Prisma escrita por Majalis


Capítulo 5
Proteja-os. Parte II.


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, a parte dois de Proteja-os. Esse capítulo é crucial e importante, porque aqui você começará a entender que tudo está interligado! A Parte II é dedicada para Touchedbydarkness, um agradecimento pela sua recomendação adorável, que me fez correr em círculos, haha. Aproveitem a leitura!



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09 DE ABRIL DE 2038: Boston, Massachusetts, 06:25 PM.

O sol já estava desaparecendo pela linha do horizonte. William acreditava que não existissem grandes chances de serem atacados no centro de Boston naquele horário, afinal muitas pessoas circulavam por ali. Preferia não confiar em ninguém, nem polícia ou em qualquer uma das autoridades, porque isso o manteve vivo durante todos esses anos. Imaginava se o assassino teria contatos dentro do Departamento Policial de Boston e se poderia usa-los para uma emboscada contra o grupo sob falsa acusação de terrorismo ou algo do gênero. Seria um movimento arriscado, porque eles poderiam reagir usando suas capacidades e a revelação da existência dos mutantes geraria um impacto irreversível.

— Não usem façam mutações, apenas se for preciso. — Aconselhou William, enquanto ainda estavam na floresta se organizando para ir a cidade. — Nossa sobrevivência é mais importante do que qualquer segredo.

O hospital para o qual Beatrice foi levada, Hospital Sir Flemming,  ficava na área central de Boston e é de grande conceito na região. O grupo de sobreviventes foi poupado do esforço de realizar buscas em todas as outras instituições, porque o noticiário providencialmente citou aquela durante a cobertura da "de uma casa destruída por uma explosão causada pelo vazamento de gás".

Augustus e Wendy iam na frente, cada um com sua mochila. O rapaz projetando o braço ao redor da cintura dela, simulando serem um casal, mas o nervosismo de ambos e o fato de olharem para os lados constantemente atrapalhava sua encenação. Alguns metros atrás deles, William e Troian faziam o mesmo, exceto pelo fato da mulher estar com as mãos escondidas nos bolsos do casaco.

— Eu disse para agirem normalmente. — Murmurou o britânico irritado, carregando duas mochilas. — E estão agindo como se fossem procurados pela CIA.

A ruiva conteve o riso. — Eles estão fazendo o seu melhor. — Era estranho para ela caminhar o lado dele. Nas últimas duas semanas, limitavam seu contato aquilo que era extremamente necessário, aquela parecia decisão mais acertada depois de uma sequência de pequenas brigas que macularam a relação entre eles. — Todos nós estamos, mas se você ficar pressionando, eles vão explodir, então tente se acalmar.

William soltou um suspiro pesado. — Eu preciso proteger vocês...

— Por que? — Virou-se para olha-lo enquanto caminhavam. — Eu tenho vinte e oito, Augustus vinte e quatro, Beatrice parece ter passado dos dezoito. — A idade de Beatrice é um mistério para todos. A garota foi encontrada por Meda e Hunter sem qualquer memória significativa sobre seu passado. — Wendy fará vinte na semana que vem. Nós podemos nos cuidar, você não precisa carregar o mundo nas suas costas. Ficaria mais fácil se você nos visse como seus companheiros ao invés de encarar como crianças que você precisa cuidar.

— Você não entende.

— O que eu não entendo? — Quis saber, enquanto viravam a esquina. — Vê? É isso que você faz. Sempre que tem algo errado se fecha para os outros e não deixa as pessoas te alcançarem, te ajudarem.

Ele evitava olhar para ela, mantinha seus olhos atentos a rua e as postes modernos, que sofreram adaptações ao longo dos anos e agora tinham função na purificação do ar, assemelhando-se as árvores. Não discutiria o assunto ali ou nunca. Quando o grande edifício de cores claras com janelas espelhadas surgiu diante deles, William sentiu-se salvo.

— O hospital. — Anunciou, desviando o assunto.

O quarteto atravessou a rua. Troian foi a única que caminhou para o hospital, tentando fazer aquilo da forma mais natural possível, mesmo que em sua mente esperasse ser fuzilada a qualquer momento. O ambiente era familiar para ela, mas quando sua casa, o "mais seguro" entre todos os lugares, explode, você perde toda a sensação de confiança e segurança.

