The Boy of Mysterious Eyes escrita por Clariie


Capítulo 14
Capítulo 13. – Como uma peça


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, amores.
Trouxe mais um capítulo, desta vez totalmente auslly e coberto de drama. Pois é, não sei se notaram antes, mas eu adicionei o gênero "drama" à fanfic. Mas isso não significa que a partir de agora a fic vai ficar cheia de melodrama e chororô. Não, acalmem-se! É que, como podem lembrar no capítulo passado, a Ally teve uma discussão com o Lester e tals, daí ainda vai rolar umas treta muito das loucas. Sobre o passado dela principalmente...
E agora gostaria de agradecer muito, muito mesmo, aos meus amores que retornaram:
— Lari
— Jullya Fernandes
— Sweet Clary
— Juliana Lorena
— divademi22
— cycyr5
Amei os comentários de vocês, meus amores! Obrigada pelo apoio e pelas palavras de incentivo. Amo vocês!
Então, sem mais anseios...
Boa leitura e ENJOY!



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Não me preocupei quanto ao que vestir – a calça vermelha quadriculada de flanela do pijama e uma blusa preta básica de alças finas. E eu só não vou com minhas pantufas coloridas porque iria suja-las e eu não tô nem um pouco afim de lava-las esses dias, mas é só por isso mesmo, caso contrário, eu trocaria meu par de all-star por elas sem nem pensar duas vezes. São tão confortáveis!, choraminguei. Caminhei até o espelho e prendi metade do cabelo com um elástico, deixando assim a parte de baixo solto.

Haviam algumas “bolsinhas” sob e sobre meus olhos, principalmente em minhas pálpebras, por conta do choro, era notável – e bem visível. Não me importei com as “bolsinhas” ou com a vermelhidão de meus olhos, dane-se se eu não tinha me arrumado melhor. Minha vontade para isso chegava a ser negativa. Tudo o que eu mais queria era conversar com alguém àquela altura do campeonato, se tornara prioridade.

Senti meu celular vibrar no bolso da calça. Uma nova mensagem.

“Pronta para a fuga, bad girl?”, dizia.

Não contive o mero sorriso.

“Você está?” “Desço em um minuto”, enviei-lhe sucessivamente.

“Já nasci pronto, baby”, respondeu na lata.

Eu poderia ver seu sorriso de lado debochado ao digitar, e mesmo com a tristeza querendo me consumir por inteira eu sorri novamente. Ele até poderia se tornar mais gentil, divertido e, por parte, cavalheiro, mas seu ego inflado e seu deboche ainda seriam sua marca, e eu estava começando a acha-los atraentes.

Quem diria...

Retirei um moletom do cabide por causa do frio noturno de Miami e saí de meus aposentos sorrateiramente. Desci as escadas e atravessei a sala na ponta dos pés em uma missão quase impossível já que o primeiro piso estava totalmente escuro, abri e fechei a porta da sala sem um mísero rangido das fechaduras, o que eu agradeci internamente. Guardei minhas chaves no bolso e corri pelo gramado, Austin havia me dito que estava a duas casas de distância da minha para não correr o risco de seu carro ser reconhecido caso Hayden ou Colle despertasse no meio da noite.

Já na calçada, procurei por seu carro e o vi estacionado a exatamente duas casas só que Austin não estava dentro e nem fora do carro. Estranhei. Quando então duas mãos grandes taparam meus olhos com delicadeza.

— Você só tem uma chance – sussurrou ele, divertido.

O fato era que eu não queria brincar. Não estava com cabeça para brincadeiras, mesmo sendo singelas e sem maldades.

— Oi, Austin— coloquei minhas mãos sobre as suas, retirando-as de meus olhos.

Girei nos calcanhares, ficando assim de frente para o loiro. Ele sugou o lábio superior fazendo beicinho e cara de cachorrinho sem dono decepcionado por eu ter acabado com a brincadeira, sem que nem ao mesmo tivesse começado.

— Assim não tem graça – ele disse e eu revirei os olhos.

Talvez por eu ter revirado os olhos, eles aparentemente chamaram a atenção do loiro, que soltou uma de suas mãos que eu ainda segurava e tocou sob meu olho esquerdo, acariciando ali com o polegar. Ele pareceu estudar meu semblante por alguns instantes, e depois franziu o cenho.

