As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 37
Segunda Fase: O Mundo da Fama


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores lindos da minha vidinha! ♥ Como vcs estão? Eu não vou muito bem, estou num dia bem triste, mas vamos seguindo! E enfim, depois de muita luta – e tempo – iniciamos a segunda fase! É motivo para comemorar! Rsrs!

Segunda Fase: A Máscara da Fama começa aqui.

Enjoy!



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Da janela eu podia ver a multidão ensandecida se acumulando ao redor da van, munida por celulares e câmeras. Às vezes eu não conseguia nem ao menos distinguir quem era paparazzi e quem era fã.

"Pronta para ir?" Itachi perguntou, colocando a mão em meu ombro.

Soltei o ar pesadamente, um tanto aborrecida pelo que vinha pela frente. Mas era isso: não tinha outro jeito.

"Vamos lá." Respondi, alisando minha roupa.

Quando Itachi abriu a porta da van, tratei de colocar a minha melhor máscara de simpatia, fingindo que eu adorava tudo aquilo. Honestamente... Quem em sã consciência iria adorar?

Paparazzis, repórteres, fãs e curiosos se misturavam num bolo humano, empurrando uns aos outros na tentativa de chegar mais perto de mim. Eles gritavam o mais alto que podiam, desesperados por minha atenção.

Meus dois seguranças pessoais, Itachi e Ross, imprensaram-me um de cada lado, tentando me proteger enquanto abriam caminho naquele caos.

Inúmeras câmeras eram enfiadas na frente do meu rosto sem o menor respeito, irritando-me profundamente. Mesmo assim eu sorria e acenava o máximo que podia, tentando manter minha pose inabalável.

A assustadora multidão me cercou por todos os lados e, automaticamente, agarrei o braço de Itachi, com medo de não conseguir sair ilesa dali. Era um empurra-empurra que não parecia ter fim e, algumas pessoas conseguiam me tocar no meio da confusão, o que tornava tudo um pouco mais assustador.

Eu já tinha passado por isso diversas vezes, mas nunca deixava de ser um aborrecimento.

Com ajuda de outros seguranças, Itachi e Ross conseguiram me levar até a entrada da arena, fechando a porta atrás de si e deixando aqueles loucos para trás.

"Ufa." Respirei aliviada, enquanto os dois me soltavam.

Itachi me virou para ele, passando seu olhar avaliativo por todo o meu corpo. "Você está bem?"

"Sem ferimentos." Respondi, com um sorriso de lado. "Obrigada."

O Uchiha assentiu, afastando-se com sua habitual pose séria.

"Sakura!" Ouvi a voz estridente de Karin me chamar. A garota veio na minha direção com passos rápidos. "Quanta demora! Vem logo! Você precisa se arrumar!"

Sem me dar tempo de responder ela me puxou pela mão, praticamente me fazendo correr até o camarim.

"Eu já estava ficando preocupada!" Karin voltou a falar, enquanto a maquiadora começou a tirar minha maquiagem atual. "Por que demorou?"

"A sessão de fotos demorou mais que o previsto." Respondi, tentando relaxar. Eu estava cansada. Fazia tempos que eu não sabia o que era dormir direito.

Karin fez uma careta. "Você sabe que esse show não pode atrasar! É o mais importante da turnê!"

Soltei uma respiração pesada. Eu sabia disso. Mas não era culpa minha que a máquina do fotógrafo tinha resolvido dar defeito justamente no meio da minha sessão.

"Karin, por favor, deixa eu dar uma descansada." Pedi, fechando os olhos. A maquiadora já começava a preparar minha pele para a nova maquiagem. Senti alguém desamarrar meus cabelos e não precisei olhar para saber que era o cabeleireiro, que também ia começar a trabalhar.

"Ok, desculpa." A ruiva disse, pesarosamente. "Eu sei que tem sido difícil descansar nos últimos tempos, mas por hoje ser um dia tão importante eu estou um pouco pilhada."

"Imagine eu." Respondi, querendo acabar a conversa e dar um cochilo.

Eu precisava da minha melhor performance hoje. Era o último show da turnê e, ainda por cima, a gravação do DVD. Sem contar que iria me apresentar no Madison Square Garden, o mais famoso palco de Nova York.

"Durma por meia hora." Karin disse. "Vou trazer um energético para quando você acordar."

Agradeci Karin, silenciosamente.

Estar em turnê era muito cansativo, apesar dos lucros e da gratificação de conhecer diversos lugares pelo mundo, encontrando fãs das mais diferentes nacionalidades. Durante uma turnê, eu quase não tinha folga, só quando estava em aviões. Quando chegávamos na cidade eu precisava conceder entrevistas aos programas e rádios locais, posar para fotos e, à noite, me apresentar. Era sempre uma rotina exaustiva. O mínimo tempo livre que eu tinha, tirava para conhecer nem que fosse um pouco da cidade.

