Vatriesse escrita por Gazervici


Capítulo 22
O Interlúdio Federici - Parte 2




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— Madalena, usaste o meu colar dourado?

Pelo espelho do toucador, viu a cabeça morena da prima surgir na porta do seu quarto. A outra rapariga não olhava para si, entretida na desgastante tarefa de apertar uma fila de minúsculos botões na camisa e calçar um sapato de verniz ao mesmo tempo.

— O com o pingente vermelho? Usei respondeu-lhe, levantando finalmente a cabeça para apontar com o nariz na direção do seu quarto está na minha mesa-de-cabeceira.

Assentiu e levantou-se, passando por Madalena e afagando-lhe a cabeça. A outra acordou de um estalo da sua tarefa e riu-se, repetindo o gesto.

— Irina, o cabelo não!Guinchou, e entrou-lhe de rompante no quarto para lhe surripiar uma escova de cabelo.

Irina estava a viver com a tia havia dois meses, e podia certamente afirmar que tinham sido os melhores de que se conseguia lembrar. As primas tinham-na recebido efusivamente e chorado com ela naquela noite por ela estar sã, salva e finalmente num lugar onde a iriam proteger. Nessa mesma noite lhes contara tudo; Madalena amaldiçoava os “desgraçados dos teus pais, nem tios lhes posso chamar sem me dar a volta ao estômago”, a pequena Magda a ouvia atentamente a fungar em silêncio, e a tia ponderava no que a sobrinha lhe contava com um indicador a dançar no ar. Mandara as raparigas para a cama, mas chamara Irina à parte para lhe reiterar entredentes que a ia ajudar.

A partir daí, participava na vida quotidiana das Federici como se sempre lá tivesse estado; acordava ao mesmo tempo que as primas, tomavam o pequeno-almoço enquanto discutiam trivialidades e contavam histórias e casos de vida. Começara a ter aulas com a professora particular de Madalena, uma senhora no auge dos seus cinquenta anos, atarracada e de olhar esperto, que ia à mansão três dias por semana ensinar-lhes História, Sociologia, Línguas Modernas, Argumentação, e quaisquer outros assuntos que quisessem saber. Pedira emprestadas as antigas telas, tintas a óleo e pinceis de Marco, o assistente pessoal da tia, e entretinha-se a pintar enquanto as primas saiam – ainda que não fosse grande coisa nas artes visuais.

O único senão era só o facto de não poder sair de casa. Os pais haviam-na dado como menor desaparecida, e seria arrastada de volta a casa assim que a guarda lhe pusesse os olhos em cima. Chegou até a ter de se esconder, certa vez, num porão secreto de entrada ao canto da biblioteca da casa quando dois agentes foram lá questionar as senhoras sobre ela. Irina desconhecia se elas eram tão boas mentirosas que divergiram por completo a atenção dos agentes ou se estes simplesmente não tinham provas para as incriminar, mas nunca mais haviam voltado a incomodá-las.

Naquele dia, porém, o panorama mudaria.

Quando desceu as escadas em direção à sala comum já as primas lá estavam: Madalena hirta e séria em frente à senhora, Magda a dar relutantemente a mão à irmã.

— Meninas, hoje temos um dia ocupado. Madalena, preciso que vás ao cartório buscar-me uns quantos documentos. O senhor Fabroe está à vossa espera e sabe o que eu pretendo, só têm de me trazer os papéis.

Madalena assentiu gravemente e virou-se para encontrar Irina a meros centímetros de si. Apertou-lhe uma bochecha em jeito de despedida e dirigiu-se à porta, seguida por Marco. Por fim, a tia virou-se para si.

— Irina, agora nós. Tenho de te perguntar uma coisa: queres ficar a viver connosco, certo?

Uma palpitação inesperada soprou-lhe no peito. Abriu a boca para responder, ainda que tivesse a mente num turbilhão:

— Claro! Quer dizer, se não for incómodo para si, não queria estar a—

— Querida, então! Para já, trata-me por tu, já te disse.

— Desculpe- ah, desculpa. É o hábito.

