Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 34
34


Notas iniciais do capítulo

Trigésima quarta drabble!
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XXXIV

Ao final do primeiro mês que passavam num mesmo lugar, Sakura praticamente suspirou de alívio quando Sasuke anunciou que eles partiriam para a próxima locação com o nascer do sol.

Aparentemente, ele finalmente havia se convencido (e ela o havia persuadido) de que estava tudo bem em se moverem para a próxima cidade. Na verdade Sakura ficou bastante surpresa quando se encontrou atravessando o país do Fogo, rumo à costa leste. Nessa direção, havia países menores, o oceano e, no fim deste, o arquipélago que constituía o país da Água.

Mas quanto à superproteção de Sasuke, esta ainda se fazia constante (e quase sufocante), uma vez que ele havia decretado que eles fariam paradas esporádicas em vilarejos e cidades pequenas para pernoitarem.

Durante esses dias, o humor de Sakura oscilou mais vezes do que ela seria capaz de contar. Os enjoos voltaram depois de haverem dado uma trégua, ela ainda tinha desejos, mas agora seu paladar exigente estava começando a lhe dar mais trabalho; sentia anseios incontroláveis pelas misturas mais estranhas e pelos sabores mais bizarros. Ainda chorava pelos motivos mais inexplicáveis (isso quando havia um) e, finalmente, ela começou a notar o crescimento de um pequeno inchaço em seu ventre.

Ela havia se divertido nos últimos dias, quando passavam por Kohatsu, uma das grandes cidades do país do Fogo, comprando algumas roupas mais confortáveis e quentes, já que não tinha ideia de quando poderia fazê-lo novamente. Também estava tendo o cuidado de suprir todas as necessidades nutricionais do seu corpo pertinentes aos primeiros meses da gestação.

O plano naquele dia era chegar até a costa leste do país do Fogo e naquele ponto Sakura já tinha certeza de que eles seguiriam mesmo para o país da Água. Para o infortúnio de ambos, entretanto, foram pegos num aguaceiro gelado que logo os obrigou a buscar abrigo numa caverna, na floresta bem ao sul do território vasto do país do Fogo.

Tiritando, Sakura se apressou para tirar o manto pesado e as roupas molhadas do corpo. Ouviu o farfalhar de tecido e assumiu que Sasuke fazia o mesmo, movendo-se pela caverna atrás dela, mas estagnou assim que sentiu o toque macio de um manto seco e quente ser deslizado pelos seus ombros e costas.

— Aqui — ele indicou para que ela se agarrasse ao tecido quente e Sakura o fez de imediato, agradecida.

Ainda chovia a cântaros do lado de fora da gruta onde eles se abrigaram e Sasuke sabia que tentar acender uma fogueira com a lenha tão molhada seria perda de tempo. Precisava encontrar outra forma de manter Sakura aquecida. Se apenas suas roupas não estivessem tão encharcadas quanto as dela...

— Sasuke-kun, precisa tirar essas roupas também e já! — ela ralhou com ele, cortando sua linha de pensamento.

Contraindo o rosto decidiu acatar a ordem dela, não que houvesse a menor possibilidade de ele ficar doente, ainda assim desprendeu o manto preto dos ombros e deixou que ela o ajudasse a tirar a blusa e a calça. Em seguida, Sakura abriu os braços, bem como a manta que a envolvia, e passou-os ao redor da sua cintura, pressionando pele contra pele.

— Calor humano é o método mais prático e rápido de se aquecer — explicou a ele com a bochecha colada ao seu peito.

Entendendo a situação, Sasuke rapidamente a enlaçou com seu braço e se ajeitou contra a parede da caverna com Sakura entre as suas pernas. Em questão de minutos, ela tinha calor na pele e as faces rosadas outra vez. Presumiu que ela tivesse caído no sono pelas pálpebras cerradas e pela respiração estável, então seus pensamentos levaram-no para longe dali.

Não conseguia parar de remoer que ela estaria mais segura e cômoda em Konoha e não ao lado dele, correndo por florestas densas durante tempestades. Suspirou. Ainda que isso fosse verdade também era inegável que seria difícil se separar dela enquanto ainda tivesse de investigar o que estava investigando.

Nos últimos meses, desde o casamento, havia diminuído o ritmo de suas pesquisas. Embora ainda verificasse uma fonte ínfima de informação ali e outra pista acolá, concentrava a maior parte do seu tempo em Sakura — e não conseguia se repreender por isso.

Trazê-la com ele talvez tivesse sido sua decisão mais acertada em muito tempo, tudo o que ele construiu com ela, tudo o que eles viveram — cada pequeno momento — havia feito a espera valer a pena. E agora, eles tinham um bebê sendo gerado, o primeiro Uchiha a ser concebido em anos, desde que o clã foi massacrado.

Sakura havia sido enfática ao determinar que tanto ela quanto o bebê estavam mais seguros ao lado dele e, por um lado, ela tinha razão. Por outro, entretanto, ele refletiu com azedume crescente, haveria situações como essa de agora — um prospecto um tanto frustrante na opinião de Sasuke.

— Por que está aborrecido? — Ouvir a voz suave de Sakura romper o silêncio dentro da gruta fez quebrar a sua linha de pensamento mais uma vez. — Com o que está se preocupando dessa vez?

Sasuke arriscou olhar para baixo e encontrou os olhos escrutinadores dela sondando as linhas franzidas do seu rosto à procura de respostas que ele pudesse se negar a dar.