A porta dupla deslizou para os lados assim que a jovem aproximou-se, deixando-a diante do interior amplo e tumultuado. As paredes tinham tons claros, dominadas pelo branco e azul claro e combinando com os móveis de coloração semelhante. Mesmo com o grande número de pessoas, estava limpo. Ainda com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco, Troian caminhou até o balcão da recepção.

— Boa tarde, Anna. — Ela cumprimentou a única figura que havia ali. A mulher tinha os cabelos escuros presos num coque firme, ficando exposto seu rosto redondo adornado por um fone. Tinha seus bons cinquenta anos, trajada num uniforme de cor cinza, o crachá preso ao bolso frontal do blazer. Seu cansaço era intensificado pelas marcas de expressão. — O Dr. Lancaster está esperando por mim.

Edwin Lancaster era um dos professores de Troian e membro do quadro de funcionários do hospital que tinha por hábito receber seus alunos entre os espaços vagos na sua agenda de pacientes.

— Olá, Troian! — Anna sorriu simpática, um comportamento atípico, já que ela não costumava simpatizar com alguns dos estudantes de Medicina e seu complexo de semideuses. — Um momento, vou ver com a secretária se ele está livre. — Ela moveu os dedos sobre a tela embutida em sua mesa, digitando alguns números. Deteve-se. — Ah, me esqueci... Eles estão sem telefone. — Disse, puxando os fones para baixo. — O hospital está um caos. Interditaram todo o terceiro andar essa manhã, algumas pessoas começaram a ter dores de cabeça e náuseas. — A atendente esticou-se para frente na direção da ruiva, falando mais baixo. — Não acham que seja nada grave, mas ninguém quer a imprensa aqui e para ajudar um senador decidiu fazer uma visita surpresa.

Ao terminar de falar, Anna apontou com o rosto para um dos lados. Troian virou o rosto, olhando por cima dos ombros. Parados num dos cantos, três homens vestidos de ternos escuros e fones de ouvido unilaterais tinham uma postura intimidadora.

— Claro que sim, visita surpresa. — Comentou a jovem, voltando a olhar Anna. — Então… O Dr. Lancaster...

— Ah, sim. — Retomou a funcionária. — Você pode ir. O colocaram no quinto andar, não sei em qual das salas, vai ter algum trabalho procurando. — Anna empurrou um cartão com um código de barras por cima do balcão, nele era possível ler "Estudante".

— Obrigada. — Troian passou o cordão da sua identificação por cima da cabeça, pendurando-o no pescoço. Seguiu na direção oposta aos homens de terno e acessou o interior da instituição, usando o seu código de barras.

As câmeras a impediram de correr, limitando-se a andar rápido na direção dos fundos. Com o fluxo de enfermeiros e pacientes, passou despercebida até alcançar a ala restrita aos funcionários. Acessou um corredor vazio e parou diante de uma porta solitária, ao lado dela havia um quadro com um teclado. Troian forçou a superfície até a "tampa" soltar-se.

Vasculhou os bolsos do casaco e tirou um telefone roubado por eles de um homem no trajeto até o hospital. No mesmo bolso, Troian pegou um cabo USB que tinha uma das pontas desencapada. O conectou ao celular e a outra extremidade em alguns dos fios internos do quadro. Trabalhou na tela do celular, os dedos movendo-se pelo visor de modo veloz. A porta ao lado fez um barulho e destravou-se.

William, Wendy e Augustus entraram quase que imediatamente.

— Beatrice está em algum lugar do terceiro andar. — Informou Troian. — Tomem cuidado. Estão dizendo que um senador fará uma visita surpresa hoje, uma desculpa para aumentar a segurança.

— Okay! — Wendy e Augustus dispararam pelo corredor depois de serem instruídos sobre como chegar até o terceiro andar pelas escadas. William e Troian continuaram no mesmo andar, caminhando juntos, enquanto ela os guiava pelos corredores. Mesmo com o ritmo intenso daquele dia, Will não sentia cansaço. Roderick era agraciado por uma condição sobre-humana. Não era capaz de lançar rajadas de energia ou ler mentes, mas não podia ser ignorado. Tinha todos os atributos comuns aos humanos melhorados, sendo mais forte, mais rápido e mais ágil do que os demais, além de envelhecer devagar. Era o soldado perfeito e assim serviu durante a guerra civil americana e as duas grandes guerras.

