Monotonia

Por Deusa Nariko

XXII

❇

Quando a noite caiu, uma fogueira já havia sido acesa e estalava suavemente o seu ardor no breu do céu noturno. As achas, que queimavam nas chamas brandas e ondulantes, liberavam um odor acre no ar frio.

Sakura se enrolou na capa que trazia sobre os ombros. Como previu, a temperatura caiu drasticamente de uma hora para outra. Aconchegou-se bem perto da fogueira. Sasuke encontrava-se do outro lado das chamas e lia calmamente um pergaminho cujo conteúdo ela desconhecia, apoiando-o, desenrolado, sobre um joelho dobrado.

Ela o observou à distância e em silêncio, contemplando as nuances profundas que as sombras do fogo criavam na sua expressão compenetrada e que acentuavam o enviesar das sobrancelhas escuras e elegantes e o crispar dos olhos desiguais conforme percorriam o papel fino.

Haviam dividido uma pequena refeição há poucas horas.

Em certo ponto, ele notou que era observado intensamente e levantou os olhos do pergaminho para fitá-la com um uma expressão indecifrável — ou ao menos ilegível daquela distância e com as chamas e o calor do fogo projetados no seu rosto.

Sakura enrubesceu e foi a primeira a quebrar o contato visual.

Haviam trocado algumas poucas frases desde que voltaram do riacho e ela ainda tinha dificuldade em digerir o fato de que havia seduzido o próprio marido e montado em seu colo com tanto entusiasmo. Não que se envergonhasse do feito, muito pelo contrário, apenas se surpreendia em como se sentia ousada, talvez até mesmo um pouco sexy quando lembrava o ocorrido.

Bem, não é como se Sasuke não houvesse reagido com entusiasmo também à sua investida — e, ah, se ele o fez. E eles já haviam feito amor antes, embora não com essa intensidade e urgência. Descobrir pouco a pouco a respeito do seu próprio corpo e do de Sasuke a intrigava.

Na verdade, fazia-a ter vontade de repetir a experiência para fazer novas descobertas.

— Sakura?

Ela se sobressaltou ao ouvir a voz de Sasuke chamando-a e imediatamente tratou de respondê-lo, esforçando-se para esconder suas faces coradas:

— S-sim?

— Você está bem? — A pergunta dele não fez muito sentido até que acrescentou: — Estou te chamando há algum tempo.

— Estava só um pouco distraída , Sasuke-kun — escusou-se e encolheu-se na sua capa, ondas de calor ainda subiam pelo seu pescoço.

— Humpf, se você diz — ele decidiu deixar para lá e ela suspirou, aliviada.

— Você queria me dizer algo, Sasuke-kun? — ela arriscou, aprumando-se e rezando para que o calor das chamas disfarçasse seu rubor.

— Não — ele negou rápido demais, desviando o olhar, e foi pego na mentira.

Sakura mordiscou o lábio inferior e se levantou para cruzar o espaço entre os dois, alcançando-o. Sentou-se ao lado dele e resolveu se aconchegar ao calor do corpo dele. Tocou no braço dele e nem mesmo percebeu quando o pergaminho aninhado sobre o joelho dele escorregou.

Apesar de ainda estar explorando um espaço recentemente descoberto, Sakura, de fato, jamais teve inibições quanto a vocalizar suas vontades, nunca suprimiu seus desejos femininos, por isso talvez fosse fácil abrir-se com Sasuke sobre a intimidade de ambos.

— Na verdade, Sasuke-kun, eu... — ela esfregou os dedos no braço dele distraidamente e adejou os olhos para ele, depois desviou o olhar, encabulada. — Eu estava pensando em nós dois naquele riacho e... Bem, mais sobre o que fizemos...

Sua voz esmoreceu de repente ante ao silêncio do marido. Não soube como prosseguir a partir de então. O que deveria falar? Cogitou olhá-lo nos olhos, mas não conseguiu. Tinha o coração esmagando suas costelas, socando seu peito, isso até sentir a respiração quente dele soprar o seu rosto.

Tentou entender o que ele pretendia, mas não houve tempo; os lábios dele tocaram os seus breve e docemente. Sakura suspirou quando o viu se afastar um pouco, mas em seguida ele a buscava outra vez com os lábios em outro beijo doce.

