As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 27
Primeira Fase: Enfrentando


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores!

Eu ainda estou respondendo os comentários de vcs. Acredito que até amanhã vcs terão suas respostas!

Agora, é o seguinte... No meu cronograma de capítulos, as coisas que acontecem nesse aqui eram pra acontecer em dois caps. Mas resolvi juntar tudo em um, já que eu pulei uma postagem. Ou seja, este é um capítulo duplo.

E... AAAAAHHHHHH!!!!! MAIS UMA RECOMENDAÇÃO!!! *----*

Alyna, sua DIVA!!! Muito obrigada pelo seu carinho com a fic!! Fico imensamente feliz com o que AMDS significa pra vc e com o fato de vc se identificar. Muito obrigada!!!

Capítulo dedicado à Alyna, pela recomendação maravilhosa!

Enjoy!



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POV: Haruno Sakura

"Como assim não quer fazer um show?" Gaara perguntou, indignado.

Estávamos na sala da casa de Tsunade. Ele havia chegado há uns dez minutos, apressando-se a falar de como já tinha pensado em todo o espetáculo que iríamos fazer.

Mas...

"Eu não quero fazer um show." Afirmei, convicta.

Gaara me encarou por alguns segundos, como se estivesse falando com uma louca. "O que diabos quer, então?"

Sorri, estufando o peito.

"Eu quero um musical!" Disse-lhe.

Gaara arregalou os olhos, sutilmente. "Você não sabe o que está querendo."

"É claro que sei!" Franzi o cenho, apertando a almofada do sofá.

"Não. Não sabe." Gaara falou, firme, sentando-se na mesa de centro, de frente para mim. "O seu diferencial são sua músicas originais. O que todos estão esperando é um show seu, repleto de canções próprias. Nós não podemos reproduzir um musical, por melhor que seja e nem—"

"Mas eu não quero fazer o que todos estão esperando!" Interrompi-lhe. "Muito menos reproduzir nenhum musical! Eu quero criar o meu próprio!"

"Como eu ia dizendo..." Continuou. "... E nem temos tempo de criar algo próprio."

"Nós temos um mês inteirinho, Gaara."

Ele bufou. "Você não entende... Isso não é quase nada para um show, que dirá para um musical totalmente novo!"

"Não se realmente nos empenharmos." Rebati. "E o Ryan disse que podíamos fazer um musical. Ou seja... É possível sim!"

Gaara passou a mão nos cabelos. "Sakura... Quando ele falou que podia ser feito um musical, ele quis dizer que podíamos reproduzir algum. Pegar um musical já pronto e só ensaiar as músicas e coreografias. Mas assim... O seu diferencial são as canções originais—"

"E eu posso muito bem fazer músicas originais para um musical." Interrompi-lhe novamente.

"Não dá!" Gaara bateu a mão na mesa, impaciente. "Um musical leva meses e meses de preparo — às vezes mais que um ano! Primeiro tem que se criar a história, encaixar as músicas, fazer as coreografias, selecionar atores, cantores e dançarinos... Isso só pra começar! Depois disso ainda vem os meses para ensaio e preparação de cenário! Eu disse meses! É impossível fazer tudo em trinta dias!"

"Não se a gente quiser!" Insisti. Não iria desistir de meu musical. "Eu já tenho uma história em mente. E estou querendo usar algumas das minhas músicas já prontas..."

Gaara suspirou. "Ter a história em mente não significa muito. Você tem que criar o roteiro, colocar no papel, escrever as falas dos personagens... É muita coisa, Sakura! O show, por outro lado—"

"Não quero show!" Levantei-me do sofá.

"Mas que teimosia!" Gaara também se levantou, totalmente irritado. "Pega as músicas que você tem. Nós escolheremos as melhores, faremos os arranjos e trabalharemos na criação do show."

"Isso é muito básico! Todo mundo irá fazer show, tenho certeza!"

"Quantas vezes vou ter que dizer que seu diferencial está nas canções originais?" Gaara rebateu.

"Você se esquece que o Sai também escreve as próprias músicas. Com certeza fará um show de arrasar." Observei. "E ele está com toda a vantagem, por ser o último a se apresentar! Se eu quiser vencer, tenho que fazer algo que realmente me dê destaque e faça o público se lembrar da minha performance, mesmo com todos os meus concorrentes se apresentando depois de mim."

"Já entrou na internet, Sakura? Você já é destaque!" Ele disse. "Mas é idiotice — ou extrema ingenuidade sua — achar que realmente conseguirá criar um musical completamente novo a tempo."

"Eu quero." Afirmei. "E sei que posso. Vou provar que consigo. Ou você me ajuda com meu musical, ou eu estou fora do Soul Talent."

Gaara me olhou descrente, não acreditando em uma palavra que eu dizia.

E, realmente, eu não estava falando sério. Sabia que muita coisa dependia da minha performance na final — inclusive a renovação do contrato dele. Mas eu estava assumindo o controle do que eu queria para minha vida e carreira. Meu coração me dizia para fazer um musical. Então, eu faria um.

Mesmo que tivesse que fazer aquele tipo de chantagem emocional com Gaara.

"Não." Respondeu, firme. "Eu sou bem mais experiente que você e estou te dizendo que não tem chances nenhuma de finalizarmos um musical novo a tempo."

"Uma semana." Eu disse. "Em uma semana eu te entrego a história escrita com todas as músicas encaixadas. Enquanto isso, você procura algum tipo de companhia de atores de musical para nos ajudar."

"Você não consegue fazer tudo isso em uma semana." Gaara bufou. "É impossível. Você não é roteirista. E os mais profissionais levam meses."

"Eu já tenho a história em minha cabeça e as músicas, em sua maioria, já estão prontas. Só preciso organizar tudo passando pro papel." Falei. "Se eu não conseguir isso em uma semana, aceito fazer o show."

"Mas aí seria uma semana perdida!"

"Gaara..." Aproximei-me. "Por favor. É o que eu quero. Você não pode me apoiar?"

O ruivo olhou em meus olhos por alguns instantes, parecendo considerar.

