Prisma escrita por Majalis


Capítulo 2
Ficarei com você até o fim.


Notas iniciais do capítulo

Embora o prólogo seja importante, é aqui que a história começa de verdade. Devido ao ritmo dos eventos desse capítulo, todos os personagens que compõe esse núcleo precisaram ser incluídos rapidamente. A introdução de cinco figuras desconhecidas pode assustar, mas acalmem-se, o próximo capítulo narrado nesse cenário trará apresentações mais detalhadas sobre cada um deles. Aproveitem a leitura!



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A Terra sofreu em silêncio os desmandos dos humanos, mas sua retaliação foi impetuosa.

Tarde demais os homens parecem ter percebido que se preocupavam com questões tolas, enquanto encaminhavam-se para sua própria destruição. Preconceitos contra os gêneros, racismo e as guerras "sacras" movidas pelas religiões foram abafadas pelo grito da fome que ecoou por diversas regiões do planeta. Principalmente, no, já mutilado, continente africano. O berço da humanidade jazia abandonado por seus filhos nada pródigos.

Em contrapartida, a população mundial cresceu, ultrapassando os sete bilhões. Não só pelos nascimentos, mas também pela melhora da medicina e da qualidade de vida. Mais bocas para alimentar por uma dispensa defasada.

O aquecimento global chegou ao seu ápice durante o ano de 2027. As ondas de calor mataram muitos, principalmente aqueles que nasceram em épocas que o planeta dispunha de temperaturas amenas. As crianças sofreram menos, mas sofreram. Se não pelo calor, pela escassez da água ao redor do globo, sendo os longos períodos de estiagem inesperados considerados uma "praga moderna".

Invernos rigorosos e catástrofes naturais - terremotos, tempestades, furacões, tsunamis e enchentes - fizeram mais vítimas. Secretamente, isso foi visto por muitos governos como um alívio para a questão do aumento populacional, uma solução paliativa e sangrenta, mas os efeitos foram múltiplos e o principal deles, que passou despercebido, dizia respeito a perca da fé do povo nos seus líderes. O delicado cenário mundial colocava a humanidade no caminho da uma grande guerra, a terceira pela contagem oficial. Conflitos armados já pipocavam, especialmente nos lugares com condições de vida mais miseráveis. O número de ateus multiplicou-se perante a pergunta "Onde está Deus agora?".

Do desespero e da necessidade uma organização não-governamental ergueu-se. Prisma. Tomou para si uma das obrigações das ONU, que agora estava fragmentada e tão atordoada quanto os comandantes nacionais diante da sua insignificância perante a "mãe-natureza". Os humanitários usaram seus cofres abundantes para ajudar na África e onde mais fosse necessário. Sua existência foi vista como um traço de esperança pelo povo e uma ameaça pelos poderosos.

Teorias conspiratórias disseminaram-se entre os políticos, narrando a hipótese de uma tentativa de instaurar um governo mundial. O Prisma precisava ser combatido.

 

9 DE ABRIL DE 2038: Needham, Massachusetts, Estados Unidos.

Na América havia um problema intrínseco ao quadro mundial. Movendo-se pelas sombras da nação havia um predador, mas suas presas eram específicas, um tipo especial, os mutantes. Os quais a realidade era mais um segredo federal na pilha de cadáveres que o governo tinha escondidos em sua parede. Como pedir ajuda quando ninguém sabe da sua existência? E o medo de serem marcados como alvos os impedia de utilizar a manobra ousada de revela-se ao mundo. Restava, então, fugir e esconder-se, mas o que quer que estivesse atrás dos mutantes, era um perseguidor eficaz, tendo matados muitos e com muitos outros em sua lista.

William Roderick acordou assustado com um par de mãos balançando-o freneticamente.

— Não me faça bater no seu rosto! — Wendy estava curvada sobre a cama e segurava o homem pelos ombros. Mesmo com seus dezenove anos, ela era a mais nova entre eles agora. O loiro escuro dos seus cabelos harmonizava com o ciano das suas íris. — Will!

O homem, que aparentava um pouco mais de trinta anos, segurou a jovem pelos punhos, impedindo-a de continuar atormentando-o. — Posso listar cem prazerosas maneiras de uma mulher acordar um homem e essa não é uma delas. — Gracejou com seu sotaque britânico, piscando algumas vezes até as pupilas acostumarem-se com a escuridão do quarto para ele delinear os contornos de Wendy. — Por que estamos no escuro? E por que você está sussurrando? — Esfregou as mãos contra os olhos.

