Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 6
06


Notas iniciais do capítulo

Sexta drabble.
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

VI

— Co-conhecer... meus pais?! — Sakura finalmente conseguiu desengasgar as palavras que estiveram entaladas na sua garganta numa balbúcie cética.

Sasuke solevantou uma sobrancelha escura para ela e depois de meio segundo já tinha a expressão franzida por completo. Certo, talvez ele tivesse ido rápido demais. De todo modo, Sakura estivera ciente de que suas permanências na vila estavam contadas desde o princípio. Ele tinha planos e de forma alguma os mudaria.

— Há algum problema? — questionou-a através de olhos beligerantes e nebulosos e de lábios ligeiramente encurvados para baixo num misto de frustração e dúvida assim que seus pensamentos envergaram numa direção inesperada: — Eles não querem me conhecer?

Sakura empalideceu por um momento, mas logo em seguida ela agitava as mãos esbaforida, gaguejando:

— N-não é nada disso, Sasuke-kun! Eu só... — mordiscou o lábio inferior num gesto que delatava seu constrangimento. — Eu não imaginei que quisesse conhecê-los.

Ao ver que ele tornou a franzir o sobrecenho, sem dúvida em réplica ao sentido ambivalente de suas palavras, forçou-se a corrigi-las, esclarecendo o pequeno mal entendido:

— Quero dizer, não imaginei que quisesse conhecê-los agora — sentiu-se insegura a respeito da ênfase dramática que incutiu na última palavra.

Sasuke moveu-se então; pareceu caminhar a esmo pela pequena sala de estar, circulando a mobília meticulosamente organizada: o sofá de estofado claro, a mesa de centro sobre a qual pousavam alguns livros, um pergaminho lacrado e um vaso com uma única peônia.

— Sakura, nós não temos muito tempo — ele a lembrou com um tom categórico que deixava pouca (ou quase nenhuma) margem para questionamentos.

Uchiha Sasuke era famoso por ser centrado em seus objetivos, quase ao ponto da obsessão, na realidade. Sakura engoliu em seco quando se lembrou dessa característica peculiar da personalidade do amado.

Tão logo postou-se ao seu lado, ela se sentiu estupidamente nervosa. O calor que emanava da pele dele era irresistível, tal qual o cheiro do sabonete que ele usara. Erva-doce, talvez? A fragrância suave era intoxicante.

Quando ele estendeu a única mão que possuía para pousá-la sob o seu queixo e levantar-lhe o olhar, ela enrubesceu bruscamente e teve de relutar contra o reflexo de desviar do abismo sedutor e ardente que eram os seus olhos negros.

— Sakura, eu não sou um especialista nisso — admitiu com certo ar encabulado que seria cômico se não o deixasse tão fofo, em sua concepção. — Passei a maior parte da minha vida fugindo de quase tudo... E acabei cometendo muitos erros devido a isso.

Ela abriu a boca para retrucá-lo, mas ele a silenciou primeiro, pousando o polegar áspero contra a superfície macia dos seus lábios cheios. Sentiu as faces queimando outra vez e seu coração dava a impressão de arrebentar-lhe o peito a qualquer instante. Honestamente, Sakura achou que precisava aprender a controlar suas reações com Sasuke.

— O que quer dizer, Sasuke-kun? — conseguiu indagá-lo, ainda que corasse fortemente com a ideia de sua boca movendo-se contra a ponta do polegar dele porquanto falasse.

Sasuke recuou a mão, mas não a tirou por completo do seu rosto. Moldou a palma em torno do contorno da sua face; os dedos longos emaranharam-se no seu cabelo, acariciando de leve o seu couro cabeludo e inconscientemente fazendo arrepios crescerem pelo seu corpo.

— Sakura, pensei que tivesse entendido a razão de eu ter voltado para a vila.

Ele suspirou e recuou a mão que estivera até então entremeada no seu cabelo. Tornou a vagar a esmo pelo cômodo, o que Sakura estranhou. Não estava habituada a vê-lo tão hesitante e inseguro. Apenas a ideia já destoava por inteiro da imagem que tinha dele em batalha: sempre calmo e confiante, um perfeito calculista.

— Sasuke-kun? — decidiu chamá-lo e ele estacou, imóvel; encarar suas costas fazia-a se sentir intimidada, de uma certa forma que não compreendia, mesmo que estivesse familiarizada à visão.

Voltou-se para ela e a intensidade nos seus olhos desarmou-a por completo. Era tão usual e novo ao mesmo tempo: olhá-lo nos olhos e perder-se do resto do mundo. Os olhos de Sasuke eram mais escuros do que a obsidiana e decididamente mais profundos do que o céu anoitecido.

Apesar da rara beleza, entretanto, do negrume das íris que por pouco não se fundia às pupilas ainda mais escuras, salvo por um aro cinzento que as envolvia e distinguia, por muitos e muitos anos, esses olhos assombraram-na tanto nos sonhos mais doces quanto nos pesadelos mais escabrosos.

E agora eram olhos detentores de uma serenidade sábia; eram olhos que viram e descobriram o mundo. Olhos que a fitavam de volta e roubavam até mesmo o seu fôlego, tal como as palavras que ouviu-o murmurar no fim, um pouco antes do órgão encarcerado no seu peito tornar a trovejar enlouquecido em resposta ao pedido inesperado:

— Sakura, case comigo.


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Notas finais do capítulo

Em um Talk Show com os seiyuus recentemente, pediram ao Non-tan que se declarasse à Sakura. Depois de não conseguir de primeira, finalmente ele disse: "Sakura, me desculpe por tudo o que eu fiz. Eu te amo".
...
Em outro Talk Show, outra pessoa pediu ao Non-tan que pedisse a mão da Sakura e ele, basicamente, reciclou a frase da declaração. Um ponto interessante é que ele escolheu "Aishiteru" para se declarar :v
...
Muito obrigada a todos pelos comentários! E não sejam tímidos, eu não mordo e nem sou malvada... Bom, só com leitores fantasmas, para ser honesta :v Se comentarem, eu posso voltar semana que vem!
...
Até o próximo!