não é para mim.”

“O que é para você então?” ele se sentou ao meu lado e roubou um dos meus alcaçuzes de minhas mãos. Estreitei os olhos em sua direção enquanto ele sorriu de lado e o colocou na boca.

“Eu jogava basquete quando era mais nova.”

“Basquete?” ele arqueou as sobrancelhas. “Com essa altura?”

“Eu era uma das mais altas da minha idade, tá legal?” falei num tom irritado.

“Claro, claro.” ele ergueu as mãos como se estivesse se rendendo. “E por que parou de jogar?”

“Vai começar com as perguntas indiscretas?”

“Se me responder uma, te dou o direito de me fazer uma.” deu de ombros.

Suspirei baixinho enquanto ele continuava me fitando.

“Bom, o primeiro fato, como você fez questão de observar, foi devido à altura.” ele assentiu com a cabeça, me incentivando a falar mais. “E era algo que eu fazia com meu pai, depois que eles se separaram e ele se mudou, não fazia muito sentido fazer aquilo sem ele, entende?”

“Entendo.” ele fez uma careta e desviou o olhar para pista.

“Pois é.” falei baixinho.

Sempre admiti para todos e para mim mesma que a separação dos meus pais não tinha me afetado em nada. Mas a partir daquele momento, vi que não era inteiramente verdade.

“O que vai fazer quando terminar o colegial?” ele esticou o braço sobre o banco. Tentei ficar impassível diante disso, como ele, mas senti meu rosto corar sem minha permissão.

“Pensei que fosse minha vez de fazer perguntas.” falei num tom brincalhão.

“Tudo bem. O que você quer saber?” seu tom era de desafio. Mas realmente era um. O que eu queria saber sobre Adam?

“Qual seu livro favorito?” me virei pra ele colocando as mãos cruzadas sobre minhas pernas.

“Foi o melhor em que conseguiu pensar?” ele riu e eu abri um sorriso tímido. “Eu não sei.” Ele deu de ombros. “Se tivesse que escolher um seria O Alienista. E o seu?” ele levou a mão até meu rosto e afastou uma mecha de cabelo para trás de minha orelha. O gesto pareceu tão natural para ele que fingi que nem tinha acontecido.

“Eu não consigo eleger apenas um.” suspirei. “O apanhador no campo de centeio e As Vantagens de Ser Invisível, eu acho. Mas também gosto de Alienista. Só não leio muito literatura brasileira.”

“Eu nunca li o último. Esse das vantagens.” ele gesticulou.

“Eu gosto, particularmente.” dei de ombros. “Consigo me identificar, ou conseguia na época em que eu o li, com o personagem principal.”

“Vou colocá-lo na lista então.” ele riu e fiquei me perguntando se estava zombando de mim ou se realmente tinha uma lista. Se tivesse, seria outro ponto que teríamos em comum. “Está com fome?” balancei a cabeça em concordância e ele se levantou, me estendendo a mão para que eu fizesse o mesmo.

Fomos andando em silêncio até a lanchonete, até que Adam passou um dos braços sobre meu ombro. Instintivamente, envolvi sua cintura com meu braço, mas lancei um olhar questionador para ele.

“Não gosto como esses caras ficam te olhando.” olhei em volta e vi um grupinho de rapazes. O do meio me dirigiu um sorriso e achei melhor desviar o olhar.

Nós sentamos em uma das últimas mesas de uma lanchonete conhecida e logo uma garçonete veio nos oferecer um cardápio. Eu optei por um hambúrguer com fritas e refrigerante, e Adam pediu um sanduíche natural e um copo de suco.

“Eu não como carne.” ele disse com o tom de explicação.

“Ah, sim.”

“E então, você ainda não me respondeu. Vai fazer o que quando terminar o colégio?” ele apoiou o queixo sobre uma das mãos e me encarou. Seus cílios eram longos e seus olhos mel me hipnotizavam. Tive que piscar algumas vezes antes de respondê-lo. Será que ele percebia o efeito que causava em mim?

“Eu não tenho ideia.” fiz uma careta e peguei o ketchup sobre a mesa. “Fico dividida entre o que quero fazer e o que esperam que eu faça.”

“Bom, não deixe as pessoas decidirem o que você tem que fazer, faça o que você quer fazer.”

O olhei agradecida. Não quis dar muitos detalhes sobre as preferências de curso de meus pais e as minhas. Adam parecia não se importar. Em menos de um ano seria um universitário e parecia saber muito bem o que queria.

“Eu ainda estou em dúvida. Pensei na área de Letras ou Jornalismo, talvez. Mas sou boa com cálculos e cada um me dá uma opinião diferente. Fico perdida. Seu pai até me deu alguns conselhos.”

“Meu pai dando conselhos?” ele perguntou com desdém.

“Eu os achei bem úteis.” não sabia qual o problema entre eles e achei melhor não me envolver. “E você?”

“Eu acho que cinema.”

“Sério?” arqueei as sobrancelhas.

