Monotonia

Por Deusa Nariko

III

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Talvez numa próxima vez, ele lhe dissera no dia em que partiu da vila para a sua jornada de redenção, com as folhas secas sussurrando sob os seus pés, decorrentes do outono macambúzio naquele ano.

E quando ele tocou a sua testa com os dedos indicador e médio e lhe sorriu, ela apegou-se aquele gesto, àquela promessa: “Obrigado” foi o complemento que precisava, a mesma única palavra que ele lhe disse na noite mais triste da qual poderia se recordar.

A primeira vez que pediu para ir com ele, Sakura estava desesperada; seu maior receio enfim se concretizava: Sasuke se perderia na escuridão de Orochimaru. Longe do Time 7, ela sabia, era só uma questão de tempo até que sucumbisse à tentação do poder. Naquela mesma noite, ele a golpeou para desacordá-la.

Na segunda vez que fez o pedido, tratava-se apenas de um embuste para enganá-lo, aproximar-se dele e então fazer o que deveria ser feito. Sasuke descobriu suas intenções primeiro e, por isso, ela quase pagou com a própria vida.

Na terceira e última vez que pediu para que ele a levasse junto, Sakura não estava desesperada, não havia mais o risco de que ele se perdesse, tampouco ela tentava enganá-lo. Ainda assim, ele a frustrou dizendo que não tinha nada a ver com os seus pecados.

Demorou a compreender o sentido de suas palavras, mas era inegável: Sasuke a considerava uma parte boa de si mesmo, talvez a melhor. Jamais a envolveria com os seus erros no passado. Por isso, saiu em uma jornada de penitência e autodescobrimento pelo mundo.

Ele não se relacionaria com Sakura, não enquanto não se considerasse digno e redimido. Precisava estar completo primeiro. Ela o entendeu e prometeu que seria paciente, que o esperaria por quanto tempo fosse necessário. Contudo, perguntava-se agora se não estava delirando. Talvez tivesse ouvido mal o que lhe fora dito. Com certeza, ela tinha ouvido mal.

Piscou e apartou a boca num fraco arquejo, um fiapo de voz. Sasuke fitou-a impaciente e o tempo escoou entre ambos, imparável. Quando ele recolheu a mão estendida, embaraçado, Sakura pensou ter visto a dor da rejeição infundida nas suas belas feições.

— Sasuke-kun? — chamou-o num sussurro rouco. — O que você disse? Quero dizer, eu acho que não o entendi direito.

Tão aturdido e ansioso feito ela própria, limpou a garganta de leve. Abriu a boca, mas dela som algum proveio. A verdade é que não havia uma forma não constrangedora de pedi-la. Sasuke jamais havia sido tão emotivo e eloquente quanto seus companheiros quando queria se expressar.

Maldição, praguejou consigo mesmo e com sua inaptidão para se declarar. Não era exatamente piegas como Naruto, mas tinha uma certa noção — limitada — de romantismo, afinal nasceu em um clã excessivamente conservador e tradicional.

Um suspiro de Sakura cortou sua linha de pensamento.

— Você disse que não pretendia permanecer na vila por muito tempo.

— Sim — assentiu e ela franziu o cenho, aturdida de novo.

— Então... por que voltou?

Foi a vez dele de suspirar longamente. Isso seria mais complicado do que havia previsto. Entretanto, era por Sakura, e por ela... Bem, por ela valia a pena, não?

Por isso, aproximou-se cauteloso, comedido. Viu-a erguer o queixo e fitá-lo diretamente: sem receios, timidez ou velhas inseguranças. Parou um pouco antes que o seu corpo tocasse o dela.

— Sakura — chamou-a; queria toda a sua atenção. — Eu sei que a nossa história juntos... Não — deteve-se, cerrando os dentes; não podia começar por ali, não parecia certo. — O que eu quero dizer é que...

Mais uma vez, interrompeu a própria fala. Era um desastre completo com declarações — mesmo.

Talvez por isso sempre tenha adorado as iniciativas de Sakura; as suas também existiam, é claro, mas para uma pessoa que foi tão ferida quanto Sasuke, dar o primeiro passo sempre havia sido um desafio.

E é por isso que a própria Sakura tomou controle da situação, quebrou a curta distância entre ambos e o abraçou, a face pressionada contra o seu peito, contra o coração que parecia querer explodir a qualquer momento.

— Sasuke-kun — ela o chamou, a voz abafada na sua blusa. — Você voltou porque quer ficar comigo?

Isso ele articulou sem qualquer titubeação:

— Sim.