Ampulheta escrita por Anchorage


Capítulo 1
Capítulo Único




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Você nunca sabe como vai reagir quando sua hora chegar.

Eu soube.

Fechei os olhos e pensei nela.

Nela.

xx

Setembro de 1971

—  Ei! — Escutei uma vozinha bem fina me repreender. Quando virei-me para a dona da voz me deparei com uma menina emburrada; seus cabelos eram ruivos, os olhos eram verdes brilhantes e várias sardas pipocavam suas bochechas.

— O que foi, pimentinha? — Perguntei fazendo graça e ela se emburrou ainda mais.

— Você está pisando nas minhas vestes. — Ela apontou para a ponta de sua longa capa preta e arrebitou o nariz, com um ar de superioridade.

— Não era minha intenção. — Respondi numa falsa gentileza e levantei meu pé.

— Obrigada. — Ela puxou o excesso de pano e me deu as costas.

— Por nada, pimentinha. — Sussurrei a fim de provocá-la.

— Não me chame assim! Não te dei intimidade para isso. — Ela voltou a me olhar novamente. Por que ela tinha que ter olhos tão bonitos? Merlin! — Meu nome é Lily Evans, mas para você, é só Evans.

— Me perdoe, pimentinha. — Cobri minha boca como se estivesse espantado com o erro que havia cometido e logo tratei de me corrigir. — Quero dizer, me perdoe, cara colega.

Ela revirou os olhos e jogou seus cabelos para trás.

Argh. Evans.

Junho de 1973

— Você não vai acreditar quem é o mais novo artilheiro da Grifinória, pimentinha! — Sacudi Lily pelos ombros sem conseguir conter minha animação.

— Acredito que seja você. Se não fosse, você não estaria tão eufórico. — Ela respondeu sem interesse.

— Você poderia ficar menos interessada? — Perguntei sarcástico. — Você está tão animada que está me deixando sem graça.

— James Potter sem graça, ta aí uma coisa que eu pagaria para ver. — Ela disse e sua amiga, Mary Macdonald, soltou uma risadinha.

— Esquece! — Eu falei irritado. — Não sei porque diabos vim falar com você.

E eu realmente não sabia. Por que ela? Assim que saí dos testes, corri até ela para contar as novidades. Os garotos ainda não sabiam, mas ela sabia.

Argh. Evans.

Outubro de 1973

— E o mais novo artilheiro do time da Grifinória: James Potter! — Ouvi vários vivas e palmas vindos da torcida vermelha e dourada e não pude deixar de sorrir.

— Potter está com a Goles e atravessa o campo numa rapidez impressionante. Ele se aproxima do goleiro adversário e MARCA 10 PONTOS PARA A GRIFINÓRIA! Vai ser difícil para a Corvinal se recuperar.

— CENTO E CINQUENTA PONTOS PARA A GRIFINÓRIA! FIM DE JOGO, PESSOAL. UMA VITÓRIA MAIS QUE MERECIDA.

Nosso time se manteve no ar, interagindo com a torcida vermelha e dourada. Eu nunca havia sentido tamanha felicidade, nunca havia sentido aquele frio na barriga de excitação. Eu estava orgulhoso de mim e o melhor de tudo, eu sentia que pertencia àquele lugar, àquele momento.

Naquela mesma noite, peguei minha capa de invisibilidade e a usei pela primeira vez. Eu queria uma recordação daquele primeiro jogo e já sabia o que queria: o Pomo de Ouro.

— Potter, o que faz fora da cama? — Uma voz irritante me surpreendeu. Lily Evans estava com um robe branco e pantufas vermelhas, os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada.

— O que você faz fora da cama, pimentinha? — Guardei o pomo em meu bolso e sorri.

— Eu estav- JAMES, CADÊ SEU BRAÇO? — Ela perguntou horrorizada e eu me lembrei da capa de invisibilidade. Ao olhar para meu braço direito, notei que metade estava aparente e a outra metade estava coberta pela capa.

— Shhh, pimentinha! Assim Pirraça vai nos ouvir e nos entregar. É isso que você quer? — Eu a provoquei. — Você acabou de me chamar de James? — Perguntei maroto.

— Potter, foco! Você pode me explicar onde está a outra parte do seu braço? — Ela perguntou irritada.

— Veja, pimentinha, eu tenho uma capa. — Eu a ergui e o restante do meu braço voltou a aparecer, fazendo com que ela suspirasse estupefata.

