Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 32
32


Notas iniciais do capítulo

Trigésima segunda drabble.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/632479/chapter/32

Monotonia

Por Deusa Nariko

XXXII

Apesar do cansaço, Sasuke se viu incapaz de pregar os olhos naquela noite. Seus pensamentos ruidosos não o permitiriam, não importava o quanto ele se forçasse a tentar dormir nem que fosse um pouco.

Então, depois de um tempo — sentindo-se frustrado e ainda tão desperto —, ele apenas desistiu. Virou o rosto para o lado e seu olhar acabou recaindo sobre Sakura, que dormia tão profunda e imperturbavelmente. Invejou-a por um momento. Depois, a serenidade aparente na sua expressão tão suave o fez ter vontade de sorrir.

Os cabelos cor-de-rosa estavam espalhados sobre o travesseiro e as cobertas emboladas nas pernas desnudas. Desceu o olhar até o punho cerrado dela, que descansava sobre o ventre. Estendeu a mão até ele, cobrindo-o completamente com seus dedos longos. Afagou o dorso de forma distraída, traçando padrões irregulares sobre a pele acetinada.

Então, suspirou, ainda insone. Não havia engano quanto ao calor agradável no seu peito: estava feliz.

Pela manhã, ele descobriu que havia conseguido dormir umas poucas horas. Pelo menos até que os gestos abruptos de Sakura o acordassem. Quase desesperada, notou, ela pulou da cama que compartilhavam e correu até o pequeno banheiro contíguo ao quarto.

Sasuke se sobressaltou ao ouvir a porta batendo, preso num limbo entre dois mundos distintos. Mesmo sonolento, sentou na cama e empurrou as cobertas para longe antes de lançar as pernas para fora e seguir para o banheiro.

Com os nós dos dedos, bateu de leve à porta e chamou pela esposa:

— Sakura?

Mesmo que não houvesse colado o ouvido à porta, Sasuke estava assombrosamente atento ao menor farfalhar do outro lado. Ainda assim, aguardou. Por fim, Sakura abriu uma pequena fresta e o olhou com olhos incrivelmente grandes e lacrimejantes. Seu rosto estava pálido.

— Está tudo bem, Sasuke-kun. É só outro enjoo matinal — tranquilizou-o, mas não alargou a fresta na porta nem tampouco saiu do caminho para que ele entrasse.

— Tem certeza? — ele indagou, soerguendo uma sobrancelha para ela.

Mas Sakura assentiu energicamente na tentativa de extinguir todas as dúvidas dele.

Um pouco depois eles deixaram o hotel para tomarem o desjejum, uma vez que o estômago de Sakura havia se aquietado e ela se sentia mais confortável com a ideia de se alimentar agora.

Durante o trajeto, ela notou que os olhos do marido mal desgrudavam dela e havia até uma espécie de tensão nos ombros dele, que nunca pareciam relaxar.

A caminhada sob o sol da manhã e a brisa fresca que provinha do oceano melhorou gradativamente o ânimo de Sakura. Uma vez que encontraram uma boa casa de chá, eles fizeram os pedidos e conversaram um pouco enquanto aguardavam. Até que ela, decidida, apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos.

— Já sabe para onde vamos em seguida?

Sasuke pareceu ter sido pego de surpresa pela sua pergunta porque arregalou o único olho negro que estava visível e houve uma mínima contração do seu lábio inferior. Os dedos da mão que repousava casualmente sobre a mesa se mexeram, inquietos e nervosos, e, por fim, ele balbuciou uma resposta à meia voz:

— Eu ainda não decidi para onde vamos.

Sakura mordeu o lábio, ponderou sobre o que dizer em seguida e até abriu a boca para vocalizar ao marido a dúvida que houvera preenchendo seus pensamentos nas últimas horas, mas nesse instante a atendente trouxe a comida de ambos e ela desistiu. Abordaria o assunto em outro momento mais oportuno.

Felizmente, seu estômago recebeu bem a comida e os enjoos não persistiram pelo restante da manhã. Ela convenceu Sasuke, mais cedo, a conhecerem um pouco daquela cidade e eles acabaram gastando uma parte do dia nas vielas apinhadas e abafadas. Nem mesmo o cheiro acre da maresia conseguiu baquear seu estômago e, por isso, Sakura se considerou com sorte.

As águas do oceano refulgiam sob o sol do meio-dia quando ela pediu para que eles parassem sob a sombra de uma árvore, numa parte mais afastada da cidade em que quase não se viam habitações e não havia pessoas. Sasuke a cercou imediatamente e a tensão de antes voltou a enrijecer os seus ombros sob a capa. Com um sorriso doce, ela tentou tranquilizá-lo:

— Eu só quero um pouco de água e uma sombra fresca, Sasuke-kun. Só isso. O sol está um pouco quente.

Ela até riria da conduta exagerada dele, se não soubesse que isso o irritaria profundamente. Talvez ele ainda só não compreendesse por completo como deveria agir com ela a partir de agora e optara — é claro — por um tipo de comportamento superprotetor.