— Ah, santo Deus! — Troian exclamou.

— O quê? — Ele olhou preocupado.

— Nós deveríamos devolver o telefone para o homem que roubamos. — Sugeriu ela, virando o celular para que ele olhasse na tela. — Ele pode precisar disso...

O mais velho levou alguns segundos para compreender a imagem em tela cheia. Uma foto íntima. — Nós estamos com pressa.

— Aqui. — Sob a porta que a dupla parou havia uma placa. "Segurança". — Me dá. — Troian estendeu a mão, enquanto William remexeu nos bolsos internos do casaco e entregou uma seringa para ela. Will colou o corpo contra a parede, enquanto ela inspirava, batendo na porta e sendo prontamente atendida. — Você é Michael? — Balbuciou depois de olhar de relance para a identificação do funcionário que surgiu ali. — Estão te chamando lá na recepção, é alguma coisa sobre a visita do senador. — Troian esperava por um brutamontes, mas viu-se diante de um cara de meia idade com um reforço muscular mediano.

— Hã. Você tem certeza?

— Uhum. O diretor do hospital está surtando, se eu fosse você...

Ele parecia incerto sobre a veracidade palavras dela, mas decidiu não arriscar. Avaliou rapidamente os monitores atrás de si e saiu da sala. Foi pego por William antes de que pudesse reagir, enquanto vira-se para trancar a porta. A condição sobre-humana do britânico prevaleceu, enquanto o continha com os braços. O segurança debatia-se com violência, fazendo Troian hesitar.

— Anda logo! — Esbravejou William.

A mulher praguejou baixo e enterrou a agulha no braço do segurança, empurrando o embolo para inocular o conteúdo da seringa, algo do acervo pessoal de Troian, mantido em casa para situações de emergência. Michael tentou lutar por quase um minuto, mas finalmente cedeu.

— Regra básica sobre indução anestésica: o tempo que ele leva para induzir é mesmo tempo que volta para voltar. — Troian entrou na sala, sendo seguida por William que arrastava o segurança pelas pernas, fechando a porta logo depois. Ela tratou de sentar-se numa das cadeiras, prendendo os olhos na tela de um dos computadores. Franziu a testa e apertou os olhos, sem movê-los uma única vez para as mãos moviam-se no teclado. — Pronto. — As luzes da sala oscilaram. — Agora a energia está vindo do gerador próprio do hospital, ele não pode ser desligado. — Troian digitou mais alguns comandos habilmente, enquanto o homem observava a transição de telas num dos computadores. — Todas as portas que dão acesso ao terceiro andar estão trancadas e só podem ser desbloqueadas com isso. — Troian balançou seu crachá no ar. — Podemos ir. As câmeras também foram desligadas.

— Pega. — William entregou um walk-talk para Troian, enquanto mantinha outro para si. — Já coloquei os dois na mesma frequência.

— Okay. — Ela já caminhava para fora da sala, quando percebeu o objeto colocado atrás da porta. — Vou ficar com isso. — Will virou-se e a observou avaliando um taco de beisebol. — Pode ser útil. — Balançou os ombros. — Toma. — A mulher passou o cordão da identificação por cima da cabeça e o ofereceu para o homem. — Sabe como chegar no terceiro andar?

— Sei. Nos vemos em cinco minutos. — Disse ele, observando o relógio no pulso. Troian confirmou com a cabeça e afastou-se dele correndo.

William usou a identificação para abrir a porta que dava acesso as escadas e disparou pelos degraus, subindo rapidamente. Logo estava surgindo num dos corredores do terceiro andar, sentindo pontadas sutis começarem por sua cabeça e intensificarem-se a medida que caminhava pelo corredor. O andar estava vazio e os únicos sons ali vinham de uma das salas. Ele caminhou até encontrar Wendy e Augustus apressados movendo-se por um dos quartos.

— Ela está bem, Gus leu o prontuário médico. — Wendy começou a falar assim que viu William entrar, enquanto ajudava o outro rapaz a desconectar dos aparelhos uma Beatrice inconsciente. — Só torceu o tornozelo e estão mantendo ela sobre sedação. — Ela fez uma careta. — Provavelmente descobriram que assim conseguem manter ela sob controle...

