Not Quite What It Seems escrita por Gii


Capítulo 3
III — Right in The Middle


Notas iniciais do capítulo

Bom dia Queridos! Ahh, eu estou muito feliz com o feedback que estou recebendo de vocês quanto à fanfic. Fico muito contente de saber que estão realmente gostando!
Desta vez, eu resolvi jogar o personagem em alguns conflitos internos. Será que vocês vão entender o que ele pode estar passando?
Espero que sim!
Boa leitura!



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III — Right in The Middle

O dia amanheceu ensolarado e eu despertei sem ser chamado. Era segunda-feira e eu levantei para o meu banho como eu faria se eu fosse para a escola.

Eu não havia planejado levantar e ir para a escola, parar com aquela desculpa sobre a dor de barriga, mas o fato de eu estar fazendo planos para interceptar Hugo e tentar fazer as pazes com ele, me fez vestir o uniforme.

Eu amarrava meu tênis quando ouvi duas batidas na porta.

Era sete e meia da manhã, então o som me pegou desprevenido. Fiquei ainda mais surpreso quando Gina e Harry entraram no meu quarto, ambos brincando com o fato de meu cabelo ainda estar todo bagunçado sendo que eu já estava atrasado para a escola.

A conversa com a minha mãe havia sido dois dias antes e meu pai só havia chegado de uma viajem a trabalho no fim da tarde de domingo.

Vendo os dois fazendo brincadeiras sobre meu cabelo e reclamando da bagunça no meu guarda-roupas eu tinha quase certeza de que só tinha um motivo para eles estarem ali.

— Vou ter que voltar aos seus tempos de primário e ficar do seu lado enquanto dobra as roupas? — Zombou minha mãe — Você está bem crescido para esse tipo de coisa, não acha?

Eu sorri, contagiado pela risada estrondosa do meu pai, que seguia o rumo de minha mãe.

— Quer ajuda para amarrar o tênis também?

— Parem, vocês dois — disse me sentindo envergonhado — Eu já os amarrei, veem?

— Você chama esse emaranhado de nós de laço? Dê-me aqui — Disse minha mãe, indo em direção ao meu pé e desfez o meu trabalho no tênis com um puxão rápido, antes que eu pudesse reclamar.

Ela terminou de amarra-los com mais uma piada antes de meu pai fazer aquela sua expressão. A expressão que eu estava esperando desde que eles entraram no quarto.

— Lian, na verdade eu e sua mãe temos algo para falar com você.

— Eu conversei com o seu pai ontem a noite e queríamos que você soubesse que tem o nosso apoio. — Disse minha mãe, sendo envolvida pelos braços do meu pai.

Eu pisquei duas vezes, confuso.

— Do que vocês estão falando?

— Nunca foi a nossa intenção deixar você tão mal, e mesmo que seja difícil para nós, só queremos o seu bem — completou o meu pai — Nós iremos te apoiar nas suas decisões, filho.

Eu não precisei perguntar desta vez. EU havia entendi finalmente o motivo de eles terem vindo no meu quarto e ouvir aquelas palavras do meu próprio pai me deixou surpreso.

— Não quero te ver sofrendo mais, meu amor, mesmo que seja muito tarde para tudo isso. Para nós não importa se você é homem ou mulher, o que importa é que você é a nossa criança e sempre será amado para nós!

Meu pai balançou a cabeça concordando.

— Se você quiser que nós voltemos a te chamar de Lily não faremos objeções, se quiser passar por cirurgia ou mudar de sexo ou...

— Espera, espera, um momento!!! É muita coisa de uma só vez! Vocês endoidaram?! Vocês estão mesmo dispostos a ter um filho... Transgênero? O famoso casal Harry e Ginevra Potter?

— Bff, o que é isto perto de Angelina e Brath que adotaram seis crianças? — Desfez mamãe.

— Não estamos preocupados com o que a mídia dirá. O que importa é a sua felicidade. Não faz sentido ficarmos relutando mais. Já perdemos tempos demais com tudo isso. O que você decidir, é o que será feito.

A minha felicidade? Agora eles estavam preocupados com isso? Depois de tanto tempo? Depois de tudo o que eu fiz? Eu havia desistido de ser mulher, eu já havia tomado as providencias para tentar ser um homem e agora eu não precisava mais. Eu… Eu não precisava mais? Eu poderia ser…?

