Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 40
40


Notas iniciais do capítulo

E chegamos à quadragésima drabble de Monotonia! Dedico-a à Mellanie Zachiro pela recomendação maravilhosa, espero que goste!

Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XL

Acima das nuvens, uma grossa camada cinza chumbo, a lua cheia se destacava imensa e brilhante no céu escuro; centenas de estrelas a acompanhavam, pequenos pontilhados costurados no véu noturno.

O ar frio e cortante os saudou quando a figura humanoide do Susano’o mergulhou noite adentro numa velocidade impossível de se acompanhar a olho nu: começava ali uma corrida contra o tempo.

Sakura se segurou em Sasuke, envolvendo seu pescoço com os braços e escondendo o rosto no seu peito a cada contração dolorosa. O único braço dele a ajudava a se manter de pé, apertado sob os seus seios. Ela se refreava para não questioná-lo sobre o destino daquela viagem feita às pressas, tinha dito que confiaria nele — e confiava. Se Sasuke achava que havia um lugar seguro para que a criança deles nascesse, então, ela não duvidaria.

Sasuke seguiu rumo ao oeste, sobrevoando florestas densas e descampados que se perdiam de vista. Os olhos estavam fixos no horizonte, no caminho que tinha de percorrer. Até que, finalmente, depois de uma hora de voo, ele se preparou para descer, pedindo-a que se segurasse mais forte nele.

Seus pés não tocaram o chão quando o Susano’o desapareceu, mas os dele sim.

— Como você está? — ele perguntou enquanto Sakura procurava se localizar, mas com a escuridão que se infiltrara naquela floresta estava sendo difícil; sentia o aroma de terra úmida e de folhas mortas na brisa gélida.

— Ainda com dores — respondeu num fio de voz.

O braço de Sasuke havia de alguma forma conseguido sustentá-la, levando-a por todo o caminho. Estava encolhida junto ao corpo dele, estremecendo pelas contrações e pegajosa de suor mesmo com o vento soprando contínuo nas árvores.

— Nós já chegamos? — ela perguntou sem querer soar desesperada, mas não sabia por quanto tempo mais conseguiria aguentar.

— Estamos quase lá — Sasuke respondeu de imediato, virando o rosto o suficiente para roçar os lábios no alto da cabeça dela, um gesto que buscou acalmá-la.

Minutos se passaram antes que ela fosse surpreendida pela sensação de algo líquido escorrendo pelas suas pernas e encharcando suas calças. Ficou lívida por um momento, tensa no abraço que a sustinha. Sasuke tombou o rosto para ela, alarmado.

— A minha bolsa acabou de se romper. Estamos mesmo chegando? — perguntou a ele, fechando um punho no tecido da blusa dele.

— Aguente firme. Nós chegamos — ele declarou e Sakura virou o rosto pálido e suado, apertando os olhos para enxergar os contornos de uma grande rocha contra a noite.

Mas não uma rocha qualquer, percebeu. Havia grandes e pesadas portas de pedra abaixo dela, ocultando uma entrada. Para o quê, ela não tinha certeza. Cerrou os dentes quando uma nova contração a assaltou, chiando sob a respiração que se tornava errática.

Sasuke se apressou pela entrada enquanto ela se continha para não perguntar a ele que lugar era aquele. Seu marido passou pelas portas com familiaridade inequivocada. Velas queimavam em arandelas, nas paredes de um túnel que se perdia de vista com a escuridão se amontoando ao longo dele. Eles o atravessaram até certo ponto, até que uma sombra os interceptou: vinha ao encontro deles, com a respiração também ofegante.

— Não pude acreditar quando senti os chakras se aproximando! — esbaforiu a voz que Sakura vagamente reconheceu. — Merda, Sasuke, o que está pensando?!

Sasuke se deteve de vez; as chamas das velas tremeluziam. Sakura conhecia aquele estilo de arquitetura, percorreu túneis intermináveis como aquele uma vez, tanto ela como Naruto, desesperados para encontrar Sasuke e salvá-lo da influência de... Orochimaru. No mesmo momento em que uma epifania a atingiu feito um raio, Sasuke murmurou um nome para a escuridão que se avolumava ao redor daquela figura oculta.

— Karin. Depois conversamos, pode me ajudar?

Sakura se encolheu devido à outra contração enquanto sentia um par de olhos curiosos esquadrinhando-a. Ouviu um resmungo, não mais do que um sussurro áspero antes que Karin viesse para a luz bruxuleante das velas, revelando-se para ambos. Exatamente como se lembrava dela: cabelos ruivos e revoltos, olhos ariscos escondidos por um par de óculos, rosto ilegível.

— O chakra dela e do bebê estão bastante agitados — murmurou. — Não há dúvida de que a criança nascerá em poucas horas.

— Pode nos ajudar? — Sasuke reiterou e se Sakura não o conhecesse tão bem jamais perceberia a urgência velada no seu tom.

Karin dispensou a Sakura mais um olhar profundo, impossivelmente legível. Então se virou para o túnel escuro, chamando-os com um balançar da mão.

— Venha comigo, Sasuke.