— Nós não temos tempo para isso. — Ela retrucou, afastando-se da cama puxando os braços e caminhando para fora do quarto. — Meda quer todo mundo lá cozinha agora! E não acenda as luzes!

Com a mente ainda atordoada pela sonolência, ele a observou deixa-lo sozinho. Olhou ao redor, obrigando sua cabeça a funcionar. "Não acender as luzes", repetiu mentalmente. Tateou o telefone, um aparelho fino e feito de algo visualmente semelhante a vidro, no criado mudo ao lado da cama. Seus olhos arderam com a luminosidade do visor e ele abruptamente apertou o aparelho contra o corpo. Será que o aparelho estava incluso na regra "No Lights"?

2:30 AM.

Faziam duas semanas que aqueles mutantes desconhecidos, amigos de Meda, haviam chegado aquela casa na periferia com suas promessas de uma vida pacífica para mutantes numa ilha na Europa. William não confiava neles e decidiu ficar, diferente de alguns dos antigos moradores que escolheram ir embora, fugir daquela situação de terror diário, uma solução mais simples. A sedutora proposta de paz, enfim. Rejeitaram veemente a ligação fraternal que havia entre todos ali.

Era uma construção simples de dois andares, porão e sótão. Uma casa de família incrustada em meio as árvores de uma floresta temperada. Pertencia a família Dodgson, sendo agora propriedade de Hunter Dodgson, um mutante adulto que perdeu os pais num acidente aéreo, casado com Meda Wakanda.

O lugar servia como um abrigo para mutantes vivendo sobre o disfarce de uma família grande e reclusa. William era, supostamente, um irmão mais velho de Hunter, o que não era o melhor dos disfarces, levando em conta que Hunter tinha cabelos loiros e William um sotaque britânico que dificilmente podia ser mascarado. Os mutantes mais novos distribuíam-se entre falsos filhos biológicos e adotivos do casal. Também havia uma jovem ruiva, Troian, que se passava por assistente dos Sr. Dodgson em seu consultório médico.

Devia ser algo importante para o acordarem no meio da madrugada, especialmente quando sabiam que seu humor não estava disponível antes do sol cruzar a linha do horizonte. A contra-gosto jogou as pernas para fora da cama, os dedos encolhendo-se no piso gelado. Caminhou na direção da porta, vestindo um moletom sobre o tronco nu enquanto descia as escadas.

— Reunião surpresa do Clube do Livro? Não podiam esperar até amanhecer? — William diz ao entrar na cozinha, indo postar-se na extremidade de uma das bancadas, cruzando os braços contra o peito. O luar que entrava pela janela e iluminava seu rosto permitiu os demais notarem o sorriso cínico que se formou.

— Nós estamos sendo atacados. — Disse sem delongas Troian. — Ou seremos.

— O quê? — William teve a impressão de ter cochilado e perdido o começo da conversa que levaria até a afirmação dada pela ruiva.

— Meda teve uma visão. — Um rapaz na casa dos vinte anos, Augustus, quase treze centímetros maior que o britânico, aproximou-se, ficando ao seu lado com uma expressão séria.

— Estamos correndo contra o tempo. — Meda entrou na cozinha acompanhada de um homem. Mesmo no escuro, William foi capaz de identificar suas expressões tensas. Cada um deles trazia uma pilha de mochilas iguais e as depositaram sobre a mesa. Seus comentários inoportunos foram abafados ao farejar a seriedade da situação. Todos fizeram silêncio absoluto, até mesmo as respirações pareciam ter cessado.

— Quando eu terminar de falar, cada um pegará uma mochila, subirá para o seu quarto e irá pegar apenas aquilo que for essencial para sua sobrevivência, desde que seja fácil de ser carregado. Vocês terão cinco minutos. — Entre todos os moradores, Meda sempre foi a de comportamento mais comedido. Alguns diziam que isso era fruto das visões que afloravam em sua mente. De qualquer forma, naquele momento sua voz era carregada por uma entonação grave que a fazia soar mais séria. William já tinha vivido tempo suficiente para conhecer a aura daquele momento, para saber que sua vida estava prestes a mudar brutalmente. — Depois disso, sairão dessa casa pela porta dos fundos, correrão para a floresta e nunca voltarão.

Num primeiro momento houve silêncio, cada um dos presentes digeria aquelas informações e quando elas fizeram sentido em suas mentes, agitaram-se, lutando para manter o tom de voz baixo. Exceto por William que bateu o punho contra a mesa. — Um momento!

