Dernière Danse escrita por Holly Hobbie


Capítulo 1
Capítulo Único - A Última Dança


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas lindas!
Primeiramente, muito obrigada por tirarem um tempinho para ler minha história, vocês são demais ♥
Hum, é, acho que é só isso...Espero que gostem!
~Holly



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A Última Dança

“Eu movo o céu, o dia, a noite

Danço com o vento, a chuva

Uma pitada de amor, uma gota de mel

E danço, danço, danço...”

– Dernière Danse, Indila

~*~

No mesmo ponto no qual havia começado, parava-se naquele momento. A atmosfera, contudo, mudara drasticamente com o passar dos éons, e nada mais parecia com o que uma vez fora. As flores, mortas. As árvores, sombrias e estagnadas. O céu, negro véu impreciso, jogado aos ares como se nada fosse.

E as luzes, pensou, desligadas. Terminadas e perdidas.

Já era tarde para voltar atrás.

Olhando ao seu redor, mal podia ver, mas seus olhos escarlate faiscavam em busca da alma sobrante, sua última incumbência. E lá estava ela.

Envolta em lúgubre aurora, ajoelhava-se em meio às ressequidas folhas, no solo estéril, enquanto a última lágrima lhe escorria pelas belas faces: a Vida, desfrutando de seus últimos momentos.

A Morte, por sua vez, parada a observar a velha rival – e mesmo querida amiga -, ria-se internamente, com um confuso de glória e amargura. O momento da vitória, por Ela tão esperado, lhe trazia dor. Como poderia ser verdade? Estaria o ciclo mesmo encerrado?

Dando seus passos, o crepitar da relva sem vida produzia incômoda sinfonia, adentrando insistente os ouvidos rachados da Vida, fazendo-a remoer-se de dor e desespero, mas, porém, mantendo-se imóvel.

Não ousava olhar a Morte nos olhos, mesmo assim, proferiu:

— Sabia que viria — sua voz imitava o Universo, fria, decadente e quase inexistente.

A Morte nada disse. Sempre fora a mais quieta: chegava ao meio da noite, quando a penumbra lhe servia de veste, sem aviso ou convite, invadindo de forma discreta o território antes pela Vida permeado, e então, se instalava o silêncio.

Apesar de sua natureza muda persistente, não negaria à amada irmã uma dança.

A última dança da Vida, o último baile do Mundo.

O gesto com os dedos fora quase imperceptível em meio às trevas, quase inexistente, mas a Vida não deixa nada passar – e tampouco o faz a Morte. Agarrou-se com firmeza à mão estendida, erguendo pela primeira vez o corpo e os olhos, ignorando a fraqueza da carne, a perda do brilho, a falta de fôlego.

A água que de seus olhos teimava em cair.

Assim como no princípio, dois corpos unidos: a mais formosa valsa austríaca. O mais dramático tango argentino. A mais enérgica salsa nova-iorquina, em harmonia fatal bailada. Sem erros, sem falhas, sem tempo definido.

Mas a música acabara, e não há mais soluções para serem tentadas, pois o lobo já não uiva, o leão já não ruge e o canário já não canta.

É indubitável a fraqueza da Vida. Seus joelhos não mais a suportam, sua coluna não mais a sustenta, seus olhos não mais fazem luz.

Dos olhos da Morte escapa uma lágrima. Solitária, fria, sem Vida, mas nos claros orbes da Vida, apenas Morte remanesce.

Sofrimento encerrado, a Vida se desfaz, e a última faísca se apaga por completo, o Universo dá seu último suspiro.

Do bolso de suas vestes, a Morte busca uma chave que não reluz ou produz som, e põe-se a andar, mas a sinfonia de estalos quebradiços do solo não mais se levanta.

A Terra se contorce de dor e encolhe em um resto, um amassado de papéis, um nada, até que tudo, até mesmo a Morte, desapareça por completo.

Portões eternamente selados, a única melodia restante é a da Quietude.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Sim, a repetição constante das palavras Vida e Morte foi proposital, assim como a mudança no tempo verbal no final do conto, caso estejam se perguntando ;)
Espero que tenham um tempinho para escrever um review, mas se não, muito obrigada por lerem!
Mil beijos!
~Holly