Matt me olhou tão surpreso como eu estava e em seguida se aproximou de mim. Ele parecia nervoso de todas as formas possíveis e eu nunca havia o visto daquela forma. Seus olhos pareciam cansados e ele passava a mão em seus cabelos escuros inúmeras vezes. Aquele era o seu típico gesto de nervosismo e eu acabei por ficar ainda mais nervosa quando percebi que as batidas na porta não cessaram.

— O que vamos fazer? — perguntei em um sussurro.

— Eu vou sair e tente não fazer barulho nenhum se não quiser um escândalo digno de novela mexicana — Matt falou em um sussurro e eu me sentei na cama desarrumada e vesti meu vestido branco.

Ele abriu a porta e saiu sem dar tempo de Mike ver nada de dentro do quarto. Observei a cama e notei que era uma bagunceira de marca maior e que eu poderia enlouquecer alguém se eu quisesse. A conversa dos dois acabou por me chamar a atenção, eles falavam animados e toda a irritação de Matt parecia ter ido embora. A voz de Mike era alta e a de Matt também. Eu não conseguia parar de pensar no porquê da senhora Hamilton ter autorizado a entrada do loiro. Ele havia atrapalhado o que seria o momento mais importante da minha vida e eu sentiria raiva dele por um longo período.

— Sabia que podia confiar em você — Matt falou animado e eu prestei mais atenção na conversa que seguia animada.

— Eles vão aprender a não mexer com a gente da próxima vez — Mike respondeu com a mesma animação.

— Aqueles otários estavam no ginásio hoje... eles até tiveram a audácia de falar com algumas meninas da escola, eles queriam saber quem era a sua namorada — eu consegui escutar novamente a voz do loiro.
— O quê!? — Matt perguntou parecendo curioso com tudo aquilo.
— Eles queriam saber quem era a sua namorada, mas não sei exatamente se eles saíram de lá com a informação — Mike respondeu e aquilo acendeu algumas ideias em minha cabeça.

Então eu entendi o motivo de o garoto com rosto adorável vir me perguntar se eu era a namorada de Matt e depois saírem animados com minha resposta. Eles eram os caras do Gregory Kennedy e com certeza não haviam perguntado por um bom motivo. Eu encheria Matt de perguntas depois que Mike fosse finalmente embora.

— É isso mesmo. Os caras estavam como cachorros procurando pela sua namorada lá e aposto que isso é tudo coisa do Henry! Aquele idiota não aceita perder, mas dessa vez ele terá o que merece — Mike respondeu decidido e Matt gargalhou alto.

— Mike, eu não estou me sentindo muito bem... me dê a encomenda que eu vou voltar a dormir — meu ex namorado de mentirinha pediu e eu escutei o barulho de uma caixa deslizar pelo chão.

— Está entregue e se lembre sempre que eu sou foda cara! — Mike finalmente se despediu e eu agradeci aos céus por isso.

— E como é... — Matt respondeu e eu senti sua ironia do outro lado da porta.

Eu ainda estava sentada na cama olhando para o nada quando Matt entrou arrastando uma enorme caixa de papelão que parecia pesada pelo esforço que ele fazia. Me levantei no mesmo instante e Matt sorriu vitorioso, não entendi nada e minhas teorias não eram das melhores.

— O que é isso? — perguntei curiosa.

— Abra a caixa e descobrirá — ele pediu ainda com um sorriso no rosto.

Olhei em seus olhos que pareciam alegres demais para o meu gosto e em seguida finalmente abri a caixa que já estava entreaberta. Quase morri com o que vi ali dentro. Havia um garoto dentro da caixa e vestido de coelho, não sabia muito bem o que significava aquilo, mas coisa boa não deveria de ser. Matt agora gargalhava alto e eu suspirei pois estava confusa demais. O que diabos ele queria com um garoto vestido de coelho? E aparentemente desacordado? Ele era algum tipo de psicopata e eu não sabia? Eram boas perguntas para se fazer.

— O que significa isso Mattew Hamilton!? — perguntei claramente enfurecida pela situação do garoto que tinha a boca aberta e baba escorrendo pelo seu pescoço.

