Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 36
36


Notas iniciais do capítulo

Trigésima sexta drabble que eu dedico à Keiko Chan pela recomendação maravilhosa! Espero que goste! :D

Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XXXVI

Sakura não conseguia esconder o sorriso de pura satisfação, tampouco a languidez fluída nos seus olhos entreabertos e sonhadores. Espreguiçando-se nua na cama, suspirou devido ao relaxamento dos músculos depois de haver despertado de um longo cochilo.

Era ótimo para sua autoestima — mais do que fragilizada no momento — que Sasuke continuasse a sentir desejo pelo seu corpo, mesmo com a sua barriguinha crescendo a cada semana e começando a se interpor entre ambos durante o sexo. A solução mais prática — e deliciosa em sua opinião — incluía ele virar a ambos no colchão, deixando-os lado a lado enquanto tratava de enroscar uma das suas pernas nos quadris estreitos dele.

Apesar disso, seu ritmo era sempre gentil o suficiente para deixá-la com os olhos lacrimosos, nunca cometia excessos. Ela descobriu que gostava disso tanto quanto gostava de controlá-lo e subjugá-lo durante o ato. Talvez isso ainda fosse resultado dos seus hormônios descontrolados de grávida, constatou com um sorriso malicioso. As crises de choro e os enjoos podiam ser parte do passado agora, mas sua libido ainda não era (e talvez nem viesse a ser tão cedo).

Sua mão alisou o lençol onde Sasuke estivera deitado há pouco tempo. Decerto havia dado mais uma de suas saídas misteriosas para continuar investigando o que vinha investigando desde o início do casamento. Sozinha e entediada, sabia que a possibilidade de voltar a dormir estava descartada.

Além disso, seu estômago roncou no exato momento em que se levantava, lembrando-a de que era hora de se alimentar. Resolveu que começaria por um banho rápido e se Sasuke não houvesse voltado até lá deixaria um bilhete e iria sozinha. Estava faminta demais.

Vestiu calças leggings confortáveis e uma bata soltinha, adorando o contorno côncavo que sua barriga já conferia ao tecido de algodão. Perdeu mais tempo do que o habitual admirando-se no espelho do banheiro. Reprimiu uma risada e ia saindo quando a porta do quarto se abriu e Sasuke passou por ela.

Pontual como sempre, pensou quando ele a encontrou desperta, de banho tomado e vestida: pronta para sair. Nos últimos dias, faziam quase todas as refeições dentro do quarto. Sasuke sempre parecia arrumar uma desculpa para mantê-la dentro de quatro paredes, mas naquele dia faria diferente, estava farta do ócio e daquelas paredes e de só admirar Kirigakure pelo vidro da janela.

— Vai sair? — ele perguntou, detendo-se a meio caminho de retirar sua capa.

Sakura anuiu e dispensou-lhe um sorriso doce.

— Sim, estou precisando de um pouco de ar fresco. E estou faminta — admitiu à meia-voz no momento em que seu estômago roncou alto o bastante para que se fizesse ouvido.

Ele se afastou da porta para deixá-la passar e a fechou atrás de si, indicando que ia acompanhá-la. Em silêncio, eles deixaram o hotel. Para Sakura, andar pelas ruas niveladas de Kiri era sempre uma experiência agradavelmente diferente. Os edifícios mais altos estavam constantemente envoltos numa bruma tépida que filtrava o sol daquele início de tarde.

Sasuke escolheu um restaurante ali por perto, mais pela curiosidade ansiosa que emanava de Sakura do que por preferência. Assim que se acomodaram, fizeram os pedidos e alguns minutos depois a comida chegou. Ele achou que fosse o melhor momento para revelar a esposa algo que precisavam discutir:

— Talvez nós tenhamos de partir nos próximos dias — disse de forma quase casual, apoiando o cotovelo sobre a mesa.

— Partir? — Sakura ecoou soerguendo uma sobrancelha enquanto terminava de mastigar a comida; sentiu uma resistência incomum em Sasuke e estranhou.

Apesar disso, ele assentiu e voltou a bebericar um gole do chá que havia pedido.

— Sim, para o país do Trovão.

Sakura resistiu ao reflexo de deixar cair seus hashis. O país do Trovão estava localizado do outro lado do oceano, a milhas de distância, o que implicava dias de viagem, fossem pelo mar ou fossem por terra, com a diferença crucial de que o balanço contínuo de uma embarcação poderiam fazer com que seus enjoos ressurgissem. Mas não deixou que isso transparecesse no seu rosto ao fitar o marido.

— Tudo bem — anuiu, mas sentiu que a confiança que imputou à frase foi frágil demais.

Sasuke, observador como era, haveria de notar isso, é claro. E ele notou, pois em seguida emendou à sua declaração anterior as palavras que a deixaram estupefata.

— Sei que seria incômodo para você se viajássemos pelo mar. E se optássemos por ir por terra isso implicaria a inconveniência de ter de atravessar países demais.

— Então como faremos? — perguntou um pouco receosa, mas o olhar de Sasuke continuava calmo, imperturbável, o que acabou por relaxá-la.

— Vamos pelo ar. Assim, chegaremos mais rápido e com mais conforto para você e para o bebê.

Sakura estacou, assimilando as palavras ditas pelo marido. Então, pousou os hashis sobre a tigela, franzindo a testa em preocupação.

— Mas é uma distância considerável, será exaustivo para você.