— O que ela faz? — Seus olhos brilharam em curiosidade.

— Me deixa invisível. Quer experimentar? — Eu estendi a capa até ela, que arregalou os olhos um pouco assustada. Eu a encorajei e ela agarrou a capa sem muita firmeza.

Ela se enrolou com minha capa e sorriu ao notar que seu corpo havia sumido.

— Isso é incrível! — Ela rodopiou enquanto gargalhava. Eu não pude deixar de sorrir ao ver aquela cena.

Ela parou de repente e suas bochechas adquiriram um tom rosado. Ela se desvencilhou da capa e me entregou.

— E o que você estava fazendo escondido em sua capa? — Ela perguntou desconfiada.

— Eu não estava escondido. — Me defendi e ela cruzou os braços, mostrando que esperava uma resposta. — Só te digo o que estava fazendo se me disser porque está fora da cama. — Cruzei meus braços também e ela franziu o cenho.

Eu sabia o quanto Lily Evans era curiosa. Sabia também que estava tendo um conflito interno para decidir se valeria a pena me contar ou não o motivo de estar quebrando as regras da Escola.

— Eu estou indo até a cozinha. — Ela disse baixinho.

— O quê?

— Eu descobri uma passagem secreta para a cozinha de Hogwarts. — Ela respondeu.

— Isso não é contra as regras? — Eu perguntei, testando-a.

— Bom...é. – Ela corou envergonhada e eu ri. — Agora é a sua vez.

Eu retirei o pomo de meu bolso e ela me olhou chocada.

— Não acredito que você roubou o Pomo de Ouro dos equipamentos da Escola!

— Que tal você me mostrar essa passagem secreta, huh? — Eu fiz um biquinho e ela negou. — Se você não me mostrar, vou atrás do Pirraça e vou dizer que você está fora da cama – e isso já é uma infração às regras – e, ainda por cima, está na cozinha – uma infração ainda mais grave!

— Eu não acredito que fui chantageada por James Potter. — Ela bufou indignada enquanto caminhávamos sob minha capa.

— ‘Tá vendo aquele quadro ali? — Ela apontou e eu assenti. — Faça cócegas na pera.

— Como é?

— Cócegas, Potter.

Eu me aproximei da fruta e a cocei, me sentindo extremamente idiota por estar fazendo aquilo no meio da madrugada. Parecia ser uma pegadinha da Evans, mas em menos de um segundo, o quadro virou e espiei o corredor alto que havia surgido.

— Vamos.

Assim que entramos diversos elfos vieram nos cumprimentar e quando dei por mim estava balançando a mão de todos os elfos ali presentes.

— O de sempre, Srta. Lily? – Ouvi um deles perguntar a Lily. — Para o Sr. também?

— Você gosta de chocolate quente, certo? — Ela me perguntou e eu assentiu. — Então, vão ser dois! Com bastante marshmallow, por favor.

— Você vem aqui toda noite? — Tentei puxar assunto enquanto aguardávamos nossos chocolates quentes sentados em um dos balcões da cozinha.

— Sim. Minha mãe costumava me colocar na cama e eu sempre tomava um chocolate quente antes de dormir. Virou hábito, quase como um ritual. —Ela respondeu e eu pude perceber o quanto ela sentia saudade de casa.

— Aqui está! — O pequeno elfo nos entregou duas canecas enormes.

— Está delicioso!

— Que bom que a Srta. gostou. — O pequeno elfo fez uma reverência e correu para longe.

— Você sente saudade de casa? — Ela perguntou de repente.

— Bastante. Considero Hogwarts minha segunda casa, mas nada se compara à primeira. — Dei de ombros e ela sorriu, arrastando seu dedo sobre a parte superior da caneca.

— É verdade. — Ela bebericou seu chocolate quente e se calou, perdida em seus pensamentos.

— Terminou? — Eu perguntei e ela assentiu. Levei as duas canecas até a pia e me despedi dos elfos.

No nosso caminho de volta ao salão comunal da Grifinória, Lily manteve-se calada. E, na verdade, eu estava apreciando aquele silêncio. Era um silêncio tranquilo, pacífico. E essa sensação era uma novidade para mim. Lily e eu sempre discutíamos sobre qualquer coisa e era estranho passar um tempo com ela sem trocar insultos, ironias ou pegadinhas.

