The Boy of Mysterious Eyes escrita por Clariie


Capítulo 8
Capítulo 7. – Uma taça de felicidade


Notas iniciais do capítulo

Oe, corações . Como vocês estão? Batendo? ( Piadinha sem sal, eu sei! )
Desculpem-me pela demora, amores, é que com os últimos meses de aula eu não tive tempo nem cabeça para escrever um Cap. que prestasse rápido. Desculpa mesmo!
Meninas, obrigada pelos comentários :
— sunshine
— Isah Larano
— Sweet Clary
— divademi22
— Paper Girl
— Juliana Lorena ( Seja bem-vinda, Amora )
— Tina Black Malfoy ( Seja bem-vinda, Amr )
— Maddox Lynch
— ju
— Pamy Lee Lynch
I love vocês , meninas!
Sendo assim...
Boa Leitura e ENJOY !



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— É sério isso? – perguntei incrédula, mas rindo internamente. Austin deu de ombros e continuou com a mão direita erguida em minha direção – Pra que isso, Moon?

Ele riu baixinho, balançando a cabeça levemente ergueu-a olhando fundo em meus olhos. E assim ele permaneceu; tentando me desvendar com aqueles olhos cor-de-mel e misteriosos, esperando calado por uma reação de minha parte.

— Tudo bem – cedi bufando, segurei sua mão e desci do carro.

Austin sorriu convencido, e travou o carro. Logo enlaçou meu braço ao seu e caminhamos lado a lado pelo caminho largo de cascalho da mansão.

— Por que estamos aqui, Austin?

— Ora, Allyson – respondeu, na tentativa de disfarçar um pequeno sorriso presunçoso que insistia em se expor. –, é aqui o nosso destino desta noite.

— Sério?! – falei com certa surpresa, encarando a fachada luxuosa, porém discreta da casa. Então olhei para o loiro ao concluir a frase: – Então vai ser aqui o jantar-barra-reunião.

— É meio que um jantar de negócios – corrigiu-me brincalhão. Ri baixinho revirando os olhos e dei um leve tapa em seu braço coberto pelo blazer escuro social.

Austin Moon estava tão diferente esta noite. Mais prestativo e cortês. Tão sereno, tão... Diferente! Essa com toda certeza era a que mais o definia naquele momento. Talvez seja porque ele esteja em “público” e queira se mostrar diferente. Ou talvez porque esse jantar de negócios seja muito importante para o loiro, afinal como o mesmo disse: “digamos que esse jantar vá definir meu futuro”, e por essas poucas palavras terem sido proferidas com tanta sinceridade e convicção, eu possa até ter acreditado. Afinal, o que eu perderia exatamente com isso?

Nada, provavelmente. Imaginei.

— No que tanto pensas, Allyson? – ele interrompeu meus devaneios sem ao menos olhar-me de relance.

— Coisas aleatórias da vida.

Sorri ao ver um canto de sua boca erguida. Assim, Austin e eu continuamos nosso trajeto até a porta de entrada da enorme mansão, observando as palmeiras e a grama impecável do jardim, a arquitetura da casa com seus mínimos detalhes e o céu em seu momento lusco-fusco.

Ao chegarmos à porta, antes de tocar a campainha, Austin nos deteve.

— Sei que pode parecer estranho, mas – ele falava calmamente. E com receio e muita hesitação, entrelaçou seus dedos aos meus vagarosamente, como se qualquer movimento brusco pudesse me fazer correr com medo, porém deixei que o fizesse. E após tal feito, olho-me nos olhos e continuou, sereno: – será que posso?

E tudo o que consegui pronunciar foi um miserável:

— Por quê?

Não me culpem, culpem aqueles olhos observadores e de sugar o oxigênio dos pulmões de qualquer uma.

Ele riu cabisbaixo – novamente –, baixinho. E quando ergueu a cabeleira loura, me faltou oxigênio mais uma vez.

— Tenho que ter motivos para segurar em sua mão, Srta. Allyson?

— Cara, você poderia desviar só um pouquinho seus olhos dos meus. – pedi aturdida, provavelmente rubra com um tom escarlate. – Assim, eu me desconcentro.

E aquela última parte deveria ter permanecido no meu consciente. Somente para mim mesma. Puta-merda! E pra terminar de cagar tudo, Austin Moon riu outra vez, com o efeito recém-descoberto que causa ao olhar-me nos olhos. Minhas bochechas, ou melhor, a cara inteira estava cálida como panela ao fogo.

— Desculpe-me. – pedi, na falha tentativa de amenizar o constrangimento.

— Por que mesmo? – indagou cínico. O que só me deixou enfurecida.

— Você está gozando com a minha cara, seu filho de uma mãe?! – berrei baixinho (Sem escândalos, Allyson!, meu cérebro aconselhava-me a cada meio milésimo de segundo.). E ele riu. O idiota riu!

— Claro que não, Allyson. – disse ele sátiro, com aquele sorriso debochado de sempre – Por que eu iria tirar tal “brincadeira” com você, querida?

E ele olhou-me nos olhos esperando por sua resposta. Petulante!

— “Querida” uma ova. – esbravejei furiosa. Virei-me e bati ferozmente na campainha da mansão, e o loiro só ria com minha atitudes e dizeres.

E em menos de um minuto, um homem vestido formalmente abriu uma das folhas da porta, nos desejando educadamente uma "boa-noite". Britânico, talvez. Pensei sobre o sotaque nada informal do velho que aparenta ser um mordomo da família. Desejamos outro "boa-noite" em uníssono e fomos convidados a entrar. Como – por incrível que pareça – ainda estávamos com as mãos dadas, eu o puxei bruscamente para dentro da saleta.

Havia mulheres, homens e crianças vestidas com roupas de gala e tinha aquelas pequenas exceções com um look mais despojado, como o de Austin Moon: uma camiseta social de botões e mangas compridas, branca, um blazer escuro, jeans azul-escuro e um par de all-star cinza. E pra completar, o cabelo jogado para o lado bagunçado, mas elegante.

E assim atravessamos de mãos dados a pequena salinha, dessa vez, ele me guiando. Em poucos passos adentramos a enorme sala, aonde se mantinha umas 30 pessoas reunidas conversando animadamente em pequenos bandos. Então um senhor de meia idade veio em nossa direção e nos cumprimentou:

— Boa noite, Austin. – desejou ao loiro, sorridente. Então, olhou-me com um sorriso jovial: – E você deve ser a Allyson.

