Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 37
37


Notas iniciais do capítulo

Trigésima sétima drabble que eu dedico à Gih Farreli pela recomendação maravilhosa. Espero que goste!

Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XXXVII

Eles chegaram a Kannan, uma cidade grande localizada a sudeste do território do País do Trovão, ao entardecer. Porém, ao contrário do que Sakura esperava, seguiram rumo ao norte até um lugarejo aparentemente isolado: uma aldeiazinha pacata no meio do nada, escondida entre florestas densas e montanhas de picos brumosos.

Como Sasuke decretou, eles viajaram pelo ar dessa vez. Sakura se certificou de se agasalhar bem já que tão ao norte do continente as temperaturas tendiam a se tornar mais e mais amenas. Passaram por desfiladeiros rochosos e sobrevoaram florestas imensas e se ele se sentiu cansado em algum ponto por sustentar um jutsu como o Susano’o por tanto tempo tratou de esconder os sintomas de exaustão muito bem.

Felizmente, tão logo seu marido apontou a vila situada no meio do nada, eles pousaram em meio à floresta que a circundava. Ele a apoiou quando desceram em direção ao solo úmido, mas sua expressão nada lhe disse.

— Como está se sentindo? — ela perguntou com uma nota de preocupação na voz, impossível de ser reprimida.

Sasuke a olhou por um momento, como se ponderasse as palavras que usaria. Por fim, deu de ombros.

— Estou bem. Não se preocupe comigo. Mais importante: como você está se sentindo?

— Estou ótima — afirmou com um sorriso ao pousar uma mão no ventre inchado, sob o manto. Depois, corrigiu-se: — Ou melhor, estamos ótimos.

Ao vê-lo assentir, eles finalmente seguiram em direção ao vilarejo, que na verdade não passava de um amontoado de casinhas às margens de um riacho calmo. Mais à frente, uma floresta gigante de bambus demarcava as escadarias de pedra que certamente conduziriam a um santuário, escondido no topo de uma grande montanha.

Sakura se perguntava que tipo de informações relevantes o bastante para a sua pesquisa Sasuke poderia haver encontrado ali. Mas, afinal, ele havia viajado todo o mundo em menos de três anos, era natural que houvesse estado em cada canto fosse ele conhecido ou desconhecido.

Com passadas rápidas os dois cruzaram a distância curta que os separavam das casinhas e de seus moradores. Com a proximidade do cair da noite, o gorjeio dos pássaros havia começado a minguar.

Mas, logo, ambos alcançaram o vilarejo. Sakura seguiu Sasuke de perto quando ele se encaminhou para uma casa específica. Era construída toda de madeira, como as demais, com um alpendre espaçoso. Da porta da frente, surgiu um homem de meia idade que franziu as sobrancelhas em reconhecimento assim que pousou seus olhos sobre Sasuke. Este seguiu sem receios até o homem, parando para cumprimentá-lo com um pequeno aceno de cabeça e com palavras curtas.

— Takashi, já faz algum tempo.

— Sasuke. — O homem devolveu o cumprimento com um aceno da cabeça também. — De fato, já tem algum tempo que não nos vemos.

Sakura olhou com um pouco de desconcerto para o homem. Ele não parecia exatamente hostil, mas emanava uma aura taciturna. Vestia um quimono azul escuro e os cabelos grisalhos estavam cortados bem curtos. Os olhos escuros e estreitos finalmente recaíram sobre ela, parada ao lado do marido, que imediatamente tratou de apresentá-la.

— Essa é Sakura. Minha esposa.

— É um prazer conhecê-lo — conseguiu balbuciar com um pouco de timidez, tinha certeza de que suas bochechas estavam coradas.

O homem chamado Takashi assentiu, aceitando suas palavras. Depois desse breve momento constrangedor, ela se sentiu mais aliviada e os dois foram convidados a entrar na sua casa. Então, ela ficou sabendo a respeito da última vez em que Sasuke estivera ali. Aparentemente, seu esposo chegara até esse pequeno vilarejo seguindo toda e qualquer pista que pudesse levá-lo à verdade a respeito da lenda de Kaguya e do clã Ōtsutsuki.

Takashi fora gentil o bastante na época para oferecer a ele hospedagem em sua casa e, pelo visto, o faria mais uma vez, dessa vez estendendo a gentileza à Sakura também. Horas mais tarde, os três partilharam um jantar delicioso enquanto conversavam assuntos aleatórios.

Era tarde da noite quando os dois se retiraram para o quarto que Takashi os havia designado.

Sakura suspirou de alívio ao ver os futons arrumados no chão, dispostos um ao lado do outro; Takashi havia se encarregado de acomodá-los apropriadamente. O quarto era pequeno, mas aconchegante. Havia uma porta de correr na outra extremidade do cômodo e um armário com poucos pertences encostado a uma parede.

Em poucos minutos, eles haviam trocado suas roupas de viagem por vestimentas mais confortáveis e quentes, e Sakura se acomodou satisfeita num dos futons. O sono veio fácil, abarcando-a, mas algum tempo depois ela despertou desorientada, seus sentidos de Shinobi sempre aguçados avisando-a de que Sasuke não se encontrava mais ao seu lado.

Tateando na semiescuridão e piscando a fim de habituar seus olhos à tênue claridade que varava o quarto, ela teve um vislumbre da silhueta de Sasuke, delineada pela luz da lua cheia, sentada próximo ao alpendre. Ele não olhava para ela.

