Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 4
04


Notas iniciais do capítulo

Quarta drabble.
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

IV

Então, ela e Sasuke estavam em um relacionamento. Apenas essa simples constatação era o suficiente para deixá-la vergonhosamente ansiosa e radiante de uma forma que todos ao seu redor eram capazes de notar.

Sakura estava ciente de que não seria perfeito, de que Sasuke ainda relutava com seu passado, de certo modo, e de que ele carregaria as suas cicatrizes emocionais por toda a vida. E embora o processo de cura estendesse-se ainda diante dele, estava irrevogavelmente animada.

Dois dias já haviam se passado desde o seu retorno e na aldeia não se falava em outro assunto; no hospital então, as enfermeiras e as Iryō-nins cujo treinamento ela supervisionava fuxicavam a respeito de Uchiha Sasuke e deixavam-na desconfortável.

Ele ter aparecido por lá, perto do ocaso, para buscá-la, é claro, contribuiu para que os mexericos invasivos crescessem em uma escala ascendente. Em geral, Sasuke apenas caminhava ao seu lado, em silêncio, levando-a até sua casa e despedindo-se no limiar da porta com seu costumeiro toque na testa e um “Até a próxima”.

Sakura fazia o possível para lhe dar o espaço necessário para que os dois se sentissem confortáveis o bastante e ele próprio tomasse a iniciativa. A relação de ambos ainda parecia tão surreal e frágil que a última coisa que desejava era apressá-la. Deixar que fluísse naturalmente, decidiu, era a melhor forma de lidar com aquele relacionamento — e com Sasuke.

Agora, por exemplo, ela tentava manter sua atenção no livro que lia — mesmo que seus olhos acompanhassem cada linha e seu cérebro não registrasse nem uma palavra sequer.

O sol estava se pondo no oeste, por trás das copas frondosas das faias vermelhas, e o vento sussurrava lânguido nas pétalas de sempre-vivas nos canteiros, disseminando seus odores suaves.

Sakura desconhecia a razão de haverem parado ali para sentar e apreciar o pôr-do-sol. Aquele lugar certamente não trazia boas recordações para nenhum deles, ainda assim continuavam sentados naquele velho banco de cimento, lado a lado.

Espiava-o com o canto dos olhos, escondendo-se atrás do livro que sustinha sempre quando ele estava a um passo de capturar seu olhar fugidio. Mas, a partir destes pequenos e encantadores vislumbres, achou-o tranquilo; as feições do rosto estavam suavizadas, perfiladas pela luz âmbar do poente.

O sorriso que Sakura abriu em seguida acabou nas páginas do seu livro. A mão esquerda, livre, descansava no banco e quase se retraiu ao primeiro toque de um dedo inseguro no seu dorso. A ponta gélida destoou da temperatura quente da sua pele, mas foi indescritivelmente agradável aguardar que ele mesmo se decidisse por buscar contato e calor humano.

Ela o entendia: sabia que era tímido, que relutava em estabelecer novos laços, que passou anos privado de qualquer tipo de afeto e que cresceu com as garras do ódio fincadas profundamente no seu peito.

Agora, no entanto, ele estava se curando e dando os primeiros sinais de estar finalmente pronto para se desapegar do passado e construir um novo futuro. Esta certeza atingiu-a no mesmo instante em que os dedos gelados de Sasuke, antes roçando de leve o dorso de sua mão, se fecharam em torno da sua palma num enlace firme.

Sakura ocultou outro sorriso radiante (e as bochechas coradas) nas páginas do seu livro e apertou a mão dele em resposta, assegurando-o de que estava ali por ele — sempre estaria ali por ele, não importassem as circunstâncias.

Apesar de aquela não ter sido a primeira vez que Sasuke segurou a sua mão espontaneamente, foi a primeira de muitas ocasiões que ele procurou por contato físico e, talvez, pelo conforto que apenas encontrava nela, pronto para aceitar seu amor, enfim.

Ele segurou sua mão até que o poente afogueado esmorecesse na escuridão suave da noite e não a soltou mesmo enquanto a levava para casa.

Sakura esperou que ele a tocasse na testa e murmurasse um “Até a próxima”, mas certamente ela não previu o toque — prolongado — de lábios na sua fronte (bem sobre o losango violeta), muito menos o olhar suave que ele lhe dedicou tão logo se afastou, desaparecendo na noite.

Desnorteada, ela escorou-se no limiar da porta; um suspiro preso nos lábios. Certamente, as coisas estavam mudando.


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Notas finais do capítulo

É uma delícia explorar essas primeiras experiências desses dois como um casal *-*
...
Não deixem de comentar! Isso me estimula pra caramba, o que me faz atualizar mais rápido. Não sejam fantasmas, ok? Leitores fantasmas destroem a autoestima de qualquer autor.
...
Até o próximo.