Not Quite What It Seems escrita por Gii


Capítulo 2
II — The start of "the middle"


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde galera,
Segundo capitulo está aí e espero realmente que agradem à vocês! De uma maneira surpreendente eu consegui um review no capitulo anterior e isso me deixou surpresa, se não falar, feliz! De certa forma, eu não esperava realmente nada.
De qualquer forma, muito obrigada!! Bora ler!
Boa leitura!



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II — The start of "the middle"

A língua da garota dançou na minha boca, de modo provocativo e eu retribui com vigor, colocando toda a minha determinação no gesto. Ela descolocou a boca logo depois, alegando falta de ar.

Ela estava descabelada e tinha a boca vermelha e sorriu para mim. Retribui, sentindo meu coração voltando aos poucos ao batimento normal enquanto ajudava ela a colocar suas roupas no lugar.

— Eu tenho a próxima aula, docinho. — Eu disse e ela fez uma careta.

— Mas está tão bom! Por mim nós ficávamos escondidos aqui até o fim das aulas...

— Se eu faltar sou expulso do time, você sabe. — Disse, me desvinculando — Quem sabe outra hora continuamos.

Ela fez outra careta, porém não discordou mais. Aparentemente, minha promessa de ocorrer uma próxima vez a havia saciado o suficiente para não continuar a reclamar. Com um ultimo selinho, saí de trás da arquibancada e fui em direção ao banheiro rapidamente, querendo ver o resultado o mais rápido possível de toda aquela experiência.

Olhei para dentro das calças assim que tranquei a porta do banheiro e para minha não total decepção, eu estava não completamente, mas o suficiente excitado. Minha cueca também se encontrava levemente molhada e eu sorri vitorioso.

A cada encontro, eu conseguia alguma reação que não fosse o puro tédio. Eu percebia que eu tinha que me focar nas sensações e pensar apenas no ‘entregar’ e tudo se acertava. Ainda era meio difícil de controlar, mas conforme mais eu testava, mais dava certo.

Saí do banheiro quando o sinal tocou e eu fui direto para a sala que teria a próxima aula. Assim que sentei na carteira, Hugo apareceu na porta. Ele veio em minha direção, sorrindo matador, jogando os cabelos que caiam no olho para o lado e parando na minha carteira. Tentei conter o maldito suspiro.

— E aí, como está o garanhão?

Eu fiquei vermelho com facilidade.

— Nem comece.

— Não disse nada, apenas perguntei como você estava. Parece bem alegre.

Tentei parecer o mais másculo possível quando disse:

— Quem não ficaria depois de pegar uma das garotas mais gostosas da escola?

Ele riu comigo antes de ir se sentar na carteira da frente. Eu respirei fundo, controlando a respiração.

Hoje completava três semanas em que eu começara meu treinamento sobre atração. A primeira parte dele era sobre eue pegar garotas diariamente e me acostumar com a sensação. A segunda era lutar, de frente, com aquele sentimento por Hugo. Para isso, eu sentava propositalmente atrás dele e pensava sobre ele, tentando atribuir aspectos masculinos que eu deveria repudiar, acrescentando masculinidade na minha forma de pensar.

Admito que a segunda parte do treino em me tornar homem estava bem mais atrasada em desenvolvimento do que a primeira, mas eu não iria desistir de gostar de garotas e não de malditos homens ruivos com ar de nerd, mesmo que isso exigisse muito mais do que eu estava disposto a dar.

Inesperadamente, aquela aproximação que eu havia criado para meu próprio exercício, fazia com que Hugo voltasse á uma amizade calma junto á mim, mas completamente diferente de quando éramos pequenos.

Basicamente, nossas conversas haviam mudado de assuntos tênues para algo mais masculino. Talvez eu mesmo tenha forçado aquilo, para falar a verdade;

— Você vai hoje para o treino? — perguntou quando saímos da ultima aula.

— Não, o treinador deu uma folga por conta da ultima vitória. Acabamos com as Aves Negras sem dar a menor chance.

Ele riu, concordando que com certeza tínhamos.

— Então, você está a fim de ir assistir um filme em casa? Eu fiz o donwload essa semana, mas como é de terror ninguém quer ver comigo.

Tentando não aparentar como aquilo me deixava ansioso e agitado, eu concordei com um sorriso. Afinal, aquilo era coisa que caras faziam juntos depois da escola. Era algo entre brows, certo?