— Depois, claro que não incomodas, rapariga! É um prazer ter-te por cá. Mas para isso, há umas coisas que precisamos de resolver.

Encaminhou-a para o corredor lateral, os olhos fixos num ponto enquanto falava.

— Primeiro, a tua condição de desaparecida. Depois, a tua custódia. Por fim, o teu nome. E podemos tratar das coisas por esta ordem, desde que o meu pequeno plano não tenha entraves.

Irina assentiu. Sempre soube dos negócios da tia e nunca teve qualquer problema com isso – muito menos agora. Os seus pais eram a definição de família às direitas, e no entanto eram podres, detestáveis enquanto pessoas – não era um grande esticão ver como a tia era o contrário. Uma mulher de negócios obscuros, contactos mais questionáveis ainda, temida por todos os que tivessem o prazer de se atravessar no seu caminho; e, no entanto, a pessoa mais compassiva que conhecia.

— O que eu te vou mostrar pode chocar-te, Irina. Se te sentires desconfortável, podes simplesmente deixar-me fazer isto. Nunca te vou pedir que estejas envolvida nos negócios Federici se essa não for a tua vontade. No entanto, se quiseres, é o teu direito.

A rapariga voltou a acenar com a cabeça, ainda que não estivesse a entender por completo. A tia dirigiu-se para a biblioteca, para o canto mais afastado, e abriu a portinhola de acesso ao porão escondida por debaixo de um tapete grosso de rococó. 

Desceu as escadas rangentes com cuidado e ouviu de imediato sons – gemidos estrangulados, algures dentro da escuridão cerrada do subterrâneo. A tia desceu a seguir e acendeu a luz, revelando um homem atado a uma cadeira no centro do porão quase vazio. Tinha o nariz enegrecido num hematoma profundo e feridas abertas nas faces cobertas a sangue seco. Não podia dizer que o reconhecia.

A tia aproximou-se dele e o homem encolheu-se sobre si mesmo. Só depois se apercebeu da presença de Irina e arregalou os olhos em horror.

— O menino Federici desaparecidomurmurou.

Sentiu o sangue a ferver não só à menção do “menino” Federici, mas como ao facto de que reconheceu a voz que se dirigia a si.

— Senhor Poliéve — rosnou-lhe de volta.

— Desde que me mencionaste este amigo, fiz umas pesquisas. Tinhas razão, querida, ele não é um médico de especialidade alguma. É o diretor de um campo de reabilitação para jovens “transtornados”, o que é nome de código para “sítio onde fazem uma lavagem cerebral semelhante a tortura medieval a jovens com tendências que os pais não aprovam”.

A tia deu um pequeno puxão no nariz do homem, que grunhiu com a dor, um fio delgado de sangue escuro a escorrer-lhe para o lábio. Dirigiu-se a uma bancada ao canto de onde, entre instrumentos cirúrgicos e panos velhos acinzentados, puxou uma pasta de couro que deu à sobrinha.

Irina abriu-a e perscrutou os conteúdos. Recortes de jornal com fotografias de Poliéve a apertar a mão ao presidente de uma vila rural a meros quilómetros dali, Poliéve no meio de um grupo de crianças e adolescentes de olhar ausente, suplicante até, que forçavam sorrisos convincentes o suficiente para as câmaras, letras garrafais louvando-o o “salvador das crianças sem salvação” e o “pai dos sem esperança”. Jogou a mão à boca entreaberta a ler os relatos de pais, pais como os seus, exatamente como os seus, que contavam a história de superação da sua criança agora comportada e socialmente integrada. A criança concordava com as palavras dos pais e agradecia a Poliéve. A criança tinha os olhos vagos e desprovidos de esperança. A criança poderia ser ela.

— Este é teu — a tia despertou-a de repente — agora que ele te viu, não tem qualquer utilidade vivo. Vamos usá-lo como forma de mandar uma mensagem aos teus pais que eles não poderão ignorar e, de quebra, livramos o mundo deste desperdício de recursos. Queres fazer as honras, ou preferes que seja eu?

