Vatriesse escrita por Gazervici


Capítulo 14
Paralelo


Notas iniciais do capítulo

MIL ANOS DEPOIS aqui estou eu com o próximo capítulo o/



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— Eu não queria ser manipuladora — as lágrimas formaram-se nos cantos dos olhos, a voz embargou-se-lhe — mas vocês eram as únicas pessoas que me restavam. Não vos queria perder. Não vos queria dar razões para se irem embora—

Foi envolta num abraço contrito. Sentiu o peito de Irina a oscilar também num soluçar.

— Desculpa — fungou a outra, apertando-a mais junto a si — oh, desculpa, eu não sabia.

— Não tens de pedir desculpa, eu é que não devia ter feito o que fiz. Tratei-vos mal, Irina, eu não queria.

— Está tudo bem. Promete-me só… — e pausou para conter o choro — promete-me que vais falar comigo quando estiveres a sentir-te mal.

— Prometo.

— Então vou estar aqui contigo. Para o que precisares. Juro.

Nunca se havia permitido, desde a morte da irmã e do clã Matriesse, a não se sentir sozinha. Sabia que havia uma quebra em si que mais nada no mundo conseguia arranjar, por muito que tentasse sarar e continuar. Mas ao menos, naquele momento, sentiu que as coisas até podiam funcionar. Não tinha a irmã, nem Adine, Ismael, Rénia ou Savira, mas não estava sozinha.

— Obrigada.

Não tinha de estar.

— Teresinha, temos mesmo de falar. De uma vez por todas.

Apanhou-a de surpresa, mas não podia discordar. Havia muito mais que lhe queria dizer. E, imaginava, mais ainda que Irina lhe quisesse contar.

**

— Braços de liga de aço?

Silas pegou nos dois copos de plástico quente com as pontas dos dedos, e dirigiu-se para a saída. Dominic quase lhe perguntou porque não ficavam ali, abancados numa das mesas, mas não ripostou. Explicou apenas:

— Sim. Por eu ter muita facilidade em partir os de lata, e já ter historial de o ter feito. Desde que a psicóloga fique convencida de que não os vou usar para magoar ninguém.

— E tu queres-me convencer de que te deixaste ir nessa conversa assim, sem estrebuchar?

— Na verdade, fui eu que pedi.

O outro parou de repente a marcha a meio do corredor, não se preocupando sequer em disfarçar a confusão cética que se espelhava no seu rosto.

— Agora a sério.

— Não estou a mentir. Eu disse-te que estava a melhorar.

O outro rapaz fixou um ponto inexistente na parede ao lado, as sobrancelhas curvadas em intensa ponderação. Por fim, ou chegou mentalmente a uma conclusão que lhe agradou, ou desistiu de tentar encontrar lógica naquela situação. De qualquer das formas, deu de ombros e bebericou o chá de um dos copos de plástico.

— Acho isso injusto como o cacete — comentou, levantando a mão de metal, ainda com um dos copos na ponta dos dedos — estás a ver isto? Cobre. Resistente quanto baste, barato e tal, mas continua a ser o refugo do comparticipado pelo Estado — depois apontou para Dominic, para o sítio onde estariam os seus braços — Liga de aço? É mais à frente, coisa de rico. Daqui a pouco também estilhaço a minha mão e digo que preciso de uma mais resistente, se é assim que se consegue alguma coisa neste sistema.

E Dominic quis ofender-se, ripostar-lhe que nada no seu colapso tinha sido digno de troça, mas lembrou-se daquele dia na biblioteca — que parecia voltar-lhe nas alturas mais inoportunas. Encolheu também os ombros. De qualquer forma, o seu argumento era plausível. Afinal de contas, e por muitas cartas que pusesse na mesa, continuava a ser um Puritano em vias de ter melhor material mecânico do que gente que sempre apoiou a mecanização. Apanhou-se a pensar que, realmente, havia algo de estranhamente desajustado naquele sistema, mas não se embrenhou por essas considerações durante muito tempo.

— Força, só não me peças ajuda. Eles recusam-me a requisição se eu for violento para outro paciente.

