Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 12
12


Notas iniciais do capítulo

Décima segunda drabble.
Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XII

Eles viajaram cerca de metade de um dia e mais um pouco, avançando pelo território do País do Fogo sem que Sakura sequer tivesse ideia de para onde estavam seguindo.

E apesar de confiar em Sasuke, ela não conseguia evitar que uma ansiedade crescente e nada benéfica se instalasse na boca do seu estômago.

Naquele trecho da floresta em especial, ela começou a notar como a vegetação rareava a cada quilômetro percorrido: o intricado de árvores decrescia a cada minuto e a luz do poente, filtrada pelas copas frondosas, se tornava cada vez mais vigorosa e nítida, aformoseando a paisagem com fachos âmbar e carmim que pintavam as folhagens.

O fato de estarem caminhando ao invés de se locomovendo através dos galhos das árvores permitia uma apreciação mais demorada do entorno — e também que Sakura pudesse se acalmar um pouco. Ela não queria pressionar Sasuke, de modo que se resignava a segui-lo de perto, acertando seus passos com os dele.

Apesar de não haverem trocado palavra alguma desde que partiram da vila, Sakura achava aquele silêncio entre ambos particularmente acolhedor, não conseguiria sustentar uma conversação trivial, não com a ansiedade desfiando seus nervos lentamente.

Finalmente, eles chegaram à destinação final e isso ela soube pelo olhar atento de Sasuke: era um trecho da floresta próximo à margem de uma lagoa belíssima que, à luz do poente, cintilava espelhando as nuvens lilases que flutuavam à deriva no céu carminado.

Nessa mesma margem, havia uma pequena e modesta hospedaria que ela achou particularmente adorável. Construída com madeira, tinha dois andares e uma varanda bem cuidada, no estilo clássico japonês. A hospedaria transmitia uma aura de exílio e quietude que ali, às margens daquela lagoa, tornava tudo encantador.

— Chegamos — Sasuke anunciou de súbito e seu ar encabulado era gracioso segundo Sakura.

Ele desviou o olhar, claramente embaraçado, e indicou para que seguissem.

— Que lugar é esse, Sasuke-kun? — Sakura perguntou na primeira oportunidade e pensou ter ouvido o esposo grunhir baixinho antes de respondê-la.

— Conheci a dona dessa hospedaria durante a minha jornada, há vários meses.

E isso se provou verdadeiro quando, ao entrarem na recepção, uma mulher de idade, franzina e simpática, veio cumprimentá-los, em especial Sasuke a quem ela tratou com extrema cordialidade.

Do outro lado do lago, Sasuke explicou, havia uma estrada que levava ao País do Rio, e que esta seria a primeira destinação da viagem de ambos. Bem, depois dos dias que passariam hospedados ali, é claro.

Um pouco nervosa, ela seguiu Sasuke, depois que a estalajadeira pediu para que eles a acompanhassem até o quarto designado. Observando o entorno, ela notou que tudo era muito limpo e bem arejado. Sem dúvida, uma estalagem muito bem cuidada por sua proprietária. Não foi à toa que seu esposo a escolheu para que passassem as núpcias. Sasuke era impecável até mesmo nisso.

Sakura sentiu um arrepio na base da sua espinha quando chegaram à suíte certa; a porta de correr revelou um cômodo igualmente organizado e arejado com esteiras bem limpas cobrindo o assoalho, pouca mobília decorativa e dois futons estendidos sobre o chão.

— Fiquem à vontade — disse a senhora com muita cordialidade antes de encerrar a porta e deixá-los a sós; caía a noite àquela altura.

Sakura deu um passo hesitante para dentro do quarto, depois mais outro. Sasuke passou por ela com naturalidade e depositou as bagagens no chão com um baque suave.

— Quer comer algo agora? — ele perguntou enquanto tombava o rosto para ela e Sakura se viu então sob um escrutínio embaraçoso por parte do seu esposo.

— Ah, acho que prefiro tomar um banho primeiro — escusou-se com um sorriso nervoso enquanto Sasuke indicava para ela o banheiro, contíguo ao quarto.

— Vou providenciar algo para comermos — ouviu-o dizer quando passou pela sua figura, apertando com força sua mochila contra o corpo.

E dito isso, ele retirou-se do quarto e deixou-a a sós com os próprios pensamentos e a velha insegurança que carcomia seu entusiasmo a cada vez que pensava em si própria, sozinha com seu marido em um quarto... E nua.

Com um último suspiro, Sakura entrou no banheiro e fechou a porta. Colocou sua mochila no chão e olhou o entorno iluminado. Decidiu que se sentiria melhor depois de um banho, afinal havia viajado quase todo o dia e o cheiro acre das estradas não a fazia se sentir exatamente confiante.

Por isso, despiu-se das vestimentas e da roupa íntima e tentou relaxar sob a água quente. Lavou cada pedaço do corpo com mais afinco do que de costume enquanto a ansiedade que sentia se tornava uma fera arranhando sua frágil autoestima. Como encararia Sasuke naquela noite?

Suspirando, fechou o registro e enrolou-se em um roupão felpudo, deixando que seus cabelos molhados pingassem no piso claro. Revirando o conteúdo de sua mochila, encontrou a lingerie que Ino praticamente a ameaçou para que usasse essa noite. Era branca e muito bonita, de uma renda delicada e gritava a palavra virginal, mas expunha demais na opinião de Sakura.

O que Ino estava pensando?, perguntou-se enquanto ponderava vestir a calcinha e o sutiã que combinavam. Revirou os olhos porque, de repente, Sakura se viu discutindo mentalmente com uma Ino irada por haver descartado os seus conselhos. Então cedeu e colocou primeiro a calcinha e, depois, o sutiã.

Sakura vestiu o mesmo roupão felpudo por cima e penteou os cabelos com uma calma deliberada. Olhou para si mesma no reflexo embaçado do espelho e o que encontrou a surpreendeu: viu uma jovem de traços exóticos, cabelos curtos, porém macios e num corte bonito; olhos grandes e excitados encaravam-na de volta, absortos, de um tom de verde que as pessoas lhe diziam lembrar a primavera. As maçãs do rosto eram bem desenhadas e o nariz arrebitado e o queixo afilado, muito delicados. Também havia uma testa que, apesar de desproporcional no tamanho em sua opinião, complementava seus traços.

Os lábios cheios e cor-de-rosa que ela via no espelho modelaram-se em um sorriso, por fim. Pousando o pente sobre a pia, seu sorriso ampliou-se, alcançando-lhe os olhos.

Se Sakura permitiria que aquela velha insegurança atrapalhasse a noite mais especial de sua vida com o homem que sempre havia amado? Shannaro, definitivamente não!, ela decidiu enquanto cerrava um punho e o exibia diante do espelho com um sorriso confiante.


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Notas finais do capítulo

Eu devia ter postado antes, but... Fui assistir DareDevil essa semana (porque minha consciência já estava começando a me cobrar) e aí quando acabei descobri que ela me deixou com depressão pós-série AHUAHUAHUAHUAHUA Uma ótima série, sem dúvida! :3
...
Obrigada a todos que comentaram. Nos vemos nos reviews! ;)
Até o próximo!



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