Falling in Love escrita por Luna Lovegood


Capítulo 15
Drown in your love


Notas iniciais do capítulo

Hey leitores, eu já disse o quanto amo vocês??? Obrigada por todo o carinho nos comentários, pelos surtos, por amarem essa história tanto quanto eu amo escrevê-la! É por causa de todo esse carinho que fiz um presente para vocês.... FiL agora tem um trailer! Vocês podem conferir o vídeo nesse link:
https://www.youtube.com/watch?v=GRWU0vibqOs

Espero muito que gostem =D do trailer e desse capítulo! Beijos!



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Something always brings me back to you
It never takes too long
No matter what I say or do
I'll still feel you here
'til the moment I'm gone
 
You hold me without touch
You keep me without chains
I never wanted anything so much
Than to drown in your love
And not feel your rain

Set me free, leave me be
I don't want to fall another moment into your gravity
Here I am and I stand so tall
Just the way I'm supposed to be
But you're on to me and all over me

(Gravity - Sara Bareilles)

 

Felicity Smoak

Vocês vão ter um bebê.

Vocês vão ter um bebê.

Vocês vão ter um bebê.

As palavras de Amanda ficaram se repetindo em minha cabeça, quase como se durante o tempo em que meu cérebro usava para processar aquelas cinco palavras tudo ao meu redor estivesse parado ou pelo menos em câmera lenta. Eu simplesmente não conseguia assimilar mais nada além do peso que aquela frase exercia em meu coração. Não! Aquilo não era possível, eu não poderia estar grávida. Não com toda essa confusão acontecendo em minha vida! Não grávida de um homem que se casou comigo apenas porque achava que o meu pai havia assassinado o pai dele e queria vingança... Eu não poderia, mas... Oh Deus! Era plenamente possível, conclui ainda em choque.

Um bebê. Uma criança que precisaria crescer em uma família feliz e estável, tendo ambos os pais para amá-la, para cuidar dela e protegê-la. Eu já quis ter isso uma vez, eu já quis viver isso com Oliver. Mas agora... Parecia simplesmente errado. Como faríamos isso dar certo? Se apenas olhar para Oliver ainda me machucava? Como eu poderia confiar nele outra vez? Como acreditar que ele não partiria o coração dessa criança da mesma forma que um dia ele partiu o meu?

— Felicity! — Oliver chamou meu nome preocupado e pelo seu tom percebi que aquela não era a primeira vez. — Você está bem? — Ergui meu rosto e encarei seu olhar atento sobre o meu me examinando, tentando entender a minha reação àquela notícia. Olhei ao redor e percebi que Amanda já tinha ido, estávamos apenas nós dois na calçada. Seu aperto em ambos os meus braços era firme, mas ao mesmo tempo delicado e terno como se quisesse me dar apoio, seu semblante me dizia que ele estava calmo, surpreso, mas sobretudo calmo. Como ele não estava surtando? Será que ele não via o quanto esse bebê complicava tudo?

— Eu só preciso ir embora daqui. — falei me afastando de seu toque, esperando que a distância trouxesse um pouco de clareza a minha mente, eu precisava de respostas para as minhas indagações e não as conseguiria enquanto Oliver estivesse por perto bagunçando todos os meus sentidos. Caminhei alguns metros sob chuva fina esperando que as gotas que, agora caiam mais frequentemente e molhavam meus cabelos, pudessem também levar embora toda a confusão que estava em minha mente e talvez magicamente trazer algumas respostas.

Eu precisava ser coerente, encontrar um táxi, ir para um hotel e então pensar  em como resolveria tudo. Isso parecia uma boa ideia.

Eu não cheguei a dar mais do que dez passos até que o corpo de Oliver se materializasse a minha frente me impedindo de prosseguir. Seu corpo era como uma muralha, seu olhar intenso era intimidador não me deixava nem mesmo por um segundo e havia um brilho diferente neles... Eles pareciam magoados.

— Aonde você pensa que vai? — Respirei fundo ao ouvir  as suas palavras, não  escapando a minha atenção o tom autoritário que ele utilizou ao proferi-las.

