The Boy of Mysterious Eyes escrita por Clariie


Capítulo 3
Capítulo 2. – Malditos olhos misteriosos


Notas iniciais do capítulo

(CAPÍTULO ATUALIZADO)
Oi, desculpem-me pela demora.
Estou triste, somente 3 reviews, gente. Três! Isso é maldade, só pode.
Mesmo assim, obrigada a quem comentou:
— sunshine
— NicoleLynch
— Sleeping Beauty
Obrigada mesmo, meninas. Amo vocês! E por último, mas não menos importante...
— Ally Faria
Que comentou depois.
Então, no final é 4 reviews.
Sem mais delongas, boa leitura e ENJOY!



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Acordei com o barulho das turbinas do avião pousando, abrindo meus olhos lentamente por conta dos raios crepusculares que atravessavam a pequena janela da aeronave ao meu lado. Organizei-me e quando, finalmente, aquele enorme avião pousou em terras floridianas eu desembarquei ao compasso dos outros passageiros, ao chegar ao terminal do Aeroporto Internacional de Miami esperei Hayden e Colle aparecerem já que eles haviam ficado à algumas poltronas atrás da minha e provavelmente ainda estavam tentando desembarcar.

Logo ia procurar por eles, quando os avistei no final da passarela.

— Vamos pegar nossas malas – disse, animada. Dando então um abraço desajeitado por trás em Colle assim que se aproximaram mais.

Hayden saiu andando pelo aeroporto procurando a esteira de bagagens, Colle o seguiu comigo ao seu encalço. Depois de pegar minha mochila e malas com a ajuda dos garotos, afastamo-nos mais do centro do salão para checar se estava tudo certo com nossas bagagens.

Hayden retirou alguns papéis embolados de dentro de sua mochila.

— Preciso fazer o check-out – disse. – Vocês podem ficar ali por enquanto.

Ele gesticulou em direção aos bancos dispostos à poucos metros de onde estávamos.

— OK – assenti.

— Eu quero ir no banheiro, Hayden – disse Colle.

— Então, vamos, Colle.

Hayden saiu com Colle sem falar mais nada, virei-me e caminhei na direção oposta à de meus irmãos. Sentei em uma das cadeiras na primeira fila, passando a mochila das minhas costas para meu colo e puxando a grande mala para meu lado. Esperei por alguns minutos, mas os meninos estavam demorando bastante. Já estava impaciente em ficar apenas contando a quantidade de pessoas que passavam por mim, decidi então ouvir música. Procurei dentro da mochila por meu celular, mas não encontrei. Mas como?, pensei. Eu o coloquei aqui antes de embarcarmos. Resolvi procurar melhor, retirando coisa por coisa, mas não adiantou em nada. Desesperei-me com a ideia de ter pedido o telefone novinho que eu mesma comprara com minha economias.

Chutei a grande mala, fazendo-a cair com um baque surdo. Curvei-me sobre a mala, abrindo o zíper e comecei a procurar entre as roupas. De objetos a parte, retirei minha agenda, alguns tênis, secador e a prancha de cabelo, o babyliss e minha caixinha de música. Tudo que restara na mala foram roupas, então cuidadosamente, sem bagunça-las, tateei entre os tecidos. Achei o celular entre as últimas peças de roupas da mala. Xinguei-me mentalmente por isso e coloquei o celular no bolso da jaqueta jeans, enquanto guardava os objetos de volta para a mala.

E quando eu organizava os tênis em um canto para que coubesse tudo direitinho, senti uma topada na minha canela exposta pelo vestido, acompanhado por um puxão. Caí para o lado, de costas no chão.

— Céus! – berrei, aturdida com o encontro da minha cabeça com o chão.

— Ei – disse o garoto, já de pé. – Você está bem?

— Hmm. Acho que sim – respondi. – Desculpa aí pelo tombo, eu não deveria estar no chão de um aeroporto super movimentado. Isso seria o inevitável.

— Não precisa pedir desculpas, garota – disse, com o semblante sério. Ele estendeu sua mão, ajudando-me a levantar.

