Clichê escrita por Alice


Capítulo 1
B & M


Notas iniciais do capítulo

Esse casal definitivamente não é comum, mas esse foi o jeito de tirar a ânsia de escrever sobre o Regulus de mim.
Ele é o numero um na lista de pessoa que deveriam mas nunca foram honradas.



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Quando o viu pela primeira vez, estava no quarto ano.

Andava apressada [como sempre], sua mochila estava pesada com os livros que teria que devolver [como sempre] e estava atrasada para a aula de aritmancia [como sempre]. Era sempre daquele jeito nas quintas-feiras, mas naquele dia o corredor estava mais lotado. “Devem ter trocado os horários dos treinos de Quadribol”, ela lembrava de ter pensado.

Outras probabilidades flutuavam em sua mente enquanto caminhava, até que tropeçou em uma vassoura que um aluno deixara cair no chão. “Ao menos você estava certa”, disse uma vozinha na sua mente durante a sua queda, que resultou em outro machucado no joelho. A menina estava se sentando no chão gelado do corredor, retirando os cabelos do rosto, quando ouviu o menino gargalhar pela primeira vez.

Foi um momento de filme. Tudo estava em silêncio e só existia a gargalhada dele, sonora e profunda e única – e ela nunca ouvira algo tão apaixonante em sua vida. Era apenas aquele som, e então ela se virou para descobrir de quem vinha aquele divertimento todo, e seu mundo desabou. Vinha de Sirius Black. Ela bufou e se levantou, “Não pode ser sério”, pensou.

E não era. Quando o menino parou de rir e abriu os olhos, ela viu que não era – e o mundo parou de novo. Ela poderia ficar lá para sempre, analisando aqueles olhos e “bem, isso não importa”, a vozinha disse em sua mente, “você continua atrasada [como sempre]”. Ela simplesmente pegou suas coisas, e saiu andando, quebrando aquele momento que pertencia apenas à ela.

Seu joelho estava sangrando, seus ouvindo retumbando e seus olhos recapitulando. Quando a aula de Aritmancia terminou, ela não tinha nenhuma anotação no pergaminho ou memória da aula, apenas uma certeza: estava apaixonada.

E lá estava a vozinha novamente: “Se ferrou”.

Ela se apaixonara por Regulus Black.

No quinto ano, ela decidiu que haviam duas coisas que diferenciavam Regulus de seu irmão.

Primeiro, ele nunca sorria. Não existia aquele sorriso grande e caloroso, guardado exclusivamente para os melhores amigos, ou o típico sorriso de lado, sacana, direcionado para as paqueras: quando ele achava graça, gargalhava, se não, ora pois, de que adiantava?

Segundo, os olhos. Toda a família Black tinha aqueles olhos negros acusadores, que diziam saber mais do que você. Mas não os dele: ao invés de negros como uma noite sem luar e estrelas, eles eram incolores. Como vidro. Como água.

“Como se sua alma estivesse refletida em sua íris”, disse para si mesma observando ele do outro lado da mesa da Sonserina, ao lado de Severus. Mas ao ver as olheiras de baixo de seus olhos, notou que mesmo que sua alma fosse seus olhos, sua vida era as marcas roxas que marcavam seu rosto.

Ela queria perguntar se ele estava bem, mas era tímida [de mais], queria se afastar e não se preocupar, mas estava apaixonada [de mais] e quando viu, já era tarde [de mais]. Tudo começou com ela observando-o de longe. E de perto. E de todas as formas que conseguia. De qualquer jeito, foi assim que ela descobriu quem ele realmente era.

Como Monitora, ficava acordada muitas noites na semana e com o tédio e sua curiosidade, não demorou até começar a segui-lo em suas saídas do Salão Comunal. Ele sempre ia para o Lago Negro, onda molhava os pés enquanto recitava poesia e fumava um cigarro. Ele gostava de Edgar Allan-Poe, odiava maconha e cerveja amanteigada, e se embebedava com whisky de fogo toda a lua cheia. Quando o céu estava limpo a noite, ele se sentava no telhado da Torre de Astronomia e ficava lá, olhando para o Cinturão de Orion até amanhecer.