Ambos sorriram alheios a minha confusão, parecendo extremamente satisfeitos. Me abraçaram por um longo tempo enquanto eu estava mudo, antes de saírem do quarto, dizendo que me amavam.

O caminho até a escola foi muito mais longo do que o esperado aquele dia.

Meus pensamentos ainda eram confusos e de certo modo eu não estava acreditando realmente nas palavras que ouvira. Eu poderia enfim parar de fingir em ser quem eu não era? Eu não precisava mais me forçar a gostar de garotas ou a agir como um cara? Poderia usar meus vestidos? Gostar do que eu realmente queria?

Eu poderia voltar a ser Lilian Potter?

Aquele nome trouxe tantas memorias que eu fiquei atordoado.

Eu sentada em uma mesa na frente de um psicólogo. Me escondendo atrás da minha mãe enquanto era julgada pelos primos da família. As crianças se recusando a brincar comigo. Todo o sentimento que senti quando ouvia as pessoas que sabiam da minha condição falando aos cochichos nas minhas costas. Toda a dificuldade que passei ao me tornar uma garota voltou como um grande tapa na minha cara.

Deus! Eu realmente havia sofrido para me tornar o que eu queria. E agora eu...

— Ei, Lian! — Chamou Bryan, o capitão do time da escola, se aproximando correndo em minha direção. — Você vai se atrasar se continuar com esse passo de lesma.

Eu não pude conter a língua afiada.

— Lesma é o que você tem no lugar do cérebro, idiota — Eu zombei e ele me deu um soco no braço.

— Vai nessa que eu acabo com você! Ande logo!

Ele sorriu antes de sair correndo em disparada, com a mochila batendo nas costas. Por um momento ainda fiquei parado de muitas formas atordoado, mas a voz dele gritando “Coma minha poeira, perdedor” definitivamente me fez sair correndo.

Chegamos em cima da hora, o sinal tocando enquanto corríamos pelos corredores da escola em disparada, entre risadas pelos tropeços e encontrões, em direção a nossa sala de aula.

A professora Minerva, de literatura, estava prestes a fechar a porta quando Bryan enfiou o pé entre o batente e a porta a impedindo. Nós dois escorregamos pra dentro da sala com um olhar duro da professora.

— Isso são horas para chegar Potter e O’Larry? Talvez eu devesse recomendar aos seus pais a comprarem relógios para vocês chegarem na hora correta?

— Desculpe professora, não vai acontecer novamente — Eu abaixei a cabeça sob o seu olhar e fui em direção a minha habitual mesa, porém parei na metade do caminho. Os lugares haviam mudado durante o tempo em que eu havia ficado em casa e a mesa que eu costumava ficar estava ocupada.

— Potter você também precisa de um mapa para encontrar o seu lugar? — Perguntou a professora e boa parte da sala abafou o riso.

— Não professora, eu já o encontrei. — Respondi sentindo as orelhas queimando enquanto ia em direção a única carteira vazia da sala.

É, pelo jeito eu ficaria perto da janela novamente.

Assim que sentei constatei o quão longe eu estava sentado de Hugo. Enquanto eu estava sentado na fileira da janela, ele estava na porta, na primeira carteira, de modo que ele não poderia me ver.

Eu não havia o visto quando passei em sua frente já que estava preocupado demais em conseguir entrar na aula. Aquilo me deixou levemente chateado pois depois de tudo aquilo que eu havia passado no fim de semana, eu estava ansioso para contar para ele. Afinal, havia sido ele quem tinha dito para que eu não tivesse medo e agora que as possibilidades estavam abrindo na minha frente tudo o que eu queria fazer era pedir desculpas a ele.

De uma forma muito estranha eu estava hesitante sobre quais decisões tomar e eu sentia que precisava falar com aquilo com alguém. Havia alguém além de Hugo em que eu poderia contar em um momento como esse?

Vivendo todo aquele tempo como um garoto, criando todas aquelas barreiras e me convencendo de que eu não tinha escolha, para tudo simplesmente cair de uma só vez, como se eu pudesse ver a luz do dia depois de tempos na escuridão… Eu poderia não estar perdido? Era como ter tudo que eu sempre quis de uma só vez!