De entre uma expressão de curiosidade disfarçada, que Silas mantinha mais ou menos constante desde o início da sua conversa, Dominic notou-lhe um resquício de um sorriso malicioso. O dos cabelos brancos emitiu um esgar, apontando para ele com o mindinho.

— Tu. Tu és do tipo de cabrõezinhos sarcásticos de que eu gosto. Só é pena esse teu historial de seres Puritano. Estraga tudo.

— Quanto ao historial não posso fazer nada — respondeu, também com ar de troça, mas medindo das palavras — só a partir de aí é que posso mudar algumas coisas. Uma delas é aceitar que te devo uma das grandes.

— Porquê? Por te ter ajudado?

— Isso e por aquilo que te chamei na biblioteca. Desculpa, a sério.

— Esquece isso. Se estás a aprender e a mudar, isso é suficiente. Não te esqueças do que fizeste, mas não te martirizes por isso.

O rapaz remexeu-se. Não podia disfarçar o constrangimento com o seu habitual tique de coçar os nós dos dedos, pelo que se ocupou de fixar a linha do rodapé do corredor enquanto andavam.

— Obrigado.

— Sem problema — e levantou os pequenos copos de plástico — mas olha lá, vais beber o teu ou vais fazer de mim porta-copos o resto da tarde?

— Não posso — Dominic deu de ombros, sem dar propositadamente qualquer explicação. Só quando o rapaz o fitou com um ar confuso é que esclareceu — estás a beber o meu.

— Não estou nada. Este é meu — olhou para dentro do copo que se entreteve a bebericar, para se deparar com um resquício de líquido verde no fundo — …o teu era o chá verde?

— Sim. O teu é que era o de mel e limão — e meneou a cabeça para o copo ainda cheio, o chá amarelado já sem fumegar — podes beber os dois, não gosto muito de mel.

— Oh, não, fica com ele, nem sabe assim tanto a—

Silas parou de repente, a fitar algo ao fundo do corredor. Dominic, que até então olhava para ele enquanto falava, talvez tentando perscrutar-lhe algum vestígio de ressentimento, virou-se para encontrar Marise a subir o corredor.

— Olha quem eles são. Silas e Dominic — os dois rapazes entreolharam-lhe. A doutora parecia calma, a voz não lhe denotava traços de aborrecimento por os ver juntos, mas podia ser apenas impressão deles. Talvez estivesse zangada sem o demonstrar. Talvez, de tanto se preocupar e atarantar à custa deles, a médica tivesse ascendido a uma forma de irritação que se assemelhava perpetuamente a serenidade. Assim, não sabiam de que forma deviam reagir. Ela continuou — que fazem por cá?

— Olá, doutora — Silas foi mais corajoso, ainda que o temor estivesse mal disfarçado — fomos só buscar um chá à cafetaria. Não estamos a fazer nada de mais.

— A sério? Então não devem ter nada a ver com a pequena intercalação entre a Irina e a Teresa de que me informaram mesmo agora, pois não?

Aí é que perceberam; sim, a médica tinha atingido um método de exasperação tão nirvânico que nem se apercebiam se estava chateada ou não. O que, nisso ambos concordavam tacitamente, era tremendamente mais assustador do que quando ela os queimava com o olhar.

— Não. Quero dizer, de certa forma? — Silas tartamudeou, relanceando para Dominic — Ele teve, mais ou menos. Eu nem tanto.

— Ei! — Dominic queixou-se, antes sequer de se conseguir impedir.

— Oh, vá lá, foste uma das razões. Não a maior, que aquilo vinha de trás, mas foste tipo… catalisador — bufou, desistindo perante o intimidador olhar sereno da médica — É uma longa história. Estivemos lá, mas diretamente não tivemos nada a ver com a discussão, são problemas delas.

Marise nada disse. Parecia esperar que um deles acabasse por acrescentar algo, ou admitir que algo mais se passava, ou revelar à última da hora que a situação era mais grave do que aparentava ser. Mas felizmente daquela vez não era, e eles mantiveram a sua posição. Ela suspirou por entre os lábios semicerrados em alívio.

— Do mal o menos. De qualquer forma, preciso de falar com a Irina e contigo, Silas.