"Essa sua cara de gatinha pidona é a pior que eu já vi." Desviou o olhar, com um minúsculo sorriso ameaçando aparecer.

"Mas funcionou?" Arqueei as sobrancelhas.

Ele bufou. "Uma semana."

Abri um grande sorriso. Eu sabia que Gaara iria me apoiar! "Obrigada! Você é o melhor!"

"Eu sei. Isso é fato." Sorriu, arrogante. Ha! Uma vez convencido, sempre convencido! "Mas eu quero participar do processo criativo. Quero saber o que você tem em mente e como quer fazer."

"Melhor ainda!" Respondi. Ter a ajuda dele não seria nada mal.

Gaara assentiu.

"Vamos." Ele disse, passando um braço por meu ombro e me conduzindo à cozinha. "Eu não funciono de barriga vazia."

"Você vai cozinhar pra mim?" Provoquei.

"Sei fritar ovo, serve?" Zombou.

"Babaca!" Dei-lhe uma leve cotovelada, fazendo-o sorrir.

Essa era a melhor parte de não estar mais confinada: a companhia de Gaara.

Ele me fazia bem. Quase tanto quanto minha música.

E eu não podia estar mais agradecida por tê-lo novamente por perto.

*

*

*

Uma semana depois

"Vá embora, vá para longe"

Meu coração está cheio de feridas

"Se afaste, fique longe"

Eu digo para essa densa escuridão, que quer me alcançar

Encostada no piano da sala de música que Tsunade tinha feito só para mim, iniciei a performance de minha canção.

Imaginei como se estivesse no palco, sendo assistida por milhares de pessoas. Imaginei todas as luzes e flashes me iluminando.

Por que eu estou querendo abraçar alguém que não posso ter?

Por que eu estou chorando tanto?

Ainda estou me recuperando da queda

A parte instrumental da música já estava toda gravada. Em fato, essa era a única canção para a qual Gaara e eu já havíamos feito os arranjos, decidindo por dar-lhe uma base de guitarra.

Eu a escrevera na noite da minha última apresentação, logo após chegar em meu quarto, quando a sensação de êxtase que o palco me causara se esvaiu, fazendo-me voltar a sentir as dores de minhas feridas abertas.

Naquele momento eu não tinha mais uma apresentação para ocupar minha cabeça. Só a solidão de meu quarto. Então, eu escrevi.

Qualquer hora, em qualquer destino

É um caminho acidentado que não vai acabar

Embora eu esteja despedaçada, embora ainda doa

Eu vou sorrir, olhe para mim, eu prometo

A música explodiu no refrão, e eu cantei com meu coração, movendo-me pela sala como se estivesse em um palco.

A dor ainda não havia passado. Mas passaria. Eu estava disposta a superar e seguir em frente, fazendo o que eu fazia de melhor: sorrir mesmo que eu estivesse machucada.

No entanto, desta vez, eu realmente tinha muitos motivos para sorrir. Mesmo tendo meu coração partido por Sasuke-kun, eu estava seguindo o meu sonho. O sonho que nunca achei que fosse alcançar e que estava a apenas um degrau de distância.

Fugir, desaparecer

Devolva-me o tempo perdido,

Eu peço a você

Movi-me ao som da música, sentindo-a.

Por que eu tenho que andar por este longo caminho?

Por que razão estou tolerando
um momento tão difícil?

Sim. Seria um longo caminho. Não havia nenhum botão que eu pudesse apertar e simplesmente apagar meu amor por Sasuke-kun. Mas eu já tinha dado os primeiros passos na direção certa. A minha libertação já tinha começado, eu podia sentir.

Qualquer hora, em qualquer destino

É um caminho acidentado que não vai acabar

Embora eu esteja despedaçada, embora ainda doa

Eu vou sorrir, olhe para mim, eu prometo

O som da guitarra fez meu corpo vibrar.

Yeaaaaah!

Cantei o agudo com todo o poder de minha voz, atingindo a nota mais alta com perfeição.

Isso não pode ser parado

Eu irei ganhar

Ganhar e sorrir

Olhe para mim

Todos irão me ver vencer. Todos irão me ver sorrir.

Inclusive ele.

Apenas me observe, Sasuke-kun.

Eu peço a você

Logo que terminei a canção, ouvi o som de palmas.

Virei-me para a porta e encontrei Tsunade sorrindo para mim.

"Isso foi incrível!" Ela disse.

"Há quanto tempo estava aí?" Perguntei, caminhando até ela.

"Tempo o suficiente para te ver arrasar!"

Sorri, um pouco envergonhada.

"Obrigada." Agradeci.

"Você viu a comoção que Sai causou ao ir até uma lanchonete?" Perguntou, mudando de assunto.

"Não..."

Tsunade tirou o celular do bolso e digitou algo. "Olha." Deu-me o aparelho.

Em vídeo, eu pude entender sobre o que ela estava falando.

Sim. Era um verdadeira comoção.

Assisti Sai cercado de fãs histéricos — dezenas e dezenas — gritando seu nome, enquanto ele tentava dar autógrafos e tirar fotos com todos.

Uma loucura!

As pessoas o puxavam, chorando, desesperadas.

Sai parecia perdido.

A gravação era confusa — provavelmente feita no celular de algum fã —, mas até onde a câmera alcançava, via-se pessoas se esticando para tentar pegar nele.

Mas o pior era que Sai não parecia ter nenhum segurança consigo.

"Meu Deus!" Falei. "Ele saiu vivo?"

"Até agora não saiu nenhuma notícia da morte dele, pelo que eu saiba." Tsunade riu. "Acho que ele não sabia o quão grande tinha se tornado até aquele momento. "

Balancei a cabeça, absorvendo a situação. "O público o ama."

"Muito." Tsunade concordou. "Ele já não pode sair por aí sem ser atacado por fãs. Precisa de seguranças."

Suspirei. Não podia negar que todo esse fanatismo direcionado ao Sai me assustava um pouco.

Eu ainda podia sair na rua sem ser notada, diferente dele. Claro, ninguém me reconhecia sem a máscara e toda a produção que Lümina tinha. Mas... Sai já sabia o que era ser adorado pelos fãs. Eu não.