Sakura não soube precisar quanto tempo mais se passou até que Karin irrompesse numa sala adjacente, acendendo todas as luzes, com Sasuke no seu encalço e ela mesma se contorcendo de dor, ainda agarrada a ele e incapaz de formar um único pensamento coerente. A sala tinha um cheiro limpo e as luzes feriram seus olhos sensíveis.

— Coloque-a ali, Sasuke — ouviu Karin indicar e logo suas costas encontravam uma superfície dura, talvez um leito, não tinha certeza.

Sakura tentou controlar a própria respiração irregular, mas a dor a estava consumindo. Olhou ao redor, atordoada, identificando todo o tipo de equipamento espalhado pelo cômodo, tinha certeza de que nenhum deles serviria para o que ela precisava agora e quis rir da ironia da situação. Karin estava ao seu lado quase no mesmo instante, parecia lhe pedir permissão com os olhos.

— Vou tirar as suas roupas, tudo bem?

Sakura teria respondido que sim, se tivesse encontrado a própria voz para outro propósito que não fosse gritar. Seu corpo estava implorando para começar a fazer força, as contrações estavam mais fortes e bem mais regulares agora. Ela quase não conseguia mais distinguir quando uma terminava e outra começava.

Sentiu as mãos de Karin empurrando suas calças e calcinha para longe, seus sapatos já haviam sido tirados. Sasuke estava do seu outro lado, o semblante aflito. A constatação de que se sentia perdido e de que não havia nada que pudesse fazer para ajudá-la certamente lhe pesava o coração.

Por vezes, sentia os dedos dele na sua testa, afastando mechas grudentas de cabelo dos seus olhos. Finalmente, Karin se posicionou entre as suas pernas nuas e flexionadas, depois de estender um lençol sobre elas. E então começou, talvez uma das batalhas mais duras e longas que Sakura já enfrentou, a batalha para trazer ao mundo a criança que ela e Sasuke criaram.

Foram longas horas extenuantes enquanto a noite se tornava madrugada e a madrugada se tornava uma nova manhã, mas ali no subsolo o tempo parecia se arrastar. Sob as instruções precisas de Karin, Sakura fez força até que, enfim, foi recompensada com palavras encorajadoras da ninja sensora, que dizia já poder ter um vislumbre da cabeça. Isso foi o gatilho para que ela se tornasse mais determinada, tirando forças para continuar mesmo que não soubesse de onde, talvez da vontade esmagadora de segurar seu bebê, de olhá-lo pela primeira vez.

Horas depois de ter começado, tudo chegou ao fim quando Karin acolheu nos seus braços um bebê de rosto vermelho e encrespado, e cabelo sujo e negro. Seu choro fino preencheu o silêncio expectante que se seguiu, era o som inconfundível da vida.

Sakura esperou ansiosa enquanto ouvia ruídos e farfalhares, mas não conseguia ver nada do seu ângulo. Quando Karin se aproximou com seu bebê precariamente envolto numa manta, seu único instinto foi estender os braços e recebê-lo no calor do seu seio.

— Parabéns — ela disse com olhos marejados, fixos no rosto do bebê. — É uma menina.

No momento em que a pegou nos braços, Sakura não conseguiu mais segurar as lágrimas, olhando pela primeira vez para o rosto da filha, que foi aninhada no seu peito. Olhou-a e beijou cada um dos seus dedinhos enquanto Sasuke também a contemplava, curvando-se protetoramente sobre ambas.

Então se lembraram do nome que haviam escolhido, para o caso de ser uma menina. Ou melhor, o nome que Sasuke havia escolhido. E foi ele a dizê-lo, proferindo-o com tamanha reverência que Sakura não conseguiu evitar tornar a chorar.

— Sarada.

Por fim, ela estava entre eles, pequena e indefesa, mas absolutamente perfeita aos seus olhos.

Sakura olhou do rosto da filha, aninhada junto ao seu seio, para o rosto do marido. Havia uma luz nos olhos marejados de Sasuke, uma candura impossível de ser descrita com palavras, e que a contentou. Vendo-o olhar com tamanha adoração para o pequeno ser frágil no seu peito aqueceu ainda mais seu coração.

Apesar de estar exausta, aquele sentimento de completude estranhamente renovou algumas de suas forças. E com Karin assistindo-os de perto, serena, percebeu que não mudaria absolutamente nada a respeito da jornada deles.

Porque se tudo não tivesse acontecido como aconteceu, eles não seriam as mesmas pessoas que eram hoje, não teriam chegado aonde chegaram e certamente não seriam pais de uma menina linda chamada Sarada.

Mas o que os definiam agora, pensou, não eram os seus passados, mas a promessa de um futuro promissor que ela própria retinha nos braços, miúda, frágil e chorosa. O recomeço personificado, a chance de uma grande mudança, Sakura sabia — ela apenas sabia disso —, se chamava Sarada.

Uchiha Sarada fazia tudo, cada percalço já superado, valer a pena.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

E finalmente a nossa princesa chegou! Eu tenho um fraco por escrever cenas de parto com a Sakura. Me faz lembrar de que todo o sofrimento que eu passei com SasuSaku valeu a pena Hehehe

Digitei o cap. todinho hoje, portanto qualquer erro é só me avisar ;)
Já estou começando a me despedir de Monotonia! Obrigada a todos que chegaram até aqui comigo e até o próximo!



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