As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 3
Primeira Fase: Desavença


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá!



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Confusão. Vozes alteradas irritaram meus ouvidos.

Eu estava acordando, disso sabia. Mas onde?

"Como isso foi acontecer? Mal chegou na cidade e já arrumou confusão! Eu não segui você até esse fim de mundo para isso! E se alguém viu? Pior... E se alguém tirou fotos?!" A voz de uma mulher soava raivosa.

"Você pode se acalmar? Não foi exatamente na intenção de fugir das câmeras que me enviaram para cá?"

Aquela voz...

"Mesmo assim, acha mesmo que as pessoas daqui não tem celular?" A mulher não baixava o tom de voz e eu quis batê-la.

"Ninguém sabe que estou aqui. Ninguém viu, relaxa. A rua estava deserta."

"Ninguém sabe... Ainda." A mulher falou em tom normal e eu agradeci mentalmente. "Não dou dois dias até a mídia estar divulgando sua localização."

Em minha cabeça as peças começaram a se encaixar. Abri os olhos e, imediatamente, o mundo girou.

"Ai..." Gemi. A dor me roubou o raciocínio. Tudo doía.

"Vai com calma, rosada. Você não quer desmaiar de novo, quer?" Olhei para a linda loira de olhos castanhos em minha frente. Ela aparentava trinta anos e... Uau! Que peitos! Espera... Ela disse desmaiar? "Meu nome é Senju Tsunade."

As palavras dela giravam... Giravam...

Olhei em volta. A dor cedendo, lentamente.

Eu estava em uma espécie de apartamento em que a cozinha, sala e quarto, eram um só cômodo — um ENORME cômodo. As paredes eram azuis e brancas. Mobília preta e branca, impecável.  Eu via todos os tipos de equipamentos que eu nunca poderia imaginar.

A cozinha era o menor canto do apartamento, mas nem por isso era pequeno. Possuía até uma espécie de bar.

Guitarras, violões, teclado, piano, bateria e vários instrumentos de tamanhos menores — identifiquei até um violino — estavam em um canto perto da sala, onde havia microfones, mesa de som, amplificadores e outras coisas que eu não conseguia nomear.

Por Deus! Era um mini-estúdio. 

Eu nunca estive, sem dúvidas, em um lugar tão luxuoso. Mas eu não estava sozinha.

Quando minha mente clareou mais foi que percebi Yakushi Kabuto, o médico jovem e com cabelos brancos do hospital de Konoha, observando-me atentamente, por detrás das lentes de seus óculos.

Percebi ainda várias máquinas ligadas ao meu corpo, inclusive um soro intravenoso introduzido em minha mão. Ugh! Odeio agulhas.

E foi então que o vi.

Prendi a respiração.

Foi real.

Não foi alucinação.

Sabaku no Gaara realmente estava parado, imponente, lindo e exalando perigo, bem na frente dos meus olhos.

Eu não podia acreditar.

O que em nome de todos os santos — ou demônios — esse cara fazia em Konoha?

"Sabe... Você precisa respirar." Ele disse, com um sorriso mínimo e prepotente nos lábios.

Maldita máquina!

Soltei a respiração.

"Vo... Você... É realmente..." Tentei falar. Tentei.

"Sou Sabaku no Gaara. E você é...?

"Sakura. Haruno Sakura." Falei, quase que mecanicamente.

"Bom... Seria uma boa hora para você dizer a esses dois como que a sua bicicleta atropelou meu carro."

Olhei-o, estupefata.

"Ha! Não seja ridículo, Gaara." Disse a loira.

"A culpa foi dela, Tsunade. Ela que não olhou por onde ia. Pena que ninguém viu. Senão eu traria quem quer que fosse a testemunha na sua frente. Mas já que só eu e essa garota sabemos do ocorrido eu vou repetir para você: foi ela que se jogou na frente do meu carro." Gaara olhou para mim. "Não foi, garota?"

Irritei-me.

"Eu tenho nome, e já lhe disse. Sou Sakura. E  para falar a verdade, o sinal estava fechado para você. A culpa foi sua."

Gaara abriu a boca, indignado.