"Relaxa." Tsunade falou. "O público te ama tanto quanto. Ou até mais."

"Não. Eles amam a Lümina." Afirmei.

"Eles amam a sua música." Ela disse. "Amam o que você representa e o que os faz sentir. Isso é conquista da Sakura. A Lümina nada mais é que você de máscara. Pare de pensar como se vocês duas não fossem a mesma pessoa."

"Eu sei que somos." Falei. "Mas continuar sendo Lümina é muito mais fácil do que ser Sakura."

"Por quê?"

"Porque..." Suspirei. "Porque no momento em que o mundo conhecer o meu rosto, nada nunca mais será o mesmo. E eu não sei se eu estou pronta para uma vida de fama."

"Mas não é o que você sempre quis?" Perguntou-me. "Não é o seu sonho?"

"Sim! Claro que é!" Eu disse. "Mas... Sabe... Eu vejo como é com o Gaara. As pessoas fazem um julgamento tão errado dele... A mídia distorce tudo... Sem falar na invasão de privacidade e na falta de liberdade que tudo isso trás — como acabamos de ver acontecer com o Sai. Ser a Lümina, com minha máscara, permite-me ter o melhor da fama, que é estar no palco e ser aplaudida por milhares de pessoas... Que é poder tocar corações com a minha música, mantendo-me, ainda assim, anônima."

Tsunade sorriu. "Sim. Eu entendo. No momento, você tem o melhor dos dois mundos. Mas tudo tem um preço, Sakura. E quando você entrou nesse concurso já sabia qual era."

Passei a mão em meus cabelos. "Você está certa." Admiti, suspirando.

Ela deu de ombros. "Bom... Eu tenho alguns anos de experiência a mais que você."

Assenti, olhando-a com gratidão por ter ouvido meu desabafo.

Resolvi mudar de assunto.

"Que horas o Gaara chega?" Perguntei.

"Deve estar chegando. Ele me disse que iria dar uma passada no local das audições para o musical." A loira respondeu.

Olhei-a, confusa.

O musical era sigiloso. As audições seriam realizadas em uma companhia especializada na formação de atores para musicais. Gaara havia me dito que um dos diretores de lá — que seria o encarregado dirigir minha peça — já havia trabalhado até na Broadway.

O diretor, Richard Alan, era de extrema confiança de Tsunade e ficou encarregado de selecionar o elenco, mas não era dito que se tratava da minha apresentação final. Até onde os atores sabiam, eles estavam audicionando para uma peça normal. Só o elenco selecionado é que saberia do que realmente se tratava.

Por isso Gaara — nem ninguém de sua equipe — poderia aparecer no local de audições.

"Mas se o Gaara aparecer por lá, os rumores de que eu vou fazer um musical irão se espalhar!" Reclamei.

"Ele não vai aparecer na frente dos candidatos, Sakura." Tentou me tranquilizar. "Gaara foi entregar o roteiro para o diretor, de modo que Richard possa começar a preparação do cenário e dos atores."

"Mas roteiro não está totalmente pronto! Eu ainda tenho que fazer uma música! E só fizemos um arranjo até agora!" Rebati.

"Ora... Foi você que fez questão de um musical." Tsunade levantou as sobrancelhas. "Estamos correndo contra o tempo. O seu texto irá passar para as mãos de um roteirista profissional que ajustará o que tiver que ajustar. Você e Gaara precisam se concentrar nos arranjos."

Balancei a cabeça. "Eu não quero que mudem o roteiro."

Tsunade revirou os olhos. "Ninguém vai mudar a história, Sakura. Só fazer pequenos ajustes."

"Tem certeza?"

Ela riu. "Claro que tenho! A história está ótima. Só precisa arrumar alguns detalhes."

Assenti, concordando.

"Tudo bem." Falei. "Vou tentar escrever a música que está faltando enquanto o Gaara não chega."

"Certo." Deu-me sorriso. "Vou deixar você se concentrar."

E com isto, ela saiu, deixando-me sozinha.

Suspirei, pegando lápis e papel, sentando no chão da sala de música e partindo para minha centésima tentativa de escrever algo que prestasse e condissesse com o que eu queria.

Mas estava difícil.

*

*

*

*

Não... Estava impossível!

Eu não fazia ideia de por que estava tendo um bloqueio tão grande com uma música que deveria ser simples.

Deveria. Mas não era.

Nada do que eu escrevia ficava bom o suficiente.

"Você parece irritada." Ouvi a voz de Gaara.

Ele estava parado da porta, encarando-me.

"Eu não consigo escrever nada que preste!" Reclamei, totalmente irritada, amassando mais uma folha.

"Duvido muito." Ele disse, fechando a porta e se aproximando de mim.

"Nem pense em olhar!" Falei, observando enquanto ele também se sentava no chão, na minha frente.

"Não vou." Respondeu, simplesmente. "O que está tentando escrever?"

Bufei, impaciente. "A droga daquela música que ficou faltando. Mas o bloqueio está forte!"

Gaara riu, deixando-me irritada. Isso é um assunto sério!

"Eu escrevi a música." Ele disse.

Pisquei, em um misto de surpresa e alívio. Gaara tinha escrito um par de músicas para me ajudar no musical. Mas como eu tinha assumido a responsabilidade por essa, não pensei que ele a faria.

"Escreveu?"

"Sim." Afirmou. "Na verdade era uma música que já estava escrita há algum tempo. Mas achei que encaixaria na cena."

"Quero ouvir!" Falei, subitamente animada.

Ele assentiu. "Passa o violão para cá."

Prontamente, peguei o instrumento atrás de mim e lhe entreguei.

"Espero que goste." Falou, começando a tocar as primeiras notas.

Ela acha difícil confiar em alguém

Ela ouviu as palavras, porque todas foram cantadas

Ela é a garota escondida no canto

Ela é a garota que ninguém amava

Gaara cantava olhando para o chão, enquanto eu tinha meu olhar fixo nele, absorvendo suas palavras e a linda melodia.