— Eu não sei Oliver. — falei exasperada, minha voz arranhou a minha garganta revelando que eu estava bem menos controlada do que gostaria.  Eu já estava farta daquilo, das nossas discussões que não iam para lugar nenhum,  de não saber o que fazer com esse sentimento em meu coração que se recusava em ir embora. — Eu só preciso ficar um pouco sozinha. — expliquei mais contida dessa vez, esperando que minhas palavras o fizessem se mover e finalmente me deixar ir. Mas Oliver não se moveu nem mesmo um centímetro.

— Você não pode ir, não nessas condições! — Seu tom era firme e não deixava dúvidas de que ele não me deixaria só nem mesmo por um instante. Eu não sei se foi a sua atitude autoritária, ou toda a pressão desses últimos dias que estava finalmente me atingindo, mas aquilo fez meu sangue ferver sob as minhas veias.

— Não! — bradei indignada — Você não vai usar a carta da suposta gravidez comigo! — Eu estava tremendo de raiva, como ele ousava tentar mandar em mim e ainda usar a gravidez como desculpa?

— Suposta? — questionou incrédulo.

— Sim! SU-POS-TA. — falei em sílabas para que ele compreendesse melhor — Primeiro, porque eu não acredito em nada do que sai da boca de Amanda Waller!  Ela é uma manipuladora doente e mentirosa compulsiva! Talvez isso seja apenas mais um de seus planos absurdos. — Não sei de onde tirei aquela ideia maluca, mas me agarrei àquela teoria como um náufrago se agarra a um bote salva vidas. — O ponto é: eu não acredito nela e você também não deveria acreditar!

— Felicity... — Seu tom era condescendente.

— Você sabe que é possível! — insisti e Oliver fechou os olhos por alguns segundos respirando fundo, era perceptível que ele discordava de mim, mas estava se esforçando para ser paciente.

— Você está certa. — concordou a contra gosto e por um milésimo de segundo alívio percorreu todo o meu corpo — Então faremos outros exames se você se sentir melhor com isso.

Trinquei meus dentes com a opção que ele me oferecia. Eu não queria fazer isso, eu tinha medo da resposta, tinha medo de ter que lidar com todas as consequências que ter um filho com Oliver implicariam. Mas fugir da realidade tão pouco a fazia magicamente se alterar, não mudaria os fatos.

— Ok. — concordei e Oliver piscou surpreso, pela sua reação percebi que ele esperava que eu discutisse. Notei que sua postura relaxou por um momento, aproveitei para passar por ele e continuar a caminhar. O pequeno chuvisco estava começando a tomar forma de chuva ainda, só quando eu me afastei foi que percebi o quanto eu já estava molhada e com frio, discutir com Oliver era algo que tinha o poder de me distrair de tal forma que eu não havia percebido nada disso antes, muito pelo contrário a nossa simples proximidade me deixava quente.

Balancei minha cabeça me livrando daquele pensamento estúpido. Não era Oliver que me deixava acalorada e sim a discussão, justifiquei para mim mesma.  Tentei ignorar a presença dele logo atrás de mim me seguindo a passos largos e acenei para o primeiro táxi que passou pela rua.

— O que você está fazendo? — Oliver me perguntou se aproximando.

— Eu vou pegar esse táxi. — apontei para o carro amarelo que parava ao nosso lado.

— Eu percebi isso.

— Então perguntou por quê? — retruquei com ironia.

— Aonde você vai? — perguntou e suspirei frustrada, lá estávamos nós voltando para a mesma discussão.

— Oliver, eu preciso ficar sozinha. — expliquei novamente — Eu vou para um hotel, eu te ligo informando o resultado assim que fizer o teste de gravidez. — falei dando-lhe as costas, dei passos até táxi e puxei a maçaneta da porta traseira do veículo para entrar. Eu mal a havia aberto quando escutei o baque dela sendo fechada com força. Eu não precisava olhar para trás para saber que Oliver estava ali, meu corpo por si só reagia a sua proximidade me tornando consciente da sua presença tão perto de mim. Sua mão ainda estava encostada à porta que a pouco tempo ele fechara, e tão logo eu me virei ficando de frente para ele, sua outra mão se colocou ao lado do meu corpo prendendo me entre ele e o carro.  Ergui meu rosto para encará-lo e exigir que parasse com isso e me deixasse ir, mas me surpreendi ao enfrentar seus olhos escurecidos e seus lábios contraídos numa expressão de dor.