Com o tempo, aprendi a cochilar em situações e lugares que outras pessoas não cochilariam. Eu dormia quando estavam preparando minha maquiagem e cabelo, dormia no carro, entre um compromisso e outro, dormia até mesmo em lugares muito barulhentos. Fossem 10 minutos ou uma hora, eu aproveitava qualquer tempinho, porque raríssimas eram as noites que eu podia tirar inteiramente para dormir. Então, meia hora para mim era um luxo que eu não desperdiçaria.

Antes que eu pudesse perceber, eu já tinha sido levada pelo sono – que eu gostaria que tivesse sido bem mais longo.

Fui despertada por Karin, que trazia consigo um olhar de desculpas e um energético.

"Você vai se sentir mais esperta depois de tomar isso." 

Suspirei, fazendo esforço para me manter acordada.

A maquiadora e o cabeleireiro já tinham terminado o serviço e eu dei uma boa olhada no espelho.

Meu longo cabelo cor-de-rosa estava solto, com ondas suaves enfeitando as pontas. Minha maquiagem era mais carregada no olho, mas não chegava a ser pesada. Eu estava bonita.

Sem que eu conseguisse me policiar, lembrei-me de um dia absurdamente raro em que minha mãe penteou meus cabelos e disse que eu me tornaria uma moça bonita quando crescesse, enquanto me olhava pelo espelho. Na época, eu devia ser uma criança de não mais que oito anos e aquela foi uma das raras vezes em que ela foi gentil comigo – talvez por isso eu guardasse a memória, mesmo depois de tantos anos.

Balancei a cabeça, sem entender por que tal lembrança me surgiu assim tão de repente. Talvez fossem resquícios do sono.

Bebi o energético que Karin me ofereceu, enquanto me levantava para trocar de roupa.

Mesmo que eu ainda estivesse no camarim, já podia ouvir os gritos vindo da arena.

"Ouvi dizer que os ingressos foram vendidos em um minuto." Falei. "É verdade?"

Karin assentiu, com satisfação. "Menos de um minuto! A arena está lotada."

Dei um sorriso, cheio de orgulho.

Eu tinha dezenove anos e estava no topo do mundo.

Nem eu mesma sabia quantos prêmios já tinha conquistado e quantos recordes tinha quebrado. Todo mundo conhecia meu rosto e meu nome era respeitado. Apesar de tudo, fazia o possível para manter o pé no chão. Tudo que eu menos queria era me tornar um dos artistas arrogantes que eu tanto desprezava.

Havia uma voz dentro de mim que me impedia de esquecer do lugar de onde eu vim e tudo que sofri até alcançar o que tinha hoje. Por isso eu era grata.

Terminei de vestir minha roupa de show e de tomar o energético. Já me sentia bem melhor.

Karin me guiou para fora do camarim, onde eu encontrei com meus dançarinos e banda. Estávamos ansiosos pelo show de encerramento. Era o fim de uma era.

Os gritos dos meus fãs ficavam cada vez mais alto, chamando meu nome. Eles se intitulavam Hanamis, em homenagem ao costume japonês de contemplar as flores de cerejeira – sakuras – desabrochando. Eu achava fofo.

Com minha equipe completa, demos as mãos e fizemos uma pequena oração antes da apresentação. Era um costume que nunca pulávamos.

"É o último show da turnê." Eu comecei um pequeno discurso de incentivo. "Por mais de oito meses vocês deixaram suas casas e famílias para se apresentarem comigo por inúmeras cidades espalhadas pelo mundo. Eu sei que foi difícil, mas também tivemos momentos incríveis e, hoje, encerramos essa etapa das nossas vidas. Então espero que possamos todos entregar o nosso melhor desempenho e encerrar a turnê com chave de ouro." A equipe, em peso, gritou em concordância.

"Vamos arrebentar!" Um dos dançarinos gritou e nós o seguimos, proferindo palavras de incentivos uns aos outros.

E então eles se prepararam para entrar no palco.

Meu olhar varreu uma busca pelo local, apesar de eu saber que não teria resultado.

"Ele não vem." Karin colocou uma mão em meu ombro, com um olhar que se assemelhava a pena.

Torci os lábios. "Eu sei."

Senti-me uma tola por pensar que talvez Gaara resolvesse aparecer. Apesar de tudo, eu sentia tanta falta dele que quase chegava a ser uma dor física.

Afastei o pensamento, obrigando-me a me concentrar em meu show.

Karin me abraçou de lado, encostando a cabeça em meu ombro. "Você vai arrasar naquele palco." Ela disse. "Depois, se você quiser, eu te ajudo a quebrar a cara dele."

Soltei uma risada pelo nariz. "Lesa."

Com um último olhar de agradecimento a Karin, preparei-me para subir no palco.

