Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 30
30


Notas iniciais do capítulo

Trigésima drabble!
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XXX

Eles toparam com a primeira grande cidade situada na costa do país do Rio por volta do segundo dia desde que atravessaram a fronteira com o país do Vento. A mudança tanto no clima quanto na paisagem foi, de certa forma, até brusca.

Depois de semanas habituados a aridez dos desertos e ao ar seco constante, respirar a brisa fresca que provinha do oceano, de fato, era revigorante. O clima ameno e a maresia serviram até mesmo para atenuar os enjoos de Sakura naquela manhã.

Do topo de uma ravina, ambos observaram a cidade abaixo deles, o amontoado de edifícios que se estendia até um porto discreto com embarcações de todos os tamanhos ancoradas a ele. O sol refulgia sobre a água brilhante. No todo, era uma bela vista.

— Puxa, já faz tanto tempo desde a última vez que vi o oceano — Sakura, que escudava os olhos do sol com uma mão, murmurou com deslumbre.

— Como está se sentindo? — Sasuke perguntou de repente e acabou arrancando um suspiro dela.

— Eu estou bem, não se preocupe.

A verdade é que desde que deixaram o país do Vento ele vinha a observando muito mais de perto para verificar seu estado numa frequência quase sufocante.  Não que ela não apreciasse tanto cuidado por parte do marido, e nem de longe ela gostaria de passar a impressão de estar sendo ingrata justo para Sasuke, mas, bem, certos detalhes eram apenas íntimos ou femininos demais para Sakura para serem compartilhados.

Na noite passada, ela notou um pequeno sangramento, mas sabia que isso não queria dizer nada. Sangramentos também eram comuns no início de uma gravidez. Como Iryō-nin, Sakura sentia uma necessidade crescente de confirmar — ou não — tal prognóstico.

Uma vez que começaram a descer em direção à cidade, entretanto, ela também começou a se sentir mais e mais ansiosa, incerta sobre o que a confirmação de uma gravidez resultaria na vida de ambos. Sakura não tinha dúvidas de que um resultado positivo a deixaria tonta de felicidade, mas era o prospecto de dizer a Sasuke que a inquietava.

Eles não demoraram a encontrar um hotel para ficarem e Sakura até mesmo deixou que ele cuidasse de tudo relacionado à estadia deles daquela vez. Assim que ele pegou a chave na recepção e assinou o registro, ela subiu as escadas até o quarto designado. Tirou as botas antes de se lançar sobre a cama enquanto Sasuke ajeitava as bolsas de ambos.

— Cansada? — ele a sondou conforme se movia pelo cômodo.

— Só um pouco — Sakura resmungou em resposta, admitindo o que era, em parte, a razão do seu comportamento atípico.

— Então descanse, vou dar uma volta pela cidade.

Sakura se ergueu sobre os cotovelos enquanto Sasuke saía pela porta enrolado na sua capa. Uma vez sozinha, o súbito cansaço foi rapidamente consumido pela sua ansiedade. De repente, dormir estava fora de cogitação.

Ela se levantou, irritada por não conseguir mais ficar deitada. Então, apanhou roupas íntimas limpas e uma toalha e se dirigiu até o banheiro do quarto. Tirou as roupas e meteu-se debaixo de um banho quente que, supostamente, deveria acalmá-la. Deixou que a água escorresse pelo seu corpo, fechando os braços ao redor do torso. Não soube quando suas mãos passaram a se mover sobre o seu ventre, mas, quando se deu conta, já as movia para cima e para baixo sem um padrão específico.

Mordeu o lábio, pensativa, e, por fim, decidiu que não podia postergar mais aquilo. Se estivesse, de fato, esperando um bebê não deveria ser negligente de forma alguma e mudanças até mesmo nos seus hábitos alimentares precisariam ser feitas.

Por isso, fechou o chuveiro e enrolou-se na toalha, demorando-se mais do que o necessário, entretanto, para secar-se e secar seu cabelo. De volta ao quarto e já vestida novamente, pegou sua bolsa e até pensou em deixar um bilhete para Sasuke sobre a escrivaninha, mas não pretendia demorar.

Saiu pela mesma porta pela qual ele saíra instantes antes, disposta a procurar o que precisava. Vagou pelas ruas um tanto apinhadas e transbordantes de cores vivas por um tempo, perdida em pensamentos. O sol estava quente, mas a brisa oriunda do oceano trazia consigo uma sensação agradável, embora passageira, de frescor.

Ela estagnou na esquina, defronte para o tipo de estabelecimento que estivera procurando, indecisa sobre entrar e comprar o que precisava. Bufando para si mesma e para o seu lapso momentâneo de coragem, franziu o cenho e irrompeu na farmácia sem mais procrastinações.

Minutos depois de sair do pequeno estabelecimento, parecia que a sacola em suas mãos pesava muito mais do que deveria, ou talvez fossem apenas as suas expectativas ansiosamente depositadas no seu conteúdo.

Com uma única exalação, voltou determinada para o hotel, satisfeita por Sasuke ainda não haver retornado de sabe-se lá onde ele havia ido; ter um momento para si mesma seria bom agora, de qualquer forma.

Sakura sentou sobre a cama, para recuperar tanto seu fôlego quanto sua coragem, apertando a sacola entre os seus dedos. Levantou-se de chofre, então, e praticamente marchou de volta para o banheiro.