Nós andamos até a sua casa, que para minha surpresa, estava vazia.

— O tio e a tia estão trabalhando?

— Ahan, geralmente eu fico em casa sozinho de tarde. Rose sempre tem algo para fazer da faculdade e nunca aparece por aqui. — respondeu — Está com fome? Vou fazer pipoca para nós.

Concordei, vendo o sumir dentro da casa.

Eu havia passado sim algum tempo de qualidade com Hugo nos últimos tempos e eu estava me acostumando a olha-lo como um dos caras (APENAS), mas desde o dia do quarto, nós não tínhamos realmente ficado sozinhos.

Enquanto ele ainda estava na cozinha, preparando as coisas, eu sentei no sofá, me sentindo desconfortável. Não sabia se eu conseguiria agir como um homem naquela situação. Aliás, qualquer intenção de tentar superar minha queda por ele parecia impossível naquele cenário onde nós dois sentavamos juntos para assistir à um filme. Em contra partida à este sentimento, havia a expectativa sobre aproveitar a companhia de Hugo. Fazia muito tempo desde que nós nos divertimos vendo um filme ou algo do tipo!

Me controlando, pensei sobre se eu deveria tentar me forçar com o treino como fazia sempre, ou se eu poderia simplesmente aproveitar o momento, dando uma pequena pausa e guardar algumas memórias que a muito eu não tinha.

Eu ainda ponderava de maneira concentrada com ele voltou, trazendo uma bacia de pipocas.

— Que cara é essa? Parece que está com dor de estomago.

— Não! Claro que não. Eu estava viajando aqui, só.

— Então coloque o filme para nós, o pendrive está dentro da gaveta — disse ele enquanto voltava para a cozinha.

Não demorou muito e ele voltou com dois copos altos cheios de suco enquanto eu pegava o controle para iniciar o filme.

Eu parei antes de apertar o play, olhando nome do filme, e encarando Hugo. Aquele filme não era exatamente atual.

— Não era aquele filme que queríamos ir no cinema ver, mas nossos pais não deixaram dizendo que íamos ter pesadelos?

Ele concordou com um sorriso de orelha a orelha.

— Eu duvido que eles podem falar qualquer coisa agora. Estamos quase nos dezoito anos de idade!

— Nós temos quinze Hugo, não exagera. — revirei os olhos — Eu li em algum lugar que uma garota quase morreu de infarto quando assistiu esse filme.

— Vai desistir? — Ele ergueu uma das sobrancelhas para mim e eu estufei o peito enquanto bufava um “Claro que não!”.

O filme iniciou e foi impossível não reparar em como alguns efeitos estavam ultrapassados, mesmo que a trama deixasse cada vez mais curioso, eu considerei aquilo como um ponto negativo. O filme continuou até que eu e Hugo estivéssemos completamente envolvidos. A pipoca havia acabado em poucos minutos e agora nós dois estávamos pregados na televisão.

— Com certeza eles vão morrer — eu murmurei, sem tirar os olhos da tela.

E mal deu tempo suficiente e já começava novamente aqueles caras com mascaras aparecerem do nada.

— Eita, porra! — Hugo gritou, pulando para perto de mim e agarrando meu braço. O grito do Hugo me assustou mais do que o filme. Meu coração foi parar na minha boca, batendo descontroladamente.

Eu imediatamente fiquei estático, sem conseguir mover um musculo. Qualquer atenção que eu tinha para a televisão, sumiu com um segundo. Tudo o que eu podia fazer era ficar parado, com os olhos arregalados em direção da televisão, sentindo as mãos quentes dele agarrando as mangas da minha blusa.

Seu perfume, que eu notei apenas agora que ele usava, flutuou até minhas narinas como um cheiro maligno. Qualquer coerência que havia em minha mente foi completamente apagada e preenchida com a presença de Hugo Weasley, com seu corpo tremulo grudado ao meu flanco.

Ele sentia medo, eu apenas notava agora. Me perguntei por qual motivo ele queria assistir aquele filme, se tremia enquanto levava outro susto. Ele fechou os olhos em um novo susto, tão vidrado na história que não notava que eu observava quão fofo ele podia ser enquanto parecia vulnerável. Hugo não pareceu preocupado em esconder o seu medo, apenas segurou com mais força em meu braço e eu suspirei.

Haveria como não simplesmente ceder? Eu me sentia dominado com a vontade de sentir como a textura de sua pele na ponta de meus dedos, extasiado ao perceber que ele não se afastava quando os rolei despreocupadamente nas costas da sua mão.

