Naruto retorna da escola junto dos amigos.

_O Iruka pegou pesado? _O Inuzuka pergunta se equilibrando no meio fio.

_Que nada, só disse pra eu não imitar a Hyuuga nunca mais. _Naruto mal se lembra das palavras ditas pelo professor, a única salva na memória é “Responsável”.

_Que jogo vai ter hoje Naruto? _Kiba muda de assunto olhando pro céu. Alguém na bicicleta passa pelo seu lado direito na rua muito rápido trazendo um vento forte. Incomodado o Inuzuka sai do meio fio indo mais para dentro da calçada.

_Hoje sem reunião galera, minha mãe não poderá arrumar minha bagunça e não estou com vontade de bancar o empregado. _Naruto sério segurando as alças da mochila com as duas mãos, caminha fitando o chão. _Meu pai irá viajar e prometi também a não fazer desafios.

_Mas ser proibido é o que faz o desafio emocionante, você disse. _Kiba menciona contrariado.

_Faz o desafio MAIS emocionante, e meu pai prometeu fazer um desafio junto comigo quando voltar, contanto que eu não me meta em encrenca durante a ausência dele.

_Que inveja. _Chouji fala admirado, vem andando entre Kiba e Naruto. _Queria que meu pai fizesse isso.

_Eu nem tenho pai. _Kiba chateado reclama: _Só duas mulheres chatas que se preocupam com a minha higiene.

_Minha mãe vale por essas duas. _Shikamaru coça o ouvido andando um pouco atrás do Uzumaki. _Por que acham que eu sempre estou cansado?

Todos riem, param de andar numa encruzilhada pela qual seguiriam caminhos diferentes, então despedem-se com seus gestos de amizade. Shikamaru e Chouji seguem adiante enquanto Kiba e Naruto tomam lados opostos.

~.~

Quando segui caminho sozinho voltei a pensar sobre “ser responsável”, na época, ter responsabilidade para mim significava fazer meus deveres de escola, ajudar meus pais em casa entre outros exemplos que se encaixavam no “bom filho”. Para uma criança na oitava série eu tinha uma mente atrasada.

Nesse dia em especial esqueci sobre o sermão de Iruka por que meu pai estava de partida.

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_Pai? _Naruto encontra Minato se preparando para viajar. Reconhece o casaco e o par de botas os quais o pai sempre usa nas longas viagens.

_Olá filhão, já me despedi da sua mãe, ela está dormindo um pouco, não a acorde, pois teve mais um dia cheio no Ichiraku. _Minato anda até a mala que está em cima de um dos sofás da sala. Depois de checar suas coisas se vira pro menino. _Lembre-se do que combinamos.

_Sim senhor! _Naruto toma postura séria. _Sem desafios!

_Valeu filhão, eu te amo. _Minato orgulhoso o beija na testa.

_Se cuida pai. _Naruto sente vergonha de dizer “eu te amo”.

Minato descontente observa o filho retirar a mochila das costas. Os dois voltam a se olhar.

_Eu quero que você me diga as três palavras.

_O senhor sabe a verdade então por que devo dizê-las? _Naruto se emburra corando.

Minato sacode o cabelo do filho. _Quando eu participar de algum dos seus loucos desafios, aceita uma aposta?

_Aposta? _Os olhos de Naruto brilham. Algo para deixar o desafio mais emocionante sempre o interessa.

_Sim, se eu vencer quero ouvir essas palavras tão lindas.

_Tá feito, mas e se perder? _O entusiasmo de Naruto foge para além de sua face.

Minato confere no relógio, precisa se apressar. _Escolha o que quiser, tenho que ir.

_O que eu quiser.... _São tantas possibilidades que Naruto não pode decidir na hora.

_Pense bem, me diga quando eu retornar. _Anda até a porta, quando está do lado de fora, escuta a voz do filho:

_Vai se arrepender, velho!

Minato sorrir.

_Eu não vou! _Devolve enquanto segue seu caminho: _Você vai me dizer “Eu te amo”.

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Meu pai venceu a aposta, da pior forma.

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Segunda feira, 27 de fevereiro de 2005.

Na primeira aula do dia, Naruto passa a observar a Hyuuga que entrega um bilhete ao Aburame. Shino devolve cinco minutos depois. Hinata entrega novamente ao colega após um minuto. O menino de óculos devolve dois minutos depois e assim ficam trocando bilhetes até o menino passar a ignorar a Hyuuga.

_”Mas o que será que ela tá escrevendo?”. _Naruto é tomado por uma curiosidade absurda que o deixa inquieto.

