Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 27
27


Notas iniciais do capítulo

Vigésima sétima drabble dedicada à Marcely Velmont pela recomendação maravilhosa! Espero que goste! *-*
...
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XXVII

O país do Vento era formado, em seu vasto território, por grandes desertos escaldantes, imensas áreas inabitáveis, e cidades erigidas sobre oásis edênicos; dunas imensas eram formadas e desfeitas sob tempestades de areia, como aquela que os assolava agora.

Mas apesar das condições adversas, Sasuke e Sakura conseguiram chegar a primeira grande cidade: Yatane.

Com os capuzes dos mantos grossos erguidos a fim de proteger o rosto do vento árido e da areia, eles atravessaram os últimos vinte quilômetros sob uma tormenta furiosa, isso até haverem avistado os grandes prédios de pedra cor terracota que se erguiam amorfos no horizonte alaranjado.

Ali, em Yatane, a tempestade lhes deu uma trégua enquanto cruzavam as ruas meio esvaziadas devido ao mau tempo. Os poucos transeuntes, Shinobis a julgar pelos hitaites que portavam, iam embrulhados em capas e turbantes brancos. As lojas e restaurantes haviam sido fechados por ora, mas eles não demoraram a encontrar um pequeno e charmoso hotel, de formato meio oblongo — típico das construções do país do Vento.

Sakura entrou pela porta logo atrás do marido, finalmente retirando o capuz e o lenço que havia colocado para proteger seu rosto. Ela irrompeu na recepção modesta do hotel e parou ao lado de Sasuke no balcão de madeira enquanto ele pedia por um quarto para que pernoitassem, visto que não poderiam se arriscar enquanto a tempestade não passasse.

Logo, eles se acomodavam em um quarto pequeno, mas aconchegante no terceiro piso. Sakura enfim desprendeu o manto pesado dos seus ombros e o embrulhou junto ao peito. Sasuke acomodou as bolsas de ambos sobre a cama quando ela lhe disse que tomaria um banho, aproveitando para tentar relaxar um pouco.

Quando saiu algum tempo depois, enxugando os cabelos úmidos e envolta num roupão limpo, encontrou Sasuke estagnado junto à única janela do quarto:

— A tempestade parece ter passado — ele lhe disse, voltando os olhos desiguais para ela. — Quer comer alguma coisa?

— Não seria má ideia — aquiesceu com um sorriso, animando-se.

Foi a vez de Sasuke esgueirar-se para o banheiro então, alegando que não demoraria no banho. Sakura se vestiu novamente e penteou os cabelos úmidos com esmero, ajeitando-se diante de um pequeno espelho pendurado na parede oposta à cama de casal. Como trazia pouca roupa consigo, optou por peças leves, que condiziam com o clima quente do país do Vento.

Sasuke saiu do banho poucos minutos depois e, juntos, eles deixaram o hotel para procurarem por algum restaurante ou casa de chá, que haviam reaberto agora que o pior da tempestade já havia passado.

Havia um estabelecimento modesto a poucos metros do hotel, de forma que logo se acomodaram numa das mesas, aguardando que a atendente viesse anotar seus pedidos.

Mais tarde, Sakura tentava ignorar as caretas do marido para sua tigela de shiratama anmitsu¹ — embora se divertisse com toda a situação — enquanto ele mesmo se satisfazia com uma mera tigela de arroz e chá preto.

Ela tentou fazê-lo provar um pouco, mas ante a sua recusa inflexível cedeu com um risinho. Estava prestes a perguntar algo trivial a Sasuke quando notou o enrijecimento dos seus ombros e o franzir do sobrecenho, que pesou seu olhar para algum ponto às costas dela.

Sakura se virou, curiosa, só para encontrar três Shinobis de Suna se acomodando em uma mesa não muito distante da deles e, dentre eles, havia um rosto que seria impossível não reconhecer:

— Kankuro-san! — cumprimentou o shinobi com um aceno de cabeça e um sorriso, que a avistou e retribuiu o gesto, levantando-se para abordá-los.