Não consegui desgrudar meus olhos do ponto em que eu tocava a sua pele levemente. Sentindo uma nova coragem me dominar, simplesmente segurei sua mão.

— Não acredito! Que ridículo!

Retirei voando minha mão, como se estivesse pegando fogo. Sentindo meu rosto esquentar, fiz o possível para esconde-lo. Ele havia visto aquilo??

— Acabou com a graça do filme! — Continuou eu percebi, ainda falando sobre o filme, alheio a minha vergonha. — Você não acha?

— Ah. Sim, claro. — disse aliviado

Depois daquilo, não demorou muito para o filme acabar. Hugo continuou a reclamar do final que, segundo ele, havia sido deplorável e eu não tinha visto um segundo.

— Nem deu realmente medo esse filme, não sei como teve sucesso. Aliás, ainda bem que não fomos ao cinema naquela época. Seria dinheiro jogado no lixo...

Tentei me esconder de qualquer modo, me repreendendo intensamente. Eu havia cedido. Eu havia caído na tentação e feito algo que, se Hugo tivesse realmente reparado, eu estaria encrencado para explicar. Como um homem explica pegar na mão do outro durante o filme de terror? Eu era um fracasso.

— Lily, você está me ouvindo? Você parece meio verde, você está bem?

Eu realmente não estava bem. Eu precisava ir embora.

— Estou, estou. Não é nada, ok?

— Você tem certeza?

— Claro. Er, eu vou indo para minha casa, ok? Eu tenho algo a fazer, sabe... — Eu comecei a me levantar, mas ele me parou no meio do caminho.

— Mas já? Pensei que você ia me ajudar com ao dever de literatura.

— Eu te ajudo outra ho… Esperai, quem falou que eu ia te ajudar com isso?

— Eu disse. — Ele deu um sorriso.

Eu bufei.

— Fácil assim? Eu virei o que, uma pastelaria? Chega no balcão, pede, senta na mesa enquanto eu te sirvo?

Ele sorriu malicioso para mim.

— Se você insiste, eu gosto de bastante queijo.

— Vai se foder, Hugo.

— Não, serio Lils, me ajuda. Você sabe que apesar de eu me virar bem nas outras matérias, esta é impossível para mim. Por favor, não seja mala comigo!

— Não estou sendo mala. Você sequer pediu, você já fez isso como se supondo que eu fosse te ajudar!

— E você não vai?

Ele piscou aqueles olhinhos verdes na minha direção, fazendo uma carinha que aparentemente ele pensava que poderia convencer qualquer um. Eu não diria que ele convenceria qualquer um, mas convencia uma pessoa completamente apaixonada por ele.

Havia como não?

O que era aquilo? Apesar de todos os meus esforços, lutando contra esses sentimentos por ele, bastava alguns momentos para ele ruir tudo o que eu havia construído? Uma cara fofa e tudo se ia? Eu estava fazendo aquilo do jeito errado? Eu não conseguia responder nenhuma daquelas perguntas.

Hugo, com seus cabelos vermelhos e olhos verdes, nariz achatado e cara de pidão estavam na minha frente, sorrindo para mim. Qualquer pensamento ruim se esvaia com rapidez deixando apenas uma nostalgia e a certeza de que eu guardaria aquela cena em minha memória.

— Wooow! isso é raro! — Sua voz me acordou dos pensamentos — Esse sorriso eu não via a tempos em você! É o meu sorriso fofo. Ele não mudou quase nada desde a última vez.

Última vez? Ele queria dizer quando eu ainda era...

Eu cambalei, como se atingido por uma bala nas costas.

O que aquilo queria dizer? Ele estava zombando de mim? Como eu não havia mudado, ele era algum tipo de maldito cego? Uma raiva quente como lava encheu minhas veias facilmente.

Eu nunca seria mais aquela pessoa! Era impossível eu voltar a ser aquela garota e aquela comparação me machucou como uma facada! Acertou na ferida infeccionada em meu peito, onde jazia a certeza de que eu não podia ser quem eu tinha a certeza que eu era. Onde o que ele dizia, ao contrario de aumentar o meu ego, o maltratava, mostrando que eu não havia evoluído em nada! Eu continuava sendo o monstro que sempre fui!

Não! Não mesmo!! Não havia mais qualquer semelhança com aquele ser que todos repugnavam no passado!

