Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 28
28


Notas iniciais do capítulo

Vigésima oitava drabble dedicada à Sakaya Chan pela linda recomendação! Espero que goste! *-*
...
Boa leitura e nos vemos nas notas finais!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/632479/chapter/28

Monotonia

Por Deusa Nariko

XXVIII

 

Na saída de Suna, Sasuke e Sakura foram emboscados por um grupo de Nukenins, a cerca de trinta quilômetros da próxima grande cidade, Sutane.

Não eram muito habilidosos, porém estavam em grande número e haviam tido, por um curto momento, o elemento surpresa. Apesar disso, foram rapidamente suprimidos e derrotados por Sasuke e Sakura.

O território ao norte de Sutane era, como a maior parte do país do Vento, desoladamente estéril, um deserto que se perdia de vista à sombra nua de grandes desfiladeiros cujos picos irregulares agora eram encimados por um pôr do sol esplêndido. Com o anoitecer, as temperaturas sempre decaíam depressa ali, especialmente a céu aberto.

Sakura terminou de amarrar os bandidos semiconscientes com uma corda, prendendo-os uns aos outros, costas com costas, e apertando bem o nó com um sentimento secreto de satisfação e um sorriso até um tanto perverso. Bateu as palmas das mãos enluvadas uma contra a outra então, admirando o resultado do seu feito.

— Uma pena que não possamos entregá-los às autoridades — ela se queixou pela primeira vez com desapontamento notável.

— Isso já dará a eles algo para pensar — Sasuke murmurou um pouco mais distante, mirando as nuvens escuras que se aproximavam no céu do poente. — Mais importante, devemos nos apressar.

Alarmada pela soturnez que encontrou na voz do marido, ela também se voltou para o céu que ele observava tão intensamente. Ao longe, enxergou as massas cinzentas e crescentes que se expandiam no horizonte, alongando suas extremidades finas por todo o panorama.

— São nuvens de chuva? — indagou numa nota mais aguda, surpresa, piscando os olhos céticos contra o céu que ensombrecia pouco a pouco; chuvas no deserto eram raras, e no país do Vento eram, sem dúvida, verdadeiras dádivas.

Porém as nuvens de chuva que se achegavam, carregadas pelo vento quente e sibilante do deserto, anunciavam um verdadeiro dilúvio. Sasuke trocou um olhar rápido com a esposa antes de decretar:

— Vamos sair daqui e procurar por um abrigo.

Sakura assentiu, mas em seguida relanceou uma breve olhadela para os Nukenins que eles haviam imobilizado, parcialmente protegidos por uma imensa rocha na qual estavam apoiados. Mas logo o ouviu se pronunciar novamente, assegurando-a:

— Eles ficarão bem, por ora.

Então, eles deixaram aquela planície em busca de um local que lhes oferecesse proteção para a tempestade que se aproximava. O ar seco do deserto estava mais quente e denso, típico de uma tempestade, e as rajadas bruscas de vento tentavam descobrir com fúria o capuz das suas cabeças. Não muito tempo depois, alcançaram um platô rochoso rodeado por ravinas escarpadas, justo quando os primeiros pingos encharcavam a areia fina sob os seus pés.

As nuvens cinzentas haviam tomado todo o céu a essa altura e a chuva se transformou em um aguaceiro, ensopando a ambos. Com dificuldade para enxergar e até para se mover com o peso das roupas, Sakura fez o máximo que pôde para acompanhar a velocidade de Sasuke conforme ele escalava um dos paredões com as solas dos pés cobertas de chakra.

Trovões ribombavam acima das suas cabeças, violentos, e suplantavam os ruídos dos seus passos. Apesar de estar escorregadio, Sakura acompanhou Sasuke sem questionamentos até que o viu indicar para uma pequena reentrância côncava na rocha. Seria o suficiente para protegê-los até que a chuva diminuísse.

Sem delongas, seguiu para onde ele havia apontado, espremendo-se na cavidade e abrigando-se do temporal. Era pequeno, mas se se aconchegasse mais a ele, os dois poderiam esperar ali que a tempestade, ao menos, arrefecesse. O que parecia que não ia acontecer tão cedo.

— Ne, parece que estamos presos aqui — Sakura comentou, sublevando um pouco a voz por conta do barulho da chuva;  uma verdadeira torrente de água escorria pela rocha sobre as cabeças deles, na entrada da minúscula reentrância.

Como estavam ambos sentados lado a lado, suas pernas e braços se tocavam.

— Você está com frio?

Ouvir a voz rouca de Sasuke ao pé do seu ouvido trouxe um rubor notável às faces pálidas de Sakura. Ela conteve um sobressalto e o mirou, confusa, antes de balançar a cabeça negativamente. Uma recusa para a qual ele franziu o cenho, descontente. Os braços que envolviam os joelhos dela mostravam arrepios de frio na pele clara e, por mais que ela tentasse disfarçar, ele via o leve tremer nos lábios dela.

Impaciente, ele ergueu o braço e o descansou ao redor do ombro dela, puxando-a para perto do seu corpo. Suas roupas estavam igualmente encharcadas, mas o calor da sua pele deveria bastar para aquecê-la. Sakura não pensou duas vezes ao passar os braços ao redor da sua cintura e apertar o rosto contra o seu peito. Bom, ele pensou.

O cabelo molhado dela grudava no seu rosto e pescoço, escondendo dele um pouco da sua expressão. Ele gentilmente afastou uma mecha dos olhos dela quando a ouviu sussurrar com uma voz suave que, por pouco, não era abafada pelo som da chuva:

— Apesar da inconveniência do momento, a chuva no deserto é mesmo linda, não é?