Quando a aula termina, o Uzumaki sai da sala pra beber água. Quando está retornando, do final do corredor avista Shino reclamando com o professor Iruka. Se esconde para ouvi-los:

_Minha visão é muito sensível, tenho dificuldade em copiar do quadro e fazer anotações extras para a Hyuuga, sabe por quê? Por que os óculos escuros evitam que meus olhos não ardam quando expostos a claridade não incluindo a melhoria da minha visão um tanto embaçada. Simplificando: Hyuuga Hinata está me atrasando.

_Entendo, seu pai me avisou que levará mais de dois meses para equipar os óculos escuros com lentes especiais. _Iruka suspira. _Vou conversar com Hinata, outro colega irá ajudá-la.

Shino agradece e retorna pra sala de aula enquanto Iruka fica preocupado.

Naruto espera Iruka ir para a sala dos professores, quando não o tem avista, prossegue caminho pensando:

_”Se ela passar a atrasar todos que a ajudarem, será odiada muito rápido”

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Não estava alegre quando pensei, eu não desejava ser amigo dela, mas também não nutria um sentimento perverso como o ódio. Eu só sentia irritação por ter sensações estranhas que ela me provocava.

O que eu propositava com Hinata era só uma leve diversão. Diversão essa que se tornou a culpa que estou carregando.

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_Muito bem, quem já terminou? _O professor da próxima aula interroga. _Vou perguntar o número da questão para que possa ser respondida oralmente.

Hinata percebe quase todos os colegas erguerem o braço, querendo ser incluída, levanta o braço também.

_Hyuuga Hinata, começando por você, a resposta da questão 12. _Asuma, o professor, risca no quadro a pergunta.

Hinata nega movendo a cabeça.

_Você ainda não terminou. _Asuma confere quando se aproxima. Escolhe a menina sentada de um dos lados da Hyuuga. _Sasame, poderia avisar para Hinata levantar a mão apenas quando terminar?

_Sim professor. _Sasame se inclina e escreve no caderno de Hinata enquanto outro aluno é escolhido para responder.

Naruto pensa. _”Sasame será a próxima a cansar”.

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A aula de canto é a atividade que atribui pontos extras aos alunos participantes do concurso de coral. A turma A-8 se direciona para o palanque do auditório.

Shizune, uma mulher de gestos suaves é a responsável pelas aulas. Iniciando o teste de música, os alunos se espantam com a voz de Hinata que tenta seguir as notas guiadas pela professora. Completando cinco minutos de tentativas a professora dar por encerrado o ensaio e se compromete a conversar com a turma:

_Tenho conhecimento do problema da Srta. Hyuuga, ela terá espaço para participar do concurso do coral. Teremos que nos esforçar exigindo o verdadeiro trabalho de equipe....

_O ensaiou já terminou? _Sasame pergunta em voz baixa para não interromper o discurso de Shizune.

_A professora Shizune também é instrutora da companhia auditiva da cidade, deve ser importante pra ela conversar sobre Hinata. _Sai responde em sussurro.

_Vamos perder o concurso desse ano. _Sakura murmura crente em suas palavras.

_Uma pena, seria nossa terceira vitória seguida. _A Yamanaka de acordo olha pra Hyuuga que está na fileira da frente.

Hinata tem as mãos unidas diante o corpo mantendo o singelo sorriso, aprecia o carinho expresso nos olhos escuros de Shizune e em como a professora sorrir quando ambas trocam olhar.

_Eu como instrutora da mais conhecida companhia auditiva de Konoha, sugiro a inclusão nas aulas sobre a linguagem dos sinais. _Shizune gera reação espontânea nos alunos.

Naruto ergue a mão, estando atrás de Sakura e Ino, ao ter a atenção sobre ele, pergunta espantado: _O que é linguagem de sinais?

_É como mudos e surdos se comunicam, usando as mãos fazendo símbolos. _Shizune responde.

_Tão esquisito quanto à própria Hinata. _O Uzumaki comenta exclusivamente para os colegas.

_Perdão, falou alguma coisa? _Shizune pergunta curiosa. _Toda dúvida deve ser compartilhada com todos.

Naruto olhando pro lado responde: _Não vejo necessidade em aprender a linguagem de sinais, já nos comunicamos com a Hyuuga através do caderno.

Kiba se inclui no protesto: _E como aprender linguagem de sinais nos ajudará no concurso de canto? Aprender esse método é o melhor para Hinata, não pra gente.

Muitos alunos têm expressões cansadas e irritadas.