Entrei na bolha.

*

*

*

[Grateful – Rita Ora]

Houve muitas lágrimas que eu precisei chorar

Um monte de batalhas que me deixaram golpeada e machucada

Eu estava estilhaçada por ter meu coração partido em dois

Eu estava quebrada, eu estava quebrada

Houve muitas vezes que eu tropecei e cai

Quando eu estava no limite da minha última chance

Tantas vezes em que eu estava tão convencida de que eu estava acabada, eu estava acabada

Cantei a música final sendo acompanhada pelo coro das milhares de pessoas na plateia que vieram por mim. Ainda que eu tivesse feito isso tantas vezes, havia um encanto que nunca desaparecia naquela multidão cantando as músicas que eu havia escrito.

Mas eu tinha que cair, sim

Para me erguer acima de tudo

Olhei para as luzes que iluminavam meu corpo, sentindo a vibração extasiante vinda do público.

Estou grata pela tempestade, me fez apreciar o sol

Sou grata pelos erros, me fizeram apreciar os acertos

Sou grata pela dor, por tudo o que me fez quebrar

Sou grata por todas as minhas cicatrizes, porque elas apenas fizeram meu coração

Grato, grato, grato, grato, grato

Grato

Cantei com sinceridade. Escrevi a música como um lembrete de tudo que havia passado, para não me deixar esquecer do porquê eu tinha que ser grata pelas minhas conquistas.

Eu estava me afundando, eu estava afogando na dúvida

O peso de toda dor estava me colocando para baixo

Me recompus e saí dessa situação

Aprendi uma lição, aprendi uma lição

Que você tem que passar por muitas coisas, com certeza

Mas isso é o que me deixou forte, eu não tenho arrependimentos

E eu tenho apenas amor, não tenho amargura

Eu conto minhas bênçãos, conto minhas bênçãos, sim

Reminiscências de um passado distante passavam como um trailer de filme na minha cabeça. Eu ainda lembrava, mas não doía como antes. As feridas tinham se fechado e deixado no lugar apenas cicatrizes: indolores, mas que não me deixavam esquecer.

Eu tenho orgulho de cada lágrima

Porque elas me trouxeram até aqui

Eu não podia escutar o público claramente por causa do meu in-ear que fazia eu ouvir minha própria voz mais do que qualquer outra coisa, mas eu sabia que eles estavam me acompanhando a plenos pulmões. Então eu arranquei um dos lados do fone para ouvi-los melhor.

Estou grata pela tempestade, me fez apreciar o sol

Sou grata pelos erros, me fizeram apreciar os acertos

Sou grata pela dor, por tudo o que me fez quebrar

Sou grata por todas as minhas cicatrizes, porque elas apenas fizeram meu coração

Grato, grato, grato, grato, grato

Grato

O meu coração era realmente agradecido. Quando eu era mais nova, achava que tinha algum tipo de maldição me rondando fazendo tudo dar errado, mas hoje eu via que tudo tinha um propósito e que todos aqueles caminhos que eu amaldiçoei me trouxeram até aqui. Eu sabia que era abençoada.

Não há nada que eu mudaria,

Nem mesmo um erro que cometi

Eu me perdi, me encontrei, encontrei o meu caminho

Anos atrás eu estava tão perdida que nem percebia que precisava de uma saída. Até ele me encontrar e me mostrar o caminho.

Estou grata pela tempestade, me fez apreciar o sol

Sou grata pelos erros, me fizeram apreciar os acertos

Sou grata pela dor, por tudo o que me fez quebrar

Sou grata por todas as minhas cicatrizes, porque elas apenas fizeram meu coração

Grato, grato, grato, grato, grato

Grato

Aproximei-me do público, dessa vez conseguindo ouvir suas vozes. Aos fãs da primeira fila que não viam o show inteiramente através das câmeras de seus celulares, eu presenteei com um olhar nos olhos e um sorriso, vendo-os derreter de alegria.

Você sabe que eu sou grata

Você sabe que eu me importo

Não há tempo para os erros

Eu vou sempre estar lá

Eu achava surreal a admiração que tantas pessoas tinham por mim. Muitos deles viviam seus dias baseados em mim, falando de mim, vendo vídeos sobre mim, votando em mim, me escutando... Era surreal que eu fosse uma parte tão importante na vida de pessoas que eu nem conhecia. Por isso também eu era grata.

Grata

Grata, grata

Sou grata

Grata, grata

Oh, eu sou

Grata

Oh, eu sou grata

Finalizei a música, mas a banda continuou tocando o instrumental.

"Muito obrigada, Nova York!" Falei no microfone com um grande sorriso. "Espero que essa noite tenha sido tão especial para vocês quanto foi para mim! Vocês foram incríveis! Até!"

Acenei uma despedida, ouvindo a multidão gritar por mim e saí do palco, com sentimento de missão cumprida.