— Felicity... —  Sua voz era baixa e rouca, era evidente o tom de súplica com o qual ele disse o meu nome. Seus olhos me chamavam, me impeliam a ir até ele e quando dei por mim seu corpo já estava junto ao meu, perturbadoramente perto, mas ainda assim mais longe do que eu gostaria. Suas mãos não estavam mais na lataria do carro, mas ao redor de minha cintura me apertando e me puxando para si. Seu rosto desceu até o meu, hesitante no começo, eu deveria evitá-lo ou repudiá-lo, mas quando se tratava de Oliver meu corpo não me obedecia. Aceitei seus lábios que tocaram os meus delicadamente ao contrário de suas mãos que apertavam meu corpo com força, pareciam querer se certificar de que eu era real e que não desapareceria a qualquer momento.

Novamente a chuva não me incomodava, por mais que as gotas caíssem sobre nós tudo o que eu sentia era calor. O calor que emanava de seu corpo junto ao meu, de seus lábios macios, da sua respiração entrecortada que se misturava à minha. Sua língua roçou de leve o meu lábio inferior, me testando, estremeci sob aquela carícia abrasadora e o puxei pela gola da camisa, entreabri meus lábios desejando provar mais de seu gosto...

— Hey! — o motorista do táxi gritou ao mesmo tempo em que apertou a buzina freneticamente. Assustei-me com o barulho, mas agradeci mentalmente por aquela interrupção que me tirou do transe e trouxe a minha racionalidade de volta, espalmei minhas mãos sobre o peito de Oliver e afastei-me o máximo que consegui de seu corpo. — Se não vão entrar então desencostem do meu carro e procurem outro lugar para se beijarem!

— Nós vamos entrar, apenas aguarde um momento amigo. —  Oliver afirmou desviando o seu olhar para o motorista — Pode começar a tarifar se quiser.  — O senhor pareceu mais tranquilo com a última frase e voltou para dentro do carro murmurando palavras incompreensíveis.

— Nós não vamos. — falei cruzando os braços sobre o meu corpo, Oliver tinha se afastado um pouco e isso já me fazia sentir frio. Um vinco se formou entre suas sobrancelhas ele não parecia compreender as minhas palavras, por isso expliquei melhor — Eu vou pegar esse táxi sozinha Oliver, vou para um hotel e te darei notícias. — tornei a dizer, esperando que isso deixasse claro que aquele beijo não havia significado nada. Tinha sido apenas um lapso.

Seus olhos voltaram a se escurecer e seu rosto foi tomado por uma expressão de raiva.

— O inferno que vou te deixar sozinha em um hotel nesse estado! — protestou —  Você vem comigo. — decretou.

— Oh, gravidez hipotética agora é uma doença? Ou está dizendo que preciso de uma babá? Eu posso me virar sozinha! —  revidei irritada erguendo o queixo e o encarando de volta deixando claro que não o deixaria me intimidar. Odiava quando ele agia assim como se fosse o meu dono.

— Vamos ser racionais Felicity. — pediu, já impaciente — Você vai voltar para o nosso apartamento comigo. — sentenciou. Eu já estava pronta para dizer que não, mas as palavras que ele disse logo em seguida tiveram o poder de minar todos os meus argumentos. — Todos os seus documentos, suas roupas ficaram naquela casa da praia. Como pretende se registrar num hotel?  Ou sequer pagar por ele? — mordi os lábios ao notar que ele estava certo — Você não tem nenhum lugar seguro para ir. E ainda não sabemos se Isabel virá atrás de você ou até mesmo Amanda.