Beatrice perdia facilmente o controle sobre suas habilidades e isso aa tornav perigosa. Afetava seus alvos de forma psiônica, atráves de rajadas que causavam dor mental, refletindo em outras manifestações físicas, podendo levar ao coma ou morte. Também era capaz de fazer o contrário e anular os sentidos ao diminuir a consciência de alguém. Foi encontrada por Meda, vagando pela cidade de Goshen, Massachussets, sem nenhuma memória, sendo a vida com a clarividente e os outros mutantes a única que ela conhecia. Isso a tornou uma pessoa cética e naturalmente desconfiada, tanto que o relacionamento estável com o pirocinético era algo inesperado quando começou.

Augustus pegou a namorada nos braços, afastando-a da cama. Will verificou o lado de fora e depois seguiram pelo corredor.

— Will? — A voz de Troian surgiu tomada por um tom urgente. — Você tá aí?

— Pode falar. — Ele respondeu, apertando um dos botões laterais do walk-talk.

— Vocês não podem vir pro estacionamento! — Alertou. — Eu estava tentando pegar um carro, como nós combinamos, quando três carros iguais apareceram e vários caras de terno saíram deles. Não sei quanto tempo eles vão ficar aqui… Eu acho que Anna não estava mentindo sobre a visita do Senador.

Os três pararam. Augustus e Wendy olharam para William com preocupação.

— O que vamos fazer agora? — Perguntou o rapaz, apertando os braços ao redor de Beatrice.

— Hã. Acho que isso pode ficar em segundo plano… — Wendy interrompeu. De uma das portas atrás deles, três homens uniformizados como policiais surgiram.

— Vá para a porta que você abriu para entrarmos. Enquanto esperávamos, notei duas ambulâncias paradas. Nossas mochilas estão escondidas numa das latas de lixo. — William instruiu Troian apressadamente, erguendo o rosto para observar os recém-chegados.

— Sem balas, só tranquilizantes. Cuidado com a garota. — Disse um policial.

— Vai pro elevador e leva isso com você. — Will empurrou a identificação para Augustus.

Gus recebeu o crachá desajeitadamente e recuou, virando o corpo com cuidado, andando mais rápido que conseguia, carregando Beatrice na direção do elevador no final do corredor.

William e Wendy andavam de costas vagarosamente. Houve um curto momento de silêncio, onde os adversários avaliaram-se mutuamente, considerando quais eram suas chances, ninguém parecia determinado a tomar a iniciativa e começar aquela briga.

— Eles não podem fugir. — Falou o mesmo que fez a recomendação dos tranquilizantes. Os policiais ergueram em suas armas, fazendo a dupla de mutantes concordar que era hora de agir. Os punhos de Wendy foram tomados por um clarão e em seguida havia fogo, as chamas consumiram parte das mangas do seu casaco. Com um movimento rápido, ela disparou duas labaredas.

Augustus e Wendy tinham dons semelhantes, contudo a garota tinha uma estreita relação com o sol. Os raios solares serviam como fonte extra de energia, abastecendo-a e tornando possíveis seus efeitos que iam desde projetar fogo até o uso dessa energia para melhorar seus atributos. A loira ainda tinha uma mutação secundária que a permitia detectar mutantes.

Disparos foram ouvidos. William jogou-se para mais perto da parede, sentindo o calor das chamas criadas pela garota. Aproveitou o momento de distração dos inimigos para lançar o corpo contra um deles, derrubando-o junto com sua arma. Alarmados pelo estrondo da queda, os outros dois policiais voltaram-se para o britânico com as armas em punho. Um deles foi interceptado por um segundo ataque da Wendy e soltou um grito ao ver sua roupa em chamas. O terceiro foi derrubado por Will ao ser pego pelas pernas, ele tentou lutar, mas o punho que acertou seu nariz o desacordou.

— Pro elevador! — William falou para Wendy ao levantar-se. Os urros do policial foram deixados para trás enquanto corriam, vendo Augustus tentando manter a porta do elevador aberta para eles.

Os dois foram surpreendidos pelos sons de novos passos vindos de um corredor perpendicular anexo ao que percorriam. Ao passarem pelo cruzamento de ambos, depararam-se com um número elevado de homens trajando o mesmo uniforme da força policial que os anteriores, exceto por um deles, que vinha a frente vestido de preto. Ao verem os mutantes, eles começaram a correr.

