―De quem é a vez mesmo?―Manami perguntou.

Os rapazes sentados ao redor da mesa se entreolharam. Ninguém soube responder.

―Eu giro!― Toudou se pôs de pé e agarrou a garrafa vazia.

Era uma festinha de confraternização do clube de ciclismo da Academia Hakone, para comemorar o fim de uma semana de provas.

A intenção era convidar o clube todo, mas como Arakita insistiu em trazer bebida, Fukutomi só permitiu que os seis integrantes do time do Inter High participassem, para evitar maiores problemas.

Izumida observou com desinteresse a garrafa girar. Eles já estavam jogando aquilo há quase uma hora, e já estava começando a perder a graça. Além do que, ele era o único ali que estava sóbrio.

Durante essa uma hora, todo tipo de desafio já havia acontecido.

Arakita teve que usar a tiara de Toudou por duas horas (ele desistiu nos primeiros 5 minutos). Manami teve que plantar bananeira por dez minutos. Fukutomi teve que beber um copo de cerveja com qualquer coisa comestível que eles encontraram (incluindo molho shoyu e um pedaço de pão). Toudou teve que ligar para Makishima e cantar uma música da Britney Spears, sem nenhuma explicação (Makishima desligou assim que percebeu que ele estava cantando.) Shinkai deu três voltas no prédio correndo de costas. Até mesmo Izumida foi desafiado a passar rímel (Toudou, estranhamente, tinha um estojo de maquiagem na mochila.)

Além disso, agora todos sabiam que Toudou nunca havia beijado nenhuma de suas fãs, que Arakita teve uma quedinha por Fukutomi durante o primeiro ano, que Fukutomi tinha uma quedinha pelo capitão da Sohoku, que Manami nunca havia gostado de ninguém em toda a sua vida, e muitas outras verdades que deveriam permanecer em segredo.

Izumida não escolheu verdade nenhuma vez. A possibilidade de perguntarem se ele estava gostando de alguém era grande, e ele não era muito bom com mentira, ainda mais porque a pessoa de quem ele gostava estava bem ali.

―Shinkai!― Toudou gritou quando a garrafa parou apontada para o ruivo.― Verdade ou desafio?

―Desafio.― Ele disse sem hesitar.

―Hm, deixa eu pensar…― Toudou pôs a mão no queixo.― Já sei!

―Para de gritar, caralho.― Arakita resmungou.

―Ninguém beijou ninguém nesse negócio até agora!― Ele bateu as mãos na mesa e apontou para Shinkai.― Eu te desafio a beijar um de nós!

Nesse momento, o estômago de Izumida se revirou. Ele, com certeza, estava prestes a ver seu querido Shinkai beijar outra pessoa.

―Touichirou.― Ele quase pulou ao ouvir a voz grave chamar seu nome.

De repente, todos os olhares se voltaram para ele.

―S-sim, Shinkai-san?

―Tudo bem se eu te beijar?

Aquilo era mentira. Só podia ser.

―Claro.

Pelo menos, Kuroda, o único que sabia dos seus sentimentos pelo veterano, não estava ali.

Izumida se levantou, caminhando devagar até o outro lado da mesa, onde Shinkai estava. Seu coração batia forte, e seu rosto estava esquentando.

Shinkai colocou as mãos nos ombros dele, e o olhou nos olhos por alguns instantes.

Ele cheirava a desodorante e a chocolate, e Izumida pensou, mais uma vez, se tudo aquilo não era um sonho.

Mas a maciez daqueles lábios carnudos contra os seus era muito real.

Aquele selinho fora mais do que suficiente para fazer Izumida se sentir no céu.

Ele nem sabia como contaria aquilo para Kuroda.

―Ei!― Toudou gritou, acordando Izumida de seu pequeno transe.―Shinkai, você chama isso de beijo? Tem que beijar de verdade!

Seu olhar encontrou o de Shinkai por um instante, mas ele olhou para baixo rapidamente.

―Tudo bem, Touichirou?― Ele perguntou, e Izumida sentiu cheiro de álcool.

Ah, claro, a única explicação para Shinkai agir daquele jeito.

―Tudo…

As mãos de Shinkai desceram pelos braços de Izumida e pararam em sua cintura. Ele o puxou para perto de si, inclinando o rosto para o lado.

Izumida fechou os olhos antes de seus lábios se tocarem.

Quando ele sentiu a língua de Shinkai invadir sua boca, junto com o gosto de álcool, seus joelhos fraquejaram.

Ele não beijara muitas pessoas, mas sabia que Shinkai beijava muito bem.

Apesar de ter sido rápido, aquele beijo fez sua cabeça girar.

―Agora sim!―Ele ouviu a voz de Toudou, mas o som de seus próprios batimentos cardíacos o impediu de entender as palavras direito.

― Deixa eu girar essa merda.― Arakita rosnou, tomando a garrafa das mãos de Toudou.

Izumida se sentou em seu lugar, olhando discretamente para Shinkai. O veterano o encarava com um sorriso e, quando seus olhares se cruzaram, ele ergueu a mão, fazendo sua famosa pose de revólver e “atirando” em sua direção.

Ele, com certeza, teria muitas coisas para contar para Kuroda.