Achei estranho afinal, como ele poderia saber meu nome?!, já Austin sorriu por achar engraçada minha feição de espanto, ele baixou os lábios próximo à minha orelha e explicou-me em um sussurro:

— Rydel se antecipou, e lhes avisou mais cedo.

— Isso mesmo, Srta. Allyson – concordou o senhor de bela postura – Não se assuste tanto.

Sorri de lado e me adiantei em corrigi-lo educadamente.

Ally, por favor.

Ele sorriu abertamente meneando a cabeça em confirmação.

— Obrigado pelo convite, Evans. – agradeceu Austin, estendendo a mão para o senhor aperta-la, que assim fez.

— Que nada, garoto. Como eu poderia dar uma festa como essa e não convidar a estrela, ou melhor a lua? – Evans gargalhou de sua própria piada. Austin e eu apenas nos entreolhamos achando que o cara poderia ser louco. – Olhe, garoto – continuou, após cessar seus risos –, eu tenho que receber os restantes dos convidados agora. Com licença, e aproveitem. – o velho se virou para partir, mas antes comunicou: – Zelda e Adele gostariam muito de rever você, Austin.

O loiro concordou, e assim vimos Evans ir cumprimentar outro casal do outro lado da sala.

— Rydel me surpreende cada vez mais! – falei quebrando o silêncio que se instalara, e Austin pareceu não ouvir, pois procurava por uma pessoa em especial entre as tantas outras, tentei seguir seus olhos, mas nada encontrei de tão interessante. Austin pareceu não ter encontrado ninguém, porém, ele teve uma noção de aonde está pessoa poderia estar.

Ele me puxou pela mão calmamente.

— Vamos – chamou-me –, quero lhe apresentar uma pessoa.

Então fomos. Caminhávamos a passos rápidos enquanto Austin me guiava pelo o mar de indivíduos, tentando não esbarrar ou machucar ninguém. E assim chegamos ao cômodo ao lado, que se tinha pouco movimento comparado à sala. Ele parou e segurou minha mão com mais firmeza e, dessa vez, caminhou civilizadamente até uma mulher esbelta e negra com os cabelos cheios de tranças kanekalon que iam até a cintura que se mantinha de costas para nós. Austin sorriu gentilmente para mim e eu pude ver um brilho em seus olhos, ele desenlaçou vagarosamente nossos dedos e cutucou de leve as costas da mulher. E então ela se virou e quando seus olhos viram a figura a sua frente, permaneceu por alguns segundos boquiaberta, surpresa. Assim, Austin foi o primeiro a tomar a iniciativa de abraça-la. Ela de início não correspondeu, pois ainda estava bastante surpresa, entretanto não demorou para abraça-lo.

— Meu Deus, eu não o vejo há meses! – e riu com tanta felicidade que parecia que ia explodir – Como você cresceu, e ficou tão bonito.

Ela já acariciava o rosto do loiro, segurando sua cabeça entre as palmas de suas mãos.

— Senti tantas saudades, Zelda. – Austin admitiu beijando a palma de sua mão.

— Eu também senti, querido. – ela correspondeu, depositando um beijo em sua testa, quando pareceu perceber minha presença atrás de Austin, se afastou do mesmo e sorriu para mim – Oi, moça bonita. – olhou para o semblante de Austin e questionou alegre: – É sua namorada, Austin?

Quis negar, mas Austin interveio primeiro:

Claro! – confirmou sorrindo cinicamente.

— O quê?! – opus-me rapidamente, nervosa. – Isso é mentira, Austin.

Ele riu meneando a cabeça de um lado para o outro.

— Se ela diz. – disse com indiferença à mulher. Ele se desvencilhou da negra e passou o braço por minha cintura, segurando-me com firmeza. Ergui meu rosto para encara-lo já que o mesmo é uns vinte centímetros maior, sem saber interpretar tal ação de me prender a si com tanta posse, eu não sabia se ficava com raiva e a controlava ou se a deixava me consumir e explodir ali. – Zelda, tenho a honra de lhe apresentar Allyson. E, Allyson, essa é Zelda, minha governanta e segunda mãe, claro.

— É um prazer conhece-la, Zelda. – disse alegremente estendendo minha mão direita para a mesma apertar, porém ela me surpreende com um abraço extremamente apertado (sem contar os sacolejos), não me aguentei e comecei a rir.

— Minha cara, o prazer é todo meu. – Zelda respondeu me balançando mais, fazendo-me rir mais e trazendo olhares alheios para nós.

E, digamos que, com tanto balanço e o fato do abraço ser tão apertado – tipo, ele era, literalmente, muito apertado – eu já estava ficando vermelha. Sério, gente! Só que a única coisa que eu fazia era rir. Ria como se estivesse sedada. E com sorte quem me salvou foi Austin, que já estava achando minha reação crise-de-risos estranha e provavelmente tenha achado que eu já estava delirando por falta de oxigênio no cérebro. Aparentemente até eu estou pensando nessa hipótese, afinal nunca agi assim. Talvez fosse a vibe positiva que Zelda transmitia, sabe...?

E como Austin Moon havia me separado de Zelda, que também mantinha uma expressão divertida no rosto, eu, finalmente, cessei os risos (aos poucos, mas cessei!) e Austin aguardava uma reação decente de minha parte.

— Desculpa. – pedi, descontraída, olhando em seus olhos.

— Você simplesmente não é normal, Allyson!

E voltei a rir baixinho abafando o riso com a camiseta dele, já que encostei a testa em seu peito.

— Não duvido.

— Meu Deus, você está se sentindo bem, Allyson? – perguntou rindo com deboche.

Ergui meu rosto e soquei seu peitoral de leve, fazendo o rir mais.

— Cale a boca, Moon! – ordenei baixinho, mordendo o lábio inferior na tentativa de reprimir outro sorriso.

Ele revirou os olhos castanho-esverdeados e sorriu de lado.

Ownn, vocês dois são tão fofos juntos. – declarou a mulher com um timbre sonhador e as mãos sobre o coração. – Tem certeza de que não são namorados?

— Certeza absoluta! – gesticulei, separando-me do loiro, e ele só sorriu e piscou para a “segunda mãe” fazendo-a sorrir.

