Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 39
39


Notas iniciais do capítulo

Trigésima nona drabble.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/632479/chapter/39

Monotonia

Por Deusa Nariko

XXXIX

 

Pela manhã do terceiro dia da viagem de volta para o país do Fogo, Sasuke e Sakura se encontraram na fronteira que divisava o país do Pântano com o país das Fontes Termais.

O clima úmido, porém abafado, enfadava o pouco bom humor de Sakura. Felizmente, o país das Fontes Termais era conhecido por seu clima mais ameno.

Eles estavam se dirigindo ao sul do continente num ritmo vagaroso, apropriado para o seu estado. Há três dias, despediram-se de Takashi depois de haverem agradecido pela hospitalidade e, se continuassem naquele ritmo, chegariam à Konoha até o final daquela semana.

Naquela manhã, entretanto, um evento inesperado deixou Sakura um pouco mais apreensiva: a perda do seu rolhão mucoso, o que sinalizava que o dia em que seguraria seu bebê pela primeira vez estava cada vez mais próximo.

Ela surgiu de detrás de um arbusto, um tanto pálida ainda pela constatação, detalhe que não escapou aos afiados olhos atentos de Sasuke:

— Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou com evidente consternação e Sakura balançou uma mão diante do rosto.

— Não é nada, Sasuke-kun. É só que acabei de perceber que o meu útero expulsou o rolhão mucoso.

Sasuke levantou uma sobrancelha inquisitiva como se ela houvesse acabado de falar em um idioma de outro mundo. Sakura riu de leve e se explicou, tratando também de aliviá-lo de possíveis preocupações:

— Não se preocupe, quer dizer que a data do parto está próxima; não é motivo para alarde. Isso só significa que eu preciso estar mais atenta a partir de agora.

— Certo — ele concordou, mas ela percebeu que não parecia completamente convencido.

— De qualquer forma — suspirou —, estaremos de volta à Konoha nos próximos dias.

Isso pareceu amainá-lo. Pelo menos, eles puderam seguir viagem em direção à fronteira que divisava três países: Fogo, Som e Fontes Termais. A floresta densa ao sul do país das Fontes Termais estava vivaz e ruidosa com os cantos das aves e o sussurrar gentil do vento nas copas das árvores. O sol tênue da manhã era filtrado pelo dossel verde intrincado da vegetação.

Sasuke ia um pouco mais à frente, mantendo um ritmo brando em suas passadas curtas, já Sakura vinha um pouco mais atrás. Porém, ela se forçou a parar quando sentiu sua barriga enrijecer repentinamente. Engolindo a seco, respirou fundo e esperou, pronta para chamar pelo marido, porém a sensação de rigidez se foi tão rápido quanto veio.

Alisou o ventre, distraída. Sabia que isso aconteceria: as sensações de rigidez poderiam vir acompanhadas de contrações irregulares e indolores a partir de agora, era o seu corpo se preparando para o parto, nada demais. Com um sorriso, apressou-se para voltar a acompanhar Sasuke.

No início da tarde, eles pararam num pequeno descampado para comer. Sakura se sentou ao redor das chamas de uma fogueira tênue enquanto Sasuke, não muito longe dali — pois ele nunca se afastava demais — procurava por algo para comerem, possivelmente num riacho ali por perto, ela quase conseguia ouvir o ruído das águas nos calhaus.

Quando ele retornou para a campina, porém, trazia muito mais do que alguns peixes na mão, mas também uma expressão enigmática no rosto. Enquanto comiam, depois de terem esperado que o peixe assasse, Sakura não conseguiu mais conter a curiosidade ou a preocupação.

— Aconteceu alguma coisa?

Sasuke a olhou por um momento antes de responder com calma.

— A caminho do riacho me deparei com as ruínas de uma construção antiga.

— E o que tem? — ela perguntou com inocência.

Mais um momento se passou antes que ele a respondesse, porém, não havia perturbação nos seus olhos ou na sua voz.

— Reconheci o símbolo do meu clã numa das paredes; deve ter sido usada como base há muito tempo.

Sakura abriu a boca, mas percebeu que não conseguia dizer nada. Voltou a comer e depois de alguns minutos conseguiu vocalizar o que queria perguntar a ele.

— Você foi verificá-la?

— Não. — A resposta de Sasuke foi tanto imediata quanto ansiosa, notou.

— Quer dar uma olhada? — sugeriu com um sorriso e ele anuiu, voltando a comer sem mais colocações a serem feitas.

Mais tarde, ele a guiou cuidadosamente através de um terreno irregular e Sakura observou que Sasuke havia sido até um pouco modesto: chamar o que restava daquelas construções de ruínas poderia ser considerado um eufemismo. Havia poucas paredes ainda de pé e nenhuma delas estava inteira, inteiramente feitas de pedra e decoradas com o brasão que marcava o clã Uchiha.

— Puxa, ela deve ter sido construída há muito tempo mesmo — Sakura murmurou enquanto segurava a mão de Sasuke para avançar junto dele; precisava calcular cada passo no piso assimétrico, com pedras sobressalentes e pontiagudas.

— Pode ter sido uma das primeiras bases usadas pelo meu clã — ele inteirou, olhando em derredor, para as frestas no que restara do teto por onde o sol se infiltrava, encimando o grande leque vermelho e branco desenhado em uma das paredes.

Sasuke se soltou da sua mão para se aproximar do grande brasão que emoldurava a parede fria de pedra. Sakura podia sentir a ansiedade crescente dele, no modo hesitante como estendeu a mão para tocar o símbolo gravado na pedra.