— Não tem problema — garantiu num dar de ombros que aparentemente encerrava a discussão, embora Sakura não estivesse completamente convencida ainda.

Mordendo o lábio, ela voltou sua atenção para a comida. O pensamento de que Sasuke estava se sacrificando demais pelo conforto dela e do bebê a deixou inquieta, mas sabia que voltar para Konoha e separar-se dele agora, privando-o do restante de sua gestação, estava fora de cogitação. Ele continuava ocupado com suas investigações esporádicas e submetê-lo a um vai-e-vem contínuo da vila talvez não fizesse menos mal do que a situação atual na qual se encontravam.

Assim, mesmo que relutantemente, pôs o pensamento de lado por ora. Enquanto permanecessem juntos, tudo ficaria bem de alguma forma. E o movimento sutil no seu ventre talvez fosse uma indicação de que sua linha de raciocínio não estava completamente equivocada. Discreta, Sakura afagou a barriga e voltou a comer.

Mais tarde, eles caminharam a esmo pela vila apinhada. As sandálias baixas que calçava facilitavam que Sakura se locomovesse à vontade sem causar desconforto para os seus pés. Ao passarem pela fachada de uma loja específica, observando as vitrines coloridas, ela puxou o marido para dentro, entusiasmada.

Era uma loja de produtos para bebês. Os olhos de Sakura brilharam como nunca ao inspecionar as prateleiras. Sasuke se remexeu ao seu lado, irrequieto, absorvendo a aura leve do ambiente. Era em momentos como aquele que ela realmente se dava conta da seriedade da situação: ambos seriam pais em alguns meses.

Maravilhada, olhou para os adereços de bebê, alguns sapatinhos e luvinhas, mas sua atenção foi verdadeiramente arrebatada para os macacõezinhos coloridos. Ela sabia que Sasuke não teria muito jeito para escolher uma das peças, mas ainda assim achou importante pedir a opinião dele. E, juntos, chegaram a um consenso sobre um macacão turquesa, uma cor neutra, já que não sabiam ainda qual era o sexo do bebê.

Antes de voltarem para o hotel, entretanto, Sakura passou em mais uma loja para comprar alguns itens dos quais precisaria. Sasuke arqueou uma sobrancelha para as compras dela, enfiadas numa sacola de papel, mas não teceu nenhum comentário.

Chegaram ao hotel um pouco antes do entardecer, embora pouco se visse do pôr do sol graças à névoa sempre presente na vila. Sasuke foi direto tomar um banho, mas Sakura se acomodou sobre a cama para inspecionar o que havia comprado. Aos poucos, montaria o enxoval do bebê, só o pensamento disso deixava-a transbordante de alegria.

Depois de um tempo, o marido saiu do banheiro com os cabelos úmidos e apenas uma toalha enrolada na cintura. Ele olhou Sakura de relance antes de ir de vestir. Entretanto, deteve-se a meio caminho da sua bolsa para voltar o olhar para a esposa, sentada de pernas cruzadas na cama e recostada aos travesseiros com ambas as mãos ocupadas com linha, agulha e um pedaço de tecido.

— Sakura? — chamou-a, intrigado, espreitando-a devagar.

Ela levantou os olhos do pedaço de pano para ele, expectante.

— O que está fazendo? — perguntou, por fim.

Sua esposa o encarou com o cenho franzido, como se o que ela estivesse fazendo fosse óbvio e como se a pergunta dele lhe soasse imensamente tola. Contudo, suspirou e estendeu o pedaço de pano para que ele pudesse ver o desenho que seus dedos vinham tentando bordar. As cores, branco e vermelho, de fato não escondiam suas intenções.

— Estou bordando. Ou ao menos tentando bordar o símbolo do clã.

Sasuke piscou, estava estático. Era verdade; lembrava-se de que na sua infância, sua mãe bordava o símbolo Uchiha tanto nas suas roupas quando nas de Itachi e do seu pai. Sem que percebesse, fitou-a sob uma nova perspectiva que lhe havia escapulido até então.

— É para as roupas do bebê — explicou-se, mas ele não precisava ouvir mais nada. — De qualquer forma, tenho tanto tempo ocioso que sinto que até dar a luz vou conseguir fazer isso de olhos fechados.

Distraída, ela voltou ao seu bordado até que num gesto equivocado espetou o dedo na agulha e se retraiu com um gemido, levando o dedo ferido à boca imediatamente.

— É mais difícil do que parece, contudo — admitiu um tanto encabulada, deixando tudo de lado.

Sasuke continuava parado diante da cama e, assim que a ardência no dedo ferido diminuiu, ela levantou o olhar para fitá-lo outra vez, arregalando os olhos como se só agora se desse conta da seminudez do marido. As gotículas de água que tracejavam os músculos do peito e do abdome atraíram a sua atenção.

De repente, o sangue não corria quente pelas suas veias, mas sim efervescente.  Uma pulsação familiar e gostosa consolidou seu desejo. Sasuke reconheceu a excitação nos olhos dela, tal como a sua respiração inconstante.

Oh deuses, pensou ela com desconcerto crescente enquanto seus hormônios redespertavam a sua libido irrefreável, e lá iam eles outra vez.

 


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Notas finais do capítulo

Reviews serão respondidos hoje à noite ou talvez amanhã. Obrigada a todos que comentaram ;)
Até o próximo!