— Ok então, não-pombinhos— brincou com as mãos erguidas em sinal de rendição.

Revirei os olhos, claro.

Continuamos conversando sobre coisas banais em relação a Miami por alguns minutos, até que o senhor Evans convidou Zelda a se aproximar de uma roda de casais a qual ele estava chamando-a por detrás de nós. Zelda, simplesmente acenou ao homem em confirmação, pedindo que esperasse um segundo, então olhou para nós.

— Bom, crianças, tenho quer ir ali aonde meu esposo, afinal ele me chama. – despediu-se com beijos depositados em nossas bochechas. – Cuidem-se e sintam-se em casa.

E assim saiu quase aos pulos. Ela sim era uma mulher feliz, ouso pensar.

— E ai. – Austin dissipou o silêncio e, com um cutucão em minhas costelas, provocando-me um susto, sorriu com petulância. – Aonde quer ir agora?

— Se você me cutucar mais uma vez assim – ameacei-o enquanto o fuzilava com um olhar mortal –, juro, que daqui você vai para um hospital e eu vou pra cadeia.

Ele sorriu com astúcia. Agarrou minha cintura e baixou os lábios, deixando-os roçar minha bochecha e sussurrou:

— Você pode ir para cadeia – e ali beijou vagarosamente, deixando-me atordoada –, mas eu vou atrás de você.

Ri e cuspiu as palavras em prenúncio:

— Se continuar, loiro – dei tapinhas na bochecha dele ao completar: –, levara um golpe certeiro entre as pernas, você que sabe.

O loiro sorriu de canto e se manteve calado. Sorri vencida e o puxei pela mão ao longo do salão, porém o loiro se deteve.

— Ora, Austin, você não vem. – indaguei com um sorriso debochado. Ele revirou os olhos e se deixou ser levado. – Bom, garoto.

Eu, com toda certeza, estava me aproveitando, isso eu não nego, e por dentro estou rindo e me glorificando.

Caminhamos lado a lado pelas salas e conhecemos algumas pessoas. Nos demos bem com todos. E quando, enquanto andávamos por um corredor pouco movimentado, vimos uma porta de correr de vidro que dava ao enorme pátio com um jardim ao fundo da mansão, havia algumas mesas redondas e cadeiras de ferro brancas estilo vintage espalhadas pela grama recém-aparada. Sobre cada mesa, tinha um candelabro colorido cercado por pequenos ramos de flores, pratos de porcelana e talheres dourados reluziam as pequenas luzes pisca-pisca que pendiam nas palmeiras e nos arbustos ao fundo. Ao lado de um chafariz que jorrava água pelo bico de pássaros havia um caminho de pedras que descia ao longo com degraus para um deque com piscina e uma vista para o mar mais abaixo, não dava para ver muitos detalhes – aliás, eu só vi a metade da enorme piscina –, porém fiquei encantada o suficiente para querer ir lá.

A risada de Austin me trouxe à tona.

— Não acredito! – berrou surpreso.

— Em que não acredita, Austin? – perguntei curiosa, procurando por algo ou alguém que estivessem no campo de vista do loiro, mas não identifiquei nada com tal anormalidade.

— Jesus – falava, e quando completou me puxou pela mão, passando pela porta entreaberta: –, preciso que conheça Siniy.

Ele estava com um sorriso tão imenso e sincero no rosto que não me atrevi a perguntar ou dizer algo, apenas deixei-o me guiar pelas mesas e arbustos do jardim indo em direção à essa tal garota.

Siniy era uma garota de cabelos matizados de cinza e cacheados a qual dava algumas ordens aos empregados que estavam arrumando as luzes nas palmeiras. Ela também dava pequenos retoques em uma mesa quando Austin tentou chegar a sobressalto por trás para surpreendê-la, mas foi ela quem o surpreendeu.

— Não ouse, Monica. – avisou, deixando o loiro e a mim intrigados, fiquei intrigada com o nome também, afinal, quem era Monica?

— Não acredito, Siniy – Austin estava indignado, mas mantinha seu sorriso –, toda vez você me vê!

— Não sou cega, Monica. – falou rindo, e veio em direção do garoto para abraça-lo, porém não o fez quando me viu. Ela sorriu abertamente para mim e me abraçou. – Oi, tudo bem?

Admito, fiquei com um pouquinho de medo da garota.

— Oi... – e aquilo soou como uma pergunta, o que causou risinhos nos dois.

— Desculpa por isso, é que eu adoro abraços. – explicou-se com inocência.

Sorri para a garota e dei de ombros. Então, Austin interveio:

— Siniy, esta é Allyson...

— Ally – o corrigi.

Ele revirou os olhos para cima.

— Tudo bem – continuou, virou-se para mim e, apresentou-me a garota risonha e grisalha – e, Allyson, esta é a filha do Evans e enteada de Zelda, Adele, uma amiga de infância.

Espera... mas o nome dela não era Siniy?

— Prazer, fofa. – acenou a grisalha com euforia, e eu sorri.

— Seu nome é Adele ou Siniy?

Austin e a garota riram abertamente e eu fiquei tipo, boiando.

— O nome no papel é Adele. – explicou-me Austin – Siniy é apenas um apelido de infância.

— É uma longa história, Ally. – completou ela. Assenti e aquele papo se deu por fim.

— Então, Siniy... Como está lá em Nova York? – Austin perguntou, com um sorriso tristonho.

— Como sempre, Austin. – Siniy tocou-lhe a bochecha com um sorriso de apreço.

Provavelmente aquilo lhe remoía, pois o fazia se lembrar de seus pais.

Com os cachos definidos em um cinza platinado seguindo por poucos centímetros abaixo dos ombros, os olhos verde-escuros, um piercing circular na lateral do nariz, os lábios com um batom excessivamente vermelho, uma saia de cintura alta amarela abaixo dos joelhos, com um moletom cinza de mangas e um salto vermelho vivo. A beleza de Adele/Siniy era incrivelmente perceptível.

E então um silêncio desconfortante se instalou ali, eu me senti mais do que em obrigação de quebra-lo.

— Ei, Siniy – bati palmas alegremente chamando a atenção dos dois. –, pelo o que eu entendi você é de Nova York – ela assentiu freneticamente e Austin riu cabisbaixo. –, então pretende passar quantos dias aqui?