Ele parou na minha frente e mesmo sem razões ao meu favor, irritou-me a forma que ele pronunciou “garota”.

— Eu me chamo Allyson – disse, ríspida – Não “garota”. E eu peço desculpas porque eu tenho educação, diferente de outros.

A última parte era para sair mais como um cochicho, mas o garoto ouviu e ainda por cima me fuzilou com os olhos. E mesmo não querendo, eles chamaram minha atenção. Eu só não conseguia desviar meus olhos e, com isso, percebi que o ignorante ali tinha – infelizmente – um belo par de olhos. Suas cores pareciam estar em plena guerra, não pude obter melhores detalhes pela distância, mas notei que eram uma mistura louca entre o castanho-claro e o verde. O garoto, em si, além de ter um par de olhos plausíveis aparentava ter, no mínimo, 1,80 de altura considerando sua altura a minha. E seu corpo era musculoso, mas discreto. Eu não consegui distinguir o tom de seus cabelos, pois ele usava um capuz preso à jaqueta de couro surrada, seu jeans também era escuro, a camiseta cinza e para completar o visual de bad-boy um par de all-star desgastado.

Cruzou os braços ao peito, pigarreando propositalmente ao me ver lhe observando. Corei.

— Eu também tenho educação, garota – contrariou, indignado.

— Uhum, percebesse – ironizei.

Ajoelhei-me ao lado da mala guardando os restos das coisas. O garoto me observava atentamente, agora com as mãos dentro dos bolsos das calças.

— Perdeu alguma coisa? – indaguei, sarcasticamente. Não suportava mais aqueles olhos curiosos sobre mim.

— O que você está fazendo? – respondeu-me com outra pergunta.

— O que parece? - respondi da mesma forma, encarando-lhe.

Ele riu baixinho, com a cabeça voltada para o chão e as mãos ainda no bolso das calças e eu simplesmente não consegui desviar meus olhos de seu sorriso de lado.  Isso me irritou, de fato. Como eu posso ficar tão “hipnotizada” por ele, sendo ele tão arrogante? Argh!

Terminei de guardar minhas coisas na mala, jogando-as de qualquer jeito. Mantinha meus olhos adiante.

— Você é bem fria, garota – disse, olhando-me através dos cílios grossos.

Levantei-me do chão junto com a mala e agradeci sarcasticamente:

— Obrigada, idiota.

Caminhei de volta a cadeira que minha mochila estava e guardei o que eu havia tirado anteriormente com raiva. Puxei as cordinhas da bolsa, fechando-a e pus uma alça sobre o ombro, puxei meu fone do bolso da mochila e conectei no celular.

Enquanto procurava uma música em minha playlist o garoto pestanejou:

Idiota? – gargalhou secamente. – Você nem me conhece, garota, e já vem me chamando de idiota? – ele estava furioso.

Isso vai ser bom, pensei com sarcasmo e desdém. Mal cheguei e já vem gente implicar comigo!

Ri secamente e fitei seus olhos, confiante.

— Não conheço, mas posso chutar – disse. – Hmm. Você é aquele tipo de garoto que acha que o mundo gira em torno do seu eixo, “pega” mais de uma garota por noite, provavelmente tem uma motocicleta e se acha a última garrafinha d’água do deserto – inalei o ar, provocando-o –, tem aquele cheirinho de “bad boy”, cafajeste e encrenca, na certa.

O garoto me observava atentamente, com um sorriso orgulhoso nos lábios.

— Ótima observação a sua – admirou, aproximando-se lentamente de mim. –, agora é a minha vez. Você não têm muitos amigos, é super reservada. E a única pessoa a quem confia é sua única e melhor amiga, e olhe lá, ainda acho que você não confie em ninguém a não ser si mesma. Isso é egoísmo, sabia? – não lhe respondi, mas isso não lhe impediu de expor mais um sorriso de lado. – Você é a aluna mais interessada da classe que tira sempre A+. Deixa os pais orgulhosos cada segundo de suas vidas. Toca piano, isso é certeza... Ah, quase me esqueci do principal: Você pode ser fechada, mas não é santinha.

