Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 38
38


Notas iniciais do capítulo

Trigésima oitava drabble.
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XXXVIII

Parecia que os dias se passavam mais lentamente naquele lugarejo, escondido no meio do nada. Mas a tranquilidade e a monotonia presentes ali eram mais do que benquistas para Sakura. O ar frio das montanhas e o estilo de vida simples dos moradores pintavam um cenário quase irreal para ela, que estava mais habituada ao tumulto das grandes vilas e cidades.

Sasuke seguia imerso em suas investigações, o templo budista, no topo da montanha em cujo sopé o vilarejo se estendia, ocultava pergaminhos antiguíssimos que, segundo ele, continham pistas importantes para a sua busca por respostas.

Mas os dias logo se tornaram semanas e sua gestação avançava junto de forma tranquila. Até que, numa manhã, ela se deu conta de que estava prestes a completar o segundo trimestre da gravidez e tal perspectiva a deixava cada vez mais ansiosa. As mudanças no seu corpo ocorriam de forma muito mais notável agora, como o ganho de peso acelerado e inchaços ocasionais causados pela retenção de líquidos.

Sakura sabia que nesse ponto, o bebê, já completamente formado, quadriplicaria seu peso em questão de semanas. Felizmente, com a alimentação balanceada que ela mantinha desde a descoberta da gravidez não ganharia peso além do ideal.

Naquela manhã, na metade da terceira semana desde que chegaram ali, Sakura por pouco não trombou com seu anfitrião, Takashi, que passava pelo corredor com um cesto de roupas limpas. Ela havia ficado surpresa em descobrir que ele era viúvo já havia alguns anos e não possuía filhos.

— Bom dia, Takashi-san — ela o cumprimentou com um sorriso para o qual o homem anuiu.

— Bom dia. Sasuke já saiu?

— Sim, ele foi até outro vilarejo nas redondezas, mas deve retornar antes do entardecer — explicou sucinta, pousando uma mão na barriga inchada por hábito.

Takashi abaixou o olhar até seu ventre, entrecerrando-o.

— Não é perigoso para uma mulher no seu estado viajar ao lado dele?

Sakura sorriu para as palavras do homem. O leve tom de censura não sugeria rispidez, mas preocupação. Talvez ele se preocupasse mais com Sasuke (e com ela e o bebê consequentemente) do que se permitia demonstrar — e, por isso, estava grata.

— Está tudo bem. Sou uma Iryō-nin treinada pela Tsunade-sama. Além disso, minha gestação até o momento tem sido bastante tranquila. Eu prometi ao Sasuke-kun que se sentisse que devêssemos retornar diria a ele imediatamente.

Takashi ergueu as sobrancelhas e se limitou a assentir outra vez, escusando-se ao contorná-la para continuar com os seus afazeres e deixá-la para trás.

A manhã passou rápida e, como prometido, Sasuke retornou ao seu findar. Depois disso, para Sakura, o cair da noite chegou num piscar de olhos.

De volta ao quarto de hóspedes que ocupavam, depois de haver jantado, ela inspecionava sua bolsa atrás de alguns itens quando decidiu parar para alongar suas costas doloridas. Não queria admitir, mas aqueles incômodos causados pelo ganho de peso estavam se tornando mais persistentes. Sasuke a surpreendeu nesse momento, entrando sem cerimônias no cômodo.

— Está tudo bem? — ele questionou ao fechar a porta para terem mais privacidade; os olhos escuros sondavam seu semblante atrás de sinais aparentes de qualquer tipo de desconforto ou dor.

Sakura suspirou quando percebeu que não teria como enganá-lo — e que nem deveria. Ela vinha sentindo a ansiedade crescente de Sasuke (que acompanhava a sua) conforme sua gestação avançava. O fato de que ele era mais discreto com suas emoções e preocupações não as anulavam.

— Não é nada grave, Sasuke-kun. São apenas as minhas costas que estão me incomodando ultimamente.

Ela observou o marido assentir e depois ruborizar de leve, tropeçando um pouco nas palavras ao perguntá-la em seguida:

— Há algo... que eu possa fazer para amenizar?

Sakura conteve o reflexo de rir da timidez de Sasuke. Ao invés disso, sorriu para ele — sabia que ele precisava que ela o assegurasse de todas as formas possíveis que estava bem.

— Está tudo bem. Não é nada demais. Na verdade é perfeitamente comum para esse período da gravidez.

Ela tornou a colocar tudo o que havia retirado de dentro de sua bolsa de volta e se preparou para dormir no futon disposto ao lado do marido. Estava a ponto de adormecer quando ouviu o farfalhar de tecido junto do som dos passos de Sasuke nas esteiras. Perguntou-se o que ele estava fazendo ao se mover pelo quarto tão tarde da noite quando sentiu um toque no seu ombro, despertando-a de seu estado de semiconsciência.