— Umas duas semanas talvez. – contou-nos fazendo cara de choro.

— Só...? – Austin e eu questionamos em uníssono.

— Pois é; Harvard me espera!

— Nossa... Harvard, Siniy?! – declarou Austin surpreso. – Estou orgulhoso de você, você vivia esfregando na minha cara dizendo que iria para lá e cá está!

E abraçou-a carinhosamente.

— Parabéns, Siniy! – declarei a abraçando logo que se separou do loiro. Ela correspondeu alegremente, sacudindo-me de um lado para o outro. Pai, quase caio do salto!

— Obrigada, pessoal. Obrigada mesmo! – agradeceu com um sorriso de orelha a orelha.

Seu celular vibrou sobre a mesa ao lado. Ela o pegou e visualizou a mensagem.

— Bom, meus amores, eu tenho que ir – anunciou Adele após ler a mensagem –, até mais e divirtam-se.

Acenou com ânimo e saiu em direção a casa.

— O que faremos agora, Allyson? – questionou o loiro sorrindo de lado.

— Sinceramente, eu não estou muito afim de voltar lá pra dentro agora, não... – declarei com certo incômodo. Ele sorriu de lado concordando, e pelo canto do olho eu pude visualizar parte da piscina e o oceano que estavam um nível abaixo e tive uma ideia. – Austin, podemos ir ali?

Austin seguiu o olhar para aonde meu indicador apontava e sorriu orgulhoso de si.

— Quer ir à um lugar aonde podemos ficar a sós, Allyson?! – berrou com o ego inflado, e assim eu fechei a cara. – Estou surpreso!

— Vá se fuder, Moon! – bati em seu peitoral empurrando-o, porém não tinha tanta força, Austin apenas cambaleou dois passos para trás com a mão sobre o coração fingindo-se de magoado. Assim, virei-me e caminhei sozinha com passadas firmes e pesadas sobre a grama.

— Ei, Allyson, me espera! – pediu já caminhando ao meu encalço.

Descemos os degraus curvos de pedra cercados pelos arbustos que iam até minha cintura. Logo que concluímos a descida meu maxilar quis cumprimentar o chão, pois eu estava completamente encantada com tal beleza - tanto natural quanto superficial.

O piso do deque era de madeira escura, a parte que eu havia vislumbrado da piscina era apenas 1/3 de seu tamanho real, os azulejos no fundo e nas laterais da piscina eram verdes, e provocado pela coloração dos azulejos o tom da água também era verde, haviam quatro espreguiçadeiras com guarda-sóis perto da borda da piscina. Uma pequena área coberta, totalmente de bambu com cadeiras suspensas, dezenas de almofadas de estampa floral e tropical, e um grande tapete acolchoado colorido no chão, a parede da escada de pedras era coberta com galhos cheios de folhas e flores exóticas, e a minha frente estava o pequeno muro que separava aquela área do oceano já revolto a essa hora da noite.

— Jesus...!

— Encantada? – o timbre rouco de Austin perto da minha orelha me fez sentir um arrepio que seguiu por cada célula de meu corpo. E por puro descuido deixei escapar um suspiro. Logo senti o sorriso debochado de Austin se alargar e seu ego inflar-se com gás hélio.

Idiota!

— Cara, você vai voltar para casa estéril! – gritei aproveitando que estávamos sozinhos. O mesmo apenas riu.

Austin passou por mim e escanchou as pernas sobre o murinho.

O loiro manteve seu olhar nas ondas que quebravam mais abaixo enquanto eu me aproximava com cautela do murinho. Eu admito que tenho pavor de altura, isso é fato! Acho que obtenho esse medo desde que me entendo por gente, afinal nunca tive um momento peculiar para adquiri-lo.

— Com medo, Allyson? – interessou-se pelo assusto sem sequer desviar os olhos do mar.

Provavelmente, minha expressão me entregou.

— Tá tão na cara assim?! – o respondi com outra pergunta provocando-lhe sorrisos sinceros. Quando finalmente toquei os tijolos gelados do muro, esquivei-me para a frente e naquele momento meu coração falhou duas batidas. – Papai do céu, isso é aaalto! – berrei agudamente ao ver as rochas pontiagudas a uns 6 metros de altura abaixo tombarem as ondas rigorosas com tal violência. – Muito alto!

Afastei-me dois passos cambaleantes para trás temendo cair com os saltos. Eu com certeza não esperava algo tão profundo quanto aquilo; para mim mais parecia um abismo.

— Você tem medo de altura, Allyson?! – Austin anunciou o óbvio, incrédulo.

— Tá zoando comigo, garoto? – obviamente eu fiquei fula, afinal, acho que deu para perceber com minhas palavras e expressões, não é mesmo? Ou ele queria que eu admitisse em voz alta?

O idiota gargalhou na cara de pau e disse em sua defesa:

— Claro que não, Allyson. – revirou os olhos de uma forma descontraída. – Isso não seria um bom motivo – piscou e com um gesto me convidou para que se aproximasse dele.

— Nem morta, Austin! – declarei convicta caminhando mais um passo para trás para dar ênfase a minha escolha.

— Vamos, Allyson, aproxime-se – insistiu mais, ficando-se de pé ainda com o muro entre as pernas. E eu só conseguia imaginar que em algum momento ele poderia cair sobre aquelas rochas pontiagudas estraçalhando seus ossos em mim pedacinhos. Por Deus, que não seja presságio!

— Austin, por favor, sai daí. – pedi com o braço esticado defronte meu corpo e ele apenas sorriu divertido. – Meu Deus, Austin, você vai cair! – o loiro idiota estava apoiado, praticamente, em apenas uma perna já que a outra estava dobrada sobre o muro mal dando firmeza.

— Está com medo que eu morra, Allyson? – questionou divertindo-se com minha “preocupação”.

— O quê?! Claro que não, idiota – neguei com sarcasmo –, é que se você morrer agora não terá quem possa me leva de volta para casa.

O loiro gargalhou exageradamente e se sentou novamente no murinho. Com o solavanco que Austin deu ao jogar sua bunda no muro ele se desequilibrou rapidamente. No momento por impulso eu corri ao seu encontro tentando segurar em seu pulso, porém quando percebi ele já havia se equilibrado como antes. Com medo de cair nas rochas lá em baixo, ele segurou com a mão livre no muro e firmou mais seus sapatos no piso; enquanto a outra mão eu segurava com vigor - tanto vigor que os nós de meus dedos estavam brancos por falta de sangue.

