Monotonia

Por Deusa Nariko

XLII

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Com pouco mais do que meio dia de caminhada, Sasuke e Sakura precisaram fazer uma pausa para que Sarada fosse alimentada. O sol não estava tão forte, mas as árvores frondosas ainda assim forneciam uma cobertura agradável e foi à sombra delas que Sakura estendeu uma manta e se sentou, escorada ao tronco, para amamentar a filha.

O vento farfalhava nos galhos e na grama alta da relva que as cerceava. O cheiro de folhas em putrefação e de terra úmida se misturava junto ao odor adocicado de algumas flores silvestres que desabrocharam aqui e ali.

Sakura envolveu a bebê mais protetoramente no próprio manto, protegendo-a da brisa mais leve enquanto a menina ainda estava agarrada ao seu seio. Ela a ninou, incentivando-a a sugar o leite, e viu Sasuke retornar para perto delas depois de haver determinado um perímetro seguro.

— Tudo certo? — ela perguntou ao erguer o rosto para recebê-lo com um sorriso.

Sasuke assentiu.

— Já enviei um falcão com uma mensagem para Kakashi, para adiantá-los sobre o nosso retorno.

— Ah, que ótimo! — aprovou com entusiasmo. — Estou tão ansiosa para reencontrá-los e para que todos a conheçam.

Sasuke se acomodou ao seu lado em silêncio enquanto Sarada ainda fazia suaves sons de sucção ao sugar o seio da mãe. Ele olhou para a filha até que ela terminasse de se alimentar, então pediu que Sakura a entregasse para ele, para que ela pudesse se alimentar e hidratar agora, pois eles haviam andado uma boa distância durante toda a manhã. Ela o fez com um sorriso, admirando o fato de que ele já havia pegado o jeito certo de segurá-la mesmo com a dificuldade de dispor de um único braço para isso.

Mais tarde, retomaram a caminhada em direção à Konoha. Como já haviam adentrado há tempos o território do país do Fogo, Sakura foi se sentindo mais e mais nostálgica a cada quilômetro percorrido e deixado para trás. Conhecia a vegetação alta e densa, típica do país, suas montanhas e picos no horizonte disforme.

Atravessaram rapidamente alguns vilarejos e cidades menores, bem como passaram por florestas e descampados silentes, até que os imensos portões da vila surgissem no horizonte. Sakura se sentia mais leve a cada passo dado, depois de quase um ano longe de Konoha, ela podia dizer que estava mais do que pronta para voltar.

Não conseguiu se impedir de abrir um sorriso quando distinguiu os contornos de duas silhuetas paradas junto aos portões. Mesmo distantes, não havia engano quanto a quem eram. Açodou os passos para alcançá-los mais depressa e Sasuke também o fez, acompanhando-a todo o tempo.

Kakashi e Naruto receberam a ambos com sorrisos calorosos, o do primeiro estava só um pouco menos explícito, oculto por sua máscara. Naruto acenou entusiasticamente para os dois quando restavam poucos metros de distância.

— Sasuke! Sakura-chan! Bem-vindos de volta!

— Naruto! Kakashi-sensei! — Sakura os saudou de volta, vencendo enfim a pouca distância que ainda os separava. — Estamos em casa.

Os quatro se entreolharam por um momento, o silêncio era aconchegante entre eles, e mesmo as palavras não ditas, acumuladas durante todos aqueles meses em que não se viram, eram capazes de expressar todo o saudosismo e o contentamento por se verem reunidos mais uma vez naqueles portões.

— Quase não acreditei quando o Kakashi-sensei me mostrou a mensagem do Sasuke-teme — Naruto murmurou, mas se viu estático diante da expressão de Kakashi, que encarava algo fixamente. — Eh, o que foi, Kakashi-sensei?

Sakura sorriu e em seguida desembrulhou um pouco a bebê que trazia nos braços, revelando a cabeça coberta por tufos de cabelo negro e a expressão plácida e adormecida. Naruto se inclinou para mais perto, esbugalhando os olhos azuis de tal forma que quase saltaram para fora.

— É um bebê?!

— É um bebê — Sasuke em parte confirmou, em parte resmungou para o melhor amigo, que imediatamente abriu um amplo sorriso.

Sakura chegou mais perto para que eles a olhassem.

— Naruto, Kakashi-sensei, essa é a Sarada. Ela é nossa.

Naruto estendeu um dedo enfaixado para tocar nos pequenos punhos cerrados da menina, que mal reagiu exceto por um estremecer das pálpebras delicadamente fechadas.

— Ei, ela é uma graça, Sakura-chan.

— Parabéns, Sasuke, Sakura — Kakashi soou mais solene e formal, mas igualmente emocionado.

Naruto por sua vez sorriu amplamente para ambos com um misto de cumplicidade e ternura.

— É muito bom ver vocês assim, Sasuke, Sakura-chan... — murmurou num tom embargado, obviamente emocionado.

Sakura suspirou longamente a seguir e sorriu de forma muito cansada.

— Por mais que eu adorasse conversar mais com vocês dois, tenho de admitir que estou exausta e só queria ir para a casa dos meus pais agora. Kakashi-sensei, Naruto, vocês se importariam se não nos estendêssemos aqui? — dirigiu um olhar ansioso para o antigo sensei, que enrugou o rosto em um sorriso sereno.