Sakura umedeceu os lábios e a garganta seca com a água do cantil e fechou os olhos, apreciando a sensação gostosa, enquanto uma brisa fresca acariciava o seu rosto. O toque de Sasuke em sua face, entretanto, quase a sobressaltou, levando-a a abrir os olhos e fitá-lo; de repente, ele estava mais próximo do que ela havia imaginado.

— Sasuke-kun? — chamou-o no que não passou de um sussurro enquanto o toque dele no seu rosto persistia.

Sem dizer qualquer palavra, ele inclinou o rosto na direção do dela e selou seus lábios. Não havia ninguém por perto no momento, de modo que Sakura esqueceu as suas inibições e retribuiu o beijo delicado. Estremeceu de desejo quando a língua dele percorreu seu lábio inferior e a mão que acariciava seu rosto desceu pelo seu ombro e deteve-se na curva da sua cintura, trazendo-a para mais perto.

O beijo de Sasuke se tornou mais impetuoso, fazendo-a suspirar. Ele era tão quente e intenso, e roubava seu ar. Sakura se segurou aos ombros dele e se entregou por completo. Respirava erraticamente quando ele se afastou e encostou a testa à dela.

— Preciso que você esteja segura. — Foi o que ele disse num timbre rouco, derramando nela toda a intensidade do seu olhar.

Sakura assentiu; entendia a necessidade dele de ser cauteloso em excesso — ela entendia mesmo isso. Mas também estava convencida de que não havia necessidade de eles marcharem de volta para Konoha imediatamente. Alisando o peito dele, tentou sorrir com condescendência.

— Mas eu estou segura ao seu lado. Nós estamos — corrigiu-se e Sasuke suspirou em resposta. Entretanto, ela ainda não havia terminado: — Eu te disse que tínhamos tempo para pensar no que fazer e estava falando sério. Eu só estou nas primeiras semanas de gestação, Sasuke-kun — riu ao fim para tentar descontrair e arrefecer a tensão do marido, mas ele franziu o cenho, ainda não havia se convencido.

Sakura exalou demoradamente, mas não se deu por vencida. Ela sabia que Sasuke precisava de uma garantia, talvez se ela oferecesse isso a ele, eles podiam chegar a uma espécie de acordo.

— Façamos o seguinte então — disse, animada. — Nós seguimos com a viagem por enquanto. Se eu sentir que é necessário que voltemos mais cedo à Konoha, eu prometo que te comunicarei imediatamente.

— Promete mesmo? — ele indagou e levantou uma única sobrancelha para ela.

— Eu juro, Sasuke-kun! Se eu sentir que há qualquer coisa errada, eu te digo e nós voltamos para Konoha. Isso está bom para você?

Primeiro, ele a olhou um tanto ressabiado. Os lábios franzidos e os olhos crispados entregavam-no. Mas pouco a pouco ele foi absorvendo a ideia e, no fim, concordou com a sua sugestão, aquiescendo. Então, acrescentou num tom peremptório que não abriu espaço para réplicas:

— Você vai fazer exatamente o que eu disser, será extremamente cuidadosa e não vai esconder nada de mim.

Estava claro pela expressão fechada dele que Sasuke estava falando muito sério. Sakura suspirou discretamente, teria de se preparar para lidar com um Sasuke supermandão e protetor ao extremo nos próximos meses. Mas ela podia lidar com isso, especialmente se se lembrasse da razão por trás desse comportamento do marido.

— Tudo bem — assentiu, satisfeita por haver conseguido persuadi-lo.

Algumas horas mais tarde, depois que eles voltaram ao hotel, Sakura foi direto para o banheiro, alegando que precisava de um banho quente relaxante. Sasuke saiu do quarto para comprar o jantar de ambos enquanto ela ainda tirava as roupas. A água quente desmanchou os nós de tensão dos seus músculos um por um, relaxando-os quase ao ponto da letargia.

Mais cedo do que ela previu, entretanto, Sasuke voltou e não demorou a se juntar a ela no banho, despindo-se em meio à névoa de vapor com uma expressão ilegível. Ela o ensaboou devagar, gostando da sensação da pele dele sob os seus dedos. Então, quando ele se ofereceu para fazer o mesmo, Sakura não hesitou em permiti-lo.

A delicadeza com que ele massageou seus ombros com a espuma ou acariciou sua espinha com a ponta dos dedos a deixou surpreendentemente mole de sono. Pelo menos até que sentiu os dedos dele, leves como plumas, deslizarem pelos seus seios e alcançarem seu ventre. Ali se detiveram.

Sorrindo para ele como um gesto de encorajamento, ela segurou no pulso dele, instigando-o a acariciá-la naquela região. Não havia volume algum aparente ainda, era cedo para isso, mas esse detalhe não tornou o momento menos memorável ou doce para nenhum dos dois.

Quando ele a puxou para mais perto, colando as suas costas no peito forte dele e ainda mantendo o braço ao redor do seu estômago, Sakura se entregou.

 Eles haviam criado aquela pequena vida, juntos. E estavam orgulhosos disso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um feliz natal e fim de ano para todos!!!
Mais uma vez, obrigada a todos que continuam comentando ;)
Nos vemos no próximo!