Sakura abriu os olhos para encontrar a silhueta do marido na semiescuridão. Com seu toque, ele gentilmente a instigou a se mover conforme queria, maleando seu corpo com cuidado. Ela separou as pernas quando ele colocou um travesseiro entre elas, erguendo-as para facilitar a tarefa que ele parecia determinado a cumprir, e mais um foi colocado como apoio para as suas costas. Incrível como Sasuke havia decorado a posição dos travesseiros que ela usara nos últimos dias.

Quando ele finalmente voltou a se deitar, as costas voltadas para ela, Sakura abafou o riso no travesseiro e se moveu para abraçá-lo, apertando-se contra o corpo dele, ou o máximo que conseguia com sua barriga entre eles.

— Obrigada — sussurrou na pele sensível do pescoço dele e Sasuke relaxou contra ela.

Sob as pontas dos dedos, podia sentir claramente as batidas fortes do seu coração. Não havia nada mais reconfortante para ela do que isso. Fechou os olhos, pronta para tentar dormir mais uma vez, quando a voz de Sasuke soou no silêncio aconchegante do quarto.

— Eu tomei uma decisão.

 — Qual? — perguntou com visível curiosidade e talvez um pouco de apreensão.

— Decidi que não deixaremos o país do Trovão até que você esteja próxima de dar a luz. Vou dar um jeito de continuar a minha busca, mas não quero mais arriscar você ou o bebê. Portanto, só partiremos daqui quando você sentir que está pronta. Daqui, iremos direto para Konoha.

— Tudo bem — ela concordou sem hesitação; na verdade, agora que estava com seis meses de gestação seria mais difícil exigir do seu corpo que acompanhasse o marido na peregrinação de país em país.

Sakura voltou a relaxar, visivelmente satisfeita. Puxou Sasuke para mais perto, instigando-o para se voltasse para ela. Quando conseguiu, pressionou a boca na dele uma vez e outra, tocando seu rosto e cabelo.

Quando se afastou, tinha os olhos brilhantes e os lábios úmidos. Quanto a ele, tinha o semblante sereno, pacífico. Acariciou a face dele uma última vez antes de voltar a abraçá-lo.

— Acha que está pronto para ser pai? — perguntou a ele entre sussurros. — Ainda parece tão irreal às vezes... A ideia de ser mãe. — Sakura suspirou. — Quanto mais próximo se torna o dia do parto, mais ansiosa eu me torno.

Sasuke ergueu uma sobrancelha, descrente. Nunca teve dúvidas de que Sakura seria uma mãe maravilhosa. Ela era tão carinhosa, espontânea e calorosa. Tinha certeza de que ela amaria aquela criança mais do que tudo e de que também faria tudo por ela. Assim como ele.

— Não acho que seja uma questão de estar pronto ou não — disse, ansiando poder silenciar o que a angustiava, mas sem exatamente saber que palavras usar. — Ficaremos bem se fizermos isso juntos, não se preocupe.

Sakura assentiu. Apreciava as palavras dele, sua tentativa de amenizar o que a afligia. Estava ciente de que talvez ele alimentasse as mesmas dúvidas e inseguranças, mas uma vez que se amassem e permanecessem apoiando um ao outro não tinha dúvidas de que seriam capazes de fazer qualquer coisa. Eram Sasuke e Sakura, afinal, e a história de ambos já havia percorrido tamanhos percalços que nada mais poderia abalá-los.

Assim, deixou-se levar pelo sono mais rápido do que havia imaginado. Dormiu embalada no calor do corpo do único homem que amou e que amaria por toda a vida.

O tempo passou rápido sob a sua perspectiva depois daquela noite. Um mês se tornou dois e, finalmente, ela estava a meras semanas de conhecer seu bebê. Mais uma vez, a expectativa e a ansiedade pelo dia do parto a estavam devorando viva.

Então, numa manhã, depois de ter completado oito meses e algumas semanas de gestação, ela finalmente disse a Sasuke:

— Acho que está na hora de partirmos, Sasuke-kun.

Em resposta ele assentiu sem preâmbulos, sério.

— Então vamos voltar. Para Konoha.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Estamos bem pertinho do final de Monotonia agora. Próximo capítulo, o parto começa.

Ah, e só para esclarecer: eu estou seguindo fielmente os eventos do Canon. Se me propus a fazer isso, então serei fiel mesmo que desgoste ou discorde de alguma coisa como a ausência do Sasuke por anos, por exemplo. Eu engulo? Não, não engulo até hoje essa missão. Mas Kishimoto fez assim e não tem sentido eu contrariá-lo se estou escrevendo uma Fanfic que se propõem a seguir os eventos do mangá.

De qualquer modo, nos vemos no próximo. Até ;)