Ele voltou seus olhos para nossas mãos, surpreso, corei na hora e a soltei. Ele sorriu cabisbaixo balançando a cabeça vagarosamente com minha ação. Ele ergueu seus olhos e eu só consegui manter um canto da boca reto o outro canto se ergueu. Então por incrível que pareça ele apanhou minha mão e entrelaçou nossos dedos novamente. Ele passou a perna que estava sem chão pelo muro e ficou de pé a minha frente.

Meu Deus!, gritei mentalmente, nervosa. Acho que vou ter um ataque cardíaco. Ele está se aproximando!

— Obrigada por se importar. – agradeceu olhando fundo em meus olhos, ergueu minha mão entrelaçada a sua e depositou um beijo casto em suas costas.

Meu Deus duplo! Cadê o maldito ar?!

— Qual-qualquer um se importaria, Austin. – gaguejei nervosa ao extremo observando os pequenos detalhes de seus olhos.

Estávamos tão próximos que meus olhos as vezes focavam em meu nariz deixando-me levemente vesga. Nossos narizes quase se tocam! Suas íris eram tão esplêndidas que me fazia perder a noção das coisas, e pela primeira vez eu pude vislumbra-las de pertinho. No começo do pequeno círculo o verde escuro prevalecia, porém ia se dissipando aos poucos deixando o verde cada vez mais claro e já a partir da metade da íris raios castanhos claros - quase amarelos - se formavam tornando-se cada vez mais fortes ao longo que a pupila se aproximava trazendo consigo um preto misterioso.

Então, provavelmente, eu nunca saberei como descrevê-las em apenas uma palavra.

Também tive a honra de vislumbrar os mais míseros detalhes de sua bela face. Era tão serena, tão perfeccionista, tão linda! A pele rosada e suave como a de um recém-nascido, os lábios finos em um tom de pêssego permaneciam presos em uma linha reta. Agora de perto eu podia ver os pequenos pelos sob e em contorno de seu maxilar que mais tarde se tornariam mais visíveis caso o mesmo não os cortasse rente a pele. Seus cílios eram curtos e escuros, pouco marcando seus olhos anti-oxigênio. Suas sobrancelhas adquiriam um tom de castanho pálido assim como alguns fios de seus cabelos alourados. E seu nariz era levemente achatado, ideal para sua fisionomia.

Seu eu externo era primoroso!

— Você não é qualquer uma, Ally. – declarou com tanta sinceridade que eu acreditei... Espero que não seja um erro confiar nele.

Ele ergueu uma mão no ar, tocou-me a face e acariciou minha bochecha com seu polegar.

Percebi que, pela primeira vez ele havia me chamado de Ally e não Allyson de tal forma, o que me fez sorrir instantaneamente. Porém, o sorriso foi minimizando-se aos poucos sendo substituído por um de puro nervosismo e tensão. Meu Deus, ele está se aproximando mais! O que eu faço? As pontas de nossos narizes roçavam causando-me arrepios. Suas pálpebras oscilavam, prestes a se fechar, assim como as minhas, levadas ao delírio.

Austin passou seus dedos para minha nuca, deixando os pelos eriçados por onde passava. Cada toque deixava minhas pernas bambas, a ponto de desabarem. Seu polegar acariciou meu maxilar e assim ele foi; inalando-me com suavidade. Por impulso, deixei minha cabeça pender para trás dando espaço para que ele prosseguisse seu caminho. Porém ele se deteve e ali, em minha mandíbula, pousou seus lábios quentes e macios com delicadeza.

Levada aos arrepios constantes, suspirei. E ele continuou com o passar vagaroso de lábios fazendo o contorno de minha mandíbula. Soltei outro suspiro abafado e o senti sorrir. Ele beijou meu queixo e deu uma leve mordida provocando-me um riso abafado. Ele riu também. Calamo-nos e eu bati de leve em seu peito empurrando alguns passos para trás. Entretanto, ele permaneceu com uma mão na minha cintura e a que estava anteriormente na minha nuca brincando com os fios de meu cabelo descia por minhas costas logo se entrelaçando com a outra. Fiquei dentro de seus braços longos, esguios e discretamente musculosos.

— Aaai! – tentei ficar zangada com o loiro, porém essa tarefa estava se tornando impossível já que ele mantinha um sorriso maroto e malicioso no rosto – Não me morda, não sou comida.

— Foi tão ruim assim, Allyson? – ele estava me provando, eu tinha certeza; com um sorriso cheio de malícia nos olhos e um lado da boca erguido. – Porque não foi o que você demonstrou.

Fiquei boquiaberta, afinal, como ele ousa?. Cruzei os braços ao peito, percebi seu olhar e um sorriso de glória, daí me lembrei o que ele exatamente disse naquela noite no bar sobre eu cruzar meus braços. Seu sorriso se alargou mais ainda quando eu os larguei e pousei uma das mãos no quadril.

— Talvez você tenha interpretado mal o que eu demonstrei.

Ele sacolejou a cabeça de um lado para o outro lentamente, discordando de mim.

— Pouco provável.

Muito provável! – rebati batendo o salto contra o piso.

Eu estava furiosa não por ele ter me mordido, provocando-me, mas sim, porque eu havia ficado vulnerável ao seu toque.

— Então, deixe-me provar que não estou blefando. – ele me puxou para mais perto e sussurrou em minha têmpora: – Muito menos enganado.

Espalmei minhas mãos em cada lado de seu peitoral pronta para afasta-lo, mas um berro ecoou ao pé da escada de pedras atrás de mim, chamando tanto a atenção de Austin, que ergueu a cabeça para observar, quanto a minha. Tentei sair de seus braços, entretanto ele me prendeu com mais força não me dando outra opção; girei nos calcanhares, colando minhas costas em seu peitoral definido e surpreendi-me com a figura de Piper com os braços cruzados e batendo o pé vigorosamente no chão - furiosa com algo, certamente.

— O que está acontecendo aqui, Austin? – interrogou com um timbre aguçado.