— O que é que nós fizemos? — Perguntou de rompante, já à espera de outra qualquer queixa sobre o seu comportamento, enquanto vasculhava na sua mente tudo o que havia ele e Irina feito nos últimos dias, para que lhes valesse uma chamada personalizada. Nada lhe ocorreu; ultimamente ele andava com Teresa, Irina com Dominic, e pouco do tempo que se encontravam passava de conversa trivial. Não tiveram abertura para nada. Ou tiveram?

— Que eu saiba, nada, calma — descansou-lhe a médica — só que tu e ela vão ter alta amanhã.

Dominic virou-se para o congratular, mas estacou, reparando que a tez do rapaz passava a lívida, os olhos vidrados e as mãos cerradas.

— …alta? — Murmurou fracamente.

— Sim. Segundo os últimos testes, a tua mão de metal está completamente sarada e funcional. Podes sair daqui, fazer uma vida normal, voltar—

Voltar para onde?

Os copos caíram no chão, o líquido espalhou-se pela superfície outrora imaculada do piso. Dominic encolheu-se involuntariamente, atemorizado pela exaltação do outro. Não era dele gritar assim. Daquilo que tu conheces dele, corrigiu-se, apercebendo-se de repente — nunca conheceu realmente nenhum deles.

— Silas, escuta-me. Foste colocado numa residência aqui em Rorise, paga pelo Estado do Distrito Magno — a médica pareceu conter-se, no entanto, de revelar muitos pormenores. Dominic apercebeu-se de imediato que era por sua causa.

— Isso não ajuda. Ele vai encontrar-me na mesma. Ele vai—

— Ele tem uma ordem de restrição, não se vai aproximar de ti.

— Isso não o vai impedir. Por favor, não pode deixar, por favor

— Silas. Por favor ouve-me, tens de te acalmar.

Não! Eu não vou!

— Dominic, volta para o teu quarto — Marise comandou-o abruptamente. O rapaz hesitou por alguns segundos, e a médica reforçou a ordem em tom severo — agora.

Ele assentiu, olhando ainda para o rapaz. Este tanto parecia poder desmaiar de ansiedade como largar a fugir a qualquer momento. Marise não se movia, observando apenas a sua reação como se esperasse algo de abrupto, violento. Quis olhar para Silas, tentar perceber o que se passava, mas sentia a médica a ponto de se exaltar, e não quis ser ele a provocá-la. Deu alguns passos temerosos, incertos, na direção das escadas e virou costas. Conteve a vontade de olhar para trás, enquanto subia as escadas e conseguia ouvir as vozes já distantes. Ásperas, duras.

Nunca os conhecera realmente.

Passou pela secretária no início do piso sem lhe dirigir a palavra, até depois de esta lhe lançar um casual “boa tarde” sem tirar os olhos de um livro amassado.

— Nick! Já voltaste!

Virou-se atarantado, só depois se apercebendo de que a voz vinha do fundo do corredor. Distinguia uma mão a acenar, duas pessoas sentadas nas escadas de acesso à varanda. Ao aproximar-se, ainda a medo, notou que o cabelo da loira ainda pingava.

— O-oi — remexeu-se desconfortavelmente. Sentia o olhar da outra rapariga pousado em si, mas a visão periférica não lhe permitia analisar-lhe as expressões.

— Antes de tudo! Nick, esta é a Teresa, herdeira do clã Matriesse. Teresa, o Dominic, ex-Puritano, até onde se sabe.

Só aí se atreveu a olhá-la, e apercebeu-se que a tal Teresa tinha tão pouca ideia de como reagir àquela apresentação como ele. Não só com a inortodoxa apresentação em si, que Irina conseguira fazer assemelhar a um reconhecimento em corte real ou casa nobre, mas como finalmente conhecer, calma e coletada, a rapariga que há meros minutos tinha ouvido a gritar a plenos pulmões numa varanda à sua custa.

No entanto, algo lhe chamou a atenção. O odor a sangue voltou a invadir-lhe o subconsciente, um murmurar de gritos distante mas tão, tão próximo.

— …Matriesse?

— Sim, o barco que caiu na tua capela. Já juntei os pontos, já soube. Perdeste algum ente querido na tragédia?