O barulho da batida os fez calar e pares de olhos surpresos o encaravam em retaliação. Enquanto isso, o homem que acompanhava Meda, Hunter, deixou a cozinha.

— Shhhhhhhhhh. — Wendy estava debruçada sobre a bancada. — Fala baixo.

— Por que? E por que nós estamos no escuro? Conversar com as luzes apagadas não vai nos ajudar...

— Estão nos observados. — Ela rolou os olhos. — Por isso estamos no escuro, por isso estamos falando baixo.

— Acuados em nossa própria casa. Que beleza. — William ironizou. — Meda, o que você viu?

Meda inspirou e ao relembrar da sua visão sentiu-se tomada por angústia. Teve a sensação de ter sua pele aquecida e sufocar com fumaça. — Quando o relógio bater três horas haverá fogo. Não sei de onde ele virá, mas estará aqui. Todos vamos morrer. A única salvação é sair daqui antes do horário.

Hunter retornou para o cômodo. — O carro ainda está lá parado no final da estrada que dá acesso a nossa casa.

William supôs que estavam se referindo a esse tal carro quando diziam estarem sendo observados.

Meda assentiu com a cabeça. — Ótimo, significa que ainda temos tempo. — Ela voltou-se para os demais. — Agora, como eu disse, cada um pegue uma mochila. Hunter avisará ao final de cada minuto e quando faltarem trinta segundos. Se alguém decidir demorar mais do que isso estará correndo risco. Vão!

O britânico hesitou por alguns segundos pensando em instigar Meda atrás de maiores informações, talvez sozinhos ela fosse mais detalhista, além sugerir um novo plano, mas ele não era o líder ali. A mulher era e ele tinha muitas razões para confiar nas suas instruções. Principalmente, nas previsões. O homem foi o último a pegar uma das mochilas e correu para seu quarto numa velocidade anormal.

Rodou pelo cômodo recolhendo tudo aquilo que parecia necessário para uma fuga. Não hesitou nenhuma vez, assim que decidia que um objeto não era útil, ele era imediatamente esquecido. O celular foi deixado sobre a cama, considerou que tê-lo não valia a pena o risco de ser rastreado. Mesmo não sendo um homem nostálgico e pouco apegado ao passado, algumas fotografias acabaram perdidas em meio aos demais objetos soltos na mochila.

Desceu degraus e retornou para cozinha, mas percebeu que Hunter já havia se adiantado. O homem distribuía cantis cheios de água e alimentos para os que estavam ali. Ele pegou alguns itens e os enfiou nos bolsos externos da mochila que vinha pendurada num dos ombros.

— Está na hora. — Meda reapareceu e seu comportamento contido parecia estar perdendo-se. Remexia os dedos de forma nervosa e não descansava seus olhos em nenhum deles. A mulher estava lutando contra suas emoções e obrigando sua mente a permanecer em primeiro plano. — Estão todos aqui?

— Tô chegando! — Wendy lutava contra o zíper da mochila quando entrou na cozinha, segurando seu skate num dos braços.

— Sério? — Troian apontou para o objeto, encarando-a com descrença.

— Ele é uma extensão das minhas pernas! — Defendeu-se Wendy.

Meda olhou o relógio e seus lábios crisparam.

— Eu temia que esse dia chegasse, mas não acreditava que seria tão cedo. Como vocês sabem, os mutantes estão sendo caçados por todo o país e o nosso algoz está vencendo. O futuro é tecido pelas decisões que as pessoas tomam. Isso significa que alguém nos marcou como seus próximos alvos e a minha visão nos alertou. — A mulher havia abandonado o hábito de usar palavras "fáceis", eles deviam estar cientes da realidade que os cercava para prepararem-se para ela. — Nos últimos dias, eu estava concentrada em tentar visualizar quem está por trás dos ataques aos mutantes, mas não tive nenhum resultado até essa noite.

— O carro não está mais lá! — Alertou Hunter parado ao lado de Meda com um olhar vago.

Os que estavam na cozinha trocaram olhares. Troian tinha os olhos marejados, os lábios apertavam-se, claramente tentando conter o choro. Augustus passou os braços ao redor dos ombros dela e trouxe para perto do seu corpo. O gesto devia trazer algum conforto, embora em seu íntimo, o rapaz compartilhasse da mesma situação emocional infeliz que ela.

— Vocês não podem voltar! — Reafirmou Meda com urgência. — Provavelmente, o caçador virá verificar o resultado do seu ataque.

— Quais são nossas reais chances lá fora? — Beatrice, uma garota de cabelos escuros que estava do outro lado de Gus, perguntou em seu tom cético.