— Então... boa noite, Evans. — Eu pigarreei sem saber exatamente o que fazer.

— Boa noite, Potter. — Ela respondeu e caminhou até a escada que dava acesso aos dormitórios femininos. — E, Potter, parabéns pelo jogo.

Ela sorriu timidamente e, novamente, suas bochechas coraram.

E essa imagem me atormentou por aquela noite e por muitas outras.

Argh. Evans.

Novembro de 1974

Consultei o relógio mais uma vez e bufei. Ela estava atrasada. Lily Evans estava atrasada. Batuquei meus dedos contra a mesa da biblioteca e consultei mais uma vez meu relógio. Cansado de esperar, decidi encontrá-la para assim comunicá-la o quão desrespeitoso e antiético era deixar alguém esperando.

Estava marchando pelo corredor, fazendo meu caminho até o salão comunal da Grifinória, quando – após franzir bastante os olhos – notei uma cabeleira ruiva nos jardins.

Lily estava sentada na grama, de costas para sua amiga Alice Fortescue, que trançava os fios ruivos e ora ou outra colocava uma pequena flor branca.

— Evans. — Eu pigarreei e ela me encarou com uma carranca. — Você está atrasada.

— Atrasada? — Ela riu pelo nariz debochando de mim. — Eu não estou atrasada...

Ela consultou seu relógio e arregalou os olhos.

— Por Merlin! Estou atrasada. Alice, isso é culpa sua. Eu disse que tinha compromisso. – Ela ralhou com sua amiga, que acabara de fazer a trança.

— Culpa minha? Eu não achei que você estivesse falando sério quando você disse que tinha um compromisso com James. — Ela devolveu.

— Acredite ou não, eu vou ajudar Lily em Aritmancia. — Eu sorri vitorioso.

— Você não precisa se gabar, Potter.

— Até mais, Alice. — Eu empurrei Lily pelos ombros para fora dos jardins.

— ... se Dumbledore não tivesse me aconselhado, ou melhor, me coagido a te procurar, eu nunca pediria ajuda a você! Isso inflou seu ego dez vezes mais e se tem uma coisa que você não precisa, Potter, é que inflem ainda mais seu ego.

— Ok. — Eu juntei minhas mãos e sorri. — Acabou seu discurso?

— Não. — Ela respondeu irritada e se preparou para dizer algo mais.

— É realmente uma pena, pois eu adoraria ouvir todas as mil maravilhas que você tem a dizer sobre mim, mas você já se atrasou e meu tempo é valioso, Evans.

Ela abriu a boca em exasperação e entrou na biblioteca com o nariz empinado. Sentou-se e cruzou os braços, emburrada. Joguei meus óculos sobre a mesa e esfreguei meu rosto. Merlin, em outra vida Lily Evans foi formada em "Como irritar profundamente James Potter".

— Certo... vamos acabar logo com isso. — Peguei meus livros e pergaminhos e comecei a explicar a matéria para ela.

Enquanto ela estava concentrada nos exercícios eu parei para observá-la. Seu cabelo ruivo estava preso naquela maldita trança e o penteado estava coberto de pequenas flores brancas, seus olhos estavam determinados a solucionar o problema que eu havia lhe passado, ela tinha o dedo indicado sobre os lábios e as pernas estavam cruzadas sobre a cadeira. De repente, a realidade me atingiu: Lily Evans era uma menina bonita. Muito bonita.

Não que eu nunca tivesse notado aqueles olhos verdes expressivos ou aquele cabelo vermelho que contrastava tão bem com a pele alva ou as sardas que se espalhavam pelo rosto fino dela. Mas, sem qualquer aviso, senti como se tivesse descoberto os doze usos para o sangue de dragão.

Lily soltou a pena e me encarou. Por uma fração de segundo, pensei que pudesse ter sido descoberto. Pensei que talvez ela fosse capaz de ler pensamentos e meu coração deu um pulo nervoso contra meu peito.

— O que foi?

— Estou cansada. — Ela declarou sem cerimônias. Sua expressão era um misto de tédio com frustração. — Não consigo passar desse exercício.

— Nunca pensei que veria Lily Evans desistir de um exercício. — Brinquei. Ela revirou os olhos e pegou a pena mais uma vez.

— Aposto quantos galeões você quiser que essa matéria não terá utilidade para o meu futuro.