O rapaz remexeu-se a modo desconfortável e aproximou-se. Irina percebeu a deixa e afastou-se para lhe dar espaço de se sentar também. Baixou-se cautelosamente, parte para não perder o equilíbrio, parte para ganhar tempo para recuperar de uma questão tão direta, e ter tempo de medir as palavras para responder.

— Tanto quanto sei, não — não quis pensar em Lucas, mas a ideia invadiu-o. Tanto quanto ele sabia era tão pouco, um aglomerado de tantas incertezas, tantas esperanças e tão poucos factos. Afastou a intrusiva ideia com um impercetível aceno de cabeça, que Teresa felizmente não notou. Já de Irina, não conseguia escapar.

— Ótimo. Porque tenho uma coisa a pedir-te — a dos olhos metálicos disse, e Irina não pôde evitar fitá-la em agradável surpresa. A ideia da outra rapariga seria uma loucura, sabia-o, mas já se assemelhava mais à Teresa que sabia conhecer.

— A… a mim? — Dominic tentou que lhe soasse o tom a um descaso curioso, mas soou mais temente e incerto. Não, nunca conseguiria esconder o que sentia.

— Eu sei que isto é estranho. E abrupto. E, vá. Uma ideia taticamente estúpida. Mas preciso de ir a Diavena.

Observou o rapaz, que estacara a olhar para si incertamente, e prosseguiu:

— Li no jornal que os destroços do barco e da capela não foram removidos do sítio da tragédia, apenas os corpos. Rorise negou-lhes ajuda de reconstrução por causa da tensão entre Puritanos e mecanizados, o mesmo de sempre. Por isso, é capaz de se for lá e conseguir entrar no que resta do barco, possa conseguir perceber o que aconteceu.

Oh, ele sabia em primeira mão o que tinha acontecido; nunca a imagem da proa de madeira clara a perfurar a cúpula de vidro, a espalhar morte e cheiro a sangue pelo sítio que considerava sua casa e a arruinar-lhe a vida que conhecia lhe sairia da memória. Mas imaginava que Teresa se referisse aos específicos do que levou ao acidente, e sobre isso não sabia nada.

— E como é que te conseguiria ajudar?

A rapariga levantou a palma da mão e apontou para os olhos artificiais, como se lhe dissesse ser óbvio.

— Não posso propriamente entrar lá assim e esperar não ser esquartejada.

Em resposta, o rapaz encolheu os ombros e levantou o coto do braço. Algo no seu subconsciente lhe dizia que não seria aconselhável ser insolente para alguém como ela mas todo aquele dia, desde Teresa a Silas, lhe tinha posto os nervos em franja e drenado a paciência. Notou-se-lhe um pico de arrogância quando lhe respondeu:

— Olha que eu não estou em melhor condição, não achas?

Ela pareceu a ponto de lhe disparar, mas relanceou para Irina e conteve-se.

— Não, a cena é — explicou pacientemente — entrar lá sem mostrar as partes mecanizadas todos conseguimos. Luvas, roupa larga, óculos de sol. Mas se forem estranhos, como eu, a chegar a uma cidade pequena todos tapados, as pessoas vão desconfiar. Se for contigo, que és da comunidade deles, são capazes de não me chatearem.

— Então, queres que eu seja o teu escudo, é isso?

— Escudo não. Camuflagem. Se tudo correr bem, não vão haver altercações de qualquer género.

Ele fixou os próprios pés por alguns segundos. Bom, ao menos ela não lhe tinha mentido; era uma ideia estúpida, com infinidades de maneiras de que podia correr mal, e apenas uma ou duas possibilidades, totalmente dependentes de uma exacerbada sorte, de correr bem e sem percalços. Voltar a Diavena soava-lhe peculiar; como se o lugar tivesse deixado de existir a partir do momento em que renegara as suas crenças, e revisitá-lo fosse não só semelhante à ideia esborratada de um sonho distante, como um perigo de ser novamente apanhado na sua teia.