Irina olhou-a, depois fitou Poliéve. O homem parecia ainda acreditar que ela era a sua chave para a liberdade, porque a sua expressão parecia querer transmitir algum tipo de companheirismo, de pedido por ajuda. Agachou-se à frente dele.

— O meu nome é Irina Federici — disse-lhe, pronunciando as palavras como se se deliciasse — só quero que esteja ciente que vai morrer às mãos daquilo que mais odeia. E quero que morra com a certeza de que todo este seu asqueroso império vai cair. Isso lhe prometo.

A tia ofereceu-lhe um bisturi que agarrou sem desviar o olhar do homem.

— O porão é à prova de som?

— Por quem me tomas, querida? Claro que é. Diverte-te.

Desferiu o primeiro golpe com um alívio no mais profundo do seu ser; não perderia sono pela morte daquele homem. Muito pelo contrário – dormiria embalada pelas suas súplicas.

**

Na manhã seguinte, uma criança de rua bateu à porta da casa dos pais de Irina. Com o sorriso inocente de quem não tem a mínima consciência da mensagem que traz, informou-os que daí a duas horas, o “doutor” Poliéve seria encontrado morto na periferia da cidade – e que soubessem exatamente o que aquilo significava.

Contrariamente a toda a razão, assim que a notícia correu em última hora no seu rádio mal sintonizado, o casal dirigiu-se para a cena do crime e misturou-se com os curiosos em volta do local. Poliéve estava atado a um poste com as roupas reduzidas a farrapos, o corpo coberto a lacerações, cortes, queimaduras, a cara quase irreconhecível por entre os sinais de violência. Ouviam a guarda comentar que era provavelmente obra de gangues. Ambos quiseram gritar que não, não eram definitivamente gangues, mas fecharam-se em copas. Regressaram a casa num silêncio tenso, cortante.

O telefone tocou. A mãe de Irina atendeu, ainda com o coração a palpitar.

— Estou?

— Ah, mesmo com quem eu queria falar. Fala a Ingrid.

O nome e a voz da cunhada lançaram-na num estado de alerta.

— O que é que tu queres? — Silvou-lhe.

— Nada, nada, é só que ouvi as notícias e fiquei um pouco transtornada… pobre homem, que violência tremenda. Lembrei-me de vocês, nem sei porquê. Talvez tenha sido o meu irmão a referir que queria inscrever a Irina na instituição dele, ou assim…

— Não me venhas com merdas, sabemos muito bem que estás metida nisto!

— Sabina, então! Isso é uma acusação muito grave de se fazer! Punível, até, mas obviamente que não me vou queixar de ti a ninguém. Afinal, somos família.

Sabina não respondeu. Ingrid prosseguiu, e notava um leve tom de satisfação a dançar-lhe na voz.

— Só estava a pensar… agora que a instituição daquele pobre senhor provavelmente vai pelas heras, se a pequena Irina realmente reaparecer, quem é que a vai ajudar com o problemazito dela?

— Ele não se chama Irina.

— Tecnicalidades. E só pensei que talvez quisesses, não sei… que eu vos ajudasse, caso a Irina aparecesse. Uma temporada prolongada aqui na Casa era capaz de lhe fazer bem.

— Deixa-nos em paz, Ingrid! Devolve-nos o nosso filho e deixa-nos em paz!

— Oh, outra acusação de muito mau gosto! Então, sê racional. Achas mesmo que a ideia deste filho que nunca tiveste vale o esforço? Eis a realidade: há uma menina que provavelmente está perdida, muito assustada, e que era capaz de gostar de passar uns tempos indefinidos com as primas. Tudo o que precisamos é da autorização dos pais. Percebes onde quero chegar?

— Tu és uma víbora, Ingrid. Um dia destes vai-te acontecer uma coisa muito má, juro-te! Estás a ouvir!? Juro-te!

— Bom, ao menos tentei. Obrigada por tudo, mas tenho de ir. As minhas meninas querem que eu as oiça a tocar piano a seis- digo, quatro mãos, e longe de mim privá-las de uma mãe presente. Até depois, cunhada. Dá um beijo ao meu irmão.

