As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 24
Primeira Fase: Tudo Que Eu Peço


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiii! Troquei a capa, viram? Evv que fez! Ela teve toda a paciência do mundo comigo!

Então... Esse capítulo NÃO está a cara da tristeza! Haha! Sei nem com que cara está. Eu escrevi sábado mesmo porque só tive tempo sábado. E comecei a escrever só à tarde pq aaaaafff... Tive prova de manhã! To morta! Mas mesmo assim escrevi pra vcs e aqui estou, postando bem cedinho no domingo pra vcs acordarem com cap fresquinho. Então, me perdoem se não estiver muito legal. Nas minhas férias eu prometo tentar melhorar.

Ah! Vcs já perceberam que eu só to respondendo nos dias de postagem, né? Pois é, gente... Tbm espero respondê-los mais rápido nas férias. Minha agenda ta apertada. Mas eu vibro com cada comentário! Vcs são demais!

Agora... Vocês não vão acreditar!!! DUAS RECOMENDAÇÕES NOVAAAAS!!!! Vcs são os amores da minha vida, gente! Haha!

Star: Aaaaawwwww!!! Sua lindaaaaa *---* Muito obrigada!!!! Seus elogios aqueceram meu core! Espero não te decepcionar!

Joyce: kkkkkkkk!! Vc shippa Sakura com quem se aproxima dela? Hahaha! Aaawww! Obrigada! Vc q sempre me trata com carinho e eu tenho o maior prazer de escrever essa fic! Beijo pra vc e sua amiga!

Capítulo dedicado às duas florzinhas do meu coração que recomendaram a fic!

Enjoy!



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A cena dos dois saindo de mãos dadas estava impregnada em minha mente.

Temia que nunca mais conseguisse apagá-la.

"Chegamos." Alguém avisou. Não conseguia identificar quem.

Minha mente estava longe... Perdida em algum lugar sombrio.

Vazia. Eu estava vazia.

"Lümina?" O homem voltou a falar. "Chegamos."

Não reagi.

"Lümina?" Outra voz não identificada.

"Hotel." Falei, encontrando minha voz.

"O quê?" Alguém perguntou.

"Hotel." Repeti, com voz baixa. "Levem-me de volta para o hotel. Agora."

"Ficou louca?" Mais uma voz. "Você está brincando, não é?"

Não respondi.

Meu olhar estava tão perdido quanto minha mente. Eu olhava para o nada e via nada. As vozes estavam distantes.

Tudo que eu queria era ir embora daquele lugar.

"Cara... Eu acho que ela não está bem." Ouvi falarem. A voz estava tão distante... Como se não estivéssemos no mesmo veículo. "Aconteceu alguma coisa Lümina?"

"Por favor." Pedi, com a voz quebrantada e forçada. Não queria ter que falar nunca mais. "Eu imploro. Levem-me de volta."

Sozinha. Eu queria ficar sozinha.

Queria também que eles se calassem.

Mas as vozes continuaram. Uma por cima da outra. Eu os ouvia, sem realmente escutar.

"Ela não está nada bem. Parece um zumbi."

"Mas ela estava ótima há pouco tempo atrás!"

"Bom... Agora não está mais. Olhe-a. Tem algo errado. Ela parece muito mal."

"Então o quê? Você espera que, depois de tudo, simplesmente a levemos de volta?"

"Sim. É até melhor nos livrarmos dessa tarefa de uma vez. A gente deixa a garota no hotel e tira esse peso das costas."

"Concordo. Melhor levá-la agora do que mais tarde. Acho que nem vamos conseguir nos concentrar no estoque com medo de algo dar errado. A gente diz que esqueceu alguma coisa e volta pro hotel."

Ouvi um suspiro alto.

"Ok. Vocês venceram. Vamos voltar."

E eu agradeci aos céus quando eles se calaram.

*

*

*

"Saia com cuidado." Um dos homens disse, quando eu desci da van. "Vá direto para o banheiro e—."

Apenas me virei, antes mesmo que ele terminasse de falar e saí andando lentamente, sem me preocupar com a possibilidade de alguém me notar.

