Astoria acordou com o barulho de um passarinho cantando na sua janela. Quando abriu os olhos, sentiu-se como nunca antes. Fora a dor de cabeça insuportável, sentia seu corpo calmo, tranquilo, como se houvesse acordado no céu. Respirou fundo antes de se mexer. A cabeça reagiu. Então virou o corpo de lado. Estranhou. Draco não estava lá. Respirou fundo novamente. Fechou e abriu os olhos sentando-se sobre o colchão. Estava nua.

Assustou-se ao perceber a falta de roupas. Assustou-se ainda mais ao ver o loiro entrar em seu quarto sorrindo alegremente com uma bandeja nas mãos e o que parecia ser o seu café da manhã. A cabeça então ferveu. Juntou os pontos e os detalhes e ela não sabia o que pensar. A noite passada era apenas um vislumbre em sua mente. Não sabia se era real, ou mais um dos sonhos...

...

Draco acordou com o barulho dos carros que passavam próximos da casa. Sorriu ao perceber que estavam deitados juntos. Abraçados. De conchinha. E sua alegria tornou-se tão sem medidas que ele assustou-se ao notar que estava sentindo o aroma dos cabelos dela e observando os diferentes sons que sua respiração, tão tranquila, fazia.

Arqueou um pouco o corpo e beijou de leve o rosto dela, recebendo um sorriso involuntário como resposta. Retirou o braço de cima de seu corpo o mais calmamente que conseguiu e ela resmungou docemente como em contragosto pelo movimento dele. Sorriu novamente. Estava cada vez mais difícil não sorrir na presença dela.

Com ela.

Por ela.

Depois do movimento que ele fez, retirando o braço, ela que se moveu, enfim, virando o corpo em direção a ele. Ele ficou parado contemplando em silêncio por alguns momentos aquela garota tão doce e tão forte.

Suspirou resignado. Estava apaixonado. E ainda mais, estava feliz. Ela o desejava também. A noite revelou o quanto ela também o queria. O seu interesse. E ele queria muito mais dela. Conversariam quando ela acordasse. Teriam muito tempo para isto.

Levantou-se e foi tomar um banho rápido, não sem antes olha-la novamente. Não antes de sorrir novamente. Sentir-se completo.

Quem diria, em Draco? Apaixonado! Apaixonado, e de verdade.

...

— Bom dia!

Ele sorria. Usava uma camisa pólo azul e um jeans desbotado. O cabelo estava úmido revelando um banho recente. Era lindo. Seu sorriso era lindo. Totalmente lindo. Ele seguiu até uma mesa de centro colocando a bandeja ali, de costas para ela.

— Bom dia.

Ela respondeu sem graça, sentindo um volume às suas costas quando se moveu sentando e colocando o lençol sobre os seios. Levou as mãos até lá e pegou a carteira cheia de dinheiro, escondendo-a rapidamente embaixo do travesseiro antes que ele visse.

Droga. Mil vezes droga. O que eu fiz?

— Preparei algumas coisas para você - falava enquanto se aproximava novamente com uma xícara nas mãos — Tem café preto, geleia e suco de laranja - reclinou-se para lhe dar um beijo, mas ela recuou amuada. Ele estranhou, mas nada falou. Sentou-se na cama ao seu lado.

— Draco... Obrigada.

— De nada.

— Er... Bem... Preciso que me responda uma coisa - falou após receber a xícara.

Ele ficou em silêncio. Ela também não falou mais nada. Apenas a observava enquanto tomava um gole longo e demorado de café o olhando com uma expressão séria. Tensa. Envergonhada. Talvez... Confusa.

— Draco... O que aconteceu esta noite?

Ele retesou o corpo. Sentiu como se um balde de água gelada caísse sobre a sua cabeça congelando todo o seu corpo, sua mente... Seu coração. Sentiu um solavanco esquisito em seu estômago e um grito de tristeza que se prendeu em sua garganta.

— Nada.