— Então eu deveria ir com você? É seguro? — Não disfarcei a mágoa em meu tom.

— Eu sei que ainda esta irritada comigo, mas daremos um jeito. — Eu me senti enjoada com suas palavras. Será que Oliver pensava que ainda havia uma chance para nós?

— Não Oliver, eu não estou apenas irritada com você. Eu estou ferida. Você me usou, usou o meu amor por você em benefício próprio. Como eu posso confiar em você outra vez? Ainda doí, e não importa o que você faça para tentar remediar isso ou quantas vezes você diga que me ama. Ainda doí. — repeti, sentindo as lágrimas arderem em meus olhos. Fiquei aliviada por estar chovendo, assim meu choro poderia ser facilmente confundido com as gotas de chuva que caiam livremente sobre nós — Você acha que a mera possibilidade de termos um filho muda isso?  Muda toda essa dor que você me causou?

— Eu sei que não muda. — Seu olhar se desviou do meu, mas isso não me impediu de ver a tristeza que parecia inundar seus olhos azuis naquele momento, a expressão dura em seu rosto ou como seu corpo inteiro pareceu se contrair — Apenas entre no carro Felicity, a chuva está começando a ficar mais forte. — falou mecanicamente abrindo a porta para mim.

E eu entrei. Não porque eu estava cansada de discutir, ou porque Oliver estava parcialmente certo, ou até mesmo por causa da chuva. Foi por causa do seu olhar e da apatia em sua voz. Eu finalmente tinha o atingido, minhas palavras finalmente o tinham feito desistir de mim, constatei alarmada, eu deveria estar contente, não era isso o que eu queria?

Oliver entrou no carro e sentou-se o mais distante possível de mim, não me olhando sequer uma vez. Passou o endereço ao motorista e virou seu rosto para a janela. Senti o frio finalmente se abater sobre mim, abracei a mim mesma na tentativa de afastá-lo. Mas foi em vão, aquele não era um frio comum era um daqueles que me atingia na alma.

— Vista isso. — Oliver disse suavemente me entregando a jaqueta de couro que vestia.

— Eu não quero. — recusei prontamente, e Oliver suspirou cansado.

— Eu já entendi que me odeia Felicity, mas não precisa morrer de frio para provar isso. — Sua voz era ressentida, arrisquei a olhar para ele e o que vi me quebrou. Dor e culpa, era tudo o que seu belo rosto transmitia.

Eu aceitei a jaqueta e assim que o fiz ele tornou-se a desviar o olhar do meu, cobri meu corpo com ela e deixei meus sentidos serem inundados por aquela essência de Oliver, seu perfume tão característico que impregnava a sua jaqueta. Tornei a olhá-lo novamente, mas ele permanecia impassível e distante. Eu passei tanto tempo pensando na minha própria dor, no quanto eu estava magoada e sofrendo e em nenhum momento em pensei em Oliver. Em como toda essa história o estava afetando. Ele tinha me machucado isso era incontestável, mas ainda assim ele sempre vinha por mim, sempre estava ali para me salvar.

Talvez nada disso tivesse sido intencional.

Talvez ele estivesse se arrependido.

Talvez ele estivesse ferido também.

Talvez, só talvez ele me amasse.

***

O caminho até o apartamento foi silencioso, Oliver não pronunciou uma única palavra sequer, exceto um “espere no carro” que ele murmurou quando o táxi parou em frente a uma farmácia, ele desceu e voltou cinco minutos depois, fora isso ele permaneceu o tempo todo concentrado em seus próprios pensamentos. Gostaria de poder lê-los, de saber o que se passava em sua cabeça. O que ele pensava sobre essa possível gravidez ou sobre o próprio pai que esteve vivo durante todo esse tempo e nunca o procurou. Sobre as mentiras que Amanda lhe contou. Ou até mesmo sobre nós. Assim como a minha a vida de Oliver também era uma grande bagunça, talvez ainda maior constatei.