Meu terceiro álbum de estúdio, Unstopable tinha sido um sucesso, assim como os outros. E minha turnê, de nome homônimo, não tinha sido diferente, lucrando absurdamente. Foi um sucesso. E agora, com o fim desse show, a era Unstopable tinha chegado ao fim.

Nos bastidores comemorei a apresentação bem-sucedida com a minha equipe. Todos nós tínhamos trabalhado pesado nos últimos meses. Estávamos cansados, porém satisfeitos.

Eu ainda tive que me encontrar com os fãs no Meet&Greet, mas não foi tão demorado assim e eu gostava de abraçar os Hanamis.

"Sem agenda amanhã, você pode finalmente ter uma noite completa de sono!" Itachi disse, passando o braço ao redor dos meus ombros, assim que terminei de trocar minhas roupas após o término do Meet&Greet. Estava, enfim, livre.

"Eu nem acredito!" Sorri, contente. "Vamos passar no McDonalds e depois... Casa!"

Itachi deu um sorriso de lado. "McDonalds? E a dieta?"

Bufei. "Dane-se! A turnê acabou, posso me dar ao luxo. Sabe a quanto tempo eu venho sonhando com um sanduíche?" Fiz uma expressão dramática. "Oito meses! Dava para ter um filho nesse tempo todo!"

"Sakura!" Karin gritou, correndo atrás de mim. "Fala baixo se você não quiser que os boatos de amanhã sejam sobre você estar grávida!"

Rolei os olhos. Pior que era bem provável. Bastava uma frase mal interpretada escutada por algum bisbilhoteiro de plantão para surgirem rumores ridículos sobre mim na internet. Mas eu não ligava. Segundo a mídia eu já tinha ficado grávida umas vinte vezes.

"Quem será que eles vão colocar de pai dessa vez?" Perguntei, divertida. "O Itachi?"

Itachi tirou o braço do meu ombro, me empurrando de leve.

"Não seria a primeira vez." Karin riu.

"Seu papel não é evitar que esse tipo de rumor saia na mídia, ruivinha?" Itachi provocou. "Acho que a Sakura precisa de uma nova assistente pessoal."

Karin lhe deu um olhar maligno. "Se a sua protegida não tivesse a mim, a quantidade de boatos seria três vezes maior!"

"Se você diz..." Itachi deu de ombros, divertindo-se. "Mas eu duvido."

Karin fuzilou o Uchiha com o olhar. Entrelacei meu braço no dela antes que ela tentasse puxar os longos cabelos de Itachi. A ruiva era tão esquentada e tinha o pavio tão curto, que eu não sei de onde vinha sua paciência ao lidar com a mídia. Chegava a ser um mistério.

Como profissional, a Uzumaki era muito competente e sabia lidar com situações difíceis demonstrando calma. Como amiga, eu não conhecia ninguém mais esquentada e pronta para o ataque. Mas eu gostava e até me divertia com as explosões dela.

"Vamos logo comer, que faz tempo que eu não sei o que é comida gostosa!" Falei, entrelaçando meu braço ao de Itachi também.

"Faz tempo que você não sabe o que é comida gordurosa, isso sim." Karin fez uma careta. Ela tinha uma vida extremamente saudável e vivia querendo me arrastar para isso.

"Dá no mesmo, Karin." Sorri. "Comida gostosa é diretamente proporcional à comida gordurosa."

E dizendo isso eu puxei os dois o mais rápido que pude até a saída.

Nada como um bom sanduíche para comemorar o fim de uma turnê.

*

*

*

Eu vivia meus dias cercada de pessoas: havia Karin, Temari e Sai que eram meus amigos inseparáveis, havia Itachi que era o irmão postiço que me protegia, havia Tsunade e Shizune que sempre cuidavam de mim e havia Gaara, que era o meu parceiro para todas as horas – ou pelo menos costumava a ser. Havia ainda meus fãs que estavam por todos os lugares quando eu saía na rua e que me mandavam mensagens lindas pela internet.

No entanto, toda vez que eu chegava no meu apartamento à noite, eu me sentia solitária. No ano passado quando resolvi sair da casa de Tsunade, achando que seria uma boa ideia morar sozinha, nunca pensei no sentimento de solidão que me acometeria.

Parecia que todo mundo tinha uma família, menos eu. Gaara e Temari tinham a sua, Tsunade e Shizune eram a família uma da outra – razão, inclusive, pela qual resolvi parar de ser uma intrusa na casa delas –, Karin tinha pais perfeitos... Até mesmo Sai e Itachi que estavam longe dos outros parentes, pertenciam à mesma família e era notório o vínculo de primos que se formou entre os dois.

Eu considerava todos eles família, mas no fundo sabia que eu não era como família para eles – era amiga, protegida, parceira... Mas não chegava a ser família. Ou pelo menos era assim que eu me sentia.