No dia seguinte, um pacote foi entregue por um rapaz que não tinha ar de carteiro à porta dos pais de Irina. Dentro estava uma cassete e um envelope.

Os pais colocaram a cassete no aparelho de rádio, e este começou a tocar uma perfeita montagem levemente familiar:

— Devolve-nos o nosso filho!

— Sabina, tem calma. Sei que estás transtornada, mas não é assim que se vão resolver as coisas—

— Não me venhas com merdas, sabemos muito bem que estás metida nisto!

— Sabina por favor, esta é a quinta vez! Podes parar? As minhas filhas estão transtornadas quanto baste com esta situação toda, já chega.

— Tu és uma víbora, Ingrid. Um dia destes vai-te acontecer uma coisa muito má, juro-te! Estás a ouvir!? Juro-te!

Dentro do envelope, uma cópia datilografada de uma queixa à polícia ainda não entregue. A tia de Irina acusava a cunhada de assediá-la constantemente, a si e às suas filhas com acusações daquele género, e iria para a frente com um processo em tribunal. Além da gravação, anexava testemunhas do pessoal da sua mansão em como Sabina a incomodara a horas avançadas da noite, gritando a plenos pulmões na porta da sua casa. No rodapé da folha só faltava a assinatura de Ingrid. Era como um mau augúrio a pairar sobre eles.

O pai de Irina foi o primeiro a ceder. Ainda que a mulher lhe chamasse cobarde, ele gritou-lhe que conhecia melhor a irmã do que ela. Aquilo era só o começo, apenas o início de uma caça de gato e rato que certamente não venceriam. O pai de Irina renunciara aos Federici – não tinha as conexões, a influência, os meios.

O resto fora estranhamente civilizado. Irina reaparecera, dizendo à polícia que tinha acabado num bairro problemático na periferia durante uma rixa de gangues, e não conseguira voltar até agora porque tinha medo de ser apanhada pelo meio. Os pais não a olharam duas vezes antes de meterem os papéis para a transferência de custódia para Ingrid Federici, mas sentiu a mãe queimar-lhe as costas com o olhar enquanto saía do cartório. A aceitação do pedido foi peculiarmente rápida e sem pedidos de verificação de qualquer espécie. O mesmo ocorreu com o pedido de mudança de nome e de início dos tratamentos hormonais de Irina.

O processo estava estabilizado quando Irina completava dezasseis anos. Viveu mais quatro com a sua nova família, e juntas tinham construído uma dinâmica doméstica reconfortante que finalmente se assemelhava a um lar; estudava com Madalena em casa, ia à cidade comprar materiais de pintura de duas em duas semanas e fazia pequenos recados para a tia quando era necessário. Uma grande parte deles, nada surpreendentemente, constituíam todo o trabalho de background necessário para jogar a instituição de Poliéve abaixo – porque a morte dele não era nem perto de suficiente. Havia já quem o aclamasse como um mártir, pelo que precisavam de provas em como todo aquele esquema era podre por dentro, desumano até ao cerne. Começaram com algumas denúncias anónimas de crianças que afirmavam ter recebido maus tratos na sua estadia na instituição, salpicadas de alguns documentos antigos postos a público de certos funcionários com registo criminal: violência física, psicológica, todo o tipo de abusos… parecia que Poliéve os tinha escolhido a dedo.

Até que, no meio do burburinho que se começava a adensar em volta da instituição, pais já a cogitar tirar os filhos, prejuízos razoáveis em clientes que o deixaram de o ser, Irina preparava-se para o boom que os arruinaria: os logs privados que o psicólogo-chefe fazia das crianças e adolescentes a cargo da instituição. Um caderno encapado a couro e trancado a cadeado com combinação onde, segundo uma dica anónima, o homem em questão escrevia sobre as crianças que “tratava” no tom mais jocoso possível, coisas que seriam inadmissíveis até a um funcionário da cozinha pensar sobre pessoas que servia, quando mais a uma pessoa que supostamente os estava a tratar.