O garoto parecia baixo e seu corpo era magro, quase desnutrido. Seus braços magros cobertos pela fantasia de coelho branca e sua cabeça coberta pela metade de uma máscara de coelho. Uma cenoura estava ao seu lado e um cachecol azul também. Eu senti pena do garoto, no entanto Matt ainda se divertia com a situação. Ele era cruel e eu senti raiva dele por isso.

— Esse é o mascote dos babacas do Kennedy — ele respondeu ainda gargalhando e eu continuei com raiva.

— Por que diabos você trouxe o coitadinho para cá? — perguntei ainda nervosa pela situação do garoto desacordado.

— Eu não trouxe ninguém para cá, quem trouxe foi o seu amorzinho dos cabelos platinados — ele se defendeu e eu suspirei.

Dei mais uma olhada no garoto que ainda não havia aberto os olhos. Sua pele era pálida e seu rosto infantil. Ele parecia não ter mais que dezesseis anos e aquilo estava partindo meu coração. Como eles podiam ter coragem de trazer um garoto assim em uma caixa de papelão? Era crueldade. Mike realmente não era o príncipe que eu imaginava. Na verdade ele era tudo que eu duvidava que fosse. Ele xingava palavrões, se envolvia com pessoas que eu desaprovava e fazia atrocidades. Esse príncipe parece mais um vilão, mas o vilão dessa história é o Matt e não o Mike, portanto eu deveria ficar com o Mike e não com o Matt não é? Pera aí, me confundi.

— Para que isso tudo? Vocês são crueis! Isso é anti jogo cara — exclamei irritada e Matt revirou os olhos.

— Eles pegaram o Simon no ano passado e o fizeram ter relações sexuais com uma cabra, só estamos nos vingando da mesma forma — Matt falou e eu me lembrei do episódio.

Simon era o nosso mascote e uma semana antes do jogo final, os caras do Gregory Kennedy o sequestraram, deixaram ele bêbado e em seguida o filmaram tendo relações sexuais com uma cabra. O vídeo foi um sucesso de visualizações na internet e ele ficou sem sair de casa por alguns meses. Aquilo havia sido cruel, mas pagar com a mesma moeda não era nada legal. Se alguém merecia a culpa eram os caras que haviam feito aquilo e não o pobre menino vestido de coelho.

— Mas ele não tem culpa de nada! Vocês deveriam dar o troco nos babacas que fizeram isso e não no pobre menino — disse ainda pensativa.

— Eles também terão o que merecem, acredite — ele respondeu confiante e eu tentei esquecer do garoto por alguns instantes. Era impossível.

Alguns minutos já haviam se passado e ele ainda continuava desacordado e aquele já estava se tornando torturante para mim. Me cansei e senti vontade de acordá-lo e cuidar dele até que ele estivesse bem, mas sabia que Matt me mataria caso eu insinuasse algo do tipo.

— Ele está drogado? — perguntei e Matt novamente caiu na gargalhada.

— Não com esse tipo de droga que está pensando. Ele está dopado. O primo do Mike o pegou quando ele saía da escola ontem e ele ainda não acordou — Matt respondeu me puxando para si e em seguida me sentando em seu colo na cama.

Suas mãos novamente desceram para baixo de meu vestido e ele enfiou um de seus dedos em minha calcinha, mas eu não estava no clima, então tirei sua mão de lá. Além de ter um garoto vestido de coelho desacordado quase ao meu lado, eu não me sentia confortável em relação a Mike e tudo mais. Meus problemas foram voltando aos poucos para a minha mente bipolar e logo eu estava com dor de cabeça novamente.

— O que foi? — Matt perguntou tirando suas mãos de debaixo de meu vestido.

— Acho que eu vou embora — respondi desanimada e sua expressão mudou totalmente. Ele agora parecia chateado.

— Por que? Fica mais um pouco vai... — ele pediu beijando o meu braço e eu despertei no mesmo instante.

— Porque eu tenho que ir Matt — respondi em um sussurro.