— Estava chorando, Allyson? – questionou, preocupado.

Desvencilhei meu rosto de sua palma e com um sorriso amarelo e pequeno, respondi:

— É uma longa história.

Austin com a mão livre segurou com delicadeza meu queixo entre seu indicador e polegar fazendo-me olhar pra ele novamente, com a outra mão apertou em um gesto de confiança a minha que a segurava.

— Temos bastante tempo – afirmou baixinho, perfurando-me com seus olhos avassaladores e sensatos.

Ele correspondeu ao meu sorriso da mesma forma, e ali, naquele sorriso, eu pude ver que ele estava sendo sincero, desde o seu olhar e toque às suas palavras.

— Se preferir, podemos comprar nossos sorvetes primeiro, mas eu só quero que você saiba que eu estou aqui para ouvi-la e se me permitir, ajuda-la no que estiver ao meu alcance – continuou. – Tudo bem, pequena?

Ao ouvir suas palavras, senti uma vontade imensa de chorar, sentir seu braços fortes e protetores ao redor dos meus ombros, me confortando enquanto eu despejava todos os meus sentimentos e mágoas desde a morte de mamãe, mas preferi engolir o choro e deixar que o nó em minha garganta aumentasse mais. Como eu poderia recusar um pedido desses?, pensei. Aliás... Como eu poderia resistir à tentação de apaixonar-me por Austin Moon?

— Quero sorvete de uva.

Ele sorriu de lado e apertou-me em um abraço rápido, porém acolhedor e carinhoso. Puxou-me de leve pela mão em direção ao seu carro. Entramos no veículo, logo ele dando partida. Viajamos pelas ruas silenciosas, evitando as avenidas mais movimentadas. Permanecemos todo o percurso com destino para sei lá onde, calados e quietos. Absortos pelos nossos pensamentos e sentimentos que tanto fluíam.

Depois de quase 10 minutos em silêncio, Austin surpreendeu-me ao ligar o sistema de som, assim sendo uma melodia soou por todo o carro – calma e serena. O som do violoncelo acariciando meus ouvidos, como asas de anjos e fadas. Eu não reconhecia a canção, era uma mistura perfeita entre o clássico e o rock.

Senti-me no céu, como se rolasse ladeira abaixo sobre nuvens.

— Não achei que você gostasse de música clássica.

Ele sorriu de lado, feliz pelo iceberg ter se partido.

— Essa é especial – com uma piscadela, cochichou.

E depois a conversa foi fluindo. Falamos sobre coisas banais, como por exemplo nossos músicos e canções preferidas. E somente quando ele estacionou em uma rua sem um sequer movimento, em frente a um pequeno jardim.

— Onde estamos, Austin? – questionei sem tirar os olhos daquele pequeno pedaço de paraíso.

Árvores, flores, pedras, alguns bancos, e eu poderia ouvir o barulho de água caindo ao longe sendo certamente um chafariz.

Descemos juntos do carro.

— Seu sorvete de uva não vai surgir em vossa mão do nada, vai? – brincou fazendo-me rolar os olhos.

— Engraçadinho você, hein... encenação plausível! – entrei na brincadeira.

Ele atravessou a frente do carro em segundos, segurou minhas mãos e as balançou delicadamente, como se dançássemos.

— Encenação não, meu bem – aproximou seu rosto do meu, curvando-se levemente, e sussurrou com seu hálito quente de menta: – estou apenas cumprindo minha missão esta noite.

— Qual missão, Moon? – perguntei com os olhos estreitos, desconfiada.

Ele riu abertamente, e de súbito, beliscou meu queixo com seus dentes.

— De fazê-la sorrir, Allyson. Sorrir verdadeiramente.

Encantada com sua resposta, sorri largamente.

— Olha aí – tocou seu indicador na ponta de meu nariz –, já estou começando bem.

Olhei-o completamente encantada. E fitando sua bela face por meros segundos, eu senti vontade de beijá-lo. Ele ainda mantinha um sorriso em seus lábios e olhos, e eu certamente o encarava curiosa. Como alguém poderia ser tão... incrível?