Austin fazendo pouco caso do assunto, curvou o pescoço, apoiou o queixo sobre meu ombro direito e enlaçou-me com os braços colando nossos corpos. Ato que me deixou desconfortável, e deixou Piper mais fula.

Belisquei sua coxa em um pedido silencioso para que me desvencilhar-se de seu “abraço”, contudo ele simplesmente me apertou mais contra si e deu uma de desentendido para cima de Piper:

— O que você certamente está imaginando? – respondeu como se fosse óbvio com um sorriso cínico.

Piper desviou seus olhos verdes de Austin e pareceu estar desejando a minha morte com aquele olhos transbordando ira. Mas, por quê? Será que ela estaria com ciúmes de Austin comigo? Dei uma cotovela no abdômen de Austin em oposição à sua resposta. Ele gritou baixinho e gemeu com a curta, porém lancinante dor.

— Por que você fez isso? – com o pescoço curvado e o topo da cabeça apoiada em minhas costas, sussurrou.

Virei-me de frente para o loiro e pus uma mão sob seu queixo. Um de seus braços estava envolto de sua barriga, enquanto o outro suportava o peso de seu tronco apoiada ao joelho, curvado.

— Você está provocando ela. – respondi tentando ficar um pouco mais zangada, no entanto ele apertava seu abdômen com mais força e eu, sinceramente, me arrependi por meu ato de agressão – Está doendo muito? Me desculpa, não quis atingi-lo com tanta força. Aonde dói, Austin?

Ele ergueu poucos centímetros a cabeça para que pudesse olhar em meus olhos. Quando o fez, um minúsculo sorriso fez se erguer um dos lados de sua boca rosada, provocando-me um sorriso triste.

— Desculpa – pedi fitando a ponta de meus sapatos, acanhada.

— Está tudo bem, Allyson. – se esticou e beijou minha testa, surpreendendo-me.

Quando ergui meus olhos ele sorriu carinhosamente e endireitou o corpo, ereto. Contudo, ele ainda sentia dor.

— Então, Piper – começou mais rígido –, o que a trouxe aqui? Por que, exatamente, veio?

Eu já estava posta ao lado de Austin, quando ela me fuzilou com um olhar mortífero, porém desprovido de medo. Aliás, Piper não me amedrontava, nem um pouquinho sequer!

Voltou sua atenção ao loiro com um sorriso falso e respondeu com deboche.

— Evans quer falar com você, querido.

— Ok – assentiu secamente, ignorando o apelido que ele dizia odiar.

Austin se virou para mim e sorriu exibindo os dentes lustrosos.

— Você vem?

Concordei com um meneio de cabeça. Ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos levando-me até a escada de pedra. Ao passar por Piper, ela balbuciou algo parecendo estar irritada e nos seguiu. Enquanto subíamos os degraus, Austin brincava com meus dedos deixando-me rubra pelo seu toque.

E quando a voz histérica de Siniy berrou, percebi que já estávamos de volta ao jardim.

— Qual vai ser, Coldplay ou Imagine Dragons, baby? – Siniy com uma expressão divertida sacolejou o tronco.

Austin e eu rimos com a grisalha.

Evans quer que eu cante? – interrogou desconfiado.

Siniy sorriu cínica.

— Será necessário. – declarou orgulhosa de si.

Ela se aproximou de nós e puxou Austin pela manga do blazer. Antes que Austin trombasse em seu peito, Siniy impediu-o com a mão espalmada sobre seu coração e alisou a aba de seu blazer com os dedos magros e elegantes.

— Então vá lá e arrase corações com essa sua voz digna de Deuses, Monica!

Siniy empurrou-o para trás de si e ordenou que seguisse em frente adentrando a casa, enquanto o loiro atravessava o jardim, eu ria alto.

Observei seus passos confiantes e cheios de ousadia. Entretanto fui sugada para a superfície quando senti um puxão no meu antebraço esquerdo proferido por Siniy, que me arrastou para dentro da casa.

— Vamos, lindinha.

Siniy me puxou por todo o trajeto até a sala de estar principal, aonde Austin já estava apoiado em uma mesa com um violão à altura do quadril.

Ele se mantinha cabisbaixo enquanto afinava o violão de forma serena. Meu Deus, como ele estava encantador! Algumas madeixas caiam sobre sua testa cobrindo boa parte de seus olhos e nariz, deixando seus lábios rosados e entreabertos expostos.

Suspirei. Siniy, por incrível que pareça, ouviu meu suspiro e cutucou meu ombro.

— Apaixonada, lindinha?

Engasguei com a saliva com sua pergunta. Desesperada e entorpecida cochichei para que somente que a mesma ouvisse.

— O quê? Claro que não, Siniy.

— Hmm, sei. – esbravejou sorrindo maliciosamente.

— Não confunda as coisas, Siniy. Por favor!

Ela estreitou os olhos e cutucou minha costela com um sorriso desconfiado.

Tosca!— chiou Piper ao passar entre Siniy e eu, esbarrando em meu ombro intencionalmente.

— De onde diabos ela surgiu? - Siniy brincou. Eu dei de ombros.

Piper saiu rebolando à nossa frente e pela minha visão periférica eu vi Siniy, ao meu lado, estremecer-se de raiva – se não estou enganada acho que vi uma fumacinha saindo de suas narinas como um bule fervescente.

— Eu vou esquartejar essa vadia. – ameaçou de dentes e punhos cerrados.

— Adele! – a repreendi em um tom baixo. – Se controle.

— E como você quer que eu me “controle”, Ally? – fez aspas com os dedos dando ênfase a palavra. – Como?! Porque desde que aquela biscate dos infernos deu as caras ela vem infernizando a minha vida. Desde pequena, Ally. E agora que crescemos ela se tornou mais insuportável ainda! – ela espalmou as mãos sobre o peito, olhou para o céu do outro lado do vidro da janela ao nosso lado e de forma dramática cochichou: - Oh Altíssimo, como poderei me controlar perante uma versão feminina de satanás como Piper?!

Inconformada, balancei a cabeça em negação e toquei-lhe o ombro. Ela suspirou cansada e revirou os olhos.

— Desculpa, linda. – pediu com um sorriso. – É que ela me irrita tanto, só de olhar pra cara dela já dá vontade de passar com um carro por cima. Tão debochada, argh!

Entrelacei meus braços ao seu e ri de todo aquele drama. Drama que eu – parcialmente – entendia.