Eu crispei os lábios, encarando Hugo. Meu dedo apontava duramente o seu peito enquanto eu dizia com a voz mais grossa que o normal:

— Nunca mais me comparece com aquilo, você entendeu? Eu não sou e nunca mais serei algo como aquilo! Você entendeu?!!

Hugo pareceu mais surpreso do que assustado.

Eu virei as costas, bufando de raiva. A minha bolsa foi maltratada quando a segurei com força e a porta bateu contra a parede quando eu passei por ela. Os dentes trincados mais me deixava tenso do que me ajudava a aliviar aquele ódio que havia me apossado.

— Lily, espera eu...

Eu virei, encarando sua figura que me seguia.

— Não me chame disso! Nem Lils, nem nenhum desses apelidos ridículos!

— Eles não são ridículos...

— Não! Eles são nojentos! Meu nome é Lian. No masculino. E é assim que vai continuar sendo. Se você continuar a me chamar por esse tipo de apelido eu não vou atender! Eu não quero que sequer pense nesse tipo de nome! Eu mudei, não sou mais aquela pessoa. E não quero que você fique me lembrando que em algum um momento fui!

— Lembrar você? — Ele bufou — O que é isto agora? Você tem vergonha daquilo?? Do que você é?

— Sim, é isto mesmo! Eu tenho nojo do meu passado e de tudo aquilo!! Eu desejo esquecer tudo, como se nada daquilo tivesse acontecido! E eu não quero ouvir você me chamando por esse apelido tão despreocupadamente.

Virei as costas, voltando a andar, mas eu pude ouvir quando ele arfou.

— Você é um maldito hipócrita. — ele disse, sumindo dentro de casa. Eu fui embora em passos largos, apenas para chegar dentro do meu quarto, enterrar meu rosto no travesseiro e gritar toda a raiva para fora dos meus pulmões.

Como poderia ele saber como eu me sentia? Como poderia ele entender tudo o que eu passava e quanto doía perceber que meus esforços não rendiam em nada? Que eu precisava me adaptar à aquele corpo o quanto antes e esquecer que um dia eu fui uma vergonha como aquela para todos?

Vê-lo tentando reavivar aquela parte minha, que com tanto esforço eu tentava aniquilar, me fazer ser um cara normal, era como ver um amigo jogar agua na fogueira que eu tentava acender.

A lava de raiva em minhas veias aumentou mais a cada segundo pensando naquilo.

Eu faltei da escola a semana seguinte, alegando uma forte dor de barriga.

Era fácil passar horas trancado no banheiro, fingindo diarreia. Era até mesmo reconfortante ficar sozinho, sem ninguém para eu ter que me forçar a algo. Quem diria que o banheiro seria meu refugio?

Minha mãe reclamou uma ou duas vezes, mas eu apenas corria novamente para o banheiro e ela se calava. Considerei se talvez eu pudesse continuar com aquilo até a convencer a me colocar novamente em aulas particulares.

Sei que eu sentia falta dos amigos que eu havia feito e da rotina de treinos, mas eu preferia aquilo à ter que encarar novamente os olhos de Hugo. Mais do que nunca, senti vontade de nunca tê-lo conhecido e de eliminar meus sentimentos por ele.

Havia acabado o jantar a pouco e todos já estavam indo para os quartos. Eu mesmo fechava a porta do meu quando vi minha mãe parar no corredor, olhando para mim. Seu cabelo vermelho bronze contrastava perfeitamente com o papel de parede claro.

— Posso falar com você, querido? — Ela perguntou docemente.

Eu a fiz entrar no quarto e sentar na cama. Apesar da expressão neutra, eu consegui ver a preocupação em seus olhos. Ela se acomodou e ficou olhando ao redor do quarto, observando o ambiente.

Eu me mexi impaciente e curioso, certo que ela não estaria aqui se não fosse importante.

— Faz tempo que não entro no seu quarto. — começou ela com um ar de riso — Eu sequer lembrava que aquela parede era daquela cor. Antigamente esta parede era forrada com posters dos seus idolos.

Me lembrava muito bem do que ela dizia. Havia corações e posters de atores e musicos que eu gostava. Desde a minha mudança, tudo foi meticulosamente picotado e embrulhado em sacos pretos para descartar.

— Sabe, eu até gostava quando aquela parede estava cheia de coisas...

— Mãe, o que foi? — cortei, sentando ao seu lado, sentindo que algo ruim estava pra vir.