— Vamos comprar seu sorvete, Allyson? – ele quebrou o silêncio com delicadeza, e eu agradeci-o silenciosamente por isso, caso contrário, eu não responderia por mim com aquele garoto olhando pra mim e sendo tão bondoso.

— Como eu poderia recusar isso? – pensei alto, literalmente. Reprimi-me na hora, principalmente por ainda ter enrubescido por saber que aquilo não se referia exatamente a sua pergunta relacionado ao sorvete.

Austin riu abertamente certamente por me ver embaraçada, ele estreitou os olhos com divertimento e seu sorriso rotineiro de lado.

— OK, então...

Ele sorriu ainda desconfiado, passou o braço sobre meus ombros e com uma mão livre segurou a minha por trás de suas costas e entrelaçou meus dedos aos seus, em meu ombro. Estranhamente, era como se estivéssemos ligados um ao outro. Dobramos a esquina depois de dois prédios antigos e atravessamos a rua.

Austin parou e dramaticamente, cantarolou as palavras:

— Minha cara, é com imenso prazer que lhe apresento o Cadillac Jacks. – com os braços erguidos para a placa rosa e azul bebê em neon, ele sorriu largamente. – Sinta-se bastante especial, pois esse é um dos restaurante-barra-lanchonetes mais importantes pra mim.

Fitei-o e ri com todo aquele drama. O estabelecimento tinha um ar dos anos 70’ s com as cores rosa e azul cobalto estampadas nos papéis de paredes florais, o piso de ladrilhos creme e as grandiosas janelas de vidro com pisca-piscas entornando-as. Era adorável.

Entramos na pequena lanchonete, um sininho preso a porta avisando a chegada de clientes.

— Como você sabia que aqui estaria aberto? – questionei intrigada. – Aliás, às uma da manhã?

— Na maioria das vezes em que viajei durante minhas férias, quando meus pais estavam cheios do trabalho e não podiam vir comigo, Zelda me trazia pra Miami e como esse lugar é de sua família eu vinha muitas vezes aqui, durante minha infância e adolescência – explicou-me, após beijar a palma de minha mão em um gesto carinhoso – E eu sempre soube que aqui ficava aberto durante a madrugada por conta da praia.

— Hmm...

Respondi simplesmente, e tentei imaginar um Austin criança se lambuzando com sorvete de chocolate ou calda de panqueca, até mesmo ele com seus 13, 14 anos paquerando alguma garota.

Ele sorriu para mim, e me perguntei se ele poderia ter o dom de ler mentes. Se sim, eu estava ferrada. Quando então um grito estridente fez abalar meus ouvidos.

— Austin!

Olhamos juntos em direção a garota que deslizava toda desajeitada sobre seus patins rosa choque cintilantes. Ela aparentava ter uns 15 anos, com um par de maria-chiquinhas, uma baby-look de botões com estampa de bolinhas com um nó pouco acima do cós do short de cintura alta preto curtíssimo. Seus olhos era de um azul hipnotizante, enquanto seu cabelo amarrado era preto e sua pele mais parecia de porcelana, seus lábios eram vermelho como sangue. Instantaneamente, lembrei-me da Branca de Neve.

Então Branca de Neve se jogou nos braços do loiro com um entusiasmo contagiante, abraçando-o.

— Oi, Lind.

Austin retribui seu abraço apertado. Então a antes Branca de Neve agora Lind soltou-o quase se desequilibrando sobre as rodas do calçado.

Ela sorriu largamente, e eu vi o aparelho metálico em seus dentes.

— Desculpa o entusiasmo, gente. É coisa do momento – ela rolou os olhos e sorriu mais assim que seus olhos bateram em mim.

— Oi, Ally— apertou-me em um abraço inesperado.

Eu pude ver por cima de seu ombro, Austin rindo de minha cara de espanto.

— Eu sou a Lind, Lindsey para ser exata – ela deu de ombros e rolou os olhos outra vez. – Você não imagina o tanto que eu ouvi falar de você.

Estreitei os olhos para Austin e sorri para Branca de Neve.