_Estamos tratando de solidariedade também. _Shizune ergue as mãos balançando-as na frente do corpo. _Calma gente, vocês não acham que é legal aprender algo novo?

_Não acho legal aprender sobre isso, não convivo com ninguém surdo ou mudo além da Hyuuga. Acho mais aproveitável as aulas de inglês. Concordando com Kiba, as aulas beneficiarão somente a Hinata. _Alguém fala usando tom sério.

Shizune se decepciona com a reação hostil da turma A-8.

Hinata se preocupa pelo que acontece, dar-se conta que pode ser o alvo da conversa.

_Professora Shizune. _Iruka entra no auditório, anda pelo espaço que divide o conjunto de bancos, alcança a curta escada e sobe sobre o palco. _Passando para observá-los, não pude deixar de escutar.

_Agradeceria seu apoio professor, os alunos se recusam a colaborar com....

_Shizune, não posso tirar a razão deles, você sugeriu sobre as aulas de linguagem de sinais sem o consentimento da diretoria. Estamos sempre mencionando nas reuniões dos professores maneiras para acolher melhor a situação da Hyuuga. Com o nosso horário de aulas sem espaço para incluir sua ideia, digo que no mínimo os alunos tenham a opção de escolher se querem participar ou não de aulas extras voltadas para esse assunto.

_”AHAAA”. _Naruto pensa em comemoração.

Kiba, Sakura e Ino sorriem. Sai lamenta pela Hyuuga, tem o semblante triste. Shino indiferente concorda com tudo que não possa atrasá-lo. Shikamaru e Chouji também não estão interessados nas aulas de linguagem simbólica, porém nenhum dos dois festeja como uns colegas que não escondem a satisfação.

_Bem..._Shizune envergonhada, pergunta: _Quem vai querer aprender?

Naruto esconde o riso. _”Que bobo perguntar isso, claro que ninguém vai querer...a não ser...”.

_Aqui. _Uchiha Sasuke levanta a mão na altura da cabeça. Ele está no canto da última fileira de alunos.

Shizune sente o coração derreter. Agradece sentindo a alma salva: _Muito obrigada por seu apoio Uchiha, é importante.

_Eu também. _Sai se destaca entre os colegas.

_Muito obrigada a você também. _Shizune se emociona.

_Professor, nós também. _Sakura e Ino se dão as mãos. Elas não estão felizes, mas fingem. Seus corações estão disparados.

_”Que chatas...só querem ficar perto do Sasuke...”. _Naruto conhece a verdade.

No fim, oito alunos se dispõem para receber as aulas extras.

Hinata ao notar que o ânimo dos colegas volta ao normal, se tranquiliza e cola seu sorriso que é um grande incomodo para o Uzumaki.

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Naruto escondido do lado do palco espera o auditório se tornar quase vazio. Só quem ficam além dele é Shizune e Hinata que conversam com as mãos. A professora explica tudo o que foi debatido no auditório e no fim recebe um grande abraço da Hyuuga que solta uma lagrima.

_Fique bem meu anjo. _Shizune se despede.

Hinata anda até suas coisas deixadas sobre uma cadeira da primeira fila de lugares. Quando se vira se depara com o Uzumaki a lhe encarar. As bochechas dela ficam rosa o que deixa o Uzumaki aflito por não compreender o motivo.

_Seu caderno. _Naruto pede. _Merda, agora até eu tô falando com uma surda. _Ele puxa Hinata pelo braço e abre a mochila dela, tirando de lá o caderno, o joga no chão e usa a própria caneta para escrever nele. Devolve grosseiramente: _Aqui, você vai arruinar o concurso então pede pra sair.

Naruto sai correndo deixando-a só.

O que escreveu no caderno:

“Você tem uma voz horrível”.

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Não era horrível!

A voz lembrava o som de uma flauta encantada, mas Hinata não sabia seguir as notas musicais, seu despreparo me incomodava fazendo eu não reconhecer a formosura que era ouvi-la falar. Eu me guiei pelo descontentamento dos meus colegas e só pude pensar numa forma de atingi-la.

Assim como Sakura e Ino, as meninas que faziam as aulas de linguagem dos sinais frequentavam por causa do Uchiha. Não existia interesse nelas em criar vínculos com Hinata.

Sai, Sasuke e Hinata, esse foi o trio que se consolidou na turma A-8. Eles não ligavam se faziam parte dos assuntos dos murmúrios na sala. A Hyuuga não sabia sobre as conversas por trás dela.