Ela me olhou por um momento, como se chateada por eu apressar as coisas antes de continuar, dizendo as palavras quase que delicadamente.

— Eu andei conversando bastante com sua tia Hermione nos últimos dias.

Oh.

— Você quer me contar o que aconteceu entre vocês dois? — Ela colocou a mão sobre meu ombro e a sensação quente do carinho que sua mão fazia, fez com que um bolo se formasse em minha garganta.

Eu definitivamente não queria falar sobre aquilo com a minha mãe.

— Não foi nada de mais. — minha voz saiu estrangulada e eu me amaldiçoei por isso.

— Se fosse nada você não teria fingido uma semana de dor de barriga e Hugo não estaria se recusando a comer.

— O que? — Hugo não estava comendo?

— Sua tia tem estado preocupada, querido. Hugo parece terrivel e fica o tempo todo que não esta na escola, trancado no quarto. Não diz uma palavra a não ser que seja extremamente necessário! Esse é o mesmo comportamento da ultima vez de quando vocês pararam de se ver depois que você resolveu… mudar. O que aconteceu, querido?

Eu pisquei furiosamente, sentido a cada segundo mais sufocado com a onda de lagrimas que pareciam querer me dominar. Eu encarei minha mãe estarrecido com aquelas novas informações. Hugo se recusava a comer? E ele havia ficado afetado quando eu simplesmente parei de falar com ele à algum tempo atrás?? Eu não conseguia realmente acreditar que qualquer daquelas coisas era por minha causa.

Eu pigarreei, tentando tirar o bolo da minha garganta.

— Não é nada disso, mãe. Eu realmente estou ruim do estomago… Fora que é impossivel Hugo esta agindo desse jeito só por causa de uma briguinha.

— Ahh, então vocês realmente brigaram! Eu havia dito para Mione que era isso.

Eu cocei a cabeça, irritado comigo mesmo por cair na dela. Por um momento eu parei derrotado, vendo os olhos curiosos dela e eu me perguntei se havia mesmo algum motivo para esconder de Gina o que havia acontecido?

— Não foi realmente algo de mais. Nós só nos desentendemos em alguns assuntos.

— Querido, você acha que eu nasci ontem? Eu sei que sou para você apenas uma velha antiquada, mas eu também já fui jovem e sei muito bem quando alguém está fugindo de algo grande.

Eu senti minhas orelhas esquentarem por ter sido pego tão facilmente.

— Você é tão parecido com o seu pai. Mesmo já tendo sido descoberto, persiste em esconder as coisas. — Ela sorriu para mim — Então? Vai me contar a verdade?

A noite foi mais longa do que eu pretendia que fosse. De algum modo, eu não aguentei mais segurar todos aqueles sentimentos dentro de mim. Não sei dizer se foi o toque reconfortante dela ou ela estar tão facilmente sorrindo preocupada comigo, querendo me ajudar naquilo. Quando fora a ultima vez em que eu havia me deixado ajudar?

Meu mundo desabou.

Eu cedi e contei tudo aquilo que amedrontava meu coração. Em meio as lágrimas descontroladas eu contei sobre meu sentimento por Hugo e sobre o motivo de nossa briga. Quando disse que eu não podia suportar viver daquela forma, fingindo ser algo que eu não era, ela veio as lágrimas junto à mim.

Contei sobre como eu repudiava tudo aquilo, o quão deprimido eu me sentia e as vezes com vontade de desistir de tudo e simplesmente tirar a minha vida … parecia muito mais facil este caminho! Detalhei á ela sobre as dificuldades que era viver em um corpo que não era seu, despejando sobre como fui afetado pelos comentarios maldosos na casa de Hugo e sobre tudo o que eu havia passado e que eu não queria passar mais.

Ela me abraçou com força quando eu não consegui mais falar de tanto soluçar.

— Eu me odeio, mamãe… Por que eu tive que nascer assim? Por que eu não posso ser igual aos outros?

— Não diga isto, meu bebe…

— Eu sou um fardo para você e o pai. Eu sei disso, eu ouvi as conversas com seus amigos. Vocês tinham vergonha de mim!

— Isso não é de maneira nenhuma verdade! Não ouse dizer algo assim, Lian!

— Mas é a verdade, mãe!

— Não é verdade coisa nenhuma!! Você não entende que eu e o seu pai te amariamos de qualquer modo?

