Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 29
29


Notas iniciais do capítulo

Vigésima nona drabble que eu dedico à Srtadd pela recomendação maravilhosa! Espero que goste! *-*
...
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XXIX

Na terceira manhã em que despertou do sono leve sem a presença de Sakura ao seu lado, Sasuke realmente considerou que deveria começar a ignorar as palavras da esposa, que o havia dito inúmeras vezes na última semana para não se preocupar com aqueles enjoos matinais repentinos.

Ela não ficava exatamente confortável com a presença dele por perto quando os mal-estares a acometiam, mas, se estivesse doente, ele a faria parar na próxima vila e descansar devidamente até que se curasse ou descobrisse o que tinha.

Para começar, a possibilidade de haverem ingerido algo estragado estava fora de cogitação: ela comia o que ele comia. Poderia ser uma gripe, resultado da chuva que os apanhou no deserto do país do Vento há alguns dias, mas fora os enjoos e ele ter notado que ela parecia estar mais sonolenta do que o comum, não houve outros sintomas aparentes.

No dia anterior, quando tentou questioná-la sobre o que estava acontecendo, ficou um tanto decepcionado por receber um meneio da cabeça e um sorriso forçado como resposta, junto a palavras vazias de que não deveria ser nada. Ele não era bom com isso — em ser persistente — e provavelmente ele tivesse se habituado demais à espontaneidade de Sakura em sempre lhe contar tudo o que estava a afligindo. Mas talvez ele devesse, como marido, remediar essa situação agora.

Por isso, com um suspiro exasperado, ele empurrou a coberta de lado, agarrou o cantil na mochila dela com a mão, levantou-se e deixou a caverna onde haviam se abrigado na noite passada, seguindo na direção de onde os arquejos sofridos de Sakura provinham.

Mal havia amanhecido, de forma que a luz da matina apenas havia começado a roçar as nuvens violetas que cobriam todo o céu. Por haverem se aproximado da fronteira do País do Vento com o País do Rio, a paisagem antes árida havia dado lugar a uma área de vegetação predominantemente rasteira e árvores rareadas. Às suas costas, havia uma grande ravina escarpada, que servira de abrigo a eles na noite passada.

Apesar de Sasuke pretender atravessar a fronteira e seguir para a costa do país do Rio a princípio, eles poderiam esperar alguns dias no próximo vilarejo caso Sakura precisasse de repouso para se recuperar.

Sem se preocupar em disfarçar o ruído das suas passadas, acercou-se dela e encontrou a esposa um pouco mais adiante, ainda curvada, com os punhos cerrados descansados nas coxas e a cabeça abaixada entre os ombros.

O sentimento de frustração que pesava o seu peito era tanto uma novidade para ele quanto o senso de dever e responsabilidade que o empurrava em direção a ela. Se no passado havia a protegido por ser uma companheira de Time, alguém precioso mais tarde, e uma pessoa que ele não poderia perder anos depois, agora esse sentimento estava mesclado indubitavelmente ao entendimento de que era seu papel zelar por Sakura agora, como ela zelava por ele.

Mesmo que não ficasse à vontade com a sua presença em um momento de extrema fragilidade e tentasse afastá-lo, decidiu que não se importaria. Por isso a abordou sem cerimônias:

— Aqui — estendeu o cantil para ela, que se ergueu para olhá-lo, tensa como a corda esticada de um arco por notá-lo ali.

Como bom observador que era, não fugiu aos olhos de Sasuke o modo como a mão dela tremia ao pegar o cantil da dele, ou a palidez no rosto dela e a vulnerabilidade tão incomum infundida no seu semblante.

— Obrigada, Sasuke-kun — ela sussurrou e imediatamente tratou de lavar a boca, tanto para se livrar do gosto horrível de bile como também porque estava tão consciente quanto embaraçada da proximidade do marido.

Secou o lábio superior com o dorso da mão e inspirou longamente várias vezes. Não conseguiu resistir ao impulso que a fez dar as costas a Sasuke. Estava acostumada mais a cuidar dos outros, era verdade, mas também não queria preocupá-lo sem necessidade.

— Mas eu estou bem — tentou garantir, mesmo com a voz alquebrada e a respiração ainda irregular.

— Talvez devêssemos ficar alguns dias na próxima vila pela qual passarmos — Sasuke sugeriu com uma nota de preocupação na voz.

— Eu não quero atrasar o progresso da viagem — Sakura não conseguiu evitar se queixar, frustrada. — Eu vou melhorar, Sasuke-kun.

— Estamos perto da fronteira do país do Vento com o país do Rio e perto do oceano também — ele desconversou, parecendo não querer dar ouvidos às palavras dela. — Devemos encontrar um vilarejo ou uma cidade portuária, se continuarmos.

— M-mas — ela balbuciou, virando-se para encará-lo, só para perceber que ele havia lhe dado as costas e voltado por onde viera sem se dar ao trabalho de ouvi-la, e isso a frustrava ainda mais.

Honestamente, Sakura não entendia o que estava acontecendo com o seu corpo. Bem, havia uma suspeita, uma voz sussurrou nas profundezas da sua consciência, mas ela precisaria ter mais certeza para não cometer enganos nem mesmo assumir algo precipitadamente.

É claro que a palavra gravidez havia cruzado seus pensamentos ao menos uma centena de vezes desde que esses estranhos sintomas passaram a acometê-la. Os incômodos no seu baixo-ventre, a sensibilidade atípica nos seus seios, a sonolência, e agora ela já podia somar os enjoos também.