— Nós estivemos trabalhando com essa possibilidade, lembra? Vocês se prepararam com as lições sobre sobrevivência. Eu confio na capacidade de cada um. A inteligência vence a força.

— Vocês. Você e Hunter… — Começou William. — Vocês não vão com a gente?

— Nós daremos cobertura para a sua fuga antes. — A mais velha respondeu, retomando sua fala anterior e expurgando qualquer chance do britânico em levantar outra questão. — Nunca concordei com métodos violentos, mas isso é uma guerra e nenhuma é vencida com gestos gentis. O nosso povo já sofreu muitas baixas. Não se tornem criaturas brutais, não os deixem virar esse jogo contra nós. Sejam justos. Não são todos os Sapiens que patrocinam esse derramamento de sangue, então é imprescindível descobrir quem está matando os nossos.

— Isso não é justo. — William esbravejou em voz alta, cerrando os punhos ao lado do corpo.

— Will… — Wendy interveio.

— Eles já estão vindo nos matar, não faz diferença sussurrar. — Ele retrucou, já imaginando o que a jovem diria. — Nós não podemos sair correndo da nossa própria casa como ratos! Nós podemos lutar por nossas vidas. Não vamos ser covardes. Deixem que eles venham até nós!

— Will, você é um lutador excepcional. — Observou Hunter. — Mas precisa saber escolher suas batalhas. Algumas vezes evitar um confronto é mais inteligente. — Os olhos do homem desviaram-se e William os acompanhou, ele entendeu o que Hunter queria dizer. Ele não tinha medo de lutas, já passou por muitas durante sua vida, mas os outros, mais novos do que ele, não estavam prontos, estavam acuados.

— Tenham em mente que vocês são uma família. Protejam uns aos outros, somos mais fortes juntos... — Meda olhou o relógio que tinha numa das mãos e apertou os dedos ao redor dele antes de erguer a cabeça. — Vão. — Ela ordenou. Eles moveram-se com rapidez como se houvessem silenciosamente concordado que relutar dificultaria tudo e só aumentaria a dor. Pegaram seus pertences e organizaram uma fila na saída da cozinha. Antes do Roderick sair, Meda o puxou e o dedicou um abraço rápido. — Você é como um filho para mim. Confio em você.

Quando ela se afastou, ele assentiu, sem conseguir dizer nada. William foi na frente, abrindo a porta cuidadosamente. A noite do lado de fora estava silenciosa. Avaliou o terreno ao seu redor. O jardim dos fundos eram um campo aberto e desocupado, exceto por algumas cadeiras, uma cesta de basquete e um alvo para práticas de arco e flecha.

— Fiquem abaixados. Vamos. — Ele colocou o corpo junto da parede e avançou a passos rápidos pela lateral da casa. — Não usem lanternas, vamos usar a luz da lua. — Instruiu, verificando o terreno outra vez. Naquele silêncio e com sua audição aprimorada, William ouvia a respiração pesada de Wendy que vinha logo atrás dele. — Não olhem para trás, pessoal, tudo ficará bem.

Realmente ficaria?

O grupo desceu um calçamento de pedra e logo estava no bosque que começava nos terrenos atrás da casa e estendia-se por quilômetros tornando-se uma floresta. O chão ainda estava úmido pela neve que derreteu recentemente, servindo para abafar suas passadas. Depois de ultrapassar a orla e estarem protegidos parcialmente pelas sombras das árvores, ele retomou sua postura ereta, parando para fazer uma contagem.

— Onde está Beatrice? — Perguntou, procurando pela morena ao redor.

— Não vi ela desde que saímos. — Comentou Troian.

— Nem eu. — Complementou Wendy.

— Ela ainda deve estar lá! — Augustus indicou com uma voz aflita. — Alguém tem que ir lá busca-la.

Eles trocaram olhares apreensivos.

— Nós não podemos voltar, você ouviu a Meda!

— Eu não vou deixar Beatrice para trás! — O rapaz jogou sua mochila no chão e disparou numa corrida antes que algum deles pudessem impedi-lo.

William também soltou sua bolsa, ele poderia alcançar o outro sem qualquer dificuldade, mas seus movimentos foram interrompidos por um barulho alto que pôs fim no silêncio noturno. Pareciam turbinas. Rajadas de vento impetuosas atingiam as copas das árvores e as faziam balançar com violência. A luz da lua refletiu contra algo metálico que riscou o céu acima do bosque deixando um rastro sonoro ensurdecedor por estar voando baixo demais.