O problema de todo aquele silêncio entre nós era que dessa forma eu não tinha como evitar meus próprios pensamentos. Eu não poderia ignorar o outdoor luminoso gigante piscando em neon em meu cérebro com os dizeres “Grávida”.  Preferia começar uma nova discussão com Oliver a encarar aquilo. Não é que eu não gostasse da ideia de ser mãe, esse apenas era o pior momento para sequer pensar na possibilidade.

Oliver pagou o taxista que tenho certeza extorquiu uma pequena fortuna dele. Subimos até o andar do apartamento, ele girou a chave e pronto estávamos novamente sozinhos na casa em que um dia chamei de nossa. Tinham se passado apenas alguns dias, mas parecia que tinha sido um tempo muito maior. Cada parte daquele lugar estava repleto de lembranças, tristes e felizes, mas ainda assim lembranças que nunca me abandonariam que fariam parte de quem eu era e definiriam quem eu seria.

Lembrei de J e de quando ele havia me dito que não importava o tempo que passasse todas essas lembranças me acompanhariam, que cada cicatriz faria parte de mim e me tornaria alguém mais forte. Senti falta do meu amigo, queria que ele estivesse aqui para me aconselhar ou apenas sorrir para mim.

O clima estava mais leve agora, Oliver estava tentando me dar mais espaço, percebi. Era por isso que ele estava tão calado e até mesmo distante. Seja qual tenha sido a direção de seus pensamentos durante o trajeto até aqui, pelo menos eles tinham sido capazes de tirar um pouco da escuridão que nublava seu olhar e da dor em seu rosto. Ele parecia mais calmo... E não sei se o estava lendo corretamente, mas ele estava decidido.

— Eu comprei isso no caminho. — Oliver disse me entregando uma sacola a abri retirando seu conteúdo.

— Como isso foi acontecer? — acabei desabafando em voz alta enquanto olhava para a caixinha cor de rosa em minhas mãos. Oh, inferno! Eu teria mesmo que fazer aquele maldito teste. Será que não podia ficar mais uns instantes em negação?

— Você sabe como aconteceu. — Meu rosto se esquentou com as palavras de Oliver e tive a impressão de ver um vislumbre de um sorriso em seus lábios.

— Foi uma pergunta retórica. — repliquei com um falso mau humor.

— Felicity... Eu não vou te pressionar está bem? Faça quando se sentir bem. Tome um banho e durma um pouco, deixe isso para amanhã se preferir. Você precisa descansar depois de tudo o que aconteceu. —  disse-me calmamente.

— Eu acho que vou aceitar essa sugestão. — falei, tudo o que eu queria naquele momento era tomar um banho e apagar, esquecer que esse dia tinha acontecido. — Minha toalha de banho está...?

— Exatamente no lugar onde você deixou. — Oliver completou, deixando claro que não havia tocado em nada meu.

 — Certo.  — assenti.

— Eu vou preparar algo para comermos. — Oliver disse enquanto eu saía de sua visão tomando o caminho para o banheiro. Aquilo era estranho, estávamos a menos de cinco minutos aqui e parecia que tínhamos retomado a nossa antiga rotina de casados.

Tomei um banho demorado, esperando que a água relaxasse cada um de meus músculo e talvez quem sabe levasse meus problemas embora.  Mas é claro que isso não aconteceu.  Infelizmente. A caixinha rosa estava sob a pia do banheiro, eu a trouxe na tentativa de me convencer a acabar com o tormento, mas acabei a deixando ali mesmo, intocável. Decidi que aquilo poderia esperar até amanhã, não queria que isso tirasse ainda mais o meu sono.

Fui para o nosso antigo quarto e vesti um pijama, resistindo ao impulso de pegar uma das camisas de Oliver, que sempre foram os melhores pijamas do mundo. Notei também a garrafa de whisky quase vazia sobre o criado mudo, Oliver nunca tinha sido muito de beber, talvez os últimos dias tenham sido difíceis para ele também.  Segui o cheiro de comida que vinha da cozinha, mas naquele momento eu não sentia muita fome. Por isso recusei o prato que Oliver havia preparado dizendo apenas que preferia  ir direto para a cama.