Ela o olhou entre a surpresa e o desgosto. Pensou que não seria possível. Não era humanamente normal ter um sonho tão intenso. Tão real. Levou a xícara novamente aos lábios enquanto o olhava perdida em seus próprios pensamentos. Seus olhos mostravam a tensão que ela tentava esconder. Estava decepcionada. Não poderia ter sido um sonho.

Então, ela lhe sorriu. Um sorriso tenso. Triste. Prendeu o lençol sobre o corpo e levantou-se levando a xicara até a bandeja, caminhando até o banheiro. Não houve mais palavras.

Draco estava claramente confuso. Como é possível que ela não se lembre? Relaxou o corpo sobre a cama, ainda pensativo, deslizando um pouco as mãos sobre o colchão. Apoiando o corpo sobre elas. Respirou fundo e viu algo aparentemente escondido sob o travesseiro. Não hesitou.

O peso da carteira foi o que mais lhe chamou a atenção. Ela estava aberta e dentro, uma grande quantia em dinheiro. Ele estava automatizado. Pegou o dinheiro em suas mãos e sentiu uma tristeza ainda maior dentro de si. Não poderia ser verdade o que ele estava pensando. Não depois de tudo.

Caminhou decidido, ofendido, até o banheiro e após abrir a porta com um único impulso, afastou a cortina que a encobria dele. Astoria assustou-se e no impulso cobriu os seios com as mãos, olhando para ele atordoada, sem entender ao certo o que estava acontecendo.

— Isto é o pagamento por esta noite? - perguntou irritado mostrando o dinheiro.

— Não. Claro que não - ela estava claramente nervosa — Como poderia ser se não aconteceu nada?

— Sabe... Se eu fosse te cobrar algo, eu te avisaria antes. Eu já havia te explicado isto - o tom de voz estava tornando-se debochado, ainda irritado.

— Er... É... Bem... É que eu não queria que você pensasse que eu queria alguma coisa de graça ou que eu não iria pagar... Isso se houvesse acontecido algo... Mas... Bem. Sejamos sinceros... É claro que eu estava esperando alguma coisa, para que mentir? Se eu não estivesse esperando nada eu... Eu não teria passado no banco e não teria sacado o dinheiro... Isso é obvio.

— Só para você saber, ainda faltam trezentos - então se virou e caminhou claramente ofendido em direção ao quarto, jogando o dinheiro sobre a cama e dirigindo-se à porta.

— Espera ai - Astoria o seguia com a face avermelhada, se esquecendo de se cobrir, quase caindo ao deslizar sobre a água que seu corpo respingava pelo chão. Ele parou. Virou e se concentrou em seus olhos — Você está querendo me dizer que se tivesse acontecido qualquer coisa entre nós esta noite eu teria que te pagar cinco mil e cem dólares?

— Não - ele falou tranquilo - Libras.

— Mas isso da pra dar entrada em um carro... - o tom era claramente irritado. Nervoso e espantado. Começava a falar alto. Histérica.

— É... Você sabe... Isto é o que inclui alguns detalhes... - ele falava zombeteiro, mas ainda ofendido — Estes trezentos são pra cobrir os extras da noite - sorriu irritado.

— Extras? Extras? Mas... E se eu não deixasse você fazer isto comigo? - perguntou austera.

— Estes trezentos não equivalem a o que eu fiz com você. É pelo que você fez comigo. Se tivesse acontecido alguma coisa esta noite, teria sido sim, um grande momento... Um grande momento para você.

— Como é? - ela guinchou, mas parou em seguida — Mas como você mesmo disse, não houve nada. Absolutamente nada. Seu... Seu... Presunçoso.

— É isto. Exatamente isto. Não houve nada, e por isto, você fica com a grana. Agora se apressa, o ensaio da dança começa as dez.

Ao dizer isto ele se virou e saiu sem lhe dar a chance de rebater. Ela apenas bufou, tamanha a raiva que sentia naquele momento. Pegou um dos travesseiros, o que ele usava, e lançou fora, contra a porta, enquanto proferia um xingamento preso na garganta, embalado em uma lágrima irritante que lhe descia na face.

— IDIOTA!