E foi assim por um bom tempo. Ele vivendo e ela acompanhando. Ele sofrendo e ela chorando. Ele escrevendo e ela pintando. Ela escondendo seu sorriso e ele gargalhando.

Nota (sobre a gargalhada, os olhos e o seu mundo): quem percebia, dizia que era estrondosa de mais, que o menino era maluco e que seus olhos pareciam os de alguém cego, de quem não enxergava nada além do próprio umbigo. Mas para ela, sua gargalhada era a coisa mais viva que já ouvira, vinda de alguém que merecia ser feliz apenas para continuar rindo, e que seus olhos eram como água, calmos e transparentes, não de quem não via o horror do mundo, de quem já se acostumara com ele.

Bem, ela não estava acostumada com aquele mundo. Não o mundo bruxo, é claro, mas o mundo bruxo em guerra. Porque, por mais que o Ministro estivesse dizendo que estava tudo bem, ela sabia que não estava. Notava os professores mais nervosos, os sangue-puro mais confiantes, e as olheiras de Regulus se aprofundando.

No sexto ano, com o medo da guerra aumentando, ela decidiu que haviam coisas da qual ela poderia se arrepender, coisas que não fizera, e que aquele era um momento em que não poderiam ter arrependimentos.

Assim, no primeiro passeio a Hogsmead, ela convidou o Black mais novo para ir com ela. Na verdade, não foi tão simples assim, tipo “Ei, Regulus, quer ir comigo para Hogmead nesse sábado?”. Foi muito, muito, mais constrangedor. Por que, você me pergunta? Ora, porque ela nunca tinha falado com ele na vida, porque ela era uma mestiça e ele vinha de uma família sangue-puro altamente preconceituosa e porque ela não conseguia fazer nada de modo não constrangedor.

Como não tinha aulas ou amigos em comum com ele, e simplesmente andar até a mesa da Sonserina e convidá-lo estava fora de questão, ela esperou até o primeiro jogo de Quadribol – muita gente e muita confusão e muito barulho, ninguém iria notar. “Claro que não,” disse a vozinha em sua cabeça, ironicamente, “o que pode dar errado?”.

Então, confiando que o chapéu estava certo ao pô-la na Grifinória, ela se misturou ao monte de gente nas arquibancadas, onde as casas se misturavam. O jogo era Corvinal contra Lufa-Lufa, mas não havia divisão de torcidas como era quando Grifinória e Sonserina jogavam. Ela se aproveitou disso e se aproximou de Regulus, cutucando-o no ombro. Ele se virou para ela com muita surpresa. “Respire fundo, você é mais velha e linda e ele não tem motivos para dizer não”, repetiu para si mesma.

– VocêquerircomigoparaHogsmeadsemanaquevem? – ela soltou o ar e sorriu.

– O que? – merda, ela havia falado muito rápido.

– Você quer ir à Hogsmead comigo semana que vem? – mas na mesma hora a torcida toda gritou.

– Pode repetir? – Merlin, a voz dele era linda.

– Você quer ir no passeio para Hogsmead semana que vem comigo? – dessa vez ela gritou, pensando que com o barulho da torcida seria como se ela estivesse falando normalmente. Mas o que aconteceu foi que, antes, a torcida gritou porque uma falta ocorrera e para cobrar a falta todos deveriam ficar em silêncio. Ela gritara quando todos ficaram em silêncio. E agora todos olhavam para ela.

Sim, ela queria se matar. E então ele gargalhou e tudo ficou melhor e pior ao mesmo tempo – melhor porque ela jamais ouvira aquela gargalhada tão de perto antes, e pior porque ele estava gargalhando dela de novo.

“Sim,” a vozinha repetiu, “o que pode dar errado?”.

Ela queria muito se matar. E então ele a respondeu e tudo ficou muito melhor e muito pior ao mesmo tempo – muito melhor porque ele disse sim, e muito pior porque todos fizeram um “Oh meu deus” ao mesmo tempo.

