Cartas de um Fracassado escrita por Saturno


Capítulo 1
Carta 1: O efeito defeito.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Uma história bem clichê que talvez tenha um final não tão clichê.



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Primeiro capítulo: O efeito defeito.

Olá, vovô, como você está?

Recebi sua carta há duas horas, e confesso que me deixou animado o seu interesse por minha vida social. Você sabe, o senhor é o único com quem gosto de compartilhar dos meus momentos. É realmente uma pena que o senhor esteja nesse asilo ridículo, mas eu não vou falar sobre isso, não agora.


O senhor me perguntou, em sua última carta, qual era o momento que eu mais gostava de me lembrar e, bem, não há muitos, como o senhor bem sabe. Mas, sinceramente, há sempre uma lembrança presente em minha mente e sempre tratando-se de Lorenza.


Eu sei… O senhor realmente deve estar cansado de ouvir o nome dela, mas torna-se cada vez mais complicado deixar de citá-lo, pois ela é importante para mim. Assim como o senhor.


Bem, vou lhe contar sobre aquele dia.


Lembro-me que era 24 de agosto, no dia do aniversário de Lorenza. Comemoramos de uma forma bem estranha…


Corríamos como se nossa vida dependesse de tal ação. Lorenza apertava minha mão fortemente e tinha uma expressão um tanto quanto assustada, mesmo que houvesse um pequeno sorriso em seu rosto.


Ela estava se divertindo… Eu sabia!


Passei algumas horas tentando convencer a ela a pegarmos algumas coisas “emprestadas” em uma loja de conveniência perto da entrada da cidade. É claro que ela recusara prontamente, afirmando que aquilo era extremamente inconveniente e errado, e que se seu pai a pegasse cometendo um ato como aquele… Bem, “só Deus sabe”, segundo ela.


Mas é claro que eu a convenci. Não vejo problema algum em se divertir um pouquinho, mesmo que isso seja muito errado.


Gargalhei sentindo a brisa bater contra meu rosto, logo atrás um homem de estatura média e corpulento gritava a toda voz, jogando palavras grosseiras a nós. Qual é! Foram apenas alguns salgadinho e refrigerantes!


Você é um idiota! — gritou Lorenza assim que dobramos a primeira esquina.




Paramos perto da velha gráfica.


Eu chamo de efeito defeito — murmurei, ofegando com as mãos nos joelhos.


Eu… não sei o que significa… mas, com certeza, faz parte de você já que tem defeito no nome — brincou ela, tão ofegante como eu.


Lorenza amava jogar na minha cara o “poço de qualidades” que eu era.


E você nem consegue viver sem esse defeito aqui, não é? Alguma vez na sua vida você já se divertiu como hoje? — questionei encostando-me na porta enferrujada da gráfica.


Me divertir? Nós roubamos e quase fomos pegos! Se esse cara ligar pra polícia, com certeza, meu pai vai saber disso, ou você se esqueceu que ele faz parte do departamento? — rebateu, totalmente enraivecida.


Ele está afastado, não vai saber — comentei me arrependendo no segundo instante.


Eu odiava tocar naquele assunto, sabia que ela odiava ainda mais.


Desculpe — pedi, baixinho.


Estava tão acostumado a fazer coisas erradas que quase havia esquecido do significado da palavra “desculpe”, eu não estava acostumado a usá-la, mas depois de Lorenza… eu sentia necessidade. Ela é tudo que eu tenho, pelo menos, é tudo que realmente gosta de mim.


Posso parecer extremamente dramático e, bem, eu sou. Eu sou assim. Cheio de defeitos.


Lorenza vive me dizendo que meus defeitos podem claramente se tornarem boas coisas, mas até agora não vi como isso pode acontecer.


De qualquer forma, eu tinha Lorenza. Talvez fosse um dos meus maiores erros criar um laço tão grande com ela, afinal, eu sempre acabava desapontando as pessoas. Mas eu correria esse risco. Apenas desta vez.





Bem, vô, esse é um dos momentos que mais gosto me lembrar. Lembro de cada coisa daquele dia e tudo ainda parece fresco para mim.


Eu espero que o senhor esteja bem. Aguardo sua resposta.


Com carinho, seu neto (nada) querido, Brandon.


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Notas finais do capítulo

As partes em itálico são lembranças. Comentem com criticas construtivas. Beijão e até o próximo capítulo.