— Eles também vão estranhar quando eu voltar. Não sei se alguém me viu sem braços depois do acidente, mas se viram, logo aí fica tudo estragado. E se me tocarem ou agarrarem neles, o que pode muito bem acontecer porque as pessoas lá são pegadiças, acaba aí. Isto pode correr muito, muito mal — e acrescentou em surdina — mas…

Mas ele ia voltar a Diavena, de qualquer forma. Precisava de ver Lucas, saber como ele estava, estar com ele novamente. Com o rol de conturbações em que fora apanhado desde que chegara ao Hospital Magno de Rorise, as voltas que a sua vida tinha tomado, tinham ficado enterradas numa distante parte de si as saudades que tinha do rapaz. E de repente, voltar à sua terra-natal já não parecia tão ameaçador; tirava-lhe o fôlego, mas de uma boa maneira. Ele iria estar bem. Iria voltar a vê-lo.

E já que iria de qualquer forma, que mal teria levar alguém consigo?

— Está bem — murmurou para si mesmo, como que a preparar-se psicologicamente para dar a resposta. Só depois repetiu mais alto — está bem, vou contigo.

— Espera, a sério? — A rapariga contorceu as sobrancelhas em descrédito.

— Então, o que é que esperavas?

— Honestamente? Que me mandasses à fava. Tentei porque a Irina insistiu, mas não estava mesmo à espera.

— Bom, boas notícias então — ele deu de ombros, virando-se depois para a loira, que parecia vibrar de excitação contida. Dava-lhe um desconto; tinha passado um considerável período de tempo sem ver os seus amigos a entenderem-se — e tu, vens também?

— Gostava de ir, por acaso — respondeu, ao mesmo tempo que colocava um dedo em frente ao nariz de Teresa, esta já de boca aberta, para a impedir de contestar — mas não sei quando vou ter alta.

— Vais ter amanhã — escapou a Dominic em tom de casualidade.

— O quê? Como assim?

— Oh, desculpa, era suposto ser a doutora Marise a dizer-te. Ela encontrou-me e ao Silas no corredor, e disse que vocês os dois vão ter alta amanhã.

As duas raparigas deixaram o queixo cair em surpresa aterrorizada, um segundo de silêncio convulso apenas antes de lhe espingardearem um rol de perguntas:

Ela disse o quê?

Ao Silas? Ai não, ai por favor não.

Mas como é que ele reagiu?

Ainda a tartamudear, tão perdido nos acontecimentos como sempre estava — já se devia ter habituado, remordeu causticamente sem nada dizer, respondeu-lhes:

— P-por acaso ele não ficou muito bem, não. Entrou em pânico, nunca o tinha visto assim. Mas…

— Oh, gaita — resmoneou Teresa, um tique nervoso de coçar o queixo a fazer-se notar — oh, que merda, pensava que a Marise se lembrava! Nós pedimos-lhe para ela só lhe dissesse que lhe iam dar alta quando ele estivesse connosco! As coisas tinham sido tão mais fáceis!

— Ela deve-se ter lembrado ao menos de uma parte, deu-lhe alta ao mesmo tempo que a mim. Pode ter percebido mal, mas ao menos isso. Vou falar com ele. E com ela.

Irina levantou-se, sacudiu as calças de algodão e preparou-se para adentrar o corredor quando a outra a chamou.

— Espera, eu vou contigo!

— É melhor não, a Marise pode achar que é muita gente e não aceder. Eu vou, e depois digo como foi. Enquanto isso, podes… ir esclarecendo o Nick sobre algumas coisas? Pobre coitado, apanha com todas por tabela e nem as vê chegar. Até já!

E com um aceno se despediu antes de desaparecer corredor adentro.

Um novo silêncio pesado desenvolveu-se entre Teresa e Dominic, cada um mais desconfortável que o outro face a estarem juntos sem nenhum catalisador de conversa que lhes valesse. Num fio de voz conturbado, Dominic atreveu-se:

— Então, ah… o que se passa ao certo com o Silas?

A rapariga pareceu ponderar, os olhos cravados no chão e as mãos enroladas uma na outra. Com um suspiro desistente, levantou-os por fim.

— Pronto, já vi que vou ter de ser eu. Espero que fique bem claro, não estou muito feliz em ter de contar isto a um estranho. Mas a esta altura do campeonato, mentir ou omitir não serve de muito. Só não digas ao Silas que eu te contei.

E recostou-se na parede, escolhendo as palavras antes de começar.


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