Enlaçou o pescoço dele com os braços e rendeu-se quando ele a puxou pela cintura com seu único braço, trazendo-a para bem perto. Apesar de tentar dominá-lo a todo instante e ditar o ritmo, Sasuke continuava a guiá-la sem pressa aparentemente.

Por isso, quando escorregou uma mão do ombro forte e insinuou-a para debaixo da blusa dele, ficou confusa assim que ele se afastou com um sorriso torto nos lábios bem desenhados.

— Sem pressa dessa vez — ele murmurou num tom rouco que fez sua garganta secar.

Entendeu a que ele se referia: no riacho, mais cedo, haviam sido movidos por algum tipo de urgência e desespero. Foi rápido, intenso e arrebatador. Aparentemente, ele propunha alguma espécie de lenta e torturante exploração agora. Isso a deixou ansiosa.

— Sasuke-kun — Sakura por pouco não gemeu o nome do marido quando ele lambeu seus lábios úmidos e deitou o rosto no seu pescoço.

Como estava frio, migraram para a tenda que Sakura ergueu mais cedo e se aconchegaram no mesmo saco de dormir, ainda engajados num ósculo lento e doce em demasiado. Como prometido, não houve pressa tanto por parte dele quanto por parte dela.

Sasuke não poupou a si mesmo de explorar e conhecer o corpo da esposa a cada peça de roupa removida, e Sakura tampouco. Mesmo na escuridão e enrolados na capa dele, reconheceram um ao outro pela textura e suavidade de pele contra pele, pelo perfume dos seus corpos.

Ela deitou-o sobre os seus seios e deslizou suas mãos pelos cabelos grossos, acariciando o couro cabeludo, quando se uniram e tombou a cabeça para trás em deleite. Senti-lo tão perto, tão quente e belo conforme ele impulsionava seus quadris contra ela fazia transbordar seu desejo.

Apesar da urgência inegável por libertação que crescia entre os seus corpos suados, Sasuke não perdeu o controle em nenhum momento. Buscou pela mão dela em algum ponto que ela não lembrou e entrelaçou seus dedos num enlace firme, imobilizando-o acima da sua cabeça.

Sasuke levantou o rosto para fitá-la e Sakura suprimiu um arquejo quando reconheceu o brilho escarlate do Sharingan sondando-a. Ele encostou sua testa à dela e respondeu aos gemidos crescentes com seus grunhidos esporádicos. Como esperado, nem mesmo durante o sexo Sasuke era muito ruidoso, embora a agonia estampada no seu rosto revelasse o suficiente.

Perderam-se nos minutos subsequentes, na sensação do tecido grosseiro da capa de Sasuke resvalando em suas peles nuas conforme se moviam e se contorciam de prazer, nas respirações erráticas compartilhadas.

Quando acabou, e uma quietude deliciosa soçobrou junto a ambos, enlaçados e ainda nus sob o manto dele, Sakura se sentiu languidamente satisfeita e sonolenta. Pensou que enrubesceria de novo, se parasse para pensar nos toques e nas carícias que trocou com Sasuke dessa vez, mas havia apenas um contentamento inabalável no lugar.

Ela certamente quis fazer algum comentário a respeito do desempenho dele, mas temeu que ele se fechasse se o fizesse. Sasuke era tímido no fundo, sempre soube, ao menos quando se tratava do sexo oposto, embora ele provavelmente tenha se esquecido dessa timidez em alguns momentos enquanto faziam amor.

— Por que está sorrindo assim? — A voz dele, no silêncio absoluto da tenda, fez seu coração tornar a martelar com violência.

Sakura corou, mas não conseguiu esconder dele a razão do seu divertimento.

— Eu só estava lembrando o quanto você era tímido no começo, Sasuke-kun.

Quando ele não ofereceu resposta alguma para o seu comentário, Sakura ergueu os olhos até seu rosto e mordeu o lábio para conter um sorriso malicioso tão logo notou os lábios embicados.

Mais do que satisfeita, ela se apertou contra ele e fechou os olhos, esperando pegar no sono.

Nunca diria ao marido, mas adorava ter sido a única garota a vê-lo sem jeito assim.

Além do mais, estava aprendendo, pouco a pouco, a pressionar os botões certos do marido e construindo junto a ele um novo tipo de rotina da qual, tinha certeza, nunca se cansaria.

Na manhã seguinte, bem cedo, antes que o sol despontasse a leste, eles seguiram viagem para o país da Chuva e direto para Amegakure.