Mas eu não consigo, não consigo, não consigo parar de pensar em você todos os dias

E você não pode, não pode, não pode ouvir o que as pessoas dizem

Eles não te conhecem, baby

Não sabem que você é incrível

Mas eu estou aqui para ficar

Meu coração começou a bater mais forte quando as letras da música começaram a fazer sentido para mim.

Sentido até demais.

Gaara levantou seu olhar para mim.

Quando você perder o seu caminho e a luta estiver acabada

Seu coração começa a quebrar e você precisa de alguém por perto

Apenas feche seus olhos, enquanto eu coloco meus braços em sua volta

E faço de você inquebrável

Você fica na chuva apenas para esconder tudo

Se algum dia se virar, eu não vou te deixar cair

Eu juro que vou encontrar seu verdadeiro sorriso

E colocarei meus braços em sua volta

E farei de você inquebrável

Eu farei de você inquebrável

A música era sobre mim.

Minha respiração ficava presa em minha garganta com o simples pensamento. O pensamento que eu vinha evitando há semanas.

Era surreal. Louco. Irracional. Improvável.

No entanto... Eu sabia a verdade. A verdade que estava estampada em meus olhos e ainda assim eu me negava a enxergar.

Gaara... Contrariando todas as leis naturais do universo... Tinha algum tipo de... Sentimento... Por mim.

Um sentimento além da amizade.

Porque ela é a garota que eu nunca tive

Ela é o coração que eu queria tanto

A música que eu ouço no rádio

Que me faz parar e pensar nela

A letra encaixava perfeitamente com o que eu queria para a cena do musical. Gaara poderia muito bem ter me dito que a escrevera unicamente para a peça.

Mas não.

Ele deixara claro que a canção fora escrita há algum tempo. Ele queria que eu soubesse.

E eu não consigo, não consigo, não consigo me concentrar mais

Eu preciso, eu preciso, preciso mostrar a ela para o que o coração serve

Tem sido tão maltratado

Agora seu mundo está certamente caindo aos pedaços

Caindo aos pedaços

Suas palavras tocavam meu coração de um jeito único. Eu estava, provavelmente, lagrimando.

Todas as nossas conversas e sinais que Gaara deu sobre o que sentia passavam por minha mente.

A música que seu suposto amigo o pedira para escrever, mas que no meu subconsciente eu senti para quem realmente era... As palavras que ele me disse em sua visita proibida ao meu quarto no hotel... Tudo... Tudo girando em minha cabeça como em um grande turbilhão.

Quando você perder o seu caminho e a luta estiver acabada

Seu coração começa a quebrar e você precisa de alguém por perto

Apenas feche seus olhos, enquanto eu coloco meus braços em sua volta

E faço de você inquebrável

Você fica na chuva apenas para esconder tudo

Se algum dia se virar, eu não vou te deixar cair

Eu juro que vou encontrar seu verdadeiro sorriso

E colocarei meus braços em sua volta

E farei de você inquebrável

Eu farei de você inquebrável

Os olhos de Gaara eram como brasa pura nos meus.

Ele soube... Naquele momento ele soube que eu estava entendendo tudo que ele me dizia. Era como se nossos olhares conversassem entre si.

Como algo assim era possível?

Se uma coisa a minha paixão — e constantes rejeições — por Sasuke-kun tinha me ensinado, era que garotas como eu não ficam com caras como ele. Muito menos com caras como Gaara. Essa era a lei da vida. Cruel, porém verídica.

Então... Como?

Você precisa saber que alguém está lá o tempo todo

Vou esperar na fila, na esperança de que apareça

Não posso ir embora até que seu coração saiba que ele é lindo

Oh, eu espero que você saiba... Ele é lindo

Entre todas as garotas incríveis que ele poderia ter... De qualquer tipo ou lugar do mundo... Por que se interessar por uma garota como eu?

Tudo bem. Eu me considero bonita. E agora eu sei que tenho muito talento. Porém... Também sou cheia de problemas, cicatrizes e feridas abertas.

E sou desesperadamente apaixonada por outro cara.

Sou o tipo exato de garota que Gaara deveria manter distância.

E talvez ele soubesse disso, agora.

Por sua própria boca ele havia me dito que não queria curar um coração que pertencia a outro cara. E eu podia entender isso. O amor próprio de Gaara era muito forte. Ele se amava acima de qualquer coisa, ou qualquer um. Definitivamente algo para se invejar.

Quando você perder o seu caminho e a luta estiver acabada

Seu coração começa a quebrar e você precisa de alguém por perto

Apenas feche seus olhos, enquanto eu coloco meus braços em sua volta

E faço de você inquebrável

Você fica na chuva apenas para esconder tudo

Se algum dia se virar, eu não vou te deixar cair

Eu juro que vou encontrar seu verdadeiro sorriso

E colocarei meus braços em sua volta

E farei de você inquebrável

Eu farei de você inquebrável

Inquebrável

Gaara terminou a canção, ainda com seu olhar no meu.

Por alguns segundos o silêncio reinou entre nós.

Agora eu podia sentir claramente meus olhos úmidos.

"Aprovada?" Ele quebrou o silêncio.

"Hum?"

"A música..." Continuou. "Está aprovada?"

Por um momento, continuei calada, mas logo, aproximei-me de Gaara, tirando o violão de suas mãos e largando-o no chão, ao nosso lado.

Dessa vez eu não ia fingir que não via nada, e nem me impedir de pensar sobre aquilo.

Gaara olhou-me confuso enquanto eu diminuía o espaço entre nós. Envolvi meus braços em seu pescoço, encostando minha cabeça em seu ombro.

"Desculpe." Sussurrei. "Por favor me desculpe.

Gaara permaneceu estático por alguns segundos.

Porém, logo ele segurou gentilmente em meus ombros, afastando-me para poder olhar em meus olhos.

"Por que pede desculpas?"

Engoli em seco, tentando decifrá-lo.

Naquele momento, vendo-o me olhar tão intensamente, esperando minha resposta com uma visível ansiedade, decidi que eu tinha que ser sincera com ele.

"Você não quer curar um coração que pertence a outro cara, não é?" Falei, com a voz um pouco embargada.