— Ok, então. — Oliver assentiu, percebi que ele estava se esforçando para não me obrigar a comer algo. Ele me acompanhou até nosso antigo quarto, eu sabia que ele dormiria na sala, pois tinha visto o sofá arrumado, não entendia porque ele não ia para o quarto de hóspedes.  – Boa noite, Felicity. – disse à porta mantendo-se afastado.

— Boa noite, Oliver. —  respondi começando a fechar a porta.

— Espere Felicity. — falou vindo até mim e meu coração começou a disparar tão rápido que fiquei preocupada de estar tendo uma arritmia — Deixe a porta entreaberta.  — pediu e eu pisquei confusa. — Caso precise de algo não hesite em chamar ou gritar, eu vou chegar bem rápido.

Não controlei o sorriso que teimou em aparecer quando compreendi a razão de Oliver dormir na sala ao invés do quarto de hóspedes. Ele apenas queria estar perto. Eu já conhecia esse lado cuidadoso dele, mas de certa forma eu imaginava que era apenas parte da sua atuação de marido perfeito. Eu estava errada.

Adormeci tranquilamente assim que minha cabeça tocou o travesseiro, eu sequer sonhei. Era de se esperar que eu tivesse um sono agitado considerando a adrenalina que foram os últimos dias. Eu só conseguia encontrar uma justificativa para isso, por mais que Oliver e eu tivéssemos nossos problemas - que eram muitos - havia essa parte de mim que se sentia segura aqui perto dele.

***

Oliver Queen

Acordei sentindo as costas doloridas.

Eu poderia ter dormido no quarto de hóspedes, teria sido muito mais confortável e minha coluna agradeceria, mas ali na sala eu teria uma visão melhor caso Felicity precisasse de algo ou caso alguém tentasse entrar ou até mesmo sair. E, além disso, pela reação dela quando Amanda falou sobre a gravidez eu temi que talvez ela me deixasse outra vez, já tinha sido difícil dissuadi-la da ideia de ir para um hotel. Eu não podia lidar com sua partida novamente, principalmente agora que ela estava grávida. Sim, eu tinha certeza disso. Amanda não jogaria essa carta assim do nada, tudo o que aquela mulher fazia era meticulosamente planejado. Aquela tinha sido a forma dela de me avisar o quanto eu tinha a perder se me colocasse novamente em seu caminho. Ela estava mostrando que conhecia as minhas fraquezas.

Um filho.

Aquele pensamento trouxe um ligeiro sorriso aos meus lábios e aqueceu o meu coração. O bebê não poderia ter vindo em um momento mais complicado da nossa vida. Felicity ainda me odiava por ter a enganado, nossos pais haviam sido sequestrados, Amanda não iria parar até conseguir o que queria e destruiria qualquer um que se colocasse em seu caminho e ainda tinha Isabel  a qual eu ainda tentava compreender o papel na história. Eu precisava fazer algo, precisava proteger as pessoas que eu amava e garantir um futuro feliz e tranquilo à elas.  Deixei-me iludir  de que essa poderia ser uma ponte entre Felicity e eu, um modo de mostrá-la o quanto eu a amo e que quero ter essa família com ela. Mas então ela massacrou meu coração dizendo que um filho não mudaria nada entre nós, que não mudaria toda a dor que eu causei à ela. E Felicity estava certa. Eu não precisava apenas do seu perdão. Eu precisava curar a dor que lhe causei. Eu precisava mostrá-la que eu não era o homem frio que ela pensava que eu era. Eu precisava que ela visse o homem por trás do agente e se apaixonasse por mim novamente.

Levantei-me do sofá, arrumei os lençóis e os guardei no outro quarto, passei em frente a porta do nosso quarto que estava entreaberta e olhei para Felicity que dormia tranquilamente, inconsciente da minha presença.

Ela queria tempo e espaço. Eu daria isso à ela. Eu daria qualquer coisa que ela me pedisse, eu daria tudo por ela e por nosso filho.