Enrubescendo, lembrou-se de que tanto ela quanto Sasuke não haviam se preocupado em tentar evitar uma gravidez. Eles estiveram viajando desde o dia em que se casaram e o fato de se moverem constantemente havia feito com que ambos priorizassem outras coisas. Sakura não sabia se deveria se arrepender desse descuido agora.

Se por um lado, a possibilidade de ser mãe a deslumbrava, especialmente por carregar dentro do seu corpo uma criança do único homem que ela amou por toda a vida, por outro, ela não tinha certeza se seria a hora certa. E Sasuke não havia nem mesmo vocalizado a sua vontade de ser pai uma só vez.

Com um suspiro pesado, ela decidiu que construir dezenas de cenários imaginários e se afligir com cada um deles não resolveria nada. Ela precisava ter certeza do que estava acontecendo com o seu corpo e, por isso, não diria nada a ele até que suas suspeitas se confirmassem. Era o mais sensato a se fazer, convencia-se.

Mais tarde, com seu estômago aquietado, ela arriscou se alimentar sob o escrutínio do marido, que, apesar de só observá-la à distância, ainda assim a deixava embaraçada. Sabia que ele estava tão frustrado quanto ela, devido às suas respostas evasivas, mas, realmente, Sakura preferia o silêncio enquanto a incerteza perdurasse.

Depois de haverem recolhido seus pertences, Sasuke anunciou que eles seguiriam em direção à costa do País do Rio, ao sul, entretanto o ritmo que ele impôs a deixou um pouco irritada.

— Eu estou bem, Sasuke-kun, é sério — ela se queixou pela terceira vez enquanto Sasuke, que seguia um pouco mais a frente, recusava-se a ouvir os seus apelos. — Eu não acredito que está me ignorando! Você está se preocupando à toa, shannaro! — tagarelava entre muxoxos.

Como resposta, ele apenas tombou o rosto para censurá-la com o sobrecenho franzido e o olhar crispado. Sakura apertou o passo para ficar ao lado dele num ato de pura teimosia. Queria que ele entendesse que ela estava se sentindo bem e que aguentaria se eles se movessem mais rápido, mas, em alguns pontos, seu marido era tão cabeça-dura como ela. E o tratamento de silêncio dele estava lhe dando nos nervos.

— Não vai nem ao menos conversar comigo?! — ela se queixou com uma nota de ofensa no timbre agudo.

Se ela recebesse outro olhar recriminador como aquele, oh, ela não responderia por suas ações, como, por exemplo, agarrá-lo pelo manto e sacudi-lo até que ele voltasse a ter bom senso.

Por isso, digladiando consigo mesma a respeito do que fazer, ela ficou para trás de novo, deixando que Sasuke assumisse a dianteira, até que os seus pés estagnaram completamente no lugar. Abriu a boca e hesitou. Quando falou, sua voz não passava de um fiapo:

— Eu tenho uma suspeita... Do que está acontecendo comigo.

Foi a vez de Sasuke estacar e se voltar para ela com uma expressão tranquila, porém, expectante. Então agora ele a estava ouvindo, ela pensou com azedume tingindo o seu humor. Sakura suspirou; de repente se sentia cansada e terrivelmente nervosa. O fato de o seu estômago estar inquieto agora não tinha nada a ver com enjoos matinais.

— Eu preciso ter certeza antes de te contar — completou e não deixou escapar o modo como os olhos dele suavizaram.

Aparentemente, essa resposta mais honesta o agradou, diferentemente das respostas esquivas de que ela havia tentado convencê-lo desde que os seus mal-estares começaram. Sasuke tinha uma séria sensibilidade até mesmo com pequenas e inofensivas mentiras.

— É... — ele pareceu ponderar a palavra cuidadosamente antes de dizê-la: — É grave?

Sakura enrubesceu e meneou a cabeça energicamente para apagar qualquer suspeita por parte dele de que ela estava seriamente doente.

— Não, de forma alguma. Eu... Eu só quero ter certeza antes de te contar, Sasuke-kun.

— Só isso? — A necessidade absurda dele de obter uma corroboração mais concreta quase a fez sorrir. Quase.

— É só isso, Sasuke-kun. Estou falando sério.

Satisfeita que o tratamento de silêncio havia chegado ao fim, ela voltou a se postar ao lado dele e foi corajosa o bastante até mesmo para procurar pela mão dele e segurá-la.

— Vamos ficar alguns dias na próxima vila pela qual passarmos. É mais do que o suficiente para que eu confirme o que eu tenho — assegurou com um sorriso.

— Certo — ele concordou sem hesitação, mas Sakura não soube dizer se isso a aliviou como deveria ou não.

Dentro de alguns dias, saberia a verdade e talvez confirmasse a sua maior suspeita. Surpreendentemente, isso a deixava ainda mais inquieta.


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Notas finais do capítulo

Gente, nem sei o que dizer sobre essa drabble-que-não-é-drabble. Eu ainda tô meio que torcendo a cara pra tudo o que escrevo, espero que não tenha ficado ruim. Às vezes paro e penso: será que eu não sei mais escrever SasuSaku?! Uaaaahhhhh!
...
Espero que estejam aproveitando bastante o feriado *-*
Muito obrigada a todos que comentaram! Agradecimentos especiais a quem fica puxando minha orelha na página e no Twitter. Obrigada por não me deixarem desistir! HUAHUAHAUHAUA
...
Até o próximo!