Eu sei. É feio mentir. Mas o que eu faria se o carro dele tiver sido danificado e ele resolver me fazer pagar? Essa gente rica não desperdiça um centavo. Já é suficientemente trágico só imaginar o estado da minha bicicleta.

Não me lembro do carro dele, mas eu definitivamente teria que trabalhar a minha vida inteira para pagar o conserto do veículo de alguém como Sabaku no Gaara.

Sim, a mentira seria minha melhor amiga. Ele mesmo disse que ninguém viu o acidente.

"Você só pode ser realmente louca, não é, garota?! Tsunade! Isso não faz o menor sentido!" Gaara estava alterado.

Pela primeira vez nesse curto tempo em que nos conhecemos, eu senti medo. Afinal, eu estava lidando com o Demônio Adolescente.

"Você disse que a rua estava deserta. Se o sinal estivesse mesmo vermelho, tenho certeza que você ultrapassaria. Você faz isso até quando a rua está movimentada." Tsunade analisou.

"Qual é! O sinal estava verde." Gaara me olhou em fúria. "Mas é muito fácil resolver esse problema! Vamos olhar as câmeras de segurança das ruas."

Kabuto riu.

"Você não está mais em Nova York, Demônio." O médico zombou. "Isso aqui é Konoha. Nem no hospital tem câmera, que dirá na rua."

E se possível, a raiva de Gaara aumentou.

"Essa garota estava chorando quando eu a encontrei no chão. Provavelmente levou um fora e achou que era uma boa andar desembestada naquele projeto de bike dela."

Juro, juro, que se eu não estivesse tão dolorida, iria socar a cara dele. Não que ele tenha falado alguma mentira, mas ainda...

"Você a atropelou! É claro que ela estava chorando." Tsunade saiu em minha defesa.

"Ela estava com o rosto coberto por lágrimas! Isso definitivamente foi antes do acidente. Ela mal conseguia respirar, quanto mais chorar." Gaara apertou os punhos. "O problema é que, você, Tsunade, fica do lado de qualquer pessoa que esteja contra mim."

"O problema é que eu te conheço, Gaara."

A minha cabeça girou, novamente.

"Será que vocês podem discutir esse assunto depois?" Kabuto se pronunciou. "A paciente precisa de repouso."

Gaara bufou. "Além de maluca é mentirosa." Saiu batendo a porta. Tsunade foi logo atrás.

"Ui. Que confusão você arranjou, hein, dona Sakura." Kabuto riu, assim que ficamos sozinhos.

"Eu quebrei alguma coisa?" Tanta dor tinha que ter motivo.

"Não, mas ficou bem machucada, criança. Torceu o pé e sua costa está roxa. Você vai ficar bem dolorida por alguns dias, mas sobreviverá." Kabuto passou a mão em meus cabelos. "No entanto, quero que você vá amanhã ao hospital para fazer alguns exames, ok?" Balancei a cabeça, em afirmação. "Vou lhe dar um analgésico." Sorri.

Kabuto era sempre assim. Nunca me dava receitas, e sim os remédios. Ele sabia que eu não tinha como comprá-los. Essa era uma das razões que me faziam gostar tanto dele.

"Agora me conta, sua danada. O que realmente aconteceu? O sinal estava vermelho ou não?" Kabuto indagou, com as sobrancelhas levantadas.

Eu não sabia. Com certeza a última coisa que eu estava fazendo era prestar atenção. Ainda assim, acusei Gaara.

Lembrei-me de Sasuke-kun e de como ele me acusou injustamente hoje mais cedo. Droga! Senti-me mal. Eu estava fazendo a mesma coisa que ele. 

Mas era de Sabaku no Gaara que estávamos falando. O Demônio. Nem mesmo injustiça deveria atingi-lo. E, pensando bem, injustiça seria eu ter que pagar o conserto do carro dele, que era tão rico, quando na verdade fui eu que saí toda arrebentada.

O melhor seria não pensar muito nisso. O que está feito, está feito. 

"Mudando de assunto..." Esquivei-me da pergunta de Kabuto. Ele sorriu, já entendendo tudo. "O que aquele cara faz em Konoha?" Finalmente dei voz à pergunta que me consumia.

"Aparentemente se mudou para cá. Por tempo indeterminado." Encarei Kabuto, chocada. "Você com certeza viu as notícias sobre os escândalos que ele se envolveu, certo?"