— Primeiro, por que todos sabem meu nome antes mesmo de eu me apresentar? – indaguei confusa – Outra, quem falou muito de mim para você, Lind?

— Um passarinho aí – ela sorriu brincalhona e piscou para Austin.

Fiquei mais confusa ainda. Austin falou de mim para ela? Se sim, por quê? E o quê?

— Tenho minhas suspeitas sobre quem seja esse passarinho fofoqueiro – Austin cruzando seus braços sobre o peito e fuzilando Lind, disse.

— Rydel?

— Talvez... – respondeu-me ainda olhando para a garota como se desafiasse-a a dizer a identidade do “passarinho” – Mas pra mim esse passarinho é russo e tem cachos cinzas.

— E um piercing no nariz – a garota completou e gargalhou com a cara de “consegui” do loiro.

Depois, por quase meia hora, conversamos todos juntos; Lind me contava todas que já havia aprontado na companhia de Siniy, Austin e Rydel, e pelo que fiquei sabendo eles aprontavam muitas, e como de se imaginar quem mais sofria era Branca de Neve por ser a mais jovem do grupo.

— Mas, gente. Coitadinha de você, Lind – falei entre risos.

— Coitadinha? – o loiro indagou indignado – Allyson se você soubesse o que Lind fazia com todos nós, você com toda certeza não diria isso. Prometo.

Sorri mais ainda, vendo a cara de ofendida da moça. Ela colocou a mão sobre o peito dramaticamente, pra mim ela parecia uma versão mais jovem de Rydel, mesmo sem ter algum parentesco além da amizade de tantos anos.

Ela verbalizou:

— Nossa, Moon. Desse jeito você me ofende.

E assim seguiu as horas seguintes. Conversamos sobre coisas banais; escola, amigos, filmes e por fim nossa infância e adolescência. Particularmente essa foi a parte mais difícil pra mim. Enquanto falavam sobre, permaneci quieta, apenas concordando com a cabeça e forçando-me a sorrir quando necessário. Aquilo me fez lembrar de meus irmãos e Lester. Eu não queria pensar neles agora, pois se somente pensar na nossa situação atual me doía, dilacerava meu coração, então não queria saber o que aconteceria se eu caso pronunciasse seus nomes. Chorar talvez seria o mínimo.

Desviei meus olhos de Lind a minha frente que tagarelava sem parar e virei minha cabeça um pouco para o lado, disfarçadamente, sequei uma lágrima solitária que tanto insistiu em cair. Surpreendo-me ao sentir a mão de Austin espalmada sobre a minha sob a mesa.

Ele notou?

— Lind, hmm — ele parecia desconfortável – você poderia trazer uma casquinha de uva pra viagem, por favor?

— Mas vocês já vão? – perguntou tristonha.

— É melhor, já está tarde e temos aula amanhã – explicou calmamente – Ally precisa descansar.

Ajeitei-me novamente no sofá, sorri minimamente para a loira assim que ela assentiu e saiu indo preparar o sorvete. Assim que ficamos sozinhos, ele ergueu nossas mãos unidas apoiando seu cotovelo sobre tampo da mesa e estudou minuciosamente nossos dedos entrelaçados em silêncio.

Olhei para as nossas mãos juntas, e permaneci no mesmo estado. Seu polegar traçava o contorno do meu polegar.

— Por que se preocupa tanto comigo?

Não ousei olhar para Austin, e não senti seu olhar sobre mim. Ele mexeu a cabeça observando nossas mãos por outro ângulo.

— Conte-me um único motivo para eu não me importar com você. – pediu baixinho, sua voz serena e melodiosa.

— Insegurança – falei de mim mesma – medo, talvez.

— Tens medo de mim, Allyson?

Senti seus olhos queimarem minha face, ele fitava-me com interesse em sua resposta, com interesse em cada detalhe de minha expressão.

— Claro que não, Austin – sorri envergonhada, na tentativa de amenizar a tensão.

— Então do que tem medo? – ele questionou confuso – Por que está insegura?

Por que eu estou insegura? Do que eu realmente tenho medo? Seria o momento de expor meus sentimentos bipolares?