Entendia porque houve uma época em que tive que conviver com algumas meninas igual a Piper, senão piores. Foi mais ou menos por volta do último ano do ensino fundamental, prestes a começar o ensino médio, um quarteto de garotas se rebelaram. Elas começaram a exigir seus trabalhos escolares de meninas ingênuas, como eu, que nunca iriam dedura-las à um professor ou ao diretor por medo das ofensas e brincadeirinhas de mau gosto que tiravam. Porém, com sorte, eu sempre conseguia me “esquivar” delas; então, nunca fui forçada a fazer nada a elas já que elas nem ao menos sabiam de minha existência. No entanto, um dia durante uma aula de educação física isso mudou completamente, por puro deslize meu. Elas começaram a fazer seus joguinhos comigo: exigiam seus trabalhos escolares, me ameaçavam caso não fizesse o que elas queriam, difamavam-me sem pudor, zoavam de mim perante os outros alunos, eu que ficava com a culpa por elas na escola. Era uma verdadeira tortura! E eu não havia contado isso a ninguém, nem mesmo a Hayden que ficou desconfiado boa parte do ano.

Lembro-me como se fosse hoje, pela primeira vez eu havia sido agredida. E tudo porque eu havia esquecido de grampear as folhas do trabalho de uma das garotas, na hora de apresentar ela se enrolou toda com as folhas fora de ordem e soltas e o professor deixou-a de recuperação na matéria. E na hora da saída as quatros garotas me amarraram sob as arquibancadas do campo de futebol atrás da escola e me espancaram. Se eu me concentrar talvez eu ainda possa sentir as dores. Vários chutes seguidos no estômago e nas pernas, tapas e socos foram desferidos em minha face com vigor, arranharam e rasgaram minha pele, puxaram meus cabelos. E depois que terminaram de me golpear, limparam suas mãos em minhas roupas e saíram dali como se nada tivesse acontecido. Lágrimas e sangue. Tudo que eu conseguia distinguir. Comecei a gritar por ajuda, mas eu já estava sem forças e com as mãos presas, pelas minhas costas, a uma estaca de concreto fria. Como castigo, ainda caiu um temporal.

Meu Deus, como dói lembrar daquilo. Como me perturba. Eu pensei que ali seria o meu fim. Minutos depois eu perdi a consciência e fui acordar, 26hrs depois, em um quarto de hospital cercada por pessoas – duas enfermeiras; mamãe; papai, que havia embarcado em seu jatinho no momento em que mamãe ligou avisando o ocorrido; e Hayden que ameaçou aos prantos os enfermeiros caso não o deixassem entrar em meu leito, ele havia passado as 26hrs ao meu lado mesmo com mamãe insistindo para que ele fosse para casa aonde Clark – que ainda estava com vida – e Colle o esperavam, porém ele não foi. Foi ele quem dormiu na poltrona de meu leito para que Penny e Lester fossem para a nossa casa descansar um pouco.

Eu a entendo, talvez, agora, ela que não vá me entender, cogitei com uma risada seca mental antes de ser puxada a tona por uma risada abafada de Siniy.

— É impressão minha – cochichou para mim com os olhos pregados adiante – ou ele fica olhando para cá a cada 10 segundos?!

— Ele quem, Siniy? – indaguei confusa, fitando sua face. – Do que você tá falando mesmo?

Ela olhou-me incrédula e bateu em meu ombro.

— Ally! – repreendeu-me com ânimo. – Não se faça de burra. Claro que eu estou falando dele – apontou. –, do Austin.

Segui a direção que seu indicador mostrava e quando ergui o olhar me deparei com Austin. No mesmo instante, seus olhos miraram os meus. Ele tocava uma canção ao violão que eu conhecia muito bem. Pra falar a verdade, aquela era uma de minhas músicas preferidas! As palavras saiam de seus lábios como se estivessem acariciando-os.

Everything that's broke

Leave it to the breeze

Why don't you be you

And I'll be me

E que sensação é essa? É como se houvesse algo roçando as paredes externas e internas de meu estômago. Asas? Provocavam-me cócegas, porém não senti vontade de rir, pareciam ser recobertas com felpa. Os movimentos pareciam com as leves colisões das asas de uma mariposa em voo. Poderiam ser as famosas borboletas?

Tal pensamento me fez sorrir mecanicamente, e o sorriso de Austin se alargou mais ainda já que ele cantava com os olhos fixos aos meus. E só agora eu percebi que, dois terços dos convidados olhavam para mim como se estivessem esperando uma reação minha.

E ele terminou a canção de James Bay, um dos artistas que eu tanto aprecio, com a voz suave.

And I'll be me

Todos o aplaudiram – alguns assobiaram e gritaram. Ele agradeceu e Evans pôs-se ao seu lado, passando o braço sobre seu ombro.

— Espero que você tenha escutado, John. – gritou para um senhor do outro da sala.

— Muito talentoso o Sr. Moon, Evans. – elogiou o senhor já de idade.

Era como se eu já tivesse visto aquele senhor em algum lugar, ele parecia ser importante. Porém, eu não me lembrava. Dei fim à minha “investigação” mental assim que vi Austin Moon se aproximar.

Siniy cutucou-me de leve e sorriu.

— Acho que Austin quer continuar com o que foi interrompido lá na piscina. – ela largou meu braço e saiu sorrindo com malícia. Como ela sabia?. E balbuciou sem emitir som: – Boa sorte!

Eu ri observando a grisalha se afastar rebolando intencionalmente, e quando ela passou ao lado de Piper que conversava com outra garota, Siniy esbarrou em seu ombro, quase deixando Piper sem equilíbrio. Revirei os olhos e voltei minha atenção para frente, levando um leve susto pela proximidade de Austin que mantinha as mãos nos bolsos do jeans e um sorriso torto.

— Pensei que você fosse mais Rolling Stones, loiro. – pousando as mãos nos quadris, brinquei.

— Eu curto eles – declarava com indiferença. –, mas, não tenho idolos para ser exato.

— Hmm, e os Beatles? - tentei.

Ele riu e revirou os olhos para cima.

— Na adolescência.

A sala já estava quase vazia, pois as pessoas estavam se reunindo no enorme salão aonde seria servido o jantar. Austin e eu observamos as últimas pessoas se retirarem da sala vagarosamente.