— Augustus! — Wendy chamou com urgência, levando as mãos aos ouvidos assim como os outros.

No instante em que a aeronave passou no espaço aéreo sobre a casa, algo despencou do céu, caindo na direção do edifício. O barulho do telhado sendo quebrado foi abafado pela explosão colossal. Mesmo daquela distância, eles sentiram o impacto. Augustus, que estava mais perto, teve seu corpo lançado contra uma das árvores. Os demais foram de encontro ao chão repleto de folhas.

Labaredas ergueram-se, lançando um clarão sobre a região ao incendiar toda a casa e os terrenos adjacentes. Pedaços de concreto, tijolos, madeira e vários materiais voaram para todos os lados com a explosão. Uma coluna grossa de fumaça já se erguia.

Eles observaram a casa em chamas sem saber o que fazer ou pensar.

— Alguém viu Meda e Hunter? A Beatrice? — Perguntou Troian com o desespero explicito em sua voz. Wendy negou com a cabeça. — Não, não... — A ruiva apertou as mãos contra o rosto para conter o choro convulsivo.

— Nós temos que avançar mais. — William já estava de pé. — Com essa luz, seremos facilmente notados. — Apontou com frieza. As duas garotas olharam ele assustadas com a indiferença.

— E o Augustus? — Wendy perguntou, tirando as folhas do cabelo, tentando lutar contra seu medo.

— Pegue minha mochila, eu o levo. — O homem caminhou até onde o mais jovem estava desacordado. Verificou rapidamente as condições dele e não percebeu machucados graves. Como se o rapaz não pesasse mais do que alguns poucos quilos, Will o ergueu sem dificuldades, colocando-o sobre as costas, voltando para perto das garotas e os três caminharam para o interior do bosque em silêncio, embora as perguntas fossem muitas e os pensamentos estivessem inquietos. A falta de protestos e acatar de ordens sem questionar revelando-se como reações ao choque causado pela situação.

Quando o último deles saiu e a porta fechou-se, Hunter entrelaçou os dedos aos de Meda. Agora que os outros estavam a salvo, ela permitiu-se esmorecer. Virou-se para Hunter e o abraçou, enterrando o rosto em seu peito, controlando as lágrimas ao apertar a mandíbula cerrada. De olhos fechados, ela inspirou com avidez, sentindo o cheiro dele anuviar sua mente e por alguns segundos afastar seus temores.

Hunter retribuiu aquele abraço, apertando seus braços ao redor dela de modo protetor e os dedos roçando entre seus cabelos.

— Você está pronto? — Meda perguntou ao afastar-se alguns centímetros para fita-lo.

Ele acenou positivamente com a cabeça e seu corpo tremulou como se o ar ao seu redor vibrasse. No instante seguinte, havia outro homem no cômodo com a mesma aparência física que o Hunter original.

— Vá, você sabe o que fazer. — Disse Hunter. O gesto repetiu-se e a cada novo minuto outro clone surgia até totalizarem cinco. Todos eles seguiram para um dos quartos da casa e o original permaneceu na cozinha na companhia da mulher. Eles trocaram carícias em silêncio, compreendiam-se melhor daquela forma do que com as palavras.

— Obrigada. — Ela disse. — Por estar aqui. Eu nunca te disse isso, mas quando eu era uma garota, eu tinha medo de acabar sozinha. — As palavras enroscavam-se no nó formado em sua garganta e ela esforçava-se para liberta-las. — Então, você apareceu e me amou, mas, mais importante que isso, você me ensinou a me amar primeiro. Obrigada por isso, por ficar ao meu lado, por lutar por mim. Eu vou te amar para sempre. Incondicionalmente, Hunter.

— Eu amo você, Meda, nessa e nas próximas vidas. — Ela, como sempre, havia vencido a resistência dele. Ele que tinha prometido ser forte, estava lágrimas nos olhos. Apertou os dedos ao redor dos braços da mulher, desejando poder salva-la daquilo. — Você se lembra o que eu te disse quando nós nos conhecemos? — Perguntou. — Que eu ficaria com você até o fim.

— Eu sempre acreditei.

Houve apenas um olhar de compreensão e um beijo de despedida. Ela aproveitou pela última vez o apertou dos braços daquele que amava, ele recordava o toque gentil dos lábios dela e no instante seguinte, houve um estrondo e tudo foi consumido pelo fogo. Apesar disso, nenhum deles sentiu medo, eles tinham um ao outro.


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Notas finais do capítulo

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