Com uma piscadela, concluiu seu argumento. Notei que ele estava próximo, próximo demais para o meu gosto.

Tentei não vacilar ou tremer ao empurrar seu peitoral de leve, afastando-o.

— Sinto muito, mas dizer todas essas mentiras não tira seu posto de idiota – senti meu maxilar tremer, o que só acontecia quando eu mentia. Dei meia volta, agarrei o puxador da mala e saí pisando duro com o fone no máximo.

Fiquei pensando em suas palavras. Como ele poderia ter acertado tudo? Está tão na cara assim o tipo de pessoa que eu sou?

Caminhando pelo aeroporto à procura de meus irmãos, pensei em todo esse diálogo. Que raiva! Quem ele acha que é pra chegar em mim com ignorância e ainda mais dizer exatamente como eu era?

Estava tão presa em meus devaneios que nem percebi quando Colle e Hayden pararam na minha frente.

— Oi.

Eles cumprimentaram-me e Hayden explicou o motivo por terem demorado, também disse que havia feito o check-out e que já poderíamos ir para nossa nova casa. Agradeci por isso, ao menos eu sairia desse aeroporto. Comecei a caminhar em direção ao portão de entrada em silêncio, sendo seguida pelos meus irmãos. Pegamos um táxi e Hayden lhe deu o endereço de nossa nova casa. Durante toda a corrida eu me mantive calada apenas observando todas as luzes de Miami ao anoitecer. Miami era encantadoramente iluminada. Os arranha-céus, as pessoas andando pelas calçadas, os outdoors nas avenidas... Tudo, até mesmo sua energia positiva.

Saí de meus devaneios quando o táxi parou, indicando que já havíamos chegado. Desci do carro junto a meus irmãos, tiramos nossa bagagem do veículo e Hayden pagou a corrida. Estávamos parados em frente a uma casa de dois pisos – sem contar o provável sótão –, cinza com detalhes brancos, janelas grandes, uma varanda e um jardim no quintal da frente.

Não pude admirar muito a casa, meus pés latejavam dentro daqueles tênis, clamando socorro. Ao entrar na casa a primeira coisa que eu fiz foi me jogar no enorme sofá lilás da sala.

— Que beleza de sofá – berrei levada ao excesso de conforto.

Hayden exibiu um sorriso convencido.

— Agradeça a mim, baby. – mostrou ainda mais os dentes. Ele estava se achando.

Levantei com um esforço danado daquele sofá e abracei Hayden de lado, agradecendo:

— Obrigada, baby – beijei suas bochechas. – Acho que vou subir, tomar um banho e organizar minhas coisas no armário.

— Acho bom mesmo, você está precisando de um banho – Colle gritou já de outro cômodo da casa. – Talvez ajude a você acabar com toda essa melancolia.

Gargalhei já no segundo piso, me perguntei qual seria meu novo quarto. Havia cinco portas – três do lado esquerdo e duas do direito do corredor. Abri a primeira porta da esquerda e vi um quarto branco com detalhes escuros, simples. Abri a segunda porta da esquerda e vi um banheiro branco com detalhes de madeira, abri a terceira porta da esquerda e vislumbrei o quarto de Colle – tinha paredes pretas e azuis e pintado no teto escuro galáxias e astros em 3D. Fechei a porta e atravessei o corredor, abri a segunda porta do lado direito e meu queixo caiu.

Gritei de alegria e empolgação, não acreditava no que via.

— Ally! – Hayden gritou por mim. Ouvi seus passos rápidos e pesados no assoalho da escada. – O que foi? Por que você gritou...