“É.” Ele riu. “Sempre gostei de estar nos bastidores ou algo assim. Atrás da lente de uma câmera. Eu fiz fotografia há alguns anos. Mas ninguém sabe disso, então se contar, serei obrigado a acabar com você.” ele disse num tom de falsa ameaça, mas estava sorrindo no momento. E ele ficava lindo quando sorria.

***

“Pronta pra ir embora?” ele se levantou e me olhou por um instante.

“Só vou ao banheiro rapidinho.” ele assentiu enquanto eu me levantava, mas depois sua expressão mudou completamente e ele simplesmente me puxou pelo braço, me arrastando dali.

“Tá me machucando Adam! Me solta!” me livrei de seu aperto e o encarei. “Qual o problema?” tentei controlar meu tom, mas era bem visível que eu estava com raiva. “Fala logo!”. Ignorei os olhares e caminhei atrás de Adam que continuava seguindo em direção ao estacionamento. Agarrei-o pelo pulso e esperei até que ele se virasse em minha direção.

“Ah, Alex e os garotos tinham entrado na lanchonete e não queria que eles nos incomodassem.” ele parecia desconfortável enquanto passava a mão pelos cabelos. Então entendi o porquê de sua reação.

“Estava com medo de seus amigos te verem com alguém como eu? Estava com vergonha?” meu tom saiu mais magoado do que eu pretendia.

Era óbvio. Adam e eu não tínhamos nada em comum, além de alguns interesses literários. Isso não bastava. Pertencíamos a grupos completamente diferentes.

“O quê?” ele parecia chocado por eu ter chegado a essa conclusão. “É claro que não, Sam!”

“Então por que sair daquela maneira?” já sentia meus olhos ficarem embaçados. Eu não ia chorar! Não na frente dele!

“E-eu... Eu não sei.” ele disse baixinho fitando o chão a seus pés.

“Mas eu sei, Adam!” me virei e sai andando. Naquele momento percebi que alguns pingos de chuva começavam a cair. Decidi ignorar e comecei a caminhar mais rápido.

“Samanta! Espera!” Adam vinha correndo atrás de mim. “Droga! Não consigo acertar uma vez.” ele parecia reclamar consigo mesmo. “Sam, por favor!” seu tom era suplicante e eu tive que reunir toda minha força de vontade para não me virar.

Desde quando eu ficava tão emotiva perto de um garoto? Eu não era do tipo de garota temperamental. Bom, eu também não era o tipo de garota com quem Adam costumava andar, e ele pareceu perceber isso.

“Me deixa em paz!” gritei andando mais rápido. Já estava vendo a placa de saída, quando senti um puxão. A chuva estava mais forte dessa vez

“Me desculpa!” ele ficou na minha frente.

“Sai daqui, Adam.” Tentei desviar dele, mas ele me impediu, me segurando.

“Eu fui um idiota, eu sei. Mas eu não tenho vergonha de ser seu amigo.” Por algum motivo, a palavra amigo me atingiu. Mas não havia motivos pra isso. Éramos apenas amigos. Ou bom, estávamos tentando ser. “Você que deveria ter vergonha de andar com um cara como eu.”

“Não venha querer inverter a história.” meu cabelo molhado já caia no meu rosto e Adam os afastou com a mão. Estremeci levemente com o seu toque. Sua mão estava fria.

“Vamos conversar em outro lugar.” ele me puxou pela mão.

“Não.” soltei-me dele. “Volte pros seus amigos.” voltei correndo para a parte coberta da lanchonete e acabei escorregando no piso molhado. Me segurei na jaqueta de um garoto, evitando uma queda feia. Adam não tinha me seguido e parecia ter seguido meu conselho, de voltar para a lanchonete. Quando o garoto se virou, vi que na verdade era Peter e alguns de seus amigos da escola. Todos do segundo ano.

“Por que só nos encontramos assim?” ele riu e me segurou pelos ombros me ajudando a se equilibrar. “Ei, Sam!” ele notou minha expressão e tocou meu rosto de leve. “Está tudo bem?”

“Você pode me levar pra casa?” falei com a voz embargada evitando seus olhos.

“Claro. O carro está logo ali. Eu já volto!” ele disse para os demais e me guiou até lá. Me sentei em silêncio, recusando qualquer tentativa de Peter de fazer eu contar o que tinha acontecido. Ele começou a puxar assunto e resolvi ser educada. Tinha que focar em outra coisa. Adam era um babaca e nunca poderíamos ser amigos. E eu não cairia tão facilmente em suas desculpas outra vez.


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Notas finais do capítulo

Estão gostando?
Eu recebi o toque de uma leitora e concordei muito com ela ao reler a história.
Estou descrevendo muito o Adam, fisicamente, e esquecendo dos outros personagens. Cadê a descrição da Sam? Então vou reescrever alguns capítulos, adicionando essas características e também vou ficar evitando muitas ações repetidas. Parece até que estamos jogando RPG aqui!
Então é isso!



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