As suas costas já não andavam grande coisa, mas aceitou ser ela a arrombar a porta do escritório do homem enquanto Madalena fazia o papel de irmã preocupada que queria inscrever a pequena Magda na instituição – ainda que Magda, na sua tenra idade e fracos dotes de representação, fosse a miúda problemática mais tranquila à face do planeta.

Ainda vasculhava as gavetas da secretária de mogno do homem quando ouviu a voz troante de Madalena lá fora – falava alto como aviso de que se estavam a aproximar. Acelerou as buscas até encontrar o caderno e enfiou-o no bolso interior do casaco, saltando pela janela aberta no segundo em que o homem abria a porta.

O salto arruinou-a.

Ao agarrar-se a um dos ramos mais próximos da janela, torceu as costas para não cair, fragmentando o que quer que restasse daquela vértebra já de si desalinhada, já há algum tempo dorida. A dor excruciante voltou a invadi-la, assim como uma torrente de memórias daqueles dias há anos atrás.

Conseguiu puxar por si mesma novamente e sair dali sem ninguém dar por isso. Mas quando Madalena se encontrou com ela na praça de táxis, quase tinha um ataque ao vê-la tolhida sobre si mesma num banco, com a cara lavada em lágrimas das dores nas costas.

Tinham ido diretamente para o hospital, Ingrid aparecendo lá já Irina estava a soro e anestésicos numa maca.

— Querida, minha querida, o que aconteceu?

— A puta das costas, tia. Sempre a puta das costas — tartamudeou. A anestesia tirara-lhe o que lhe restara do seu filtro cérebro-boca, mas Ingrid pareceu não se importar. Procurou por alguém com os olhos numa expressão exasperada até que uma médica entrou no cubículo.

— Boa tarde. O meu nome é Marise, vou estar responsável pelo caso da Irina. Vamos ter de lhe fazer uns quantos exames, uns quantos raio-x, mas em princípio o problema é uma vértebra deformada que agora saiu do lugar ou se partiu. Posso adiantar-vos que a opção mais viável será substituir-lhe a vértebra nas costas cirurgicamente por uma prótese mecânica.

— Só uma vértebra? — Insurgiu-se a rapariga, um medo súbito a apoderar-se de si — E se as outras depois lhes acontece o mesmo? Vai-se substituindo uma a uma? Tenho um historial lixado com as costas, não podia jogar pelo seguro?

A tia voltou-se para a médica sem falar, à espera da sua resposta. Esta, de boca entreaberta, quebrou o silêncio após um par de segundos:

— Bom, sim, mas… aí já não é comparticipado pelo Estado, e terá de pagar—

— Deixe lá os pagamentos da mão, e ponha-me mas é a miúda bem — interrompera Ingrid — e estas próteses de metal, são alguma coisa de jeito? Não vão dar chatice?

— Bom, são de metal acobreado, são resistentes quanto baste—

— Cobre? — Madalena torceu o nariz.

— Não tem nada mais resistente? — Ingrid acrescentou. Irina começava seriamente a ter pena da pobre médica.

— Sim, aço inoxidável é o nosso melhor tratamento. Mas o preço—

— Substitua as costas da miúda por essas. O cosmos me livre de a ver com dores dessas outra vez.

Ingrid e Marise abandonaram a sala para tratar dos detalhes enquanto Irina se via na preocupada companhia de Madalena, que a enchia de perguntas sussurradas se estava bem, se lhe doía, se precisava que chamasse uma enfermeira. Irina ria-se de volta e troçava das suas aflições, descansando-a por alguns segundos até esta voltar a perguntar. Antes das duas mulheres voltarem, Irina abriu o casaco a custo e retirou de lá de dentro o caderno forrado a couro, que passou à prima.

— Vinga-me, Madalena — sorriu-lhe, um sorriso malicioso e trocista. A outra quase a sufocava com o abraço em que subitamente se lançou.

Após a operação, quando estava em repouso absoluto no seu quarto sem companhia que lhe valesse, pediu à enfermeira que lhe sintonizasse o rádio e o deixasse a tocar. Não demorou até que dormisse embalada pelas notícias da queda do império de Poliéve.


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