— Tenho medo de machucar você – confessei rubra e angustiada comigo mesma. – Tenho medo de machucar a mim mesmo. Assim como machuquei aquelas pessoas que eu mais amava, e como tantas vezes já menti a mim mesma. Todas as vezes que meu coração se machucou, cortou-se, não foi menos que minha culpa. Minha vida é uma farsa, uma peça de teatro de um único ato. Eu me recuso a fechar a cortina por poucos minutos – lágrimas já escorriam violentamente em meu rosto –, pois sei que se eu fechar, serei capaz de ver a tamanha infelicidade que eu vivo. Ou melhor sobrevivo, porque isso não é viver, Austin. Não mesmo.

— Até mesmo sobre sua mãe, seus irmãos? – perguntou ele com serenidade, observando-me quieto. – Sobre nós?

Fitei seu rosto calmo e terno, e pensei duas vezes antes de ser fria com ele. Nós?

— Nos conhecemos a tão pouco tempo, Austin, já estou tentando evitar esse “nós” antes de realmente ser. – respirei fundo, deixando novas lágrimas descerem livres. – Estou poupando você de uma futura desgraça.

— Desgraça? Me poupando? – estava indignado com minhas palavras. Ele segurou meu rosto entre suas mãos e me fez fitar seus belos olhos, seu semblante se suavizou – Se essa “futura desgraça” estiver marcada em minha vida, Ally, não quero que tente evita-la por mim. Eu decido, OK? E se você, como julga ser, for essa desgraça em minha vida, estou disposto a aceita-la – Austin enxugou minhas lágrimas com os polegares e com uma mão, por um momento, acariciou meu rosto. – Eu gosto de você, Allyson, e se você não quiser que nos envolvamos, eu vou entender, OK? Só quero que você não peça pra me afastar de você ou coisa assim, quero que me deixe ser seu amigo. Eu só quero ajudar você, Alls.

Dawson. Allyson. Ally. Pequena e agora, Alls. Não pude evitar um pequeno sorriso. Porém minhas lágrimas insistiam em descer depois que lembrei de outra parte de sua pergunta. É melhor continuar com tudo isso, do que parar por aqui sabendo que cedo ou tarde eu terei que limpar minhas mágoas que continuariam presas, consumindo-me.

Delicadamente, desvencilhei-me de suas mãos e brinquei com um guardanapo sobre a mesa. Mas eu não poderia deixar de sentir o olhar astuto, mas carinhoso de Austin sobre mim.

— Penny sempre foi uma boa mãe, talvez a melhor – sorri entre lágrimas – mas sempre haverá aquelas pequenas exceções. Por capricho dela, eu vivi uma infância reclusa, fechada. Ela não queria que eu saísse na porta de casa, era poucas as vezes, ela que me ensinou a ser assim – engoli em seco ao sentir o nó em minha garganta que só crescia. – Sempre achei que o porquê dela fazer isso comigo era por ter medo de me perder para Lester, mas o fato era que isso não era tudo. Depois de um tempo eu percebi que mamãe tinha medo de perder para Lester, os dois eram egoístas e orgulhosos. Corrigindo, Lester ainda é – funguei evitando as lágrimas durante a frase, não queria derramar mais nenhuma lágrima por Lester, ele não fazia jus delas. – Depois de alguns anos, quando toda a família perfeita já estava formada e eu começara a me incomodar com isso, eu pedi para Penny para me deixar passar uma temporada com Lester, então ela aceitou. Durante os setes meses que eu fiquei lá eu percebi, Penny era igual a mim, ela me ensinou a ser assim, Austin, eu percebi que ela queria minha distância, ela queria que eu fosse morar com Lester na China, do outro lado do planeta, para que ela, Clark e os filhos pudessem viver felizes deixando seu legado de “A família perfeita”. Sem mim.

Solucei e chorei abertamente, provocando mais soluços e nós apertados tanto na minha garganta quanto em meu coração. Como se estivessem apertando-o na palma da mão. Austin me abraçou e chorei em seu ombro, enquanto ele afagava meus cabelos e minhas costas, eu molhava sua camiseta vinho com aqueles gotas pequenas que tanto pesavam.