Gaara abaixou o olhar, assentindo com a cabeça sutilmente. "Sim. Eu não estou disposto a interpretar esse papel. Não posso fazer isso comigo mesmo." Suspirou, voltando a me olhar. "Mas a principal razão não sou eu. É você." Ele olhou no fundo dos meus olhos. "Eu costumava pensar que eu queria te fazer inquebrável. Mas... Então eu percebi que você é quem tem que fazer isso. Porque eu não quero que você dependa de ninguém além de si mesma. Nem de mim."

As palavras de Gaara me atingiram em cheio.

E eu compreendi.

Em minha cabeça, sempre achei que dependesse de alguém. Mas especificamente, de Sasuke-kun e meus amigos. Achava que sem eles não pudesse seguir em frente.

Agora que eu começara a mudar o meu jeito de pensar, estava constantemente procurando por algo em que me apoiar. No caso atual, o concurso. Se não houvesse o Soul Talent para distrair minha cabeça, nem sei o que faria — ou como estaria.

Mas naquele momento eu compreendi que Gaara não queria que eu me apoiasse emocionalmente nele. Ele queria que eu conseguisse caminhar com minhas próprias pernas, sem precisar do apoio de ninguém — nem do dele.

Meu coração se aqueceu ao pensar no quanto ele se importava comigo.

"Você é realmente maravilhoso, sabia disso?" Funguei.

Esperei alguma resposta convencida, mas, ao invés, ele me deu um sorriso mínimo e disse: "Eu quero que você se torne uma pessoa segura. Feliz. E que reconstrua seu coração com suas próprias forças." Falou, com seriedade. "Você escolheu o caminho da fama para sua vida, Sakura. E esse é um caminho em que apenas pessoas fortes se dão bem."

Abaixei o olhar. "E se eu não me tornar forte?"

Gaara levou sua mão ao meu queixo, levantando-o. "Você já é forte. Mas precisa ser ainda mais." Ele escorregou sua mão para minha bochecha, acariciando-a. Como sempre, meu coração bateu mais forte com sua aproximação. "Eu sei que vai conseguir seguir em frente. Não se preocupe. Quando isso acontecer, eu ainda vou estar aqui. E então nós dois seremos inquebráveis juntos."

Sorri, emocionada.

Gaara era o garoto mais maravilhoso que eu já conhecera. Nem de longe o merecia.

Mas ainda assim... Eu estava realmente grata e feliz por ele sentir algo por mim.

E, finalmente, depois de muito tempo lutando contra, pude admitir para mim mesma: Algo em mim... Balançava por ele.

Sim. Havia um sentimento. Algo que eu não sabia nomear.

Era como uma chama em meu coração. Quente e brilhante. Pequena, sim, porém crescente. Ganhando espaço aos pouquinhos. Constantemente. E não parecia ser do tipo que se apaga.

"Você faz o meu coração bater mais rápido." Admiti, retribuindo sua sinceridade.

Os olhos de Gaara brilharam, e um lindo sorriso apareceu em seus lábios. "Isso é um começo, não é?"

Sorri. "Sim. O começo que algo bom." Falei, fazendo referência à música que Gaara escreveu dizendo ser para seu amigo.

Ele entendeu e deu um sorriso sem graça, desviando olhar.

"Pensei que você não tivesse sacado." Ele disse.

No fundo, no cantinho de minha mente, eu sempre soube. No entanto, negava a mim mesma desesperadamente. Mas Gaara não precisava saber disso.

"Soube na primeira estrofe." Pisquei um olho.

Ele bufou, claramente embaraçado. Deixá-lo naquele estado era adorável.

"Amigo? Sério mesmo? Não tinha uma desculpa melhor não?" Continuei a provocar.

Gaara corou.

Ele. Corou.

Meu Deus! Isso era mais que adorável! Era impagável!

Não me segurei e soltei uma gargalhada.

Gaara fechou a cara, enquanto eu continuava a rir.

"Ha, ha. Muito engraçado." Ele se levantou, sentando-se ao piano. "Para de rir e vem fazer os arranjos comigo. Temos muita música para trabalhar."

Mas eu continuei a rir. Eventualmente, ele cedeu, rindo junto.

Senti-me aliviada. Nós tínhamos sido sinceros. Acho que em minha vida, Gaara era a única pessoa para a qual eu já não tinha mais segredos.

Claro que tudo começou por acidente, com ele me vendo em situações que mais ninguém vira — incluindo o dia que me viu cantar no esconderijo.

Mas a confiança que construímos era algo único.

E eu sabia do seu valor.

*

*

*

Era sábado.

Hoje eu havia me programado para, enfim, reencontrar meus amigos.

Nos falávamos de vez em quando, e já estavam me cobrando uma visita.

Meu coração perdeu uma batida quando Sasuke-kun disse que tinha uma coisa para me contar

Obviamente, eu já sabia o que era.

O encontro, no entanto, não poderia ser mais adiado.

"Você vai mesmo ver seus amigos?" Shizune perguntou.

"Sim." Respondi. "Deseje-me boa sorte. Acho que vou precisar."

Ela sorriu, em compreensão. "Você vai se sair bem. São seus amigos, não inimigos, certo?"

"Sim." Suspirei.

"O carro já está te esperando." Chiyo chegou na sala, avisando. Ela já não era mais tão rabugenta comigo quanto de costume. Acho que já estava se acostumando à minha presença.

"Você irá dormir lá?" Shizune perguntou.

"Acho que não." Respondi. "Mas pretendo voltar só à noite."

Ela assentiu, concordando.

Com um longo suspiro, dirigi-me até o carro que me levaria ao encontro de meus amigos.

Era hora de enfrentá-los.

*

*

*

POV: Hyuuga Neji

"Você não pode realmente ter dito isso!" Sasuke falou, irritado.

"E por acaso é alguma mentira?" Ino rebateu. "A Sakura já não é a mesma há muito tempo. Disse e digo de novo: é quase como se ela não pertencesse mais ao grupo."

Sasuke apertou os punhos e eu tive que me segurar pra não fazer uma besteira com a Yamanaka.