— Bem, não é como se eu tivesse algum motivo para segurá-los aqui. Podem ir tranquilos.

Iam se despedindo dos dois quando Naruto os interrompeu:

— Ah, quando puderem, venham me visitar! Hinata e eu temos uma novidade para contar para vocês também!

E por mais que Naruto a tivesse tentado a descobrir do que se tratava a tal novidade, concluiu que o descanso deveria vir primeiro. Havia caminhado quase o dia inteiro e ela havia dado a luz à Sarada não fazia muito tempo ainda. Assim, assentiu para Kakashi e Naruto, e guiou Sasuke na direção da casa dos seus pais. Eles deveriam ser os primeiros a conhecer Sarada depois do antigo sensei e do amigo, era justo.

Quando os receberam, Mebuki foi a primeira a deduzir a notícia maravilhosa que ela trazia embalada em mantas quentes e felpudas nos braços, e reagiu com um abraço desajeitado, porém afetuoso tanto nela quanto em Sasuke. Kizashi, por outro lado, precisou se sentar por um momento para absorver a novidade de que já era avô.

— Mas não cogitou voltar à vila assim que descobriu a gravidez? — Mebuki indagou com preocupação e com os olhos verdes pregados à neta, que continuava alheia a toda a comoção que causava, dormindo pacificamente. — Você se arriscou e arriscou a vida dessa criança, Sakura!

— Eu tinha tudo sob controle desde o início, Kaa-chan — respondeu em sua defesa, embalando a filha ternamente nos braços; estava mais confortável agora que havia se sentado numa poltrona, mas mesmo assim sentia que não tinha vigor suficiente para discutir com a mãe, não no momento. — E Sarada nasceu perfeita e muito saudável. Uma pessoa de minha confiança fez todos os exames e eu também fiz questão de conferir o resultado de todos eles.

Mebuki se rendeu com um suspiro, embora a expressão no seu rosto dissesse que aquela não era a última vez em que o assunto seria trazido à tona.

— Se você diz, Sakura...

— Ora, Mebuki, não aborreça nossa filha! — Kizashi protestou em favor de Sakura.

— Está tudo bem, tou-chan — Sakura garantiu. — Kaa-chan só está preocupada, acho que consigo entendê-la agora mais do que nunca.

Sasuke, que estava de pé ao seu lado, finalmente se manifestou.

— Nós agradecemos pela hospitalidade. Será por pouco tempo, só até nos acomodarmos na nossa casa.

— Não precisa nos agradecer, Sasuke, você é parte da família agora, como a nossa Sakura, e a Sarada agora também é — Mebuki o fitou com um sorriso. — São bem-vindos aqui pelo tempo que precisarem. Mas acho que o que os dois... Ou melhor, o que os três precisam agora é de sossego, não é? — disse ao espichar um olhar para o marido, que compreendeu um instante depois e se levantou do sofá com certo embaraço.

— Oh, claro, claro! Devem estar loucos por um pouco de descanso!

Sem mais uma palavra, Sakura e Sasuke subiram as escadas em direção ao quarto dela. Sabia que alguma mobília havia sido realocada para o cômodo, inclusive uma cama de casal e, por isso, agradecia os pais. Teria de providenciar um berço no dia seguinte sem sombra de dúvida.

Quando Sasuke abriu a porta, ela passou pela soleira e imediatamente depositou a filha sobre o colchão. Queria ter tempo para desfazer as bagagens e se organizar antes que Sarada acordasse outra vez para ser alimentada, mas também estava morrendo de vontade de tomar um banho para tirar a poeira da estrada tanto das roupas de viagem quanto do corpo.

Ao invés disso, sentou na cama e depois pareceu impossível resistir e não se deitar ao lado da filha, toda embrulhada ainda no seu casulo de mantas e profundamente adormecida. Fechou os olhos, que pesavam, só por um instante antes de ouvir a voz grave de Sasuke.

— Descanse. Eu cuido de todo o resto.

Também sentiu o toque dele na sua testa e, por isso, sorriu satisfeita. Ele se moveu de forma silenciosa pelo cômodo, de modo que quando acordou com os resmungos de Sarada e imediatamente tratou de lhe oferecer o seio, descobriu mais tarde através de Mebuki que ele tinha saído para resolver alguns assuntos mais urgentes e impossíveis de serem postergados.

Um pouco menos cansada do que antes, reuniu forças para dar banho na filha e ela mesma se rendeu aos encantos de um banho quente em seguida, enquanto Mebuki e Kizashi paparicavam a neta.

Refletiu em como as coisas haviam mudado em menos de um ano. Agora, era oficialmente esposa de Uchiha Sasuke e mãe de uma filha dele. Sorriu para si mesma e para ninguém ao mesmo tempo enquanto fechava o chuveiro, anotando mentalmente uma mudança aqui e outra ali no seu corpo devido ao pós-parto, e verdadeiramente se dava conta do peso daquela constatação.

Nada seria como antes outra vez, mas Sakura estava exultante por isso.