Funguei e limpei meu rosto com as costas da mão. Respirei fundo e continuei:

— O tal legado não durou muito, assim como minha “exclusão”. Setes meses depois, que se dependesse de mim iriam durar toda minha vida, Clark faleceu e eu voltei pra casa, sabia que mamãe estava de coração partido, mas esse foi apenas a metade do motivo da minha volta. Eu realmente só voltei por que eu podia sentir que Hayden e Colle estavam sofrendo demais com a perda do pai, e eu tinha que ir consola-los, ajuda-los a superar. E também era uma forma de demonstrar meu respeito por Clark, ele foi um bom marido eu sei, e um bom pai também. Não o culpava pelas decisões de Penny, na verdade eu que sempre me culpei, pois antes de eu nascer eles já se conheciam e eram felizes, mesmo com a distância causada pela carreira de Clark. Mas então... depois dos meses de luto terem passado, Penny quis que voltássemos a ser como antes, só que no momento eu me recusei a viver uma vida patética como aquela, eu tinha que jogar na cara dela que sabia toda a verdade, a façanha, seu maldito orgulho e egoísmo, eu havia descoberto tudo. Então, eu o fiz. Cuspi em sua cara tudo o que eu queria, e durante essa briga ela me disse que eu fui um erro — respirei fundo, querendo cessar minhas lágrimas, mas simplesmente não conseguia – Disse que eu não deveria ter nascido. Ela disse com todas as letras e ênfases. Disse que eu estraguei sua vida. Mas então ela aprendeu a me amar com o tempo, dizia para me consolar. E assim eu passei 3 anos de minha maravilhosa vida. Eu simplesmente não voltei pra China porque não queria deixar Hayden e Colle, e porque, por mais difícil e incrível que possa parecer, eu ainda a amava. Mesmo sabendo que tudo era uma peça ensaiada, eu sempre lembrava dos meus momentos felizes com ela. Aquelas exceções me fizeram conviver com ela novamente. Durante os 3 anos. Então ela morreu em um acidente de carro em Santa Monica enquanto voltava pra casa depois de um casamento.

Depois de dar por fim minha história, Austin pressionou seus lábios macios e quentes contra minha testa.

— E hoje eu me forço a apagar essas péssimas lembranças – confessei, assoando meu nariz com um guardanapo e enxugando todas as minhas lágrimas com a palma das mãos. – pedindo a Deus toda noite para que eu ainda possa perdoar sua alma.

— Eu sinto muito, Allyson – ele prendeu uma mecha solta do meu cabelo atrás da orelha e delicadamente, beijou minha têmpora.

Fechei os olhos em deleite da sensação de se ter algum protegendo você.

— Sente pena de mim, Austin? – indaguei por impulso, ainda de olhos fechados.

Ele se afastou de mim para analisar meu rosto e ouvi seu sorriso abafado, provavelmente por me ver de olhos fechados, com medo de sua resposta.

— Eu posso sentir tudo por você, Dawson – acariciou minha bochecha grudenta com as pontas dos dedos. –, menos pena.

Sorri minimamente, agradecendo-o com os olhos e o puxei pela barra de sua camisa para um abraço apertado.

— Obrigada por me ouvir, Austin.

— Sempre, pequena.

Depositou um beijo em minha cabeça e apertou-me mais em seus braços. Daí veio um de seus argumentos em minha cabeça, um dos que marcou.

"Se você não quiser que nos envolvamos, eu vou entender, OK? Só quero que você não peça pra me afastar de você ou coisa assim, quero que me deixe ser seu amigo. Eu quero ajudar você, Alls.". E justa aquelas poucas palavras que mais se fizeram lembradas: "Eu gosto de você, Allyson"

Por Deus, o que eu faria agora?


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Notas finais do capítulo

OMG! eu amo muito o Austin nesse capítulo, meninas. E vocês, o que acharam? Não só do nosso loiro e sim de todo o capítulo. Todas as mágoas do passado da nossa pequena.
Comentem, por favor. Isso me deixa tão feliz, me ajuda a entender o ponto de vista de vocês sobre a fic, então são mega importantes!
Comentem, favoritem, acompanhem e recomendem se merecer. Amo vocês!
Beijos.
PS. O capítulo auslly foi para "compensar" pelos anteriores que o Austin quase não deu as caras hehehe.