Hayden estava atrás de mim e no momento em que ele viu aquele cômodo deve ter ficado sem palavras, assim como eu. O cômodo era uma sala com todos os meus instrumentos. Tinha dois violões em um suporte num canto; uma guitarra e um baixo presos na parede; um violino e um violoncelo em outro canto; uma bateria e o que mais me chamou atenção: um piano! Um piano vertical negro, deslumbrante e perfeito. Andei devagar até o piano com medo de que tudo aquilo fosse fruto de minha imaginação, passei meus dedos delicadamente sobre algumas teclas, ainda atônita, pressionei uma tecla que emitiu um som agudo fazendo-me levar um leve susto. Susto esse que serviu como um beliscão. Era real!

Olhei para a porta do cômodo com os olhos marejados de tanta emoção e vi Hayden com um bastão de beisebol e Colle com duas frigideiras, fitei os dois com um sorriso questionador.

— Ah, nós pensamos que era alguém que estava na casa – disse Hayden, acariciando a nuca.

Dei de ombros, rindo deles.

— Olha tem um cartão – Colle mostrou um pedaço de papel-cartão amarelo dobrado sobre o piano.

Olhei para o pedaço de papel pequeno e abri entre os dedos. Em letras elegantes e cursivas lia-se:

“Espero que tenha gostado de minha surpresinha, queria estar entregando-lhe pessoalmente, mas não posso, espero que me desculpe, querida. Te amo e estou com saudades! 

Com amor, Lester Dawson.

Espero que seus irmãos estejam cuidando bem de você.”

Quando percebi, estava chorando. Aquelas poucas palavras eram tudo que faltava para me deixar feliz pelo resto da semana, mas o que me deixava angustiada era em saber se aquelas palavras eram reais. Senti-me triste por ele não estar ali, não me importava se ele não tivesse feito aquele quarto, o que eu queria era apenas um abraço dele. Queria saber se ele realmente me amava, se me considerava como sua filha. Pois com a empresa, reuniões, festas e a distância eram poucas as vezes em que nos víamos, estava sempre ocupado. E isso faz-me duvidar se ele realmente gosta de mim, se é apenas uma máscara que cobre o seu rosto.

 Hayden e Colle me encaravam com expressões que diziam ei, o que diz? Queremos saber!. Sorri, indo abraça-los.

— É de Lester, o bilhete. Ele mandou isso tudo como uma “surpresinha”, ele diz que queria ter me presenteado pessoalmente, mas não pôde. Talvez seu trabalho esteja corrido, como sempre. Ele está com saudades e espera que vocês dois estejam cuidando bem de mim.

Afrouxei um pouco o abraço para poder olhar seus rostos. Hayden revirou os olhos e Colle fez cara de pouco interesse. Ri entre lágrimas.

— O que mais queriam? – disse eu. – Vocês têm sorte de eu morar com vocês depois da morte de Penny, lealmente, ele quem está com minha guarda.

Eles reviraram os olhos em um ritmo perfeito.

— Lester sempre jogando na nossa cara de que ele pode levar você no momento que quiser – disse Hayden sem graça. – Só porque é seu pai.

— Não é verdade – respondi, com um certo incomodo. – Duvido que ele queira me levar, mas se sim, eu não vou. Vocês não vão se livrar de mim tão cedo, garotos.

Rimos e Colle berrou com ar brincalhão:

— Que péssima notícia não é, Hayden...

— Péssima notícia, Colle – concordou, sorrindo e meneando a cabeça.

Rimos outra vez, abraçados.

— Ei! – repreendi os dois, ainda rindo. Separei o abraço, passando entre os dois, fui até o piano e abaixei a proteção das teclas. Saí da sala empurrando meus irmãos para o corredor e fechando a porta atrás de mim. – Vocês deviam agradecer à Lester pela casa.

— Não é pra tanto, ainda iremos pagar o aluguel, Ally – Hayden rolou os olhos. Pois é, ele dizia a verdade, talvez possa parecer egoísmo de nossa parte por termos recusado a casa para nós, o problema é que Hayden e, principalmente eu, queremos ser independentes. Quero me acostumar com a vida adulta.