— Só estava pensando — murmurou esperando que fosse o suficiente para satisfazer sua curiosidade, infelizmente Sakura não era do tipo que se contentava com meias respostas.

— Pensando em quê? — ela decidiu por pressioná-lo numa abordagem mais incisiva e ele suspirou.

— Estava pensando que poderíamos ter evitado toda essa situação — respondeu com um olhar cortante que não focava absolutamente nada em particular.

Sakura exalou profundamente, estava bem consciente do desagrado do marido. É verdade que o havia persuadido a deixar que continuasse a viagem, mas, pelo visto, seriam longos meses até que ele se aquietasse — mesmo que compreendesse o motivo de toda a preocupação dele.

— Pensei que já tivéssemos discutido isso — disse ao se afastar dele e dessa vez o alvo do temível olhar de censura foi ela própria. — Francamente, Sasuke-kun — finalizou com uma expressão aborrecida que espelhava a dele ao cruzar os braços.

Ele tornou a suspirar, sabia, no fundo, que seria inútil discutir os mesmos argumentos e ouvir as mesmas retóricas. Contudo, voltou a fitá-la quando sentiu o toque dela no seu rosto e os olhos doces que o fitavam de volta.

— Eu te garanti que podia lidar com a gravidez, eu nunca assumiria um risco tão alto se não soubesse que podemos trabalhar isso, juntos.

Sakura estagnou quando o braço de Sasuke esticou até que a palma de sua mão pudesse envolver sua cintura, sob a manta que a cobria. Percebeu a timidez e uma ínfima hesitação que não durou meio segundo antes de sentir os dedos dele tracejarem sua pele nua com padrões irregulares.

Relaxou, como era de se esperar, sob as carícias que ganhavam mais e mais confiança a cada segundo. Distraiu-se com a sensação gostosa, até erguer os olhos para ele outra vez e encontrar uma expressão que a deixou emudecida; os olhos escuros estavam mansos, as linhas que os contornavam estavam suavizadas, as sobrancelhas escuras não lançavam sombras sobre o rosto, apenas a boca permanecia teimosamente pressionada, talvez porque aprisionasse as palavras com as quais ele tão fervorosamente relutava.

Assim que os lábios se apartaram, Sakura prendeu a respiração, expectante:

— Você entende por que eu penso dessa forma, não entende? — perguntou assim que a palma quente da mão dele se aninhou na curva da sua cintura.

— É claro que eu entendo — assentiu, voltando a apanhar o rosto dele entre as mãos delicadamente femininas. — Mas eu não vou te deixar sozinho, não quando não existe necessidade.

— E quando o bebê estiver prestes a nascer? — ele ergueu uma sobrancelha, inquirindo-a e esperando obter uma resposta clara.

— Quando o bebê estiver perto de nascer, podemos decidir isso melhor. Há tempo ainda, é isso o que quero dizer. Nós podemos fazer isso dar certo, Sasuke-kun — assegurou sem qualquer traço de incerteza tanto na expressão determinada quanto na voz firme.

Sasuke pareceu se contentar com suas palavras — com a sua promessa — e seu próximo gesto, sim, pegou Sakura completamente de surpresa: antes que pudesse prever o próximo movimento dele, Sasuke envolveu-a completamente com seu braço e a trouxe para perto, curvando seu corpo para conseguir encaixar o rosto entre os seios dela.

Sakura entendeu que ele precisava disso e também o abraçou pelo pescoço. É claro que haveria obstáculos, dificuldades que os dois precisariam enfrentar, mas se fizessem isso, juntos, poderia funcionar.

O riso cristalino dela trouxe sua atenção de volta a ela, que logo percebeu a sua estupefação e tratou de explicar a razão com um sorriso doce.

— Só estava especulando algo agora.

— Especulando o quê? — Sasuke não era conhecido por sua curiosidade, mas a razão do riso dela mais cedo lhe escapava (e isso o frustrava um pouco).

— O sexo do bebê — Sakura explicou com ternura, entretanto. — Acha que é menino ou menina?

Ele exalou na pele macia do vale entre os seios contidos pelo sutiã. Ela cheirava à chuva agora, embora seu perfume floral permanecesse. Ainda demorou metade de um minuto para respondê-la adequadamente.

— Faz diferença?

Sakura riu engasgado dessa vez e alisou os cabelos grossos sob os seus dedos.

— Não, não faz — constatou.

Assim, deixou que Sasuke a puxasse para uma posição mais confortável de novo, mantendo-a nos seus braços o tempo todo. Depois de um momento imperturbável de tranquilidade, entretanto, Sakura bufou pelo nariz, um tanto quanto frustrada.

— Mas que eu queria saber o seu palpite... Ahhh, isso eu queria!

 

 


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Notas finais do capítulo

Só estou passando bem rapidinho aqui pra postar essa drabble. Estive especulando o número de drabbles que faltam pra terminar Monotonia e cheguei a 40 ou pra mais um pouco de 40. Enfim, ainda vai depender da minha inspiração.
...
Obrigada a todos que seguem comentando e prometo responder todos os reviews amanhã porque hoje estou morrendo de dor de cabeça e não tenho podido tomar nem um simples analgésico por suspeita de eles estarem me causando uma estranha reação alérgica. Um saco! Hahaha
Até o próximo!!!