Faria o que tivesse de ser feito e pensaria no resultado depois.

Quando Sasuke retornou ao quarto de hotel, depois de espairecer pela última hora — porque sabia que Sakura precisava de um tempo sozinha —, ele não imaginou que encontraria a esposa naquele estado.

Ela estava sentada sobre a cama com o rosto vermelho e uma mão pressionada contra os lábios, abafando os soluços do seu choro. Por um momento, ele estagnou no lugar, lívido, sem saber o que fazer. Até que ela o notou ali, plantado próximo à porta, e com uma expressão um tanto assustada.

— Sasuke-kun! — exclamou antes de se levantar e correr até ele, abraçando-o e apertando o rosto contra o seu peito, molhando-o com suas lágrimas.

— Sakura? — Sua voz não passou de um sussurro ao chamá-la, tocando-a num ombro que tremia.

— Ah, Sasuke-kun, eu fiz o teste — dizia ela entre soluços, confundindo-o.

Sem saber o que fazer, Sasuke apenas a abraçou até que ela se acalmasse, correndo a mão sobre as costas dela e pressionando o rosto contra os cabelos dela. Pouco a pouco, os soluços cessaram, assim como as lágrimas. Ele achou que finalmente poderia questioná-la agora, mas temia desencadear outra crise inexplicável de choro, então se contentou em levá-la de volta até a cama e não impôs resistência quando ela o puxou para deitar-se ao seu lado.

Mesmo assim, ela voltou a enterrar o rosto no peito dele. Pelo menos agora ela estava mais calma e até mesmo o ritmo irregular da sua respiração já havia voltado ao normal.

Ele afastou uma mecha de cabelo dos olhos inchados e vermelhos dela. Sakura suspirou.

— O que aconteceu? — perguntou, por fim, mas sua voz ainda não passava de um sussurro. — Por que estava chorando, Sakura?

Sakura engoliu a seco antes de erguer os olhos brilhantes e trementes até os dele. Quando abriu os lábios, contudo, voz alguma proveio deles.

— Está sentindo alguma coisa? — ele antecipou o pior, fazendo menção de levantar da cama, mas foi impedido pelo agarre dela na sua roupa, que o puxou de volta para o colchão.

— Não, Sasuke-kun, você entendeu errado — ela murmurou num fiapo de voz e Sasuke franziu o cenho, confuso de novo.

Mas mesmo desorientado pelas atitudes de Sakura, decidiu que seria melhor que ela explicasse o que estava havendo — e no seu próprio ritmo.

Sakura enxugou os cílios molhados com o dorso da mão e apagou de vez o rastro de lágrimas que ainda restava em suas bochechas. Suspirou de novo, parecia estar buscando força e coragem de algum lugar profundo de dentro dela.

— Eu não estava chorando por dor ou por tristeza — esclareceu. — Estava chorando porque estava feliz.

Feliz?, ele ecoou nos seus pensamentos, profundamente aturdido dessa vez. Mas então Sakura havia voltado a falar:

— Sasuke-kun, eu disse que estava desconfiada de... De algo. Os enjoos, o cansaço, algumas mudanças sutis no meu corpo e... Mesmo desconfiada eu preferi não te contar, não até que tivesse certeza.

Sasuke escutou cada palavra com atenção, embora sua mente tivesse começado a se desprender dali, daquele quarto. Não havia como negar que, no começo, achou que Sakura houvesse apanhado algum tipo de gripe ou infecção estomacal. Mas agora, depois das lágrimas dela, não havia mais como sustentar esse argumento.

Ele talvez previsse o rumo daquela conversa, mas os caminhos que o levavam até lá — até a verdade — eram difíceis de assimilar.

Sentiu as mãos de Sakura segurarem a dele num aperto reconfortante. O sangue já pulsava nos seus ouvidos àquela altura.

— E você tem certeza agora? — ele perguntou e ficou surpreso por conseguir formular uma mera pergunta; Sakura assentiu.

Os lábios dela se apartaram para dizer as próximas palavras, as palavras que mudariam a vida de ambos para sempre, mas, antes disso, Sasuke já a tinha envolvido em outro abraço e escondido o rosto no seu pescoço, respirando pesado. Sakura teve de conter um sobressalto ao ouvir a voz dele ao pé do ouvido:

— Diga — ele pediu, num tom rouco e instável, tão atípico.

Ela não conseguiu evitar que novas lágrimas de felicidade pendessem dos seus cílios já molhados, despencando pelo seu rosto, tal como não pôde evitar o sorriso de alívio.

De todas as reações possíveis, imagináveis e cabíveis a Sasuke, ela jamais havia esperado uma que a desestabilizasse por completo e no sentido mais positivo da palavra.

Por isso, agarrando a roupa dele e torcendo-a entre os dedos, ela finalmente disse as palavras que estivera protelando, e o fez com tamanha reverência e alegria que era quase como se elas, as palavras, tornassem tudo aquilo (o novo, brilhante e caloroso amanhã que os aguardava) ainda mais real:

— Eu estou grávida, Sasuke-kun.

 


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Notas finais do capítulo

Para quem queria ver a reação do Sasuke à notícia, aí está. Acho que finalmente, FINALMENTE estou me recuperando do meu bloqueio, o que é muito bom porque todas as minhas Fanfics estão horrivelmente atrasadas ;-;
...
Obrigada a todos que comentaram e nos vemos nos próximo!



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