— Ora, Sakura! — disse ao se aproximar. E em seguida levou os olhos até a expressão ilegível do seu marido: — E quem diria? Uchiha Sasuke!

Agora, seu sorriso, antes apenas simpático, havia adquirido um quê de cinismo. Não era novidade que alguns ainda se resentissem de Sasuke, e outros até que não vissem com bons olhos a última guinada em sua vida: sua redenção.

Kankuro, entretanto, Sakura notou mais tarde, estava apenas curioso com a presença do Shinobi no estabelecimento. Suspiro de alívio discretamente ao perceber isso. Sem perder tempo, ele se posicionou de pé ao seu lado, visto que não recebeu um convite aberto para se juntar ao casal.

— O que fazem em Yatane? — ele perguntou num tom camarada; Sakura relaxou quando a tensão que pensou haver se formado entre eles começou a escoar.

— Estamos apenas de passagem, Sasuke-kun e eu — respondeu-o sem receios e com um sorriso delicado.

— Então é verdade que se casaram? — Kankuro bufou pelo nariz. — Merda, e pensar que eu quase não acreditei quando Gaara e Temari me contaram.

Sakura tentou não levar aquela afirmação para o lado pessoal, mas foi difícil não sentir uma pontinha de dor ante a sinceridade do Shinobi de Suna. Suspirando, resolveu que deixaria para lá.

Kankuro, por outro lado, continuava confiante e simpático.

— Vocês dois com certeza precisam visitar Suna. Temari e Shikamaru adorariam a surpresa. Eles voltam para Konoha em alguns dias.

Sakura assentiu, agradecida pelo convite. Ela adorava a companhia de Temari, e não seria mal passarem por Suna. Havia algum tempo desde a última vez em que estivera lá, além disso...

— Nós podemos ir, não podemos, Sasuke-kun? — ela perguntou ao marido, que até então se manteve em silêncio e até mesmo um pouco relutante em se dirigir a Kankuro.

— Se você quiser — ele deu de ombros e bebericou seu chá, desviando o olhar um tanto hostil da face do outro.

Ela sorriu para ele como encorajamento, pois sabia que Sasuke ainda não ficava tão confortável na presença de conhecidos que testemunharam a sua derrocada no passado. Coincidentemente, Kankuro, Temari e o próprio Kazekage eram três desses conhecidos.

Kankuro escolheu esse momento para se dirigir a Sasuke, atraindo a atenção dele e de Sakura:

— Ei, Uchiha, cuida bem da Sakura, hein? Ela é bem conhecida aqui no país do Vento.

Ele se despediu de ambos logo em seguida, acomodando-se a algumas mesas deles, à esquerda, com os dois Shinobis de Suna com quem ele estava, provavelmente, em uma missão.

— O que ele quis dizer com isso, Sakura? — Sasuke atraiu a atenção dela de volta para o seu rosto, novamente franzido, porém apenas intrigado pelo comentário do mestre das marionetes, intuiu.

Remexendo a colher em sua tigela, tentou formular uma resposta coerente, mas, no fim, deixou seus ombros desabarem, derrotados.

— Hmm, não faço ideia, Sasuke-kun.

— Já esteve aqui antes, não? — ele sondou, curioso, e ela assentiu, voltando a enfiar a colher na boca para mantê-la ocupada. — Quando? — insistiu.

— Algumas vezes em pequenas missões, apenas uma vez estive aqui com Kakashi-sensei e Naruto para uma missão rank-S. Mas isso já faz tanto tempo.

— Conte-me — Sasuke a surpreendeu, deixando a comida de lado para se concentrar inteiramente nela.

Sakura enrubesceu sem que percebesse e suspirou antes de começar a contar sobre como vieram à Suna logo depois do retorno de Naruto à Konoha e do rapto do Kazekage pela Akatsuki. Contou sobre Deidara e sobre Akasuna no Sasori e sobre como ele envenenou Kankuro.