"Nunca mais diga isso!" Sasuke rosnou.

"Eu não falei que ela não é mais do grupo!" Ino bufou. "O que eu quero dizer é que ela não está agindo como se fosse."

"Nisso a Ino tem razão." Tenten se pronunciou.

"Ela está trabalhando!" Sasuke disse. "Não é como se ela tivesse tempo para—"

"É claro que tem!" Ino o interrompeu. "Há quanto tempo não a vemos? Quero dizer... Ela não tem direito nem a um dia de folga? Fala sério!"

"Sim." Tenten apoiou. "Além disso não atende nossas ligações e demora a ligar. Ah! E quando liga é sempre na pressa, sem dizer quase nada. Honestamente... É como se não fôssemos mais importantes para ela."

"Será que vocês duas podem parar de drama?" Tomei a palavra. "Sakura aparecerá quando tiver que aparecer."

"Fácil pra você dizer isso, não é, Neji?" Ino disse. "Você a vê todos os dias. Mas tudo que sabe dizer é 'ela está bem'."

"Porque ela está." Falei.

"Chega disso!" Sasuke olhou para Ino com raiva. "Se ela não veio até agora é por que não pôde."

E a discussão se seguiu. Meu celular vibrou, captando minha atenção. Era uma mensagem de Sakura.

"Confirme tudo que eu disser, ok?" Dizia.

A campainha tocou antes que eu pudesse responder e perguntar o que ela queria dizer.

Todos olharam-se curiosos sobre quem seria.

Naruto se apressou até a porta, abrindo-a.

"Sakura-chan!" Gritou, ao ver a rosada.

Todos se levantaram de onde estavam, surpresos.

Sakura estampou um grande sorriso — sem aparelho. Claro. Tinha o tirado para ser Lümina.

"Oi, Naruto!" Disse, animada. "Oi, pessoal!"

"Sakura...?" Ino disse, parecendo nervosa. Bem que ela tinha motivos.

"Sakura-chan!" Naruto gritou, novamente, dando-lhe um abraço apertado. "Você está aqui!"

"Tirou o aparelho de vez, Sakura?" Shikamaru perguntou.

Sakura o olhou, após Naruto a soltar. "Finalmente, não é?"

"Mas não tem que usar um móvel, ou algo assim?" O Nara continuou.

Sakura deu de ombros. "Tem sim... Mas eu sempre esqueço."

Todos a encaravam, sem saber exatamente o que fazer. Sakura, no entanto, parecia não notar, continuando com sua aura empolgada.

"Bom ver você." Sasuke disse.

Ela lhe sorriu, assentindo.

"Sakura." Chamei, captando sua atenção. "Enfim você veio."

"Neji!" Seu sorriso aumentou. "Sim. Vim passar o dia com vocês."

Sakura observou o lugar apertado em que ficávamos, com um olhar indecifrável. Tudo que tínhamos eram três colchões de casal, uma televisão e muitas malas espalhadas. De decoração só nossos restos de comida mesmo.

Aposto que a vida dela estava bem melhor que a nossa. Mas não podíamos reclamar. Pelo menos tínhamos um lugar para ficar.

Sakura caminhou até um dos colchões, sentando-se nele.

Logo, todos nós também pegamos um lugar, juntando-nos em uma roda com o grupo completo pela primeira em um considerável tempo.

"Como vocês estão de dinheiro por aqui?" A rosada perguntou.

"Já juntamos bastante." Sasuke respondeu. "Evitamos grandes gastos, então..."

"O problema é que as passagens são caras." Hinata disse.

"Sim. Mas todos estamos trabalhando muito. Achamos que em mais algumas semanas conseguiremos ir para casa." Tenten completou. "E você? Já juntou muito?"

Sakura desviou o olhar. "Bem... Sim... Eu acho."

Hum. Provavelmente ela não tinha um centavo no bolso. Suas despesas eram pagas pelo Soul Talent, mas não era como se ela recebesse um salário.

"Nós precisamos conversar direito sobre isso." Shikamaru disse. "Para saber quanto exatamente ainda precisamos ganhar."

"Ela acabou de chegar." Falei, tentando mudar o assunto. "Vocês não estavam querendo tanto vê-la? Pois então... Deixemos para falar da nossa situação financeira depois."

"Neji está certo." Naruto concordou. "Até por que temos muitas coisas para conversar."

"Sim." Sakura concordou. "Então... Alguma novidade?"

O clima ficou subitamente tenso. Todos ficaram calados, enquanto Sakura nos olhava com seus olhar sagaz.

"Na verdade sim." Sasuke quebrou o silêncio. "Tem uma coisa que precisamos te contar."

"Sakura..." Ino abaixou a cabeça. Podia ver suas mãos tremerem. "Aconteceu algo... Não foi nada planejado... E nossa intenção nunca foi te magoar nem esconder nada... No começo nós só queríamos deixar pra lá e esquecer... Mas... Não conseguimos e—"

"Apenas diga, Ino." Sakura a interrompeu, com expressão neutra.

"Eu acho melhor te explicar tudo primeiro." Sasuke tomou a palavra, visivelmente nervoso. "É uma história um pouco longa—"

Sakura riu, interrompendo-o. "Tudo isso é só pra me contar que você e Ino estão namorando?"

Engasguei. Assim como todos os outros.

Como assim? Como Sakura sabia? Desde de quando? E o que era essa reação?

Sasuke tinha os olhos arregalados, enquanto Ino estava de queixo caído.

O choque era total.

"V-Você..." Ino gaguejou. "...Sabe?"

Sakura assentiu, estampando um sorriso no rosto. "Sim! Neji me contou!"

Oi?

Em um segundo, todos os olhos estavam em mim. Encarei Sakura, que me dirigiu um olhar forte.

"Confirme tudo que eu disser, ok?" Lembrei de sua mensagem.

Ah. Então era isso que ela queria dizer.

Mesmo sem entender sua reação, ou como ela sabia, assenti com a cabeça, concordando. Afinal... Eu já estava mancomunado com ela, de qualquer jeito.