Sasuke tentou olhar além do aguaceiro que ainda caía lá fora, fustigando a paisagem abaixo deles, mas, talvez, faltasse a ele o romantismo que transbordava dela. Via apenas um imenso platô rochoso rapidamente se transformar em um lamaceiro. Mais importante do que isso, Sakura havia finalmente se aquecido um pouco, mas, então, ela voltava a sussurrar de forma doce.

— Eu estou muito feliz que tenha me trazido contigo, Sasuke-kun. Estou muito feliz que estejamos aqui, juntos. Eu não iria querer estar em nenhum outro lugar agora... — ela riu, de repente, divertindo-se. — Mesmo presos aqui com essa chuva.

A sinceridade contida na sua voz conseguiu pegá-lo de surpresa, descompondo por um momento o seu semblante calmo. Intrigada pelo silêncio que recebeu como resposta, Sakura ergueu o rosto do peito dele para fitá-lo, porém, a expressão que encontrou no rosto de Sasuke a desconcertou um pouco. Havia uma espécie de vulnerabilidade no olhar dele, uma brandura que ela não esperava encontrar.

— Sasuke-kun?

Tocou o rosto dele, segurando-o entre as mãos, e apartou os lábios em um suspiro. Ele desviou o olhar antes que ela conseguisse decifrar que tipo de sentimento reluzia neste. A súbita compreensão de que o marido estava embaraçado a atingiu em cheio.

Devagar e hesitante, ele sussurrou, quase imperceptivelmente contra o som da chuva na pedra:

— Eu gosto de... ouvir isso.

Gosto de saber que te faço feliz, é o que ele queria dizer, Sakura compreendeu. Não era evidente e tampouco um evento contínuo, mas a insegurança de Sasuke às vezes transparecia, prevalecendo sobre todos os outros sentimentos. Eram ecos do seu passado trágico que dificilmente desapareciam de forma definitiva. Agora, tudo o que ela poderia fazer era ficar ao lado dele e assegurá-lo, todos os dias se fosse necessário, de que jamais se arrependeria de segui-lo.

Ainda tocada pelas palavras, tanto as ditas quanto aquelas que ele guardava para si, Sakura voltou a se apoiar nele, apertando o rosto contra o peito dele. O silêncio, para ambos, era confortável de uma forma que o seria para poucos.

Juntos, aguardaram que o temporal abrandasse até, finalmente, caírem num sono tranquilo com o ruído da chuva na rocha ao fundo.

Quando Sakura despertou, horas mais tarde, a tempestade já havia passado e o céu da alvorada saudava-a límpido e claro, com o sol da manhã brilhando tênue por trás dos desfiladeiros irregulares.

Sem palavras pela beleza do cenário, ela, o mais silenciosamente possível, deslizou para longe de Sasuke (que ainda dormia numa posição não muito confortável, com a cabeça apoiada contra a rocha) e deixou o abrigo em que eles haviam se enfiado no dia anterior.

O cheiro doce da chuva ainda permanecia na brisa leve daquela manhã, refrescando a aridez típica do deserto. Ela aproveitou para se alongar um pouco, estranhando a rigidez nos músculos devido à posição na qual passou a noite.

Buscou pelo seu cantil na bolsa a fim de umedecer os lábios e lavar a boca e apertou uma mão sem perceber contra o estômago inquieto. Não havia notado até então, mas sentia um pequeno desconforto na região do abdome. Cólica, talvez?, conjecturou. Talvez se tratasse do seu período...? Mas já estava na época? Sakura abanou a cabeça, era fácil perder a noção do tempo viajando pelo mundo com Sasuke.

Distraída em seus pensamentos, não notou que o marido havia não só despertado como também havia se colocado ao seu lado, mirando junto a ela o amanhecer que se consolidava no céu claro.

— Oh, bom dia! — Sakura o saudou com um sorriso, embora os olhos dele estivessem fixos na paisagem abaixo deles; ela sorriu novamente quando percebeu que ele também havia se deixado levar pela beleza incomum do deserto depois da chuva. — Lindo, não é?

Sasuke virou o rosto para olhá-la e a expressão tranquila no seu rosto disse-lhe tudo o que ela poderia querer saber. Então, ele se precipitou à frente e para baixo no grande paredão em que eles haviam encontrado abrigo.

— Vamos indo.

Assentiu, contente, agarrando-se aos seus pertences e preparando-se para segui-lo mais uma vez. O incômodo no seu baixo-ventre, pensou, não deveria ser nada fora do normal, no fim das contas.

Resolveu que o colocaria de lado, por ora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Faz tempo que eu não apareço por aqui, né?! Dois meses! Dois. Fucking. Meses! E o motivo é apenas um: estive bloqueada/travada de escrever uma linha que fosse com SasuSaku.
E como eu não conseguia escrever nada com Naruto, resolvi tirar um tempinho pra ir conhecer outras obras. Espero que possam me perdoar pela imeeeeeeensa demora. Mas, realmente, não rolou até semana passada e AINDA ASSIM EU CONSEGUI DEMORAR UMA SEMANA PARA DIGITAR 1.500 PALAVRAS AHHHHHH, frustrante, frustrante! ù.ú
...
Vou tentar voltar aos poucos, prometo. Mas para aqueles que queriam ver a gravidez da Sakura, bem, aqui está, esse só o começo Hahaha
...
Muitíssimo obrigada pelos leitores que comentaram/recomendaram/foram puxar minha orelha lá na página e no twitter. Vocês me motivaram muito! :)
Nos vemos no próximo!