Monotonia

Por Deusa Nariko

IX

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Depois de alguns dias, a situação escapou do controle do ambos. Em público, eles ainda se comportavam de modo discreto, raramente se abraçavam ou mesmo davam as mãos.

Sasuke era um homem não muito afeiçoado a demonstrações públicas de afeto e Sakura sempre havia respeitado isso. Tê-lo ao seu lado era tudo o que queria. Mesmo porque quando estavam sozinhos, na privacidade do apartamento dele, a situação se invertia por completo.

Se à vista de olhares curiosos e mexeriqueiros, Sasuke era discreto e até mesmo um pouco distante, quando estavam a sós, todas as suas inibições caíam por terra e ele não se importava com trocas de carícias, afagos e até mesmo um ou outro beijo roubado.

A questão alarmante, na verdade, para Sakura é que... Bem, como ela poderia colocar em palavras? Era difícil manter as mãos (e os lábios) longe um do outro quando estavam no aconchego da solidão e da quietude. Por exemplo, agora, em que, de alguma forma, eles dois haviam acabado entrelaçados no sofá dele enquanto suas bocas ocupavam-se uma com a outra num ósculo sôfrego.

Não que ela estivesse reclamando, longe disso. Afinal, era maravilhoso estar ali, presa no abraço dele com seu calor inundando-a. Sakura sentia os dedos dos pés se curvando só com os contornos do corpo robusto de Sasuke encaixados nos seus. Suas mãos insistentes enganchavam na blusa dele, amassando o tecido.

Com a data do casamento marcada para dali a duas semanas, tudo o que queria era relaxar o máximo possível, caso contrário cederia às próprias inseguranças pilhadas que coabitavam seus pensamentos sempre à margem.

Sasuke estava mais ou menos auxiliando-a com isso agora, ou não... Se ela pensasse a respeito da forma íntima como estavam enlaçados agora, cedo ou tarde lembrar-se-ia da noite de núpcias que a aguardava e isso a deixaria tão ou mais insegura do que as bodas em si.

Sakura não era tão confiante com o seu corpo como outras garotas da sua idade. Quando mais jovem, ela sempre havia se destacado por ser magrinha e por seu busto não conter muito volume. Depois do treinamento com Tsunade-sama, ela passou a se sentir um pouco menos desconfortável com o próprio corpo e tinha noção de que, com os anos, havia adquirido um volume avantajado nos quadris, bumbum e coxas, embora quando se encarasse no espelho tornasse a suspirar pelos seios pequenos.

Ela voltou ao presente assim que sentiu Sasuke se afastar o suficiente para fitá-la; seus olhos a devoravam, ardiam de desejo como fogo negro e isso afastou suas inseguranças por ora.

— Você está distraída... pensativa — ele observou taciturno, mirando-a como se buscasse decifrá-la.

Ela desprendeu a mão da blusa dele para acariciar seu rosto e até mesmo tentou esboçar um sorriso tranquilo e alegar que não era nada, o que não convenceu Sasuke, obviamente. Sem lhe dizer uma só palavra, ele se endireitou, sentando-se na outra ponta do sofá com uma expressão ilegível. Talvez lhe parecera... magoado?

Sakura enrubesceu e mordeu a própria língua a fim de refrear o que estivera prestes a revelar. Morreria antes de admitir que estivera pensando na noite de núpcias de ambos. Aliás, esse era um detalhe que ainda a deixava um pouco preocupada. Ela estava no escuro quanto aos pormenores, já que Sasuke só garantiu a ela que, como a cerimônia de casamento seria realizada pela manhã, eles partiriam da vila logo em seguida.

Não ter ideia de onde dormiriam (ou não dormiriam) a deixava ainda mais ansiosa e insegura. Engolindo em seco, ela também se endireitou sem desgrudar os olhos da face dele.

— Sasuke-kun, há algo errado?

Ele suspirou em desalento.

— Essa pergunta deveria ser minha — murmurou enquanto Sakura se aproximava, mas desta vez só para abraçá-lo.

— Desculpa — ela sussurrou alquebrada contra o seu peito e só se sentiu um pouco mais aliviada quando o braço dele a envolveu também.

— Não precisa se desculpar por isso, Sakura. Também não há razão para se sentir insegura comigo.

À medida que o ouvia, ela se sentia ainda mais embaraçada; era inacreditável o quanto dela Sasuke conhecia. O modo como ele podia lê-la como um livro aberto, entender seus sentimentos apenas com um breve olhar. Era tão excelso quanto assombroso estar tão em sintonia com alguém.

— Prometo que tentarei não me sentir mais dessa forma — sussurrou com um sorriso genuíno dessa vez.

Desde que haviam começado a namorar, Sasuke nunca havia lhe dado razões para nutrir inseguranças. Talvez tudo aquilo não passasse de frutos da sua própria paranoia incoercível. De repente, e parecendo satisfeito com sua promessa, Sasuke a pegou de surpresa.

Voltou a deitá-la sob o seu corpo, mas ao invés de buscar seus lábios, como antevira, ele optou por afundar o rosto na curva suave do seu pescoço. Senti-lo respirar uniformemente e roçar tal boca impudica na sua pele era um prazer terrível na sua opinião.

Sem conseguir raciocinar, Sakura gemeu baixinho e recebeu uma mordida como retaliação. Insensata, voltou a enganchar os dedos na blusa dele estremecendo a cada toque dos lábios e da língua voraz. Sentindo-se mais confiante agora, envolveu o rosto dele e inclinou a cabeça até que pudesse alojar o rosto na curva do pescoço dele também.

Pressionou os lábios ali antes de subir a boca para alcançar a orelha e prender o lóbulo entre os dentes. O grunhido que obteve dele a fez se sentir deliciosamente audaciosa.

Então riu baixinho; descobriu que dois podiam jogar aquele jogo, afinal.