As coisas eram mais fáceis, quando eu tinha Gaara por perto, porque ao menos minha cabeça não ficava divagando por bobagens. Mas agora quando eu chegava no meu apartamento solitário tudo parecia tão frio que eu não conseguia controlar minha mente.

Eu nunca parei de sentir a falta de minha mãe – eu sentia a falta dela desde que era pequena, para falar a verdade, mesmo que ela estivesse fisicamente perto. O vazio que minha mãe foi deixando em mim desde que eu era uma criança nunca foi preenchido, eu apenas aprendi a viver com ele. Não que eu pensasse nisso o tempo inteiro, mas às vezes eu não conseguia evitar. Como hoje, quando sem mais nem menos lembrei dela penteando meus cabelos.

Fazia mais de quatro anos que eu não falava com minha mãe. Quatro anos. A última vez que nos falamos foi no aeroporto, quando eu estava indo embora de Konoha. Naquela época eu achava que não iria demorar a retornar, mas estava errada – e algo em minha mãe parecia saber que tão cedo ela não me veria.

Não era como se eu não tivesse tentado entrar em contato – eu tentei. No começo eu ligava, mandava mensagens... Mas ela nunca respondia e, eventualmente, eu cansei.

A única pessoa em Konoha com quem eu ainda mantinha um remoto contato, era Kabuto. E mesmo dele a distância tratou de me afastar. Agora eram raras as vezes em que ele me ligava – às vezes passávamos meses e meses sem nenhum contato – e eu me sentia mal. Doía em mim pensar no tempo em que éramos inquestionavelmente família um do outro.

E ainda havia todos os outros em Konoha com quem eu cortei qualquer tipo de contato. No começo, quando eles me ligavam e me enchiam de mensagens eu tive medo de responder, medo de ter que enfrentá-los. Anos atrás, quando decidi ficar em Nova York, sabia que iria ter que tirar a máscara para seguir o caminho que eu tinha escolhido e o musical foi a chance perfeita, mas eu não me deixava pensar muito em como isso ia atingir meus amigos – se eu ficasse pensando nisso, provavelmente não teria tido a coragem de tirar a máscara. Então, quando eles tentavam contato, eu fugia. Fugia porque era uma covarde que não conseguia lidar com as consequências de suas mentiras. Cheguei ao ponto de trocar de número e deixar somente que Kabuto e mamãe – através das mensagens que eu mandava – soubessem meu novo contato.

Arrependi-me da minha covardia no momento em que percebi que estava fazendo com eles o que mamãe fazia comigo.

"Se você não quer saber da gente, também não queremos saber de você. Tenha uma ótima vida, Lümina." – Foi a mensagem que eu recebi na minha antiga rede social, enviada por Tenten, dias depois de eu ter trocado meu número. Foi assim, com poucas e duras palavras, que nossos laços pareceram terem sido cortados de vez. E eu fui covarde, mais uma vez, e não respondi.

A essas alturas, eles já deviam estar na faculdade e eu não fazia ideia de como estavam suas vidas. O pouco contato que eu tinha em Konoha era com Kabuto, e ele só sabia da vida dentro do hospital. Pelo menos nenhum deles tinha ficado muito doente ou se ferido, ou então Kabuto me avisaria.

Nos últimos anos as redes sociais tinham ganhado muito mais força do que antes e se tornado um meio de comunicação que praticamente todo mundo – todo mundo mesmo – tinha e usava. Sendo uma artista, a gravadora tinha controle parcial dos meus perfis e, com isso, minhas antigas e desconhecidas contas foram desativadas, dando lugar às contas da famosa Sakura Haruno, que milhões de pessoas seguiam.

Meus antigos amigos também tinham redes sociais, mas eram todas privadas e, na verdade, eu tinha medo do que poderia ver caso começasse a segui-los, por isso resistia à vontade de criar algum perfil falso e adicioná-los. Eu não sabia exatamente do que tinha medo... Talvez fosse de sentir mais saudades de pessoas que não me queriam em suas vidas. Ok, quem se afastou fui eu... Mas nada era realmente tão simples na minha cabeça.

"Tirei o dia para relembrar o passado, é isso?" Falei comigo mesma, em voz alta, tentando afastar os fantasmas do passado. Eu não sabia por que o dia estava sendo tão nostálgico.

Eu estava cheia do sanduíche, então apenas tomei um banho e me preparei para dormir. Depois de uma turnê exaustiva eu mal podia acreditar que ia ter um pouco de paz.