"Ela tinha que saber." Dei de ombros.

"Como que você falou isso pra ela, Neji!" Ino vociferou, olhando-me com raiva. "Logo você que é tão na sua! Isso era algo que eu e Sasuke tínhamos que contar!"

"Ei! Calma, Ino." Sakura disse. "Quando vocês me falaram que tinham algo para me contar, eu pressionei o Neji. Praticamente o obriguei a me dizer o que era."

"E eu achei que fosse melhor Sakura vir encontrar vocês já sabendo de tudo." Apoiei sua mentira.

Eu não sabia que tipo de jogo a rosada estava jogando. Mas se isso fosse lhe ajudar, eu jogaria junto. Ela precisava de alguém que a apoiasse aqui. De alguém que estivesse do seu lado, já que todos pareciam estar no lado de Sasuke e Ino.

"Sim. E foi por isso que eu demorei a vir." A rosada disse. "Eu estava digerindo a informação."

Alguns segundos de silêncio se seguiram, nos quais Ino e Sasuke a encaravam em dúvida.

"Você não está com raiva?" A Yamanaka perguntou.

Sakura sorriu. "Não."

"Triste?" A loira continuou. "Magoada?"
O sorriso de Sakura aumentou. "Não. Nem um pouco."

Tentei achar algo em sua expressão que denunciasse sua mentira, mas não encontrei nada. Ela parecia genuinamente feliz e animada.

Foi então que eu percebi.

Mesmo sabendo que tudo que Sakura estava contando era mentira, ainda assim eu não podia dizer por sua expressão.

Ela era uma exímia mentirosa. Sabia esconder e disfarçar as coisas como ninguém.

Nos últimos tempos eu me perguntei inúmeras vezes como nunca pude perceber que Sakura era mais do que demonstrava... Como nunca a vi, realmente.

E foi ali que eu soube. Eu não era apenas mais um cego que não conseguia enxergar além. Era Sakura. Ela era especialista em disfarces. Não havia absolutamente nada em seu sorriso que denunciasse que era fingido, fazendo até eu — que já sabia de tudo que ela não queria que eu soubesse — quase pensar que era verdadeiro. Quase. Porque depois de tudo, eu tinha certeza de que havia algo por trás de seu sorriso — e olhos, que também se recusavam a denunciar qualquer coisa.

Eu não sabia se ficava impressionado ou assustado, com sua capacidade de fingir.

"Sakura... O que houve?" Tenten perguntou. "Eu não estou te reconhecendo. Você não deveria estar gritando, ou algo assim?"

"Por que eu faria isso?" Sakura levantou as sobrancelhas. "Sim... Eu fiquei um pouco chocada quando soube do namoro, mas eu já consegui digerir a situação."

"Essa não é você." Tenten insistiu.

"Você não contou para eles, não é, Neji?" Sakura se dirigiu a mim.

Dei de ombros. O que ela inventaria agora?

"Contar o quê?" Sasuke perguntou.

"Ah, Sasuke-kun..." Ela começou. "Você sabe que eu sempre vou gostar de você, mas assim... Eu acho que confundi nossa amizade com algo a mais. Na verdade... Meio que estou interessada em um cara que mora lá perto de onde eu trabalho." Mentiu, descaradamente.

Sasuke arregalou os olhos, levemente. Todos foram pegos desprevenidos. Eu, contudo, estava um tanto quanto chocado com a facilidade e veracidade com a qual ela mentia. Parecia uma profissional — e muito provavelmente era.

"Você está falando sério?" Sasuke parecia genuinamente surpreso.

"Seríssimo." Ela assentiu, virando-se para Ino. "Acho bom você cuidar bem do meu Sasuke-kun. Ou então você vai me ver realmente com raiva!"

Ino sorriu, parecendo aliviada. "Eu não posso nem acreditar! Essa era a última reação que eu esperava de você!"

E enquanto Sakura recebia o abraço de Ino, sorrindo de orelha a orelha — sem demonstrar um pingo de tristeza —, decidi que sua capacidade de fingir me deixava muito assustado.

O que eu não sabia era se isso me deixava com raiva ou com pena dela.

Talvez os dois.

*

*

*

*

POV: Haruno Sakura

O dia com meus amigos foi... Como uma prova de fogo. Já era noite e, por enquanto, eu tinha aguentado bem.

Precisava me fazer de forte o tempo inteiro na frente deles. Sorrir o tempo todo. Não podia fraquejar.

Durante todo o período, no entanto, sentia o olhar acusador de Neji sobre mim. Sim. Ele era o único que sabia que tudo que eu tinha feito era mentir.

Quando eu resolvi, por fim, vir visitar meus amigos, decidi que eles não me veriam sofrer em nenhum segundo, não importando a mentira que eu tivesse que contar para isso.

Neji tinha conhecimento de que eu sabia dos sentimentos de Sasuke-kun e Ino. Claro, até hoje ele não fazia ideia que eu estava ciente do namoro dos dois, mas achei que já que ele era meu cúmplice, poderia me acobertar em mais uma. E acobertou. No entanto, seu olhar parecia tentar me decifrar a todo instante. Pelo tanto de mentiras descaradas que eu contei, não me admirava.

Mas se de uma coisa eu sabia, era que não estava disposta a ouvir a historinha de amor de Sasuke-kun e Ino. Não queria explicações. Não havia nada que eles me contassem que eu já não soubesse. Por isso quando Sasuke-kun disse que iria contar tudo do começo, eu simplesmente me apressei a dizer que Neji havia me contado.

Era verdade que eu não tinha pensado muito na situação em que eu colocaria meu amigo de olhos prateados, mas lidar com a minha própria já estava sendo difícil o suficiente.

Cada sorriso que eu dava era como se enfiasse uma adaga em mim mesma.

Precisava me lembrar a todo instante que precisava ser forte.

Pelo menos Sasuke-kun e Ino não ficaram esfregando que eram um casal em minha cara. Cada um ficava na sua, falando pouco um com outro.

E eu agradeci mentalmente por isso. Não ia aguentar ver os dois bancando os pombinhos apaixonados.