— Psiu! Lian! — Eu ouvi um cochicho atrás de mim e eu virei levemente a cabeça.

Eu fui brindado com a visão dos grandes seios fartos de Becky, que se apoiava na carteira de forma a mostrar o seu decote farto enquanto esticava a mão em minha direção com um bilhete.

Agarrei o bilhete voltando para frente rapidamente, antes que Minerva nos pegasse e lesse o conteúdo em voz alta. Eu não sabia o que havia escrito ali, mas vindo de Becky havia uma certeza de que era algo realmente constrangedor.

Eu não estava enganado.

.

Baby, você está bem? Eu ouvi dizer que você esteve doente a semana toda... senti tanto a sua falta! O que acha de comemorarmos sua volta mais tarde? Eu tenho uma pequena, gostosa e molhada coisa que quero te dar... ♥

Beijos bem quentes nessa sua boquinha.

B.B.

.

Senti meu rosto ir se avermelhando a cada palavra nova que eu lia até que senti meu rosto inteiro quente. Imediatamente fechei o bilhete, com medo que alguém ao redor visse.

Aquilo seria realmente, realmente perturbador.

Eu o amassei enfiando no bolso do meu casaco enquanto continua a prestar atenção na aula, realmente sem saber o que responder a ela. Eu sabia já fazia algum tempo que ela queria avançar para aquela fase e até semana passada, eu confesso que realmente estava ansioso por perder a virgindade e finalmente (com alguma sorte) gostar de garotas, mas agora as coisas haviam mudado.

Eu podia ser eu mesmo e gostar de quem eu quisesse! Não tinha mais a pressão de me tornar um homem que meu corpo era. Eu tinha a decisão em minhas mãos… Mas seria hipócrita da minha parte dizer que eu não havia ficado levemente instigado com aquelas palavras escritas.

De alguma forma aquelas palavras eram proibidas e eu havia aprendido naquele tempo como homem, que as vezes o proibido poderia te trazer a excitação.

Eu balancei a cabeça tentando me concentrar.

Aquele era o caminho mais longo para a excitação. A verdadeira era muito mais fácil do que um jogo que eu fazia em minha mente para que eu pudesse pegar as garotas.

Definitivamente eu estava confuso.

O final da aula chegou facilmente depois daquele episódio e se seguiu mais duas aulas de cálculo e mais uma de física antes da pausa para o almoço. De um modo estranho Hugo havia escapado pela porta antes que eu pudesse conseguir alcança-lo ou chama-lo.

Isso fez eu começar a me perguntar se ele estava me evitando.

No almoço, o refeitório estava particularmente cheio. Hoje, por ser segunda-feira, havia muito mais alimentos gostosos, feitos sem pressa no fim de semana. Não eram muitos, então havia uma pequena disputa para pegar um dos doces.

Eu particularmente não era chegado em doces, então apenas assisti enquanto o time de baseball praticamente arrancava todos os doces das prateleiras. Logo todos estavam de volta à mesa, com sorrisos enormes e as bocas e mãos cheias de doces.

Barry me ofereceu um dos doces que ele havia comprado e eu recusei com gesto rápido. Mesmo sabendo que eu não curtia, ele sempre me oferecia, todas as vezes. De certo modo, eu achava aquilo realmente gentil da parte dele e eu tinha certeza que a garota que tivesse o seu coração tinha sorte.

— Não entendo como você pode não gostar disso, Lian — Falou Bryan, de boca cheia — É o paraíso em sua boca!

Ele deu um sorriso nojento, mostrando boa parte do doce em sua boca.

— É, eu consigo ver o seu paraíso daqui. — Falei em tom de zombaria.

Os garotos riram e me acompanhando na zoação com coisas como “fecha essa boca O’Larry” ou “Por que é tão porco? ”.

Ter todos os garotos do time juntos no almoço sempre era um motivo para risada. Não importa o quão deprimente é o dia, se há prova ou um jogo importante, sempre há risada e brincadeiras quando é reunido o time todo do almoço.

Nos últimos tempos, Hugo havia sentado conosco e por incrível que pareça, ele era quem mais tirava sarro de todos do grupo, de forma que fazia o grupo ficar ainda mais animado. Eles aceitaram Hugo sem qualquer palavra a mais, e sorriram quando anunciei que ele era meu primo.