— Você encontrou o antídoto para o veneno dele, não? — Sasuke conjecturou com uma expressão tranquila, mas seus olhos faiscavam com algo mais que ela não conseguiu decidir o que era.

— Sim, não foi tão difícil na verdade e eu tive a melhor Iryō-nin como tutora — deu de ombros.

— Um bom tutor não vale de nada se o aprendiz não tiver talento — ele a corrigiu com um sorriso tênue e Sakura assentiu, nervosa. — Foi só isso? Você salvou a vida dele? — Sasuke indicou com a cabeça para Kankuro, sentado a várias mesas deles.

Ela pensou um pouco antes de respondê-lo dessa vez.

— Também enfrentamos a Akatsuki. Chiyo-baa-sama e eu.

Ele não conseguiu deixar de notar como o timbre dela baixou ao mencionar o nome que ele não conhecia. Paciente, esperou que ela retomasse o fôlego e o assunto.

— Não foi uma luta fácil contra ele, Akasuna no Sasori.

— Mas você o derrotou. — Foi uma constatação por parte de Sasuke, não uma pergunta.

— Com a ajuda de Chiyo-baa-sama, eu nunca teria conseguido sem ela — Sakura se empertigou de repente, piscando para afastar as lágrimas dos olhos.

— E nem ela sem você — ele concluiu, atento às feições dela, em como ensombreceram de repente.

— Podemos mesmo visitar Suna? — ela o perguntou e aliviou seu coração que tivesse voltado a sorrir, mesmo que infimamente. — Eu gostaria de vê-la.

Sasuke assentiu, mas então percebeu que Sakura parecia intranquila outra vez. De cenho franzido, ela o olhou, intrigada.

— Sasuke-kun, você já sabia muitos detalhes a respeito dessa missão. Como adivinhou que eu curei Kankuro com meu antídoto ou que derrotei Sasori?

Encabulado, ele se remexeu no banco de madeira e admitiu, longe dos olhos brilhantes da esposa, sob um resmungo:

— Ouvi... histórias.

— Histórias? — Sakura ecoou, aturdida. — Mas nessa época Sasuke-kun...

Sim, ele estava sob a tutela de Orochimaru, mas e daí? Histórias se espalham, certo? Especialmente as histórias dos feitos do Jinchūriki da Kyūbi ao resgatar o Kazekage da Akatsuki, e de uma jovem Iryō-nin, aprendiz da lendária Sannin Tsunade, que não só criou o antídoto para um veneno letal como também ajudou a derrotar um Nukenin tão famoso e temido.

E como naquela época, em que ouviu aquela história pela primeira vez, o orgulho que sentiu e ainda sentia de Sakura era o mesmo, de tudo o que ela conquistou. Ela merecia ser reconhecida.

Dando de ombros, Sasuke voltou a si e encarou o rosto expectante da esposa; suas faces enrubescidas, seus olhos levemente arregalados e sua boca apartada.

— Como acha que fiquei sabendo que se tornou uma Iryō-nin? Humpf — resmungou e voltou a esconder a expressão encabulada dos olhos atentos de Sakura.

Mas mesmo espiando-a de viés soube: ela estava sorrindo. Sasuke refletiu seu sorriso.

1 – Comida predileta da Sakura.


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Notas finais do capítulo

Um dos mistérios não explicados pelo Sr. Masashi Kishimoto, mais conhecido como O Troll, foi não ter revelado como diacho o Sasuke sabia que a Sakura havia se tornado uma ninja médica, deixando a cargo da nossa imaginação e headcanons.
...
Eu só consigo imaginar Orochimaru e Kabuto fofocando sobre isso e o Sasuke ouvindo atrás da porta, sim, me julguem! HAHAHAHAHA
...
Muito obrigada a todos que comentaram e, mais uma vez, obrigada pela paciência. Estou tentando não demorar tanto, mas às vezes é mais forte do que eu XD
Até o próximo!