— Então por que apenas depois que eu decidi me comportar como homem vocês me deixaram ir para a escola normalmente ao invés de ter aulas particulares em casa? Por que parecia que evitavam ao maximo ir a reuniões de familia ou a sair comigo quando eu era uma garota? Como isso não é ter vergonha?!

— Nós estavamos com medo!! — Ela gritou, com as lágrimas escorrendo pelo rosto — Estavamos completamente amedrontados com toda a situação. Como nós poderiamos agir diante de uma situação como essa? Os psicologos foram claros sobre te apoiar e sobre como você seria influenciado pelo que iriam dizer. Contou que era comum casos de depressão, até mesmo sem volta, meu filho!

Agora ela havia tampado o rosto enquanto soluçava junto a mim. De algum modo eu havia começado a acusa-la e agora que estavamos em uma situação como aquela eu não me segurei. Tudo que tinha entalado em minha garganta foi vomitado em palavras… Afinal, como eu não poderia me sentir ressentido?

— E me trancar em casa foi mesmo a melhor opção?

— Não estavamos preparados! — gemeu ela — Eu sei que deveriamos pensar em bloqueadores e cirurgias para impedir a mudança, mas para o seu pai e eu era tudo muito dificil. Você não entende o quanto nos esforçamos para fazer o certo, tentamos te deixar tomar seu curso sem represálias, mas algo tão longe como uma cirurgia nos deixou amedrontados!! E você estava feliz, sorria o tempo todo… Eu admito que fomos empurrando de qualquer jeito, evitando decidir, mas meu amor... O que você faria no nosso lugar?

— Eu teria perguntado pro meu filho o que ele queria!! E você sabia o que eu sempre quis, mãe! Eu nasci no corpo errado. Eu não devia ser um homem. Eu me sinto péssimo e deprimido desse jeito e agorai que não tem como voltar a trás, que escolha eu tenho? Foi o mesmo que vocês tivessem me reprimido desde o inicio!

— Você pensa que eu não sei?? O que você quer que eu faça?! Eu não sei o que fazer, Lian!!

Os seus olhos pareceram extremamente desesperados, brilhando vermelhos e eu vi que havia ido longe demais. Aquilo foi o suficiente por uma noite. Eu a abracei, sentido a onda de choro ainda passar por ela. Eu acariciei seus cabelos enquanto ela continuamente pedia desculpas para mim, implorando para que eu não a odiasse e que ela não sabia como agir.

Eu a silenciei com um beijo em sua testa, cansado demais para continuar com aquilo. Voltei para o assunto inicial, tentando a fazer pensar em outra coisa e parar de chorar.

— Hugo está mesmo mal?

Ela balançou a cabeça, concordando.

— Você é muito importante para ele. Desde pequenos vocês vivem grudados e eu acho que ele sempre se importou muito com você. Eu sinceramente acho que vocês deviam conversar.

— Conversar? — perguntei confuso. Como eu poderia consertar o que eu havia dito à ele? Como de algum modo ele poderia me perdoar pelo o que eu disse? Eu não via uma solução claramente.

— Você deve ser sincero e contar a verdade para ele. Se você gosta dele do tanto que diz, esconder isso não vai lhe fazer bem nenhum.

— O que? — a surpresa palpável na minha voz.

Ela não me respondeu mais, apesar de ter sorrido um pouco e me abraçado, já mais calma. Foi embora logo em seguida, alegando cansaço.

Me deu um sorriso triste, pedindo desculpas uma ultima vez antes de sumir no fim do corredor. Eu fiquei perdido, pensando sobre o seu conselho.

Contar a verdade para Hugo? Poderia eu fazer algo como aquilo? Ainda mais sobre... Eu nunca pensei que um dia eu poderia realmente contar o que sentia por ele. Tudo sempre foi classificado como unilateral dentro da minha mente. Nunca podendo ser correspondido. Pelo menos não com este corpo.

Eu deitei a cabeça em meu travesseiro cansado demais. Havia acontecido coisa demais naquele dia. Não conseguia pensar direito quanto mais considerar a possibilidade de me confessar a Hugo em um corpo como aquele.

De um modo estranho, aquele dia parecia algum tipo de sonho e contar algo assim para Hugo era algo muito, muito distante do que eu achava que poderia realizar.

Adormecer depois daquilo foi como deslizar sob o gelo frio.


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Notas finais do capítulo

Me pergunto se o gif está funcionando, porque aqui ele está apenas um quadradinho :c



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