 Entrei a passos silenciosos no quarto, eu estava quebrando a minha promessa de dá-la espaço, mas se ela estava dormindo isso não contava, certo? Optei pela pequena trapaça, em minha defesa eu queria ver seu rosto, havia algo em sua tez serena que sempre me acalmava.  Ajoelhei-me perto da cama, afastei seus cabelos de seu rosto e me perdi enquanto a observava, ela era tão linda.  Eu devia ter previsto que me apaixonaria por ela na primeira vez que a vi, não havia nada nela que não fosse apaixonante.

Gostaria de poder reescrever a nossa história, eu tenho certeza que se a minha vida tivesse esbarrado na dela de uma forma diferente ainda assim eu a teria amado. Teria sido simples e belo como toda história de amor deve ser. E não cheio de segredos e mentiras como eu fiz a nossa história ser.

Pressionei meus lábios em sua testa ao mesmo tempo em que inspirava o perfume floral de seus cabelos, não resisti ao impulso de colocar uma de minhas mãos em sua barriga. Deus! Aquilo era demais para mim, será que seria possível amá-la mais do que eu já amava? Amá-los, na verdade, eu já estava completamente encantado com a ideia de te ter um filho. E esse sentimento parecia transbordar do meu coração, inundar minhas veias... Esse sentimento me dominava, moldava quem eu era, quem eu gostaria de ser, tudo isso apenas por amá-los. Existiria no mundo um sentimento mais transformador?

— Eu vou dar um jeito em tudo amor — sussurrei a promessa, mais para mim do que para ela — eu vou proteger vocês dois e vou fazer você me amar novamente. — afirmei, Felicity me surpreendeu quando suspirou e se virou, sua mão recaindo sobre a minha, me senti quente e esperançoso com seu toque inconsciente. Aquela foi a minha deixa para que saísse dali antes que ela acordasse.

Fui para a cozinha pensando em fazer um café da manhã reforçado, ela precisava se alimentar melhor. Já havia ignorado o jantar na noite anterior e fui complacente, hoje eu não seria.   Mal tive tempo de abrir a geladeira quando o meu celular tocou atendi no primeiro toque preocupado que Felicity pudesse acordar.

Estou à sua porta. — A voz disse e desligou logo em seguida.

— John! O que faz aqui? — falei assim que abri a porta e vi meu amigo.

— Bom dia para você também e obrigado por salvar a minha pele era o que eu esperava.  Não “O que faz aqui?” — respondeu com uma pitada de bom humor enquanto eu lhe dava passagem para entrar.

 — O que eu quero dizer é que estou surpreso, mas obrigada por salvar a minha pele.

— Sempre que precisar.

—Então algo aconteceu? —  inspecionei enquanto indicava o sofá para que John se sentasse.

— Yeah, Amanda me demitiu. —  disse se acomodando no sofá.

— Você esperava algo diferente depois de me ajudar? — perguntei erguendo uma das sobrancelhas.

— Não esperava. Mas isso mudou algumas coisas. — Fiquei mais atento —  Eu não tive muito tempo para pegar informações sobre Isabel  Rockev ou Robert e James. —  falou, e eu assenti. Ontem a noite eu havia ligado para John e explicado o desenrolar das coisas e ele imediatamente se prontificou a me ajudar. — Vamos ter que invadir o sistema por fora e como um hacker eu sou um excelente soldado. —  explicou.

— Eu vou pensar em algo. — garanti, mas minha cabeça estava completamente vazia de ideias.

— Ela está bem? — John perguntou mudando subitamente de assunto, pelo tom suave que usou eu sabia que ele se referia a Felicity — Você parece preocupado.  Mais preocupado do que o usual. —  destacou.

— Ela está grávida. — desabafei e vi seus olhos se arregalarem com a surpresa.

— Isso certamente muda as coisas.

— Nem me fale. —  concordei.

— Vocês darão um jeito Oliver. — John afirmou – Ela irá te perdoar e vocês superarão isso.

— Eu não vejo como. No momento atual ela simplesmente me odeia. —  falei.