Para infelicidade dos dois, os perseguidores eram bons corredores e o "lider" movia-se com agilidade, quase os alcançando. Por um descuido, o homem de preto reproduziu um salto arriscado na direção de um William, esticando o braço para agarra-lo. Wendy foi a primeira a perceber o movimento do adversário e um grito de alerta disparou dos seus lábios ao mesmo tempo em que ela ergueu a canhota e usava suas chamas novamente.

Will sentiu uma das mãos ser tomada por um puxão e não apenas isso, uma corrente elétrica fraca pareceu distribuir-se por todo o seu corpo ao ser tocado pelo homem de preto, que foi acertado pelo fogo na região do peito e do rosto, tombando contra a parede. Houve um grito de dor.

Antes de encerrar-se no elevador, Wendy ateou fogo no corredor, impedindo que os policiais avançassem. Will apertou o botão para o térreo.

— Eles já deviam estar aqui quando Troian trancou os acessos ao andar. Pelo menos, agora eles estão trancados lá. — Ele avaliou. — Wendy?

A garota estava apoiada numa das paredes do elevador, apertando as mãos trêmulas contra o corpo.

— Você acha que eu matei aquele cara? — Ela perguntou receosa.

— Fez o que foi preciso.

Beatrice começava a dar os primeiros sinais de que estava retomando sua consciência. Movimentava o corpo devagar e os lábios moviam-se na tentativa de pronunciar algo. As pontadas na cabeça dos demais também se tornaram mais intensas e William esperava que Bea retomasse o controle antes que todos acabassem inconscientes.

O elevador parou com um tranco e as portas abriram. Eles hesitaram. William foi o primeiro a sair, seguido por Augustus com Beatrice e depois Wendy. Andaram perdidos até conseguirem encontrar o caminho que os levaria para a porta pela qual tinham entrado. Do lado de fora, a noite já estava instalada e Troian esperava por eles dentro de uma das ambulâncias.

— Vai! — Sinalizou Will, assim que porta dos fundos do carro foi fechada por Wendy, enquanto Gus acomodava Beatrice numa maca na parte de trás da ambulância. Quando todos acomodaram-se a porta foi fechada, Troian deu a ré e seguiu pela rua. Aquele era um carro alternativo para diminuir a poluição, construído par alimentar-se de eletricidade ao invés de combustível, e embora o volante e o câmbio fossem semelhantes aos modelos convencionais, o painel era eletrônico.

— Ela está bem? — Troian perguntou, olhando William pelo canto dos olhos e prestando atenção na rua.

— Só um tornozelo quebrado.

— Um tornozelo quebrado, sua casa explodida. Para onde nós vamos?

— Vá para a periferia, deixamos a ambulância lá e procuramos um lugar pra ficar.

O fluxo de carros era o normal para um dia de semana a noite, o que significa que Troian era obrigada a ficar dentro de um limite razoável de velocidade.

— De onde tá vindo esse cheiro de queimado? — Perguntou a ruiva.

— Da blusa da Wendy, ela teve que usar fogo.

— Ah, eu achei que essa ambulância estava parada lá por algum defeito. — Comentou ela. — Precisou usar? O que aconteceu lá?

— Como eu imaginava, eles já esperavam por nós. — William respondeu, massageando a mão que havia recebido o que ele imaginava ser uma descarga elétrica.

Uma confusão de buzinas fez os dois olharem para os retrovisores. Demoraram para perceber, mas ao fundo carros escuros vinham em alta velocidade pela rua.

— São esses os carros que eu vi chegar. — Troian falou. — Eles estão vindo atrás da gente?

— O que você acha? — Retrucou William. — Acelera!

— Ótimo. — Wendy pronunciou com sarcasmo. — O minions estão do lado do assassino.

— Mi o quê?

— Minions. É um filme de 2015. — Ela explica.

Troian pisou no pedal do acelerador com força e a ambulância sofreu um solavanco ao aumentar sua velocidade. Os carros que vinham a frente deles ao perceberem a aproximação de um veículo do hospital em alta velocidade, mesmo com as luzes do teto apagadas, abriram caminho.

— Eu não fui treinada para ser um piloto de fuga, droga! — Troian praguejou ao girar o volante e acessar uma rua lateral menos movimentada. Os pneus derraparam no asfalto com a conversão brusca que obrigou os passageiros a se apoiarem. — Eu não estava completamente errada sobre o motivo dessa ambulância estar parada lá. — A mulher anunciou com a voz vacilante, Will a encarou. — O freio está estranho. — Ela alerta.