Agora, enquanto almoçávamos eu e o time, eu senti falta de Hugo. Com um olhar rápido, eu esquadrilhei o refeitório em busca dos seus fones e cabelos ruivos, mas nada encontrei. Aquilo era estranho, já que Hugo sempre teve uma fome de búfalo e não perdia um segundo do intervalo para fazer algo além de comer ou ir pegar mais comida.

Meu suspiro deve ter sido longo, porque Haymond me cutucou logo em seguida perguntando o que eu tinha.

Eu acenei como se não fosse nada antes de o sinal bater e nós nos encaminharmos novamente para as aulas. Havíamos mais algumas aulas antes do treino e apesar de eu ter esperado em sua mesa, Hugo só apareceu quando a porta estava prestes a ser fechada e o professor já havia feito eu ir para o meu lugar.

Eu fuzilei suas costas a aula toda, mas ele não pareceu nem minimamente desconfortável. Ele definitivamente ainda estava chateado comigo. Minha mãe estava certa, com certeza Hugo não estava sendo o mesmo de sempre. Apesar de estar olhando para o professor e anotar coisas escrita na lousa, eu vi q ele tinha um fone no ouvido, escondendo-o pela blusa de frio.

Ele na verdade não prestava minimamente a atenção na aula.

Bom, eu não poderia deixar as coisas do modo que estavam.

Com delicadeza rasguei um pedaço de folha, tentando não chamar a atenção do professor com o barulho. Com rapidez eu rabisquei o que precisava e pedi para Haymond passar o pedaço de papel até cair nas mãos de Hugo.

O ruivo pareceu surpreso quando lhe cutucaram as suas costas e jogaram o bilhete sobre a sua mesa. Ele abriu o pedaço de papel assim que o professor virou de costas e espiou o que estava escrito ali.

Quase que imediatamente Hugo se virou e olhou sob os ombros, flagrando o meu olhar de expectativa. Meu coração foi à boca e eu rapidamente desviei, me sentindo envergonhado por nossos olhos terem se encontrado.

Aquele sentimento quente borbulhando em meu peito era tão quente que pensei que eu poderia sufocar.

Rabiscando algo imediatamente, ele dobrou a folha e na primeira oportunidade fez que voltasse para mim.

Quase que emocionado por finalmente obter uma reação dele, eu agarrei o bilhete entregue por Haymond. Eu não pude evitar o sorriso antes de abrir o bilhete e ver o que ele havia escrito.

.

Precisamos conversar.

Que tal um filme de terror na minha casa depois do meu treino?

LW

.

Estou ocupado.

.

Foi como um grande soco na cara. Fiquei atordoado demais para conseguir pensar em qualquer resposta ou prestar atenção na aula.

Não havia meio mais direto de ele ter rejeitado a proposta.

Eu senti o embaraço que apenas um convite rejeitado pode oferecer e a vergonha por ter ousado em convida-lo. Querendo ou não, era um grande esforço para mim ter feito o convite… Principalmente por ele ser o cara em que eu estava a fim desde sempre. Ter o meu primeiro convite para “sair” rejeitado me fez querer me esconder em um buraco.

E ainda havia o fato de que ele sequer pensou duas vezes, apenas olhou para mim antes de escrever no papel a resposta, como se ela estivesse pronta à décadas. Aquilo atacou definitivamente a pequena confiança que eu adquirira ao longo dos anos.

O resto da aula, tudo que consegui fazer foi encarar as costas do ruivo, que eu havia conseguido, de uma forma apavorante, afastar. Uma pequena revolta começando a aflorar em meus nervos, pensando que ele estava exagerando naquele tratamento quando nossa briga não havia realmente o ofendido diretamente. Ele não poderia me tratar assim por tão pouco, poderia? Poderia ele acabar com a nossa amizade de anos por uma briga como aquela??

Hugo não olhou para trás nenhuma vez, e tão pouco pareceu interessado quando o sinal tocou, anunciando o fim da aula. Apenas puxou a mochila sobre as costas, sendo o primeiro a sair da sala.