— Conhecimento é utilidade, Evans. — Ralhei. — Foco.

Por fim, ela conseguiu terminar o exercício e soltou uma boa gargalhada.

— Acho que comecei a gostar de Aritmancia.

— Como minha mãe diz, não se pode dar asas às cobras. — Respondi brincado e ela sorriu. 

— Obrigada pela ajuda. 

— De nada, Evans. — Ela sorriu e me entregou a pena e os pergaminhos. — Sabe, eu estava pensando...Daqui a duas semanas vai ter um passeio para Hogsmeade... e eu estava pensando em talvez irmos juntos.

Lily derrubou o tinteiro antes que pudesse me entregar e a tinta escura escorreu pela mesa. Ela xingou baixinho e lançou um feitiço de reparo. 

— O que você disse? — Ela perguntou baixinho com uma expressão tão confusa que desejei não ter feito o convite. 

— Que tal sair comigo, Evans? — Fiz um sorriso sedutor e passei uma de minhas mãos pelos meus fios arrepiados, para tentar camuflar meu nervosismo.

— Você ficou maluco, Potter? Um trasgo bateu na sua cabeça com muita força, por acaso?

— Um trasgo deve ter batido na sua cabeça com muita força pra você recusar meu convite.

— Quer saber? Acho que já deu de Aritmancia por hoje. — Ela se levantou de prontidão.

Fiquei sentado ali até absorver aquilo tudo.

Argh. Evans.

Dezembro de 1975

— Quem aquela garota pensa que é? — Eu andava de um lado para o outro em meu dormitório, enquanto Remus e Sirius estavam jogados em suas respectivas. Peter abriu a porta de repente e eu o censurei.

— Quem? — Peter perguntou sem graça.

— Evans. — Sirius e Remus responderam em coro.

— Ela disse que eu sou um mesquinho, egoísta e um energúmeno. E- N- E- R- G- Ú- M- E- N- O. E sabe o que mais? Ela disse que eu sou um idiota prepotente por azarar os outros alunos indefesos – aposto que ela estava falando daquele Ranhoso.

— E onde está o problema nisso? – Remus perguntou. — Não é como se ela estivesse mentindo.

— O quê? — Minha voz saiu esganiçada diante daquela traição. — Você concorda com ela?

Remus expirou pesadamente.

— Eu sei que, às vezes, posso ser um idiota. Mas não tão idiota como ela diz.

Argh. Evans.

Março de 1977

Eu estava caminhando pelos corredores vazios de Hogwarts, distraído em meus próprios pensamentos; já estava tarde e uma brisa gelada fazia meus pelos se arrepiarem a todo instante. De repente ouvi uma voz conhecida: Lily Evans e Marlene Mckinnon estavam sentadas em um dos bancos do Pátio da Torre do Relógio.

— Seu ego é tão inflado que ficar mais que cinco minutos perto dele me deixa desgostosa. Potter tem um complexo de superioridade inexplicável, acha que pode azarar as pessoas a bel-prazer – você já viu como ele trata o Severus? - e, por algum motivo, ele cismou comigo, desde nosso primeiro ano aqui, acho que ele pensa que sou uma espécie de troféu, o qual ele precisa conquistar para exibir aos amiguinhos.

— Evans, você não mede o nível de idiotice das suas palavras antes de vomitá-las por aí? — Eu perguntei irritado. Marlene arregalou os olhos e nos deixou sozinhos.

— Você não tem o direito de falar assim comigo. — Ela rebateu ressentida.

— E você acha que tem o direito de falar o que quiser de mim pelas minhas costas? Quando não posso me defender?

— E-eu não...

— Não, Evans, agora você vai me ouvir. Se eu te irrito tanto, se eu te incomodo tanto, por que você se dá ao trabalho de falar tanto de mim? Você não perde uma oportunidade. — Suspirei irritando. — O fato de eu mostrar interesse por você não te categoriza como um “troféu”. Você fala do meu ego, mas você se considera tão boa pra mim, não é mesmo? Lily Evans é boa demais para James Potter, aquele idiota arrogante. Talvez se você prestasse mais atenção em mim, ao invés de reproduzir coisas sem fundamento, perceberia que eu estou amadurecendo. — Despejei as palavras sem deixar que ela falasse qualquer coisa. — Em relação ao seu amiguinho Snape, você deveria se informar melhor. Por que na última transformação de Remus, adivinha quem estava bisbilhotando o Salgueiro Lutador? Snape. E quem quase foi morto por se meter aonde não devia? Snape. E quem foi o idiota que o salvou? Sim, Evans, eu. — Seu cenho se franziu em espanto. — Tudo bem, Evans. Continue com a sua opinião estereotipada. Acredite no que você quiser. Por mim, tanto faz.