A perseguição durou por várias quadras, enquanto Troian tentava despista-los de forma ineficiente e ao olhar para o painel ela percebeu que não restava muito de "carga" antes do motor parar de funcionar. Apertou os lábios, pensando em possibilidades. Sua distração a impediu de perceber a dupla parada no meio da rua, ambos virados para a ambulância, no rumo certo para colisão.

Seus pés procuraram o pedal do freio e o acionaram, mas a ambulância não respondeu. Ela tentou outra vez sem qualquer sucesso. No último instante, Troian espalmou uma das mãos contra o painel da ambulância e sentiu-se conectada a tecnologia que fazia a máquina funcionar. A velocidade foi reduzida, mas não o suficiente para evitar um acidente.

Então ela viu, o garoto loiro com sorriso diabólico e uma jovem latina olhando para a ambulância com olhar sério, levantando a destra no ar, dando-lhe a impressão de que carro foi tirado do chão.

— Eu sou Ciel, a garota é Heather. A outra garota que vive com a gente, Diablo, está em New York. — Apresentou o rapaz que tinha os cabelos de tonalidade clara, olhos azuis, uma postura elegante e o tamanho de Augustus. — Nós ouvimos sobre a perseguição pelo rádio da polícia e quando vieram para o nosso lado da cidade decidimos ajudar. — Ele contou, parado na porta do quarto ao lado de Wendy, enquanto os outros ajudavam Augustus a colocar Beatrice na cama.

Era um cômodo amplo, bem decorado e uma das janelas dava para a parte de trás do prédio. Eles estavam num hotel desativado, mas a eletricidade e a água ainda funcionavam.

— Rádio da polícia? — Perguntou Wendy.

— Nós estamos vigiando eles. — Ele respondeu. — Pra descobrir quem está matando os mutantes.

— Nós moramos em Needham, mas nossa casa explodiu… Explodiram ela, na verdade. — A garota se corrigiu.

— A casa do noticiário? Eu vi essa manhã. Como vocês sobreviveram? Devem ter perdido muitos amigos, a repórter falou sobre sete mortos… Meus pêsames. Eram todos mutantes?

— Eu disse que a explosão era criminal. — Heather surgiu pela porta empurrando um carrinho ocupado com alimentos diversos e outros itens. Aparentava ser alta, tinha a pele morena e cabelos escuros. Ela levou o carinho até a cama, oferecendo travesseiros e cobertores para Guste, que cobriu Beatrice.

— Mais ou menos. — Wendy começou a responder para Ciel. — É uma longa história… — Ela esfregou a mão na testa, o cansaço daquele dia a alcançando. Remexeu na mochila que trazia pendura no ombro e puxou do bolso frontal uma fotografia. A imagem registrava uma casa grande com paredes de tijolos ao fundo e posicionado nos jardins um grupo exótico formado por figuras diferentes olhava para a câmera. Ela estendeu a fotografia para Ciel, enquanto indicava da esquerda para a direita. — Bem, vocês já conhecem a mim, Will, Troian, Augustus e Beatrice. Esses são Meda e Hunter, eles eram os donos da casa. Nos ajudavam… também era mutantes. Esse é Milo… — Disse, apontando um garoto de pele branca, cabelos escuros e olhos claros. — Não se engane, ele tem essa cara de criança, mas tem quase vinte e três. O menor é o Teddy era como o caçula da “família”. Esse é o Sebastian e por último, Onyx. — Encerou, indicando o irlandês de expressão séria e sorriso contido na extremidade direita da formação. — Esses quatro últimos foram embora faz uma semana.

— Embora? — Ciel perguntou, insinuando uma possível morte.

— Eles foram morar numa ilha no mar do Norte. Um lugar só pra mutantes. Eu não lembro do nome...

— Unidade Alfa. — Disse o loiro rapidamente, avaliando a foto.

— Como você sabe?

— Heather foi convidada também, mas não quis ir. — Contou. — Uma semana depois, a casa dela foi atacada.


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Notas finais do capítulo

O que eu disse sobre não existirem lares seguros? Quantas perguntas foram deixadas por esse capítulo. Por que os mutantes estão sendo caçados? Qual a relação da Unidade Alfa com isso?



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