Espelhando-o, ela tocou a barriga, sentindo seu peso como não o sentira até então. Aquela criança seria o primeiro Uchiha a nascer desde o massacre do clã, há anos. O mundo não seria o mesmo depois que ela nascesse, disso ela tinha certeza. O peso do nome Uchiha estaria atrelado ao destino daquela criança por toda a sua vida e Sakura não tinha dúvida de que isso implicava grandes feitos.

Naquele instante, ela jurou estar sempre ao seu lado para guiá-la. Muito havia sido feito para manchar o nome dos Uchihas e talvez apenas aquela criança fosse capaz de limpá-lo e restaurá-lo.

Ela gemeu baixinho de repente quando sentiu a rigidez novamente, desta vez acompanhada de uma contração um pouco mais intensa do que as anteriores; esta não havia sido indolor, Sakura notou. Respirou fundo e se preparou nos próximos minutos para senti-la novamente, mas os músculos do seu ventre relaxaram outra vez.

— Sasuke-kun?

Ele se virou para encará-la, ansioso, mas Sakura abriu um sorriso doce.

— Podemos passar a noite aqui hoje? Acho que estou um pouco cansada.

Talvez tivesse tido a sua cota de emoções por um dia. Talvez uma boa noite de sono apaziguasse seus nervos. Quando ele concordou, Sakura se sentiu mais aliviada. E, pelo resto da tarde, suas contrações voltaram a ser espaçadas por intervalos bastante irregulares além de indolores. Falsas contrações, ela repetia para si mesma, sabia que seriam frequentes, estava ciente disso.

Não preocuparia Sasuke à toa, sabia o quanto ele andava ansioso e com os nervos tão ou mais esfrangalhados do que os dela. Sabia que ele queria estar em Konoha o mais depressa possível para que ela e o bebê estivessem mais seguros e confortáveis.

Com o pôr do sol tingindo o horizonte com cores vibrantes, Sasuke acendeu uma nova fogueira e eles se acomodaram na parede maior e mais resistente, usando-a como quebra vento para a brisa noturna contínua.

Sakura deitou sobre algumas mantas na única posição em que conseguia dormir: sobre o lado esquerdo do corpo. E procurou tentar adormecer. Porém, na terceira vez em que sentiu o enrijecimento da barriga ela desistiu de tentar pegar no sono. Estava ciente da presença de Sasuke, às suas costas, sentado perto da fogueira e vigilante.

Procurou acalmar sua respiração e batimentos cardíacos, relaxando cada músculo do seu corpo. Até que uma contração intensa a pegou de surpresa e a levou a se encolher. Contou aproximadamente trinta minutos até a próxima, mas lhe preocupou que elas estivessem ficando mais dolorosas.

A porção racional da sua mente brigava com os seus instintos de mãe. Talvez seu corpo não estivesse se preparando para um parto dali a dias, mas talvez se tratasse de uma questão de horas. Alarmada ela se sentou, atraindo imediatamente a atenção de Sasuke.

Pousou ambas as mãos na barriga, fechou os olhos e esperou; a próxima contração quase a fez perder o fôlego.

— Algum problema?

Suor frio porejou a base do seu pescoço e têmporas. Abriu os olhos e viu o rosto de Sasuke mais próximo do que esperava. Ele pairava sobre ela já de cenho franzido e testa enrugada.

— Estou tendo algumas contrações e o intervalo entre elas está diminuindo.

— Isso quer dizer... — Sasuke meio vociferou, meio ofegou já antecipando o que viria a seguir.

— Pode se tratar de um alarme falso — murmurou, mas ele percebeu que nem mesmo ela estava convencida disso.

Sasuke se levantou, já recolhendo os pertences de ambos, volteando as chamas da fogueira com passadas que exalavam ansiedade e nervosismo.

— Estamos a meio dia de viagem da próxima cidade no país do Fogo, se partirmos agora, talvez...

A frase de Sasuke foi interrompida de forma brusca por um arquejo violento de Sakura, que se encolheu protetoramente sobre o ventre.

— Essa foi mais intensa do que as outras, ugh! — ela vociferou para si mesma entre dentes, resfolegando. — Talvez eu esteja mesmo entrando em trabalho de parto, shannaro! O bebê vai nascer antes do tempo...

Depois de recuperar o fôlego, acrescentou baixinho num tom sufocado.

— Não acho que eu possa aguentar meio dia de viagem. Deve haver outro lugar para o qual possamos ir.

Sasuke se acalmou por um momento, ela percebeu. Seus olhos entrecerrados se voltaram para o oeste, mirando um ponto que ela não conseguia ver, além do véu da noite e das sombras da floresta.

— Há um lugar para o qual podemos ir — ele disse a ela, seu corpo estava tenso como a corda de um arco retesado. — Mas você precisa confiar em mim, Sakura.

— Eu confio — ela assentiu em um fio de voz enquanto outra contração dolorosa estremecia-a por inteiro. — Confio a minha vida a você.

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, enfim o parto! :D

E mais uma vez esclarecendo: gente, Sakura e Karin NUNCA viajaram juntas, isso foi erro de tradução de uns sites cujos nomes eu prefiro nem mencionar. Sasuke e Sakura viajaram juntos e sozinhos desde o começo até o final. A tradução oficial da VIZ confirma isso e da Panini também. Quem puder comprar o Gaiden, compre! Vocês vão perceber a diferença de uma boa tradução com a tradução que esses sites fazem por aí (cof cof).

Temos no máximo mais 4 ou 5 capítulos pela frente. :)
Obrigada a todos que continuam comentando e nos vemos no próximo!