Agora eu estava sentada de costas para Matt. Meu bumbum estava virado para ele e suas mãos apertavam minhas coxas com força. Fechei os olhos. Eu sabia que eu tinha que dar um basta naquilo ou eu acabaria fazendo "aquilo" na frente do garoto desacordado. Suas mãos se enfiaram por dentro de meu vestido e ele apertou um de meus seios devagar, me fazendo suspirar novamente. Aquilo tinha que parar. Matt pegou uma de minhas mãos e enfiou embaixo de sua bermuda e a posicionou exatamente em cima dele. Senti-lo em minhas mãos mesmo por cima de sua cueca me despertou coisas que eu ainda não havia conhecido e estava louca para conhecer, mas não na frente de um garoto desacordado.

— Pare Matt — pedi e ele sorriu mostrando todos os seus dentes.

— Parei — ele disse levantando os braços para cima e eu finalmente tirei minhas mãos de lá.

Saí de seu colo e ele fez um beicinho que eu achei fofo, mas eu sabia que fofo era uma das coisas que ele não era. Safado o definiria muito melhor. O moreno arrancou sua blusa amarela e voltou a ficar sem camisa e meus olhos não conseguiram desgrudar de seu corpo. Mordi os lábios pensando em como seria interessante tê-lo dentro de mim se movimentando de forma lenta. Ultimamente minha mente só tinha pensamentos do tipo e eu estava me assustando com minha própria safadeza. A culpa era dele por eu ser assim. Eu costumava ser quieta até que ele me iniciasse nessa vida pecaminosa ou eu sempre fui safada, mas nunca tive a oportunidade de mostrar? Boa questão.

Seus olhos agora estavam nos meus e eu sabia que eu tinha que ser forte e sair dali antes que nós nos atacássemos novamente. Prendi meus cabelos que estavam totalmente bagunçados em um coque frouxo e me levantei da cama dando uma última olhada na caixa em que o garoto se encotrava. Ele ainda estava desacordado e dormia feito um anjo. Matt sorriu de lado sem dizer nada e se afundou em sua cama fechando os olhos com força. Senti uma imensa vontade de abraçá-lo e dizer coisas que eu considerava melosas demais para dizer para alguém que quebrou o seu coração quando era pequena.

— Mel? — ele chamou por mim quando eu já estava na porta.

— O que foi? — perguntei serena.

— Me desculpe — ele respondeu calmamente.

— Desculpar? Pelo o que? — perguntei completamente confusa.

— Por ser um babaca... — ele respondeu e eu arregalei os olhos chocada. — Por eu ter sido um babaca com você na casa da árvore quando éramos crianças. Por eu ter te chamado de baleia e outras coisas idiotas quando o que eu queria mesmo era dizer o quanto te achava linda. Por ter colado aquela foto sua na escola quando na verdade o que eu costumava fazer era olhá-la e pensar em você. Por eu ter te obrigado a fazer um acordo estúpido comigo quando eu deveria ter sido sincero e dito desde o início de que eu fiz tudo isso porque eu amo você e isso é algo grande demais para ser ignorado. É algo tão grande que me sufoca ás vezes. Me desculpe por não demonstrar isso pra você e por ser um idiota na maior parte do tempo, mas eu fiz todas essas babaquices para chamar sua atenção. Eu sei que você sonha com o Mike, mas você sabe que sua realidade sou eu.

As palavras de Matt entraram em minha mente como um raio e eu não sabia o que responder depois daquela declaração. Eu sabia que gostava dele, mas tinha medo de me magoar profundamente. Eu sabia o quanto ele era importante pra mim, mas tinha medo de não ser importante para ele. Eu sabia que ele era o único que conseguia fazer eu me sentir especial, mas tinha medo de eu não ser a única que pudesse o fazê-lo se sentir assim. Eu sabia que ele era a minha realidade, mas tinha medo de sair de meu mundo de sonhos. Eu sabia que o amava, só não sabia que era um amor tão forte a ponto de me fazer dizer o que eu estava prestes a falar.

— Eu também te amo Matthew.