Havia instantes em que eu queria sumir, ir embora... Instantes em que eu me sentia realmente mal e que meu sorriso quase — quase — fraquejava. Mas eu me mantinha firme. Era minha prova de fogo.

Eu não queria pena, nem desculpas que não me serviriam de nada.

Então, como tantas outras vezes, a mentira foi minha melhor amiga.

"Acho melhor você ir logo comprar a comida, Sasuke." Naruto disse.

"Sim." Ino assentiu. "Mas vê se não gasta tanto quanto ontem, viu?"

Sasuke-kun apertou os olhos para ela. "Mas bem que você gostou de comer algo diferente, não é?"

"Não comecem." Shikamaru falou.

Sasuke-kun suspirou, levantando-se do colchão.

"Vem comigo, Sakura?" Ele perguntou.

Olhei-o, um tanto surpresa.

Eu não queria ir. Não queria ter que ficar sozinha com ele. Mas seu olhar me fazia um pedido mudo. E eu não pude dizer não.

"Claro." Levantei-me também.

Peguei meu casaco e nos dirigimos até a porta.

"Eu vou com vocês!" Ino se apressou a dizer, pulando do colchão assim que Sasuke-kun abriu a porta.

Ele virou-se para ela, com um olhar feroz.

"Sua presença não é necessária." Falou, puxando-me para fora e batendo a porta.

Não pude ver a reação de Ino, mas aposto que não foi uma das melhores.

"Por que você disse isso?" Perguntei, surpresa.

"Ino está me tirando do sério hoje." Respondeu. "E eu realmente preciso falar com você a sós."

Com isso, saímos para rua.

E eu tentei, com todas as minhas forças, ignorar meu coração que parecia querer sair pela boca.

*

*

*

"Você compra a comida todos os dias?" Perguntei a Sasuke-kun.

"Sim." Disse. "Alguns ficam encarregados de varrer o quarto, outros de limpar o banheiro... Eu fiquei com a função de buscar comida no mercado toda a noite."

Assenti, enquanto tomávamos o caminho de volta para o alojamento.

Sasuke-kun havia comprado pão e refrigerante. Não se parecia em nada com nosso tipo de janta no Japão, porém era consideravelmente mais barato.

"Acho que eu e você precisamos conversar de verdade." O moreno disse.

Ele não podia entrar no assunto do namoro com Ino. Eu não era de feita de aço. Não aguentaria ter nenhum tipo de conversa séria com ele naquele momento.

"A rua é sempre deserta assim?" Tentei mudar de assunto, quando saímos da rua principal e entramos em uma praticamente vazia.

"Nesse horário sim." Respondeu. "Mas não desconversa, Sakura. Tem muita coisa que eu preciso entender."

"Tipo o quê?" Fiz o possível para soar desinteressada.

"Eu não estou conseguindo engolir essa história." Falou. "Quer dizer... Você sempre se disse afim de mim, daí eu começo a namorar uma das suas amigas e você simplesmente dá de ombros como se não fosse nada?"

"Você queria que eu chorasse ou esperneasse?"

"Claro que não." Balançou a cabeça. "Apenas queria que tivesse uma reação na qual eu conseguisse acreditar. Não é possível que você não tenha ficado nem um pouco chateada."

"Eu já disse que fiquei, no começo, e que por isso não vim lhes visitar antes." Falei. "Mas já consegui digerir essa história."

Sasuke-kun me analisou. "Eu não vejo mentira em você. Mas sei lá... Algo me diz que tem algo errado. Eu só queria que você fosse sincera e me dissesse o que pensa."

Comecei a me irritar. Por que ele simplesmente não deixava o assunto para lá?

"Mas que droga! Eu já disse que está tudo bem!" Alterei a voz, fazendo Sasuke-kun parar de caminhar. Também parei. "Está tudo ótimo! Perfeito! Eu não poderia estar mais feliz com o namoro de vocês!" Disse, com voz ferina. "Satisfeito?"

"Sakura..." Começou, com olhos levemente arregalados.

Ele deu um passo, aproximando-se de mim e abrindo a boca para falar algo.

Antes que algum som saísse de seus lábios, um barulho alto de pneus cantando no asfalto nos fez virar para a entrada da rua.

Uma van preta veio em nossa direção, parando próxima a nós.

A porta do automóvel se abriu, revelando imensos homens mascarados, saltando em nossa direção.

Meu coração pulou de medo, instantaneamente.

Antes que pudéssemos reagir, os homens nos seguraram.

"Soltem-me!" Gritei, me debatendo contra o agarre de um deles.

Sasuke-kun nada dizia, apenas lutava contra três mascarados que o seguravam.

"Tem uma garota!" O cara que me segurava gritou. "Não era pra ter uma garota! O que fazemos com ela?"

"Agora não tem jeito! Trás junto!" Uma voz gritou, de dentro da van. "Rápido, porra!"

"Não!" Debati-me. Finquei minhas unhas nos braços que tentavam me levar à força até a van. O homem gemeu de dor, mas não diminuiu seu aperto em mim. "Sasuke-kun!" Choraminguei, ao vê-lo ser dominado pelos três caras e jogado no veículo.

Foi quando senti uma pancada forte na cabeça.

E o grito desesperado de Sasuke-kun foi tudo que eu pude ouvir antes de apagar.


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Notas finais do capítulo

IMPORTANTE: As músicas do capítulo são Guilty, cantada pela Seungyeon, do grupo coreano KARA, e Unbreakable, cantada pelo Jamie Scott. Vou colocar os links aqui da performance de Guilty que me inspirou, e do clipe lindinho de Unbreakable (Guilty tbm tem um clipe incrível, caso vcs queiram ver. Só procurar no YouTube). Pequeninas mudanças foram feitas.

Eu estou no facebook como "Siryen Blue". É só me procurar, não tem erro. Caso ocorra mais algum atraso, eu dou o aviso por lá, ok?

[Link das músicas]

Guilty — https://m.youtube.com/watch?v=J4whrBBdYkI

Unbreakable — https://m.youtube.com/watch?v=wZAs5K7L8KA

XOXO