Deixando meus irmão para trás, entrei na última porta que faltava – a primeira do lado direito. Meu quarto era lindo e dava as aparências de ser bastante aconchegante. As paredes tinham um tom de pêssego com detalhes dourados, uma cama box com gavetas e de cada lado dela havia um criado-mudo, na parede da porta tinha uma penteadeira, na parede oposta uma porta branca que provavelmente levava ao banheiro, uma estante também branca para livros e no centro do quarto havia um tapete e uma mesinha de centro pequena.

Estranhei não ter um armário ali, onde vou guardar minhas roupas?, pensei, mas resolvi me preocupar com isso depois.

Atravessei o quarto, abrindo a porta branca e meu queixo tocou o piso pela segunda vez na noite. Eu tenho um closet, pensei em gritar. E ele está cheio de roupas e sapatos novos, não acredito!

Dentro do closet tinha um carpete claro e as paredes eram douradas, mas não fazia diferença já que todas elas eram cobertas por prateleiras e armários brancos. Do lado da porta, havia uma cômoda branca e do lado da cômoda tinha outra porta. Mais uma?, pensei entusiasmada.

Abri ela, descobrindo o banheiro. Branco com detalhes dourados, era pequeno, mas perfeito para mim. O box era uma banheira na parede oposta à porta com cortina e na outra parede tinha o vaso-sanitário e uma pia com um armário e um grande espelho. Que bom que não tem mais porta, pensei.

Fitando aquela banheira reluzente parecia que ela me chamava, convidando-me para um banho relaxante. E como eu estava exausta de toda aquela viagem, resolvi tomar um banho naquele instante. Despi-me e entrei dentro da banheira ainda vazia, liguei o chuveiro e deixei a água morna escorrer pelo meu corpo, relaxando cada músculo. Lavei meu cabelo e ensaboei-me. Saí do box, enrolei-me na toalha que tinha no armário da pia e procurei por outra para enrolar meu cabelo. Entrei no closet e vasculhei no meio das roupas procurando por algum pijama, encontrei um blusão e calças moletom. Prendi meu cabelo em um coque e desci para a sala, onde estava minha mala e mochila.

Subi as escadas com as bagagens e joguei sobre a cama a mochila, fui com a mala maior para o closet. Deitei a mala sobre o carpete e abri o zíper, tirei todas as roupas e sapatos para organizar nos cabides e prateleiras. Uma hora depois eu havia arrumado todas minhas roupas e sapatos em seus devidos lugares. Olhei para a mala aberta no chão e estranhei, dentro dela só havia minha caixinha de música, uma lapiseira e algumas folhas soltas, mas... Cadê meu diário?

Não me desesperei, ele poderia estar na mochila. Atravessei a porta que já estava aberta e abri a bolsa, sacudi-a com a abertura para baixo. Caiu a maquiagem, ipod, alguns acessórios pessoais e um conjunto de roupas, mas nada do meu diário. Agora sim eu me desesperei.

Saí do quarto gritando por Colle. Ele pode ter escondido por brincadeira, era uma hipótese. Entrei em seu quarto, furiosa, abrindo a porta bruscamente, Colle estava mexendo em seu notebook em cima de sua cama.

— Mas que droga é essa? – gritou.

— Cadê meu diário, seu xereta?

Colle levantou as sobrancelhas prestes a falar algo óbvio, de sua parte.

— Eu sei lá. O diário é seu, não meu.

— Você pegou – gritei não aguentando mais. –, e de novo!

Hayden apareceu na porta do quarto confuso.

— Que gritaria é essa?

— O Colle pegou meu diário e não quer devolver – expliquei.

Colle ficou em pé no colchão, injuriado.

— Eu não peguei nada. Eu juro.

Hayden olhava atento para Colle.

— OK, Colle – Hayden pediu com um gesto para que descesse do colchão e virou-se para mim, segurando meus ombros. – Aonde foi que você viu seu diário pela última vez, Ally?

Pensei sobre a pergunta.