Dane-se que a gravadora me queria em estúdio amanhã mesmo, dane-se que eles queriam me arranjar mais e mais contratos de propaganda e dane-se ainda mais as entrevistas que eles não paravam de me obrigar a fazer. Dane-se todos eles. Desde que comecei minha carreira, quatro anos atrás, não tive uma folga sequer. Estava sempre trabalhando: ou estava produzindo um álbum, ou estava o promovendo. No meio disso tinha os contratos de propaganda com marcas diversas, entrevistas, premiações, turnês e tudo que o mundo da fama exigia para manter alguém no topo.

Eu estava mentalmente desgastada e precisava de um pouco de paz. Então, sim, dane-se a gravadora. Eles só queriam lucrar em cima de mim, esquecendo que existe uma humana por trás da artista.

"Sakura." Uma voz grave e extremamente familiar esvaiu de uma só vez todos os meus pensamentos.

Levantei meu tronco da cama, surpresa por encontrá-lo ali.

Gaara.

Eu estava tão compenetrada em pensamentos que nem o escutei chegando?

"Você não foi." Vociferei, sentando de uma vez na cama, fuzilando-o com o olhar. "Você. Não. Foi!"

"Eu queria ter ido, mas depois da nossa briga de ontem achei que não me quisesse por perto." Gaara estava de pé, à minha frente, parecendo acabado.

"O que houve com você?" Mudei de assunto, preocupada com seu estado.

Ele deu de ombros, aproximando-se.

O ruivo se jogou na cama, ao meu lado, deitando a cabeça em meu colo. "Senti saudades."

Torci os lábios, pelo cheiro de bebida que vinha dele. "Já estava nas festas de novo? Por que se deu ao trabalho de vir até aqui, então?"

Gaara fez uma careta. "Eu não preciso de festas quando você está por perto."

Empurrei a cabeça dele do meu colo. "Não ferra, Gaara!"

Levantei-me da cama irritada. "Eu não te vejo há quatro meses! Você não quis ir encontrar comigo no Canadá, mas eu relevei. Tudo que te pedi foi para ir no meu show hoje! Você sabia que era importante para mim!"

Gaara sentou, passando as mãos nos cabelos com irritação. "Você desligou o telefone na minha cara ontem, dizendo estar furiosa comigo!"

"O que você queria que eu fizesse?" Coloquei as mãos na cintura. "Fiquei sabendo pelos sites de fofocas imbecis que você estava, mais uma vez, farreando por aí nas baladas da vida. Deu para ver como você estava sentindo a minha falta! Foi o quê? A décima noitada só nesse mês?!"

"Ah, claro! Porque você queria que eu ficasse tricotando em casa esperando sua volta, enquanto você terminava de se divertir com aquele Uchiha escroto!" Ele bufou. "Eu vi as fotos de vocês dois em Paris!"

Arregalei os olhos, indignada.

Os tabloides de fofocas eram os piores. O grande público não tinha conhecimento da minha relação com Gaara. Apenas alguns boatos surgiram na mídia, mas meu nome também fora ligado a rumores de romance com Sai e Itachi. Eu simplesmente não ligava. Era tudo fofoca inventada para lucrar em cima dos nossos nomes.

Exemplo claro disso foi Paris, em que eu apenas tinha ido passear, acompanhada de Itachi, no papel de meu amigo e segurança. Nos tabloides do dia seguinte usaram uma foto em que ele estava com um braço apoiado em meus ombros e uma manchete que dizia 'O encontro romântico de Sakura Haruno e seu guarda-costas em Paris'. Ri-dí-cu-lo! Admirava-me que logo Gaara fosse dar ouvidos aos sites de fofoca! Logo ele que ria de mim quando eu ficava emburrada com os boatos envolvendo o nome dele com outra garota.

"Esse foi o motivo de você não ter ido me visitar no Canadá? Ficou com raiva por causa de umas fotos ridículas?" Se possível, enfezei-me mais ainda. "Eu não acredito que você ainda tem esse ciúme infundado do Itachi!"

"Infundado?" Ele estreitou os olhos. "Que eu me lembre, você era toda apaixonadinha pelo irmão dele! E os dois são bem parecidos!"

Dei uma risada forçada. "De onde veio essa insegurança toda, Gaara? Não se garante mais? Quantas vezes eu vou ter que te dizer que o Itachi é como um irmão mais velho para mim?"

"Poupe-me desse papo de irmão." Ele falou, com deboche. "Quer saber? Nem sei por que vim!"

Dizendo isso, Gaara levantou da cama, passando por mim em direção à porta.

Segurei o braço dele. "Espera." O ruivo parou, mas não se virou. "A gente vai mesmo brigar assim?"

"Acha que eu gosto de discutir com você?" Ele se virou para me encarar. "Você não faz ideia do inferno que eu estou passando, Sakura, enquanto você viaja pelo mundo com aquele Uchiha."

"É o meu trabalho!" Tentei não levantar o tom de voz. "Mas eu não saio por aí enchendo a cara toda noite em festas! Você sabe como eu me sinto quando vejo fotos suas saindo bêbado das baladas?"