Argh. Evans.

Fevereiro de 1978

— O que você quer de mim, James? — Ela perguntou desesperada.

— Eu queria uma droga de uma chance, Lily. Mas parece que você não percebe que eu mudei e continuo mudando. Você parece não acreditar que as pessoas possam mudar e bom, se você não consegue ver o que está embaixo do seu nariz, eu não posso fazer nada.

— Eu tenho medo.

— Medo de quê?

— De me magoar.

— Você não precisa ter esse medo. Eu nunca faria nada para te magoar.

— James, você sabe quantas vezes eu ouvi diversas garotas chorando por sua causa? Quantas vezes eu vi meninas desoladas porque você não havia ligado ou porque você havia terminado sem ter um motivo de verdade. Me desculpe se eu não quero ser mais uma dessas garotas toscas.

— Eu sei que já fiz coisas condenáveis e você tem todo o direito de ter um pé atrás por causa disso, mas tudo o que eu peço é uma chance para mostrar que você é diferente de qualquer garota. Você acha que eu correria atrás de você por tanto tempo se eu não tivesse um bom motivo?

— E que motivo seria esse? — Ela perguntou quase sem voz.

— O fato de eu estar loucamente apaixonado por você, Evans.

Ela se calou e desviou o olhar do meu. Bufei frustrado e baguncei meus cabelos.

— Talvez você possa me explicar melhor as coisas na semana que vem, em Hogsmeade, na Madame Puddifoot?

Ela perguntou sem jeito, com as bochechas coradas, e as mãos entrelaçadas umas nas outras.

— Você está falando sério?

— A gente se encontra no salão comunal?

— Evans?

— Te vejo no sábado, James. — Ela acenou e me deixou em choque.

Argh. Evans.

Outubro de 1981

Há meses pensava como seria quando ele viesse atrás de minha família. Não imaginava, no entanto, que estaria completamente sem defesa. Amaldiçoei-me mentalmente ao perceber que estava desacompanhado de minha varinha e as feições de Voldemort, antes inexpressivas, agora beiravam a comicidade; o sorriso estampado em seu rosto era cruel e nocivo.

Era um tanto cômica, se não trágica, a situação. 

Minha mente vagou para o andar de cima da casa, onde minha mulher e meu filho estavam. Nesse momento, o medo se esvaiu de meu corpo e uma coragem tomou conta de mim. Eu precisava salvá-los, ainda que isso significasse que precisava me sacrificar. 

— Lily, pegue o Harry e vá! É Ele! Vá! Corra! Eu vou mantê-lo aqui!

Gritei com todo o ar de meus pulmões e ouvi Harry chorar. Sem pensar duas vezes, avancei na direção de Voldemort para tentar desestabilizá-lo. Com um aceno de sua varinha, fui lançado pelos ares para trás. Quando me levantei, ouvi uma gargalhada, a varinha de Voldemort estava apontada para meu peito.

Você nunca sabe como vai reagir quando sua hora chegar.

Eu soube.

Fechei os olhos e pensei nela.

Nela.

Os olhos verdes, que agora pertenciam também à meu filho, se materializaram em minha mente. Um sentimento reconfortante se agitou em mim. Mesmo estando a segundos da morte, senti-me tranquilo. 

Lembrei-me de todas as confidências que trocávamos nas madrugadas e que acordávamos preocupados com o futuro. Por mais que fosse difícil, havíamos aceitado que o futuro nos reservava algo incerto. E, dentro dessa incerteza, a única certeza que tínhamos era nosso amor.

Nossas vidas não passam de ampulhetas; pequenas existências medidas por uma quantidade de grãos. Ainda que virássemos os lados, uma hora os grãos deixariam de cair.

À beira da morte, eu estava repleto de gratidão. Sentia-me grato por Lily ter feito valer todo instante de minha ampulheta.

 

 


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Notas finais do capítulo

Em um surto de inspiração, saiu esse one ♥

Espero que tenham gostado!

Bjs,
M.