Joguei a minha própria mochila nas costas e corri para fora da sala também. Atropelei uma garota que tentava entrar na sala e quase derrubei a professora de cálculo enquanto corria para chegar nele. Hugo devia ter algum tipo de poder, porque já estava quase no final do corredor quando eu finalmente consegui iniciar a perseguição atrás dele.

Ele virou para a direita e eu sai empurrando quem quer que estivesse na frente. Eu não podia deixar que ele fugisse! Para a minha sorte, assim que dobrei o corredor atrás dele, ele estava parado em frente ao armário, colocando livros dentro. Eu quase suspirei de alivio, quando finalmente parei do seu lado.

— Hugo… Preciso falar com você. — Disse ofegante, segurando o seu braço com força. Ah, eu não deixaria ele escapar nem um milhão de anos depois dessa correria toda!!

Por um momento ele me encarou surpreso, mas logo recobrou os sentidos e voltou com aquela expressão de quem não se importa com nada.

— Você não leu o que eu escrevi? Eu tenho tempo para isso, Lian.

Lian.

— Droga, olha, me desculpa, ta bom?! Eu não queria brigar com você. Você não tem nada a ver com o assunto, por favor, pare de agir desse modo.

— Agir desse modo? — Com um puxão ele soltou o braço, cruzando-o no peito — De qual modo eu deveria agir então? Sorrir como se fosse a melhor coisa do mundo tudo o que você disse?

— Poderia aceitar as minhas desculpas! — Eu soltei com um sorriso amarelo — Vamos lá, não foi nada de grave a nossa briga. Eu quero consertar essa situação entre nós, não gosto do jeito em que estamos…

Hugo abaixou a cabeça, respirando fundo, como se estivesse tentando se controlar. Fechou o zíper da bolsa e a porta do armário antes de voltar a olhar para mim. Seu rosto nunca fora tão grave quando naquele momento.

— Você insultou a minha melhor amiga. Disse que tem nojo de Lily e não queria ouvir mais falar nem o seu nome. O que você espera que eu faça? Eu não vou ficar quieto enquanto você fala desse jeito dela.

O que??

— Do que você está falando, Hugo?!

— Você entendeu muito bem o que eu disse. Agora me dê licença, eu não tenho mais nada para falar com você, Lian.

Ele já virava as costas, pouco me dando espaço para pensar. Ele estava tratando o meu eu feminino como se fosse outra completamente diferente??

— Hugo, espera ai! — Eu agarrei a sua manga, puxando de forma a fazer ele virar para mim. Eu sussurrava, me sentido assombrado: — Por que está… Você sabe que eu sou a Lily, certo? Que eu e ela somos a mesma pessoa. Você não pode brigar comigo por eu falar mal de mim mesmo!

— Não. Você e ela não são a mesma pessoa! Lilian é doce e gentil e você é um intruso, que a substituiu sem ser chamado. Você é um idiota que a roubou de mim! — Os olhos verdes dele pareceram pegar fogo — Você nunca terá algum em comum com ela.

— Quem não tem algo em comum com o Lian? — Perguntou Becky, entrando no meio de mim e o Hugo e nos afastando.

Imediatamente eu soltei a roupa dele e Hugo pareceu desconfortável com a presença da garota. Minhas orelhas esquentaram, sentindo uma onda de pânico se apossar de mim. Será que ela havia ouvido a nossa conversa inteira??

— O que faz aqui, Becky? — Perguntei entre dentes.

— O que mais? Vim atrás de você. Lembra que nós tínhamos combinado de fazer umas coisinhas depois da aula?

O olhar que ela lançou para mim deixava claro para qualquer telespectador o que exatamente ela queria dizer com aquilo. Eu senti meu rosto esquentando com facilidade.

Imediatamente Hugo me olhou como quem dissesse “o que foi que eu falei? ”.

— Vou indo, não quero atrapalhar a pegação de vocês. — a última parte saindo quase com nojo entre seus dentes. Ele virou as costas saindo andando pelo corredor apinhado de gente sem olhar nenhuma vez para trás.

Desta vez eu não pude ir atrás, preso com Becky grudada em meu braço.