— Esse é o jeito dela de lidar com a dor, mas vai por mim um coração precisa de tempo para ser curado. E assim que se curar tudo ela vai perceber o quanto você a ama. —  Suas palavras tiveram o poder de me confortar, era por isso que John Diggle era um bom amigo, sabia sempre as palavras certas a dizer.

— Eu espero que esteja certo. Porque eu a amo e eu amo esse bebê, não posso imaginar minha vida sem eles dois. —  confessei.

John sorriu se levantando, ele precisava ir embora. Disse-me que faria uma investigação profunda sobre Isabel  e procuraria um hacker de confiança para nos ajudar, assim que fechei a porta, virei-me e dei de cara com Felicity me encarando parecendo suspeita.

— Esse era o Senhor Diggle? O seu padrinho de casamento? Ele trabalha para a ARGUS também? — investigou estreitando os olhos e parecendo desconfiada.

 — Ele trabalhava, agora está nos ajudando a recolher informações sobre Isabel. — esclareci.

— Humm... Ele conseguiu algo? — falou se aproximando.

— Ele ainda esta trabalhando nisso. — expliquei.

— Eu quero me conte tudo Oliver, sem mais segredos entre nós está bem? — pediu, estávamos próximos agora seu olhar queimava sobre o meu.

— Sem mais segredos. Eu prometo. —  falei sustentando o meu olhar no dela para que entendesse que eu falava sério. Eu não mentiria para ela nunca mais, sabia que uma mentira tinha sido a razão da nossa separação, e eu estava disposto a provar a ela que não era esse homem mais. — Vamos para a cozinha vou preparar algo para você comer. — mudei o assunto, quando percebi que o silêncio pairava sobre nós. Ela assentiu enquanto me acompanhava até a cozinha.

— Ai... — escutei o pequeno grito de dor vindo de Felicity, e quando me virei vi que ela tinha batido a perna com toda a força na mesa de centro.

— Você esta bem? — perguntei preocupado.

— Isso sempre acontece com uma pessoa desastrada, enquanto existir uma quina eu irei bater nela — falou enquanto massageava o local do impacto.

— Precisamos dar um jeito nisso, não é seguro para crianças. —  comentei casualmente e  de repente ela esqueceu-se da dor e alarme pareceu tomar conta do rosto de Felicity.

— Oliver... Pare. —  alertou-me — A possível gravidez... Isso não muda as coisas entre nós. Não iremos fingir que ainda somos um casal, eu não quero isso. —  As palavras dela me machucaram, mas eu a entendia, ela não queria que confundíssemos as coisas. Estávamos juntos apenas até encontrarmos James e meu pai.  Ela deve ter visto a tristeza em meu olhar, pois logo completou mais suavemente —  Eu só não quero discutir sobre isso agora.

— Não falar sobre o bebê, não muda o fato de que ele existe Felicity. —  alertei, não era saudável ela permanecer em negação.

— Eu ainda não fiz o teste. — continuou a negar —  É só que temos tantas outras coisas para resolver, nossos pais ainda estão desaparecidos.... E pensar sobre um bebê agora...

— Eu entendi Felicity, não se preocupe não falaremos sobre ele até que você esteja disposta a encarar a verdade.

—  Eu não estou fugindo da verdade! —  respondeu com um ar petulante.

— Ok — concordei para evitar uma discussão. Ela ia dizer algo, defender seu ponto, mas foi interrompida pelo barulho da campainha e logo Felicity estava indo até a porta para atendê-la. A segui, por puro instinto de proteção, sentia que precisava sempre estar perto dela, mas travei assim que a porta foi aberta.

Oh merda, o que mais poderia dar errado? Pensei enquanto observava a mulher loira de olhos claros e um sorriso radiante à minha frente.

— Mãe? —  pronunciei surpreso.

 


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Notas finais do capítulo

Então.. como os capítulos passados focaram um pouco mais na ação deixei esse para focar mais em Olicity e seus dramas, apenas para dosar um pouco! E Moira Queen chegou, apenas para complicar um pouco as coisas... Vai deixar a dinâmica bem interessante...
Me digam o que acharam do capítulo e do trailer =D