Por que o Uchiha, o garoto tão admirado e que possuía um comportamento fechado, se abriu de repente para a nova aluna? Consideraram Hinata como uma coitadinha. Também temiam fazer algo a ela e incomodar Sasuke que fazia parte de uma família tão influente.

Me encontrava carente de desafios. Mantinha a promessa erguida que fiz ao meu pai. Fora da escola eu conseguia preencher o tempo saindo com meus amigos para me divertir. Fazia meu dever quando possível e ajudava minha mãe quando ela precisava.

Mas dentro da escola eu não conseguia prestar toda minha atenção nas aulas, lá eu não tinha ninguém para sacanear, eu tentava puxar uma ou outra gracinha com alguém, mas não funcionava como quando perturbei Hinata quando ela começou a estudar.

A união de Hinata com Sasuke fez com que os alunos não quisessem intimida-la, eles guardavam as opiniões para eles mesmos. Isso incluía Sai, ninguém tirava graça com ele por considera-lo amigo do Uchiha.

“Uchiha, maldito, tirou minha diversão”

Era a ideia que eu tinha.

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Na primeira semana de março acontece o concurso de coral, mas a turma A-8 não consegue uma boa nota.

A Hyuuga chega na sala e acena para Sai que está sentado cabisbaixo.

_O que aconteceu? _Pergunta ela fazendo sinais com as mãos.

Sai ergue a cabeça na direção do quadro.

“Surdas não deveriam cantar”

“Você fez a gente perder o concurso”

“Saia da escola”

Hinata se assusta ao ler tantas mensagens ruins. Reconhece a letra de Naruto na frase:

“Sua voz é horrível, deveria ter desistido”

Sakura e Ino tentam não olhar pra Hyuuga. Estão quietas.

Naruto observa estando fora de sala, atrás da porta.

Tímido, Sai se levanta e anda até na frente da turma, traduz em fala o que Hinata lhe diz por dedos:

_Muito obrigada pela sinceridade aos que escreveram, me esforçarei para não ser um empecilho.

A informação choca quem esperou por um choro ou raiva. E para surpreendê-los mais, Hinata pega o apagador e começa a limpar o quadro antes que o professor chegue.

_Me sinto mal por ter feito parte disso..._Sasame sussurra para Ino e Sakura. Só escreveu uma palavra, mas por causa da insistência chata de certas colegas.

A Haruno está consternada por tamanha bondade vinda da Hyuuga. A Yamanaka também.

_”Qual o problema...ela é louca” _Naruto soca o batente da porta. Percebe as feições de alguns colegas, eles se arrependem por terem ajudado a encher o quadro de ofensas. _"Isso quer dizer que...ela não ficou com raiva quando eu escrevi no caderno dela?" _O perdão dela não faz diferença pra ele, mas está curioso.

_Foi você? _Sasuke toca no ombro do Uzumaki que desperta do seu momento de inquietude.

_Não. _Naruto responde e puxa o ombro com força, negando ser tocado pelo Uchiha.

Kiba, Shikamaru e Chouji vão entrando, mas não param quando passam pelos dois. É certo que os três percebem o clima entre o Uzumaki e o Uchiha.

_Você mexia com Hinata quando ela começou a estudar na turma. Eu sei o que você pensa dela, se voltar a fazer qualquer palhaçada contra a Hyuuga, saiba que terá que se ver comigo.

_Qual é a tua Uchiha? Não fala merda nenhuma há um tempão e de repente vem bostanejar na minha cara!

_Tá avisado, Uzumaki. _Sasuke segue em frente sem mais alertas.

Naruto raivoso volta pro seu lugar e fica quieto, nem olha pra Kiba, Shikamaru ou Chouji. Fitando o vazio da própria mesa começa a escutar as conversas entorno dele.

_Foi o Uzumaki que nos convenceu a escrever essas besteiras. Não vou mais dar ibope pra esse idiota.

_É...e se o Uchiha tá defendendo a Hyuuga acho melhor pararmos de tentar perturbá-la.

_Nós já tínhamos parado, foi o Naruto baka que insistiu. Eu deveria ter ignorado, mas eu estava com muita raiva por ter perdido o concurso de coral.

_Calma, a Hyuuga não irá dedurar ninguém. Sabe, acho que vou querer aprender a linguagem de sinais.

_Eu também.

Naruto percebe que Hinata não é mais alguém que ele possa usar como alvo de brincadeiras.

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Uma pena que eu não me dei por vencido. Fiquei disposto em confrontar o Uchiha também.

Hoje desejei que Sasuke tivesse me dado uma surra na frente de todo mundo da sala, talvez me impedisse de fazer o que fiz.