— No aeroporto, quando vocês estavam fazendo o check-out – pensei mais e lembrei que a última vez que vi o diário foi quando eu estava procurando meu celular dentro da mala. –, ele estava na mala... aquilo saiu mais como um sussurro. Lembrei que eu havia tirado de dentro da mala com outros objetos, mas eu não me lembrava de tê-la guardado. Droga!, lembrei. Foi depois que eu discuti com o garoto do aeroporto. E então, tudo fez sentido. Eu havia deixado no chão do aeroporto!

— Ally?

 – Não acredito – minha visão embaçou com as lágrimas. –, a agenda ficou no aeroporto e...

Lembrei-me de nossa última noite em Los Angeles, quando eu arrumava minhas malas. Eu havia guardado dentro da agenda meu relicário para que ficasse mais seguro e não corresse o risco de sumir. O relicário que mamãe havia me dado quando completei meus dezesseis anos, era um presente de família!

— E... – incentivou Hayden, tirando-me de meus devaneios.

— Meu relicário estava dentro da agenda – minha voz saiu em um fio, embargada pelas lágrimas que caiam freneticamente. – Meu relicário, Hayden! O único presente de mamãe que eu tinha.

Eu estava atônica, em um desespero interno. Meu irmão mais velho me abraçou e eu pude ver por cima de seu ombro Colle com os olhos baixos, preocupado.

— Como foi que você perdeu se eles estavam na mala, Ally? – perguntou Hayden, confuso.

— Eu havia tirado algumas coisas da mala para procurar meu celular e quando fui guardar, esqueci o diário no chão. – omiti alguns detalhes desnecessários, afinal ele não precisa saber sobre o garoto do aeroporto.

— Podemos ligar para a assistência de lá e comunicar a perda – propôs Colle. –, talvez algum funcionário tenha encontrado.

— As chances são mínimas.

— Não seja tão pessimista, Ally – pediu Hayden, saindo do quarto. – Vamos ligar.

Descemos a escadaria e ligamos do telefone fixo da cozinha. Hayden falou com a assistente do aeroporto por poucos minutos.

— Então? – disse eu, quando ele desligou.

— Ela disse que até agora ninguém levou nenhum diário marrom com a letra A na capa ou algo parecido para o “Achados e Perdidos” do aeroporto – dizia, cauteloso -, mas caso alguém não entregue a agenda, ela comunicará com alguns funcionários para que procurem.

— OK – disse eu, simplesmente.

O silêncio havia se instalado no ambiente, cada um com seus pensamentos. Não podia mentir para mim mesma, mas eu estava com medo. Com medo de não achar nunca mais o relicário, era tudo que eu tinha de mamãe em matéria. O resto eram lembranças. Lembranças que só me fazem sofrer ao serem lembradas.

Hayden pigarreou, chamando nossa atenção para si.

— O que vamos jantar?

— Pizza – respondeu Colle, animado com a ideia.

— Estou sem fome – respondi, saindo da cozinha - Vou subir.

Hayden assentiu ressentido e o sorriso que antes preenchia o rosto de Colle, desfez-se. Não queria que meus irmãos ficassem tristes por minha culpa, isso me incomodava e fazia com que ficasse com raiva de mim mesma.

— Sério, pessoal, eu comi no avião – tentei outra vez – Eu estou bem.

Hayden me fitava com uma expressão triste e cabisbaixa.

— Seu maxilar tremeu – disse.

Depositei um beijo na bochecha de cada um desejando uma boa noite. Subi as escadas e entrei em meu quarto, fechando a porta atrás de mim. Joguei-me na cama esperando que o sono chegasse logo, mas não foi o que aconteceu. Fiquei horas acordada pensando em coisas retóricas, em como meu primeiro dia se tornara péssimo. Talvez eu tenha criado muitas expectativas, talvez o destino não fosse com a minha cara. Eram tantos talvez... que eu só queria ter a chance de poder recomeçar aquele dia, dessa vez, com o pé certo.

Todo aquela melancolia que só aumentara, causou-me uma exaustão psicológica infernal. Tive vontade de chorar, pedindo que um milagre acontecesse em minha vida, fui dormir.


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Notas finais do capítulo

E então? Comentem, preciso saber.
Amo vocês... e até os reviews.
Beijocas.