Quando o último indivíduo passou pelo portal, Austin olhou-me com um sorriso doce – e para não deixar de ser o Austin Moon, um pouco de deboche. Ele entrelaçou nossos dedos, ergueu minha mão até seus lábios e depositou um beijo lento em suas costas com os olhos fechados.

— Vamos? – questionou.

Eu admito que estranhei, e simplesmente não consegui me conter. Eu estava começando a ficar preocupada.

— Você está se sentindo bem, Austin?

— Hm, hm. – concordou com um sorriso. – Por que não estaria?

Talvez, porque desde o dia em que nos vimos pela segunda vez, naquele barzinho, você esteja agindo de uma forma... diferente. Um jeito diferente da qual você demonstrou ser quando nos conhecemos, no aeroporto. Você está mais gentil, terno, mais suportável, não tão debochado, e, aparentemente, seu ego diminui o inchaço de vez em quando.

Eu poderia relatar ali, naquele momento, um texto inteirinho sobre como ele estava – estranhamente – diferente em relação a mim, porém não me permiti ao luxo.

— Por nada. - apenas dei de ombros.

Por sua expressão, acredito que o mesmo duvidou por um momento o fato meu de simplesmente dar de ombros a está questão, afinal eu tinha uma chance de ter as respostas de algumas perguntas que vem aparecendo ultimamente em minha cabeça. Mas, eu não queria estragar o momento; a noite.

— Acho que devemos ir – proferiu sorridente – ou vamos levar um sermão do Sr. Evans, mocinha.

Bati em seu peito, rindo. Austin estreitou os olhos, sorridente, e me puxou em direção ao salão no cômodo adjacente no qual um enorme bufê estava posto à enorme mesa de vidro.

Deus, estou no paraíso. Vou voltar para casa obesa!

[...]

— Austin, acho que eu vou explodir. – resmunguei chorosa. Austin abriu a porta do carro para mim e riu de todo meu drama.

— Quanta encenação, Dawson. – retrucou divertido ajudando-me a descer do Pajero.

— Eu estou morta, Austin.

— Quanta reclamação, Dawson. – continuou.

— E pensar que ainda tem uma escada inteirinha para subir. – queixei-me mais, fazendo bico – Só de pensar, dá vontade de dormir no sofá.

Subi os degraus da varanda agarrada ao braço de Austin, arrastando-me aos poucos.

— Estou morrendo aos poucos, loiro. – sussurrei assim que pusemos os pés na varanda. – Adeus, Sr. Moon.

Ele gargalhou suavemente cativando alguns sorrisos meus. Assim que paramos defronte a porta de minha casa, larguei o braço de Austin e postei-me a sua frente. Com os olhos fechados enfatizando minha moleza, sorri – deixando meu nariz e testa franzidos. Pude ouvir a risada abafada de Austin.

— Você tem o talento de uma atriz mexicana, Allyson. – nós rimos. – Vou me encarregar de coloca-la nas aulas de teatro do Marino, não se preocupe.

Abri um olho e estranhei seu dito.

— Como sabe sobre o Marino? Como sabe que vou estudar lá? – pendi minha cabeça para um lado reforçando meus questionamentos.

Ele deu de ombros e mandou uma piscadela.

— Digamos que Rydel e Dez me atualizam.

— Já era de se esperar. – revirei os olhos, pândega.

Houve-se um período de silêncio, aonde tive a oportunidade de abrir meu outro olho vagarosamente. Observei, assim como o louro, a rua e as casa ao nosso redor. Silêncio t-o-t-a-l. Algumas luzes das casas vizinhas mantinham-se acesas, porém estavam desprovidas de sons.

— Que horas são, Austin?

Pus a mão diante da boca abafando um bocejo. Meus olhos marejaram com a pressão.

— Hora de você dormir, mocinha. – constatou seu relógio de pulso.

— Só eu, mocinho? – indignei-me.

Ele riu e revirou os olhos.

— Diferente de você, Dawson – ele sorriu me provocando – eu não estou bocejando.

E foi minha vez de revirar os olhos.

— Então tá, sofredor de insônia. Porque é isso que você é, um... Tem um substantivo exato para quem sofre de insônia?

Austin gargalhou deliberadamente, e eu pus, em um movimento rápido, as mãos sobre sua boca, calando-o.

— Dá pra se controlar, loiro. – exigi.

Ele segurou minhas mãos com mais força contra a sua boca abafando sua risada que só aumentava. Ele, aos poucos foi cessando aquela crise de risos, e quando eu menos esperei ele depositou um beijo na palma da minha mão que pressionava seus lábios. Em seguida, ele segurou minhas duas mãos entre as suas.

— Hayden e Colle já devem estar preocupados com você. – aconselhou – É melhor entrar.

— Discordo em relação à meus irmãos. – aproximei-me mais de Austin como se estivesse prestes a lhe contar o maior dos segredos – Provavelmente, eles estão nos observando por alguma janela. Talvez uma do segundo andar aonde fica mais difícil de os vê.

— Tenho certeza que estão. -sussurrou rindo.

Nos afastamos bruscamente.

— Então, boa noite, Austin. – desejei-lhe alegremente.

Ele se aproximou de mim com uma só passada e segurou meu queixo entre o dedão e o indicador. Com aquele sorriso torto-debochado, ele beijou meu queixo, deixando-me desconcertada. E só para me exasperar, mordeu-o com delicadeza.

— Boa noite, Allyson.

E saiu com um sorriso de orelha-a-orelha, orgulhoso de si. Fiquei estática, observando-o se afastar com passadas firmes. Não sei se fico zangada ou ... nem sei qual a outra palavra que se possa usar.

Antes de adentrar o carro, gritou:

— Ah, e você está de parar o trânsito, Allyson.

Em resposta, ergui o dedo do meio. Ação que lhe causou mais risos.

Ele entrou no carro e buzinou antes de sair cantando pneu.


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Notas finais do capítulo

– O trecho no Cap. é da Música "Let it Go", James Bay.
E aí, amadas, Gostaram? Não? E quanto a Siniy? As "brincadeirinhas" do Austin?
Hmm, quero saber suas opiniões. Não me deixem no vácuo, Please!
Até e Mil beijos do Crush.
Ps. Se quiserem conversar comigo pelo PV, sintam-se à vontade!