— Não consegue dormir? — ela perguntou ao se sentar no futon, atraindo a atenção dele para si.

— Acordei você? — ele soou um pouco receoso, receio este que Sakura tratou de expurgar com um sorriso.

— Ando com o sono leve, só isso — assegurou e se levantou para se aproximar da figura do marido, achara-o inquieto à primeira vista, mas agora percebia a verdade: Sasuke estava melancólico. — Mas e quanto a você? O que está te roubando o sono?

Sasuke desviou o olhar para voltar a fitar a lua oblonga que baixava sobre aquele vilarejo. Não ventava naquela noite e as temperaturas permaneciam amenas, bem frescas. À distância, distinguia-se o canto das cigarras, fora isso tudo permanecia envolto num silêncio que poderia se mostrar tanto acolhedor quanto inquietante.

Sakura achou que ele não fosse respondê-la, mas, então, os olhos dele voltaram a procurá-la, deslizando do seu rosto até o seu ventre tanto com ternura quanto com visíveis traços de aflição.

— Só... fico pensando em uma coisa, às vezes — admitiu relutantemente, não por constrangimento, mas por receio de proferir tais palavras.

— Fica pensando no quê? — Sakura pressionou, mas com gentileza, acercando-se dele ainda mais ao ponto de poder sentir o calor que emanava do seu corpo, o cheiro na sua pele.

Depois de quase um minuto em silêncio, Sasuke continuou.

— No mundo para o qual traremos essa criança.

Ela entreabriu os lábios, mas nenhum som proveio deles. Então, Sasuke suspirou e continuou a dar vazão aos medos que o afligiam naquela noite tão silenciosa.

— Às vezes, eu tenho receio de descobrir que estou certo.

— Certo sobre o quê, Sasuke-kun? — ela perguntou, entendendo uma mão para afagar o cabelo escuro dele, afastando-o dos olhos melancólicos.

Sasuke inspirou fundo antes de respondê-la.

— Sobre o que estou procurando.

Ele não se abria muito a respeito do que vinha investigando nos últimos anos. Tudo o que contara havia sido que era sobre Kaguya e o clã ao qual ela pertencia. Mas Kaguya estava selada há anos, em outra dimensão. Naruto tinha se encarregado até mesmo de selar o Zetzu negro com ela, para que ninguém nunca mais tentasse libertá-la.

Sasuke de repente estendeu a mão para tocar a própria têmpora esquerda; no seu olho esquerdo, o Rinnegan permanecia, um poder confiado a ele por ninguém menos do que o Rikudō Sennin.

— Eu venho aperfeiçoando o meu Rinnegan desde que deixei a vila também, para abrir as dimensões da Kaguya. Para o momento em que precise usá-lo.

Sakura sentiu um calafrio na base da espinha, mesmo assim tentou não demonstrar o quanto aquelas palavras haviam a perturbado. Assentiu, ainda que custasse a digerir o significado imputado àquelas palavras — a perspectiva duvidosa que elas representavam.

Ela sabia que Sasuke não havia demonstrado sinais de hesitação com sua investigação até o momento, mas se perguntava se a sua gravidez inesperada houvesse, talvez, abalado, mesmo que por um curto momento, as convicções do marido e o que ele acreditava ser sua — e apenas sua — incumbência. Não havia considerado aquela hipótese até então.

Fez o que pôde para consolá-lo — e para consolar-se — no momento então, enlaçando-o pelo pescoço e trazendo-o para o conforto dos seus braços. Relaxou quando o sentiu relaxado e continuou a afagar seu cabelo com ternura. Se era tudo o que podia fazer para aplacar os receios e angústias de ambos faria de bom grado.

— Eu vou apoiá-lo em qualquer decisão que você tomar, você sabe disso — assegurou a ele e não estava mentindo; sentia que era seu dever como esposa tornar-se o alicerce de Sasuke, sua determinação o manteria quando a dele vacilasse.

Estremeceu de leve, surpresa, ao sentir a mão dele pousar sobre a curva do seu estômago. A princípio, o toque foi tímido e incerto, mas permaneceu ali, transmitindo seu calor e seu amor.

Talvez houvesse se equivocado, afinal. Sua gravidez não havia abalado as convicções de Sasuke, talvez ela as houvesse fortalecido, solidificado. O mundo para o qual eles trariam aquela pequena e inocente criança... Um mundo cuja paz se alicerçava em algo frágil e que poderia tornar a entrar em conflito pela ambição do primeiro homem que ousasse alimentá-la.

Mas Sasuke e Sakura haviam sido Shinobis muito antes de se tornarem pais e certamente encontrariam uma forma de preservar a paz para a criança que trariam juntos ao mundo. Mesmo que tivessem de lutar novamente para isso.

Porém, enquanto o futuro que ele previu não se concretizasse, tinham tempo para se preparar e para aproveitar ao máximo os dias calorosos que viriam. Todos os três.

 

 


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Notas finais do capítulo

Mil desculpas pela demora imeeeeensa, mas tive (mais) uma crise e precisei me afastar um pouquinho de tudo o que estivesse relacionado a Naruto. Agora que essa crise aparentemente passou, vou voltando aos pouquinhos, ok?
...
Muito obrigada a todos que comentaram e feliz aniversário para a nossa Rainha adorada! *-*
Ahh e viram a capa nova? Agora que a Sakura está grávida achei que havia a necessidade de mudar huahuahau
Até o próximo!!!



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