Faziam dias e mais dias desde o evento desagradável que ocorreu naquela noite de setembro. Eu tinha certeza de que eu estava sendo dramático demais, mas qual adolescente não é dramático, não é, vovô? Eu tenho certeza que você me entende.

Eu não compartilhei com ninguém meu drama. Mantive para mim mesmo e fingi que nada demais ocorreu naquela noite e, realmente, nada demais aconteceu né? Só o meu irmão pegou a minha talvez futura namorada, fora isso, tudo certo.

Ok. Desculpe, vô. Sei que está cansado de ler sobre minhas reclamações, mas é que eu realmente preciso contar isso para alguém e esse alguém é você; meu melhor amigo.

Bem, mesmo com todos esses acontecimentos e meus dramas particulares, Lorenza continuou conversando comigo e me agradecia todo o momento por ter levado-a na festa.

Isso acaba se tornando engraçado… Na primeira vez que a conheci, ela mesmo disse que não gostava de pessoas perfeitas, mas agora parecia encantada pelo meu irmão. Será que meu irmão fez pacto ou mexe com magia negra e essas coisas? As vezes acho que a resposta é sim.

Eu tentei ao máximo parar de pensar naquela garota e no meu irmão. Eu consegui por algum tempo, mas em uma noite gelada de setembro, meu pai adentrou meu quarto com um grande sorriso no rosto.

— Ei, filhão, você está bem? Nem me perguntou como foi a viagem… — disse ele, sentando-se em minha cama.

Como você sabe, vovô, seu filho é um grande advogado. Viaja toda hora para todo o lugar.

— Ah, desculpa — dei de ombros e observei seu semblante relaxado.

Meu pai é realmente alto, assim como eu, e sua aparência é deveras… estranha? É, acho que sim. Ele não é uma pessoa muito atraente… Desculpa vovô, mas você não fez um filho muito bonito. Bem, no fim das contas, parece que eu puxei a ele, não é?

— Tem algo acontecendo, Brandon? Algo que queira me contar? — papai sabia como ser um excelente pai, sempre me dando apoio e me colocando para cima, assim como você, vô.

— Acha que algum dia eu vou ser como o James? Quer dizer… ter todas essas qualidades e dar algum orgulho pra mamãe, sabe… — comentei, pensativo e melancólico demais.

Noites geladas e solitárias me deixavam como uma garotinha de treze anos.

— Brandon… — meu pai suspirou pesadamente. — Quando você vai parar de colocar seu irmão em um trono de ouro? Brandon, você tem tantas qualidades quanto seu irmão, mas você fala seus defeitos para todo o mundo te ouvir, isso faz com que as pessoas procurem e enxerguem apenas os seus defeitos. Eu não gosto quando você faz isso filho — John Winter sorriu e afagou meus cabelos, como fazia quando eu era criança.

— Você está certo, pai. Eu posso ser tão bom quanto James… é claro que posso — comentei, com confiança.

Mas é claro que na pratica é diferente. Talvez eu tivesse sim muitas qualidades, afinal, eu era ótimo em comer e beber… mas creio que isso não conta como um bom adjetivo.

— É claro que pode! Veja só… Você escreve muito bem, filho, e tem uma criatividade muito grande. Isso tudo é algo que seu irmão não teria nem com anos de prática! — papai gargalhou e saiu do quarto, me desejando uma boa noite.

Era fato que eu adorava escrever. Quando criança escrevia vários contos, mas meu irmão colocou fogo em todos eles com seus amigos babacas, tudo porque eu havia o acordado muito cedo.

James sempre foi a melhor coisa para todos e a pior para mim.

—

— Eu não acredito que você fez isso! — exclamou Lorenza, sorrindo lindamente.

— Sim, eu fiz. Aquele foi o dia em que eu tive maior coragem, mas não adiantou de muita coisa… Depois de colocar tinta e cola no shampoo do meu irmão, minha mãe descobriu e me deixou trancado no quarto por três semanas — comentei, vendo-a gargalhar.

Estávamos na praça, conversando sobre nossas infâncias e sonhos. Descobri que Lorenza deseja cursar economia, mas o pai quer que ela seja uma médica renomada. Eu não estava lidando bem com isso…

— Lorenza… Sei que eu já toquei nesse assunto um bilhão de vezes, mas eu preciso repetir isso. Por favor, não desista do que você quer, não tenha medo de enfrentar seu pai. Se quer fazer economia, então faça, não seja aquilo que seu pai quer e sim o que você quer!

— Por que está me dizendo isso, Brandon? — questionou ela, com um sorriso tímido.

— Eu já fiz muitas coisas que eu não queria… tudo pra agradar minha mãe e toda minha família, já fiz muitos cursos de etiqueta, já saí com várias garotas porque era o que minha mãe gostaria, fiz vários cursos chatos e já trabalhei em muitos lugares que, Jesus, eu tenho trauma só mesmo de lembrar! — eu não estava exagerando, eu realmente fiz muitas coisas, nenhuma delas foi agradável.

— Deve ser um saco ter que fazer algo forçadamente. Mas, no fim das contas, você conseguiu agradar sua família? — Lorenza cruzou as pernas e encostou-se na árvore.

— Não. Acho que minha mãe me vê como o “projeto que deu errado”. Mas eu não ligo mais, sabe, cansei de tentar agradá-la, mas isso não significa que eu realmente gostaria que ela sentisse orgulho de mim — respondi, mais para mim mesmo.

Ficamos em silêncio algum tempo, creio que estávamos pensativos demais. Todo aquele assunto sobre responsabilidades e futuro nos deixou com dor de cabeça.

— Mas e você, Brandon, qual o futuro que você quer? — questionou, curiosa.

— Bem… Eu não sei muito bem. Eu sempre quis ser escritor, mas não tenho grande talento. E também sempre quis ser astrônomo, mas… eu realmente não sei.

Lorenza sorriu e agarrou uma mecha de seu cabelo, olhando-me com seus grandes olhos castanhos.

— Eu tenho certeza de que, não importa o que você escolha, vai se dar muito bem. Você tem capacidade para isso, Brandon, eu sei.

Seus olhos brilhavam, mas não tanto quanto os meus. Lorenza era simplesmente incrível!

Será que eu estava ficando apaixonado por ela ou será que eu já estou…?

Ah, vovô, eu estava ferrado… Apaixonado pela garota que é apaixonada pelo meu irmão! Tem como ficar pior? Bem, eu espero que não…

Com carinho, do seu neto fracassado, Brandon.