"Sim."

"Pois é... O caso de agressão contra seu próprio empresário foi a gota d'água." Kabuto se aproximou, checando alguma coisa nas máquinas ligadas à mim. "Os pais e a equipe dele resolveram mandá-lo de volta ao Japão. Mas trocar Nova York por Tokyo, sua cidade natal, não mudaria em nada seu estilo de vida. Então o jogaram em Konoha, por, sabe, ser pequena, afastada e com poucas coisas para se fazer. Ele chegou ontem à noite."

"Então, basicamente, isso aqui é a reabilitação dele?"

"Acho que você pode dizer isso, sim." Kabuto riu.

"Como você sabe de tanto?"

"Tsunade-san, a assistente dele, é bem falante, sabe? E mora no meu prédio, que fica perto daqui. Ela chegou semana passada e arrumou esse apartamento para o Gaara antes mesmo de arrumar o dela. Eu a ajudei. " Kabuto ajeitou os óculos. "Quando Tsunade-san me contou quem estava vindo, eu realmente não acreditei até ver com meus próprios olhos. Esse é o acontecimento do século em Konoha."

"Aí o Demônio me atropelou e para não chamar atenção, trouxe o hospital e o médico para casa dele?" Perguntei, presunçosamente.

"Garota esperta." Kabuto sorriu. "Deu trabalho, sabe, trazer esses equipamentos. Mas Kisame e eu colocamos tudo em uma van que a Tsunade-san mandou. Ela disse que Gaara estava bem desesperado quando ligou avisando do acidente. O Demônio estava levando você para o hospital quando a Senju mandou que ele lhe trouxesse para o apartamento e deixasse ela providenciar o médico e tudo que você precisasse. Ele relutou bastante, mas seguiu a ordem dela." Contou Kabuto. "Quando eu cheguei — bem rápido, devo dizer — Gaara estava à beira de um colapso."

Algo em mim se derreteu. No entanto, tudo o que eu disse foi: "Claro, com tanto escândalo, a última coisa que ele precisa é ser acusado de assassinato."

*
*
*

Eu observava Kabuto, que estava preparando algo para almoçarmos na cozinha.

"Devem estar lhe pagando muito bem para você largar o hospital e bancar a minha babá." Provoquei.

"Não posso reclamar." Nós rimos.

Foi quando a porta se abriu. Gaara passou desfilando pelo apartamento, até seu guarda-roupa. Puxou a primeira coisa que viu e se enfiou em outra porta — que eu tinha descoberto ser a do banheiro.

"Nossa, que simpático." Eu disse.

Pouco tempo depois foi a vez de Tsunade chegar...

...Trazendo consigo uma linda bicicleta.

"Oi, Sakura! Eu tenho uma boa e uma má notícia." Disse, piscando para mim. "A má é que sua bicicleta antiga já era." Fez cara de tristeza. "A boa... É que você nem vai sentir falta dela." Sorriu, apontando para a bike vermelha ao seu lado.

Não esbocei nenhuma reação. Era óbvio que aquela bicicleta era muito melhor que a minha antiga, e muito mais cara. No entanto, o que fazer com o meu orgulho se eu aceitasse aquilo? Porque, no fundo, eu sabia que a culpa de tudo aquilo era minha. E Gaara já estava fazendo mais que o suficiente instalando um hospital em seu apartamento e me abrigando. 

E o que dizer para a minha mãe? Eu já estava quebrando a cabeça para arranjar uma desculpa plausível por chegar toda arrebentada em casa. O que diria se chegasse com um bicicleta tão cara?

"Eu não posso aceitar." Ah, mas queria — e como queria!

"Sabia." Disse Gaara, saindo do banheiro de cabelos molhados, com uma bermuda preta e blusa cor de vinho. Meu Deus, que garoto lindo! "A bicicleta não é o suficiente? Quanto você quer para fechar o bico sobre o que aconteceu hoje?" Meu Deus, que garoto imbecil!

"Não preciso de mais nada de você, obrigada. Preciso é voltar para casa." Tentei sair da cama.

Ok, eu estava com raiva. Mas levantar daquele jeito foi a pior ideia que tive. Meu pé torcido concordou.