Gaara evitou meu olhar.

"Você está jogando a imagem que lutou tanto para recuperar no lixo!" Continuei, apertando seu antebraço. "Eles voltaram a te chamar de Demônio, sabia disso? Mas dessa vez você não pode se esconder atrás da sua fase adolescente! Você é um homem agora, Gaara!"

"Desculpa se eu não sou tão perfeito como você." Ele torceu os lábios.

"Eu estou bem longe de ser perfeita, mas zelo pela minha imagem." Rebati. "Estou vendo você se afundar cada dia mais e sei que alguma coisa está acontecendo. Mas você não me diz o que é. Como eu posso te ajudar se eu não sei contra o que você está lutando?"

"Sakura, não tem nada de errado. Quantas vezes vou ter que dizer?"

"Eu te conheço." Afirmei. "Pode dizer quantas vezes quiser que não vai me convencer."

Gaara afastou meu toque, olhando-me com irritação. "Por que você não pode deixar isso de lado, hein?"

"Porque deixar isso de lado seria como deixar você de lado." Disse, seriamente. "São seus pais de novo?"

"Não tem nada a ver, Sakura!" Ele trincou o maxilar.

"Ei." Puxei seu rosto para perto de mim. "Pode me dizer. Gaara, você já me ajudou tanto! Mas agora quem precisa de ajuda é você. Deixa eu te ajudar."

O ruivo suspirou com certa impaciência. "Esquece isso de uma vez." Ele envolveu minha cintura com os braços. "Enquanto você estiver por perto, eu fico bem."

"Mas..."

Gaara me interrompeu, imprensando um dedo nos meus lábios. "Chega dessa conversa chata. Eu já estou subindo pelas paredes com abstinência de você."

Antes que eu pudesse responder, ele me beijou com uma necessidade gritante.

Quase derreti nos braços dele. Quatro meses! Foram quatro meses longe. Eu já estava morrendo de saudades!

Pulei no colo de Gaara, correspondendo-o com paixão.

Quando estávamos juntos, era sempre como na primeira vez. Como fogo e gasolina causando um incêndio incontrolável.

"Você é o meu vício." Ele sussurrou em meus lábios, antes de me fazer sua.

Eu também era como uma maldita viciada. Viciada nele e em tudo que Gaara me fazia sentir.

Quando conheci o Sabaku, pertencíamos a mundo diferentes. Ele entrou no meu mundo e foi ali que eu o conheci, sem fama, sem festas, paparazzis e boatos. Foi ali, no meu mundo, que eu pude conhecer o verdadeiro Gaara. E então ele me puxou para o seu mundo, que hoje também é meu. No começo eu fiquei encantada com tudo, mas logo pude perceber a podridão que se escondia no meio do glamour. E pouco a pouco fui percebendo que aquele lugar carregava os problemas do ruivo, assim como meu antigo mundo carregava os meus.

No início da nossa relação, estranhava que ele não falasse muito dos pais e que até desconversasse quando eu tocava no assunto, nunca entrando em detalhes. Demorou um tempo até que eu os conhecesse, mas, quando conheci, soube o motivo.

Os pais de Gaara estavam mais interessados em gastar o dinheiro do filho do que qualquer outra coisa. Não ligavam realmente para ele. Quando o ruivo vivia em Konoha era mais fácil, por que ele estava afastado, mas agora que voltou a morar debaixo do mesmo teto que aqueles loucos... Bem, era mais complicado.

Eu sabia o que era lidar com a rejeição de um dos pais. Gaara era rejeitado pelos dois. Mais que isso, ele era usado. Eu, melhor do que ninguém, sabia como isso mexia com a cabeça de um filho.

Gaara dizia que não se importava, mas eu via que sim. Se ele não ligasse, já teria saído daquela casa há muito tempo. Mas a ligação parental era algo difícil de se cortar.

O ruivo achava que eu já tinha muitas coisas para lidar para ter que me preocupar com ele. No entanto, quanto mais ele dizia isso, mais eu me preocupava.

Tudo que eu queria era que ele se apoiasse em mim e dividisse o peso em seu coração, como eu fiz há alguns anos com ele. Mas Gaara era orgulhoso e não reconhecia que estava afundando. Se reconhecia, fazia questão de ignorar.

Gaara podia não querer a minha ajuda, mas assim como ele não desistiu de mim, quatro anos atrás, eu também não iria desistir dele.

Disso eu estava certa.

*

*

*

Acordei com meu celular tocando. Não era despertador, era uma ligação.

Gaara também foi acordado pelo barulho e resmungou algumas palavras desconexas enquanto afundava o rosto no travesseiro e abraçava minha cintura.

"Espera, Gaara." Disse, sentando-me e tateando o criado-mudo atrás do meu celular. Um rápido olhar no relógio da cabeceira me mostrou que ainda eram quatro da manhã.