— O que há com ele? — Resmungou ela e aquilo me deixou mais irritado do que outra coisa. — Bom, vamos lá, baby? Eu estou morrendo de saudades…

Sua mão deslizou sobre a minha calça mesmo que estivéssemos no corredor movimentado pelos alunos que saiam das aulas. Eu dei um pulo para trás, me afastando de suas mãos que rodeavam os lugares mais íntimos, me sentindo enjoado por ela não ter vergonha de fazer algo como aquilo em público.

— Becky, agora não...

— Ah, não vem com essa Lian!! A gente já tinha combinado e eu estou esperando faz teeeempo! — Sua voz aguda chamou a atenção das pessoas que passavam em volta e eu quis faze-la calar a boca de uma vez.

— Eu tenho treino agora de qualquer forma, Becky. — Murmurei entre dentes — Não vai rolar hoje, chega disso.

A expressão de teimosia que ela mostrou me fez perceber que convence-la de que eu não queria nada hoje seria uma coisa muito difícil. Quase imediatamente eu estava me arrependendo de ter dado corda para uma garota como ela, que visivelmente era um problema.

O corredor começava a se esvaziar, os alunos já indo para os clubes que participavam ou indo para casa, e isso pareceu dar coragem a garota, pois ela empurrou meus ombros, de forma que fui jogado contra a parede de armários, completamente surpreso.

Seu corpo se grudou ao meu e sua boca colou em minha orelha.

Sentindo a língua quente dela percorrer o meu lóbulo, eu estremeci.

Imaginei que o modo como ela se agarrava á mim, no meio do corredor, deveria no mínimo ser considerado como provocante e o ela tentando arrancar reações de mim mordendo minha orelha me fez perceber o que eu já sabia: Aquilo não me afetava como deveria.

O estremecimento foi mais de asco por sentir sua saliva grudando em mim do que excitação. Seu corpo grudado no meu e as mãos famintas que percorriam o meu corpo era o mesmo que nada e parecia que o fato de eu não estar a fim de nada daquilo, me sentir excitado ou estar me obrigando à isso, parecia piorar ainda mais a situação.

— Para com isso Bechy! — Eu a empurrei, a tirando de cima de mim, me sentindo enjoado. — Eu já disse que não quero! Eu tenho treino agora.

— Nem começa Lian!! Já tem dias que você está evitando isso. O que é? Está com medinho, é? — O sorriso dela foi safado ao mesmo tempo que de zombaria — Prometo que não mordo… muito!!

Novamente ela tentou se grudar em mim, mas eu segurei os seus pulsos, afastando o máximo possível. Aquilo já havia me irritado!!

— Garota, você não se toca? Eu não tô a fim! Para de me encher o saco e vai atrás de quem te queira! — Eu devolvi, com raiva, jogando ela para longe de mim. Ela apenas cambaleou, com um olhar irado em minha direção.

Os cabelos bagunçados só faziam a cada segundo mais ela parecer com a Medusa.

Eu dei graças a Deus que já não restava mais ninguém do corredor quando ela começou a gritar, à plenos pulmões, soltando fogo pelas ventas.

— É assim?? Você vai me desprezar, Lian!? É o que, eu não sou boa o suficiente para você?? Você é mesmo um imbecil se acha que está podendo escolher, Lian Potter, porque todo mundo sabe que você não é nem um por cento do macho que bota banca! Nem sabe beijar, nem sabe como pegar em uma mulher! A verdade é que você é um virgem otário, como qualquer outro nessa escola!! E, quer saber? Perdeu, playboy. A Becky aqui consegue coisa bem melhor do que esse seu pintinho pequeno, seu boiola!!

Com os pés batendo forte contra o chão, ela girou nos calcanhares jogando os seus cabelos em minha cara. O cheiro do perfume doce entrando nas minhas narinas antes de ela sair pisando duro pelo corredor, ainda gritando barbaridades e xingamentos.

Passei a mão pelo rosto, sentindo uma pontada dolorida na cabeça. Aquela volta para a escola estava sendo um lixo. Ao mesmo tempo que as coisas pareciam que estavam se acertando também pareciam desmoronar.

Eu precisava fazer alguma coisa.

**


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Notas finais do capítulo

** Foto: Como seria nossa Becky

Muito obrigada por ler! logo eu vou postar mais um capitulo!!
Beijos, fico esperando a sua opinião!



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