Ela pôs a mão na frente da boca, sorrindo, e ele gargalhou, sem se esconder.

No inicio do sétimo ano, quando já estavam juntos faziam alguns meses, eles estavam viciados um no outro: ela só conseguia pintar os olhos dele e desenhar seu corpo, ele só conseguia fazer poemas sobre o cabelo loiro dela e descrever em suas histórias com ela era erótica e mortal com um cigarro na boca.

Os beijos em público já haviam ultrapassado para amassos, e em particular, no telhado da Torre de Astronomia, em cima de um cobertor de lã, eles se amavam cada vez com mais intensidade. Todos os conceitos que ela tinha sobre sexo, que era apenas um ato que não envolvia paixão, apenas tesão, acabaram por terra, e ele, que se cansava das meninas depois de três dias, quase enlouquecia uma noite longe dela.

Não sei lhe dizer se eles se amavam, porque aquilo parecia mais um louca paixão do que qualquer outra coisa. O que sei é que eles ficariam juntos para sempre se não fossem os fatores externos.

Estes fatores podem ser reunidos em uma única palavra: guerra. O que ela mais temia e o que o mantinha acordado todas as noites, aquilo que os separou. Guerra. Durante o resto do ano, não houve problema para nenhum deles, que enterram aquela palavra hedionda no fundo de suas mentes. Mas em sua última noite juntos, com ele sofrendo e ela chorando, eles se olharam nos olhos e admitiram um ao outro suas escolhas. Eles eram inimigos: ela lutaria com a Ordem da Fênix, por aquilo que acreditava, e ele ganharia a sua tatuagem no verão, por aquilo que sua família idolatrava.

Depois daquele dia, os olhos de Regulus nunca mais foram transparentes, e sim cinzas, e os cabelos dela, antes loiros e compridos, foram cortados como os de um menino. Ele não queria que ninguém descobrisse o que sua alma guardava, apenas ela, que tinha as pinturas; e ela não queria que soubessem como o seu cabelo de movia no vento, ou como ela o prendia com um pincel, queria que essa memória ficasse guardada nos poemas dele.

Quando ele morreu, em sua ultima oportunidade de fazer algo bom, Voldemort sabia o que estava acontecendo, mas quando chegou lá, o infeliz que descobrira seu segredo estava morto. Morto e com a boca escancarada em meio a uma gargalhada, os olhos cinzas bem abertos. Não havia mais como fazê-lo sofrer.

Mas o Lorde das Trevas sempre soube da vida de todos aqueles que o serviam. Ele sabia como poderia fazer o Black mais jovem sofrer, sabia quem ele amava. Acho que agora tem a sua resposta, certo? Quando eles estavam juntos, já sabiam que seu tempo seria curto, então não se importaram em pensar em amor, em saber exatamente o que sentiam. Sozinhos eles tiveram esta oportunidade, e eles se amavam.

Dorcas Meadowes era uma bruxa brilhante, mestra em Feitiços e extremamente poderosa, porém, não em uma guerra, onde Defesa Contra a Arte das Trevas era muito mais útil. Por isso, ninguém entendeu o porquê de Riddle ter ido atrás dela. Ela tinha acabado de pintar o retrato de Harry quando ele invadiu sua casa – e ela soube que estava morta. Porém, ela era uma lutadora, e o combateu até o fim, parando somente quando uma estaca de madeira atravessou seu estômago.

Ela ficou viva por mais quinze minutos, tempo suficiente para ele explicar o porquê de estar ali, achando que aquilo a faria ficar com raiva, que traria ódio ao seu coração. Mas isso a fez morrer com as mãos sobre a boca, escondendo um sorriso, sabendo que Regulus fizera o certo, no final.

E assim eles morreram. Lá, ela tinha os cabelos compridos e ele os olhos transparentes, ambos com um “฿ & ℳ” tatuado acima dos corações – clichês até o fim.


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Notas finais do capítulo

Eu sei lá se mereço comentários ou misericórdia.
O que você achou? Clichês são bons ou ruins? Pintura ou escrita?

Qualquer erro, me avisem (:



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