Meu coração deu uma disparada sutil. Quem iria me ligar às quatro da manhã?

Olhando o visor com apreensão, o nome que surgiu me fez tremer de medo.

Kabuto.

Ele conhecia muito bem o meu fuso horário, nunca iria ligar sabendo que eram quatro da manhã em Nova York. A menos que...

Em uma fração de segundo imaginei o rosto dos meus antigos amigos, temendo por uma notícia ruim relacionada a eles.

"Alô." Atendi, com a voz angustiada. A esse ponto, Gaara também já estava sentado, olhando-me com preocupação.

"Sakura." A voz de Kabuto estava naquele tom típico dos médicos... Aquele que você nunca desejaria ouvir.

"Sim?" Respondi, esperando pelo pior.

"A sua mãe..." Meu coração disparou. "A sua mãe foi baleada."

E eu senti como se levasse um tiro pela segunda vez.


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Notas finais do capítulo

Importante: A música presente no capítulo não me pertence.

Eu sei que vocês não queriam tempestade no casal GaaSaku, mas hey... Nada é perfeito, muito menos um relacionamento de quatro anos. Por quatro anos o relacionamento amoroso deles se construiu no meio do mundo da fama, com todo glamour e podridão que vem nele. Eles saíram da vida adolescente e entraram na adulta nesse meio. Ninguém os preparou para um relacionamento com essas dificuldades. E eu sei que muitas aqui acham o Gaara perfeito, mas ele não é! Desde sempre ele teve seus problemas ao lidar com o mundo da fama, tanto que ele foi mandado para Konoha justamente por conta de todas as festas e confusões em que ele se metia. Agora ele voltou pra vida em Nova York dele e para o mundo da fama, com o qual ele sempre teve dificuldades. Gaara tem problemas e está numa fase difícil, mas não o odeiem por isso, nem pensem que eu vou estragar o personagem. Só que na primeira fase vcs viram basicamente só os problemas da Sakura, mas ela não é a única que passa por momentos difíceis. E o Gaara não é perfeito, é humano.

*

Vou deixar para vcs os três CDs da Sakura. As músicas em cada CD dizem muito sobre a vida dela, passada e atual. No CD 3, por exemplo, vc pode perceber uma leve crítica ao mundo da fama.


1º CD Sakura — Unwritten
Unwritten — Natalie Imbruglia
Brand New Day — Lorena Simpson (Single)
Because I'm Stupid — SS501
Nothing In This World Will Ever Break My Heart Again — Hayden Panettiere
Because Of You — Kelly Clarkson (Single)
Stone Cold — Demi Lovato
Falling For You — Nick Howard
Here I Am — Renee Sandstrom (Single)
I Can't Make You Love Me — Adele
Almost Lover — A Fine Frenzy
Say Something — A Great Big World ft. Christina Aguilera (Single)
You Found Me — Kelly Clarkson
I Get To Love You — Ruelle
Breakaway — Kelly Clarkson
Fight Song — Rachel Platten (Single)

Bonus Tracks (Versão Deluxe)
Dancing On My Own — KATO
I Almost Do — Taylor Swift
Near To You — A Fine Frenzy


CD 2 Sakura — Unbreakable
Brave — Sara Bareilles
Cannonball — Lea Michelle (Single)
Glitter In The Air — P!nk
Fuckin' Perfect — P!nk (Single)
Fine On The Outside — Priscilla Ahn
Cool Kids — Echosmith
Unbreakable Smile — Tori Kelly
Stars — Grace Potter (Single)
State Of Grace — Taylor Swift
New Romantics — Taylor Swift
Make You Believe — Lucy Hale (Single)
The Other Side — Tonight Alive
Parachute — Cheryl Cole (Single)
Chemical — Kerli (Single)
Pieces Of Me — Ashlee Simpson

Bonus Tracks (Versão Deluxe)
Light Years Away — Hiroko Sebu
Confetti — Tori Kelly
My Song — Alessia Cara


CD 3 Sakura — Unstoppable
Unstoppable — Sia
Hypnotic — Zella Day (Single)
Greatest Love Of All — Whitney Houston
Beggin For Thread — Banks (Single)
Home — Gabrielle Aplin
You Don't Really Know Me — Jessie J
Take Me Home — Jess Glynne (Single)
Lights And Camera — Yuna
Just Like Fire — P!nk
Human — Christina Perri (Single)
Clean — Taylor Swift
If You Could See Me Now — The Script (Single)
Lost Stars — Keira Knightley
Grateful — Rita Ora (Single)
Confident — Demi Lovato

Bonus Tracks (Versão Deluxe)
Invincible — Kelly Clarkson
Funny — Tori Kelly
Through The Ages — Gabrielle Aplin

Até mais!

XOXO