"Ai!" Choraminguei, caindo de volta no colchão, sentada.

Gaara suspirou.

"Aceite a bicicleta." Tsunade falou. "Não importa de quem foi a culpa. Foram você e sua bicicleta que se arrebentaram nessa história. O carro do Gaara não teve nenhum arranhão." De algum modo isso me aliviou. E me irritou. Sempre sou somente eu que me ferro.

"Eu e você sabemos de quem foi a culpa." Gaara disse. "Aceite a bicicleta e estamos quites."

Quis retrucar, mas resolvi ficar calada. Apenas assenti em concordância.

"Ótimo. Depois do almoço Kabuto lhe deixará em casa." Continuou Gaara. "Para todos os efeitos, foi ele quem te atropelou."

Olhei espantada para Kabuto. Ele assumiria a culpa? Por Gaara?

É... Com certeza ele estava recebendo muito bem por isso.

Kabuto sorriu, dando de ombros.

Capturei o olhar de Gaara e disse-lhe: "Como queira, Demônio."

*
*
*

"O que aconteceu com você, Sakura?" Mamãe perguntou, afastando-se da porta para eu entrasse.

"Descuidei-me ao atravessar a rua e fui atropelada." Disse, enquanto Kabuto me ajudava a sentar no sofá.

Mamãe se alterou. "Quem foi o filho da puta?!"

Espantei-me com sua reação.

"A culpa foi minha, mãe."

"Não. Foi minha." Kabuto se pronunciou.

Mamãe inflou as narizes.

"Eu não a vi. Perdão." O médico continuou.

"PERDÃO É O CARALHO! E se você tivesse matado a minha filha? Eu quero uma indenização!"

Dinheiro, claro. Está explicado o porquê dela bancar a mãe preocupada. 

"Mãe!" Exclamei. "Eu estava furiosa porque perdi o primeiro tempo e descontei minha raiva na bicicleta. Não vi que o sinal para os carros estava verde e atravessei a rua. Kabuto me socorreu, cuidou de mim, e ainda comprou-me remédios e uma bicicleta nova. Ele já fez mais do que deveria." Isso era o mais próximo da verdade que poderia dar a ela. Não precisava de mais rixas com Sabaku no Gaara, e aparentemente, ele pagou uma boa grana para Kabuto levar a culpa.

Kabuto era incrível comigo e um ótimo médico, mas se tinha uma coisa que ele gostava era dinheiro.

O olhar de mamãe mudou. "Bem, ao menos você poderia ter pedido dinheiro ao invés de uma bicicleta." Falou, com desprezo. "Mas você nunca foi muito inteligente, de qualquer maneira."

Vi os punhos de Kabuto cerrarem. "Não quer saber como ela está?" Perguntou, como maxilar trancado.

"Está viva, não é?" Disse, com deboche.

Por um momento achei que mamãe não queria que eu estivesse.

*
*
*

Minha mãe finalmente havia ido dormir. Só assim para eu ter um pouco de paz. As reclamações dela pareciam sem fim!

Sua maior preocupação era se eu iria deixar de fazer o trabalho doméstico por estar — em suas palavras — com frescura.

"Sakura, se você não limpar a casa nós vamos viver em um chiqueiro, porque eu não vou limpar!"

"Sakura, você almoçou fora? E a minha comida? Se você não for chegar cedo pra fazer o almoço tem que pelo menos avisar!"

"Sakura, eu sou vendedora. Sabe como meu trabalho é cansativo? Eu não vou fazer comida nem limpar a casa só porque você está com frescura."

E por aí vai...

Foi a tarde todinha de reclamações.

Agora eu estava deitada no sofá da sala, sem condições de subir as escadas para o meu quarto — sótão. Era um esforço que me parecia impossível no momento. 

Antes de ir embora Kabuto trouxe para baixo tudo que eu precisava: roupas, uniforme da escola, material...

Foi de grande ajuda.

Só me faltava, agora, arranjar alguma posição minimamente confortável naquele sofá pequeno.

"Isso é fingimento." Foi o que mamãe disse quando percebeu que eu não conseguiria subir as escadas para o quarto.

Como sempre, fiquei calada.

Ouvi alguém bater palmas na frente de casa. Lentamente, me arrastei até a porta e a abri.

Sasuke-kun.

"Eu exagerei." É a primeira coisa que ele diz. E então me olha. "Você está péssima, o que houve?"

"Conheci o demônio." Digo-lhe.

*
*
*

Achei melhor não contar para Sasuke-kun o que realmente houve. Mantive a história de Kabuto — com a exceção que o Uchiha sabia a razão que me fez sair endoidando com a bicicleta.

"É minha culpa."

"Chega. Não aguento mais ter que arranjar um culpado para esse acidente. Semana que vem eu vou estar em perfeito estado e com uma bicicleta nova." Digo, piscando para ele. "No fim, eu vou sair no lucro."

Sasuke-kun riu. "Só você para achar o lado bom em tudo." Sorri, sem graça. "Trouxe as anotações da aula, inclusive a de química. Ino me passou." O incômodo em meu coração voltou. "Eu e você faremos uma boa dupla. O Lee ficou arrasado por perder o posto de seu parceiro para mim."

Eu queria lhe perguntar se a razão de ele ter ficado tão irritado era por não fazer mais par com Ino, mas algo me impediu.

Com toda essa confusão em que me envolvi — e com o choque de encontrar Sabaku no Gaara em Konoha — eu meio que havia esquecido as minhas preocupações com Ino e Sasuke-kun.

Mas agora, com ele sentado no sofá ao meu lado... Tudo voltou.

"Você vai para a escola amanhã?" Perguntou.

"Provavelmente sim. Mesmo desse jeito, não posso perder mais um dia de aula."

"Ok, mas vê se acorda cedo. Nós vamos estrear a sua nova bike. Vou te levar na garupa." Dou-lhe um fraco sorriso.

Algo estava errado. Eu deveria estar pulando de alegria por saber que amanhã iria na garupa da bicicleta, segurando-me em Sasuke-kun. Mas algo me impedia de ficar feliz.

Eu estava triste. Muito triste. Por mamãe, e também porque parecia que Sasuke-kun estava cada vez mais distante de mim. Eu sentia isso.

Mesmo quando — depois de se despedir e me desejar boa noite — ele me deu o sorriso de canto que eu amava... Nem assim. Nem assim a tristeza me deixou.

Quando nem a gentileza de Sasuke-kun ou seu sorriso me consolavam, só havia uma coisa que tinha o poder de aliviar minha dor e de me ajudar a suportar toda a tristeza e mágoa que escondia em meu coração.

Levantei-me do sofá e me arrastei até o meu antigo quarto — que agora servia de depósito para as coisas do meu querido e falecido avô.

Era tudo velho, mas limpo. Eu cuidava com muito zelo de tudo que havia naquela sala. Na verdade, sentia-me melhor ali do que no sótão.

Ali eu era livre. Podia mostrar a minha dor.

Tranquei a porta. 

Os livros de vovô eram ótimos companheiros, mas não eram a válvula de escape que eu procurava — mas sim os instrumentos.

Olhei atentamente para dois: o violão e o piano. Um deles seria o meu refúgio hoje.

Peguei uma folha em branco e um lápis. Sentei-me no banco de madeira do piano. Mesmo velho, eu o mantinha afinado.

A melodia de minha tristeza veio fácil em minha mente e se traduziu em meus dedos. A cada dedilhada eu marcava as notas de minha nova canção na folha — não mais em branco.

Eu sentia a música e sei que ela também podia me sentir.

A música tinha um poder em mim que nem Sasuke-kun possuía. Era como mágica. Eu me sentia flutuando em um rio.

'River flows in you'. [O rio flui em você.]

Sim, esse seria o nome de minha mais recente criação.

Sorri. Meu coração se alegrou. E minha nova canção estava pronta.


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Notas finais do capítulo

IMPORTANTE: 'River flows in you' é de composição do pianista Yiruma. A música é dele, que fique claro. Mas o encanto das fanfics, é que elas são sobre "faz de conta". Então, NESSA FANFIC, faz de conta que a música é da Sakura, ok? Escutem-na. Espero que ela toque seus corações tanto quanto tocou o meu.

*

[Link da música]
https://www.youtube.com/watch?v=kG9KSWYg-Jc