Ouvi uma 'mal-educada' ser gritado para mim.

Não me importei.

Caminhei mecanicamente até o banheiro da piscina.

Sem pensamentos ou vontade, tirei o uniforme de cozinheira e a peruca, socando-os de qualquer jeito na bolsa. Não me preocupei em colocar a máscara de Lümina nem as lentes, mantendo apenas a simples máscara branca, que eu já usava, em meu rosto.

Saí do banheiro, com minha mochila nas costas e recebendo o vento gelado em minha pele.

Quantos graus estava fazendo? Provavelmente estava abaixo de zero.

Meu suéter branco não me protegia do frio.

Mas eu gostei.

O clima combinava com meu coração.

Gelado.

Respirei fundo, deixando o ar invadir meus pulmões.

A área estava vazia e eu agradeci o momento de paz.

Sentei-me à borda da piscina, colocando minhas pernas na água. Arrepiei-me inteira ao senti-las congelar, mesmo cobertas pela calça jeans.

Era desconfortável e até doloroso, mas eu adorei a sensação.

Minha mente ficava repetindo as imagens de Ino e Sasuke-kun constantemente.

Eu queria chorar, mas não conseguia. Estava tão destruída que minha capacidade de derramar lágrimas devia estar com defeito.

Sentia-me tão perdida. Não sabia o que fazer ou o que pensar.

Há quanto tempo os dois estavam juntos?

Merda. Eu não queria sentir essa dor lancinante. Eu não queria pensar no beijo do meu amor e da minha melhor amiga. Doía. Insuportavelmente.

Eu estava cheia de dor, mas, ainda assim, estava vazia.

Vazia na alma. Era como se a minha razão de viver tivesse sido arrancada de mim.

Só queria levar meus pensamentos para longe deles.

Talvez se eu congelasse meu cérebro tudo fosse embora.

A ideia me pareceu tentadora.

Sem titubear, mergulhei de uma vez na piscina.

Porra!

Gelo.

Eu havia mergulhado em gelo.

Por um segundo, meu corpo ficou paralisado. Congelando.

Eu queria gritar de dor. E gritei. Mas o som foi abafado pela água.

Era desesperador. Especialmente porque a piscina era muito mais funda do que eu previra, e eu não sabia nadar muito bem.

Lutei para ir à superfície, mas minhas pernas não me obedeciam do jeito que eu queria.

Elas se debatiam, mas não tinham forças para me levar para cima.

Entrei em pânico.

Cada segundo que passava eu me debatia mais, com pernas e braços, porém sentia-me cada vez mais fraca. O gelo parecia ter entrado em minhas veias.

Tentei procurar pela parede da piscina, mas meus movimentos tinham me afastado da borda.

Logo, meus pulmões começaram a gritar por ar.

Engoli muita água, congelando-me por dentro.

Eu iria morrer.

Mas...

Talvez...

Isso não fosse tão ruim.

Seria o fim de minhas dores.

Se eu aguentasse só mais um pouco a dor física... Só mais um pouco... Então... Tudo teria fim.

Talvez eu até fosse para o mesmo lugar que meu pai e avô.

Mas meu corpo não concordava com meus pensamentos, pois continuava se debatendo. Lutando para viver.

E então, a fraqueza finalmente me dominou, tornando meus movimentos cada vez mais fracos e lentos, até que não consegui mais me mover.

A dor em meus pulmões era torturante.

Só mais um pouco.

Logo, a inconsciência me envolveria e estaria tudo acabado.

Só mais um pouco.

Só precisava aguentar mais um pouco.

*

*

*

POV : Uchiha Sai

Decepção.

Por um momento eu havia achado que Sakura era parecida comigo.

Eu estava errado.

Como ela havia sido tão estúpida ao ponto de sair do hotel só pra ver os amiguinhos idiotas dela?

Hunf.

No fim, ela não era diferente do que eu sempre achei. Sim... Podia ter um talento musical absurdo, mas no fundo... Era a garota boba que eu sempre achei.

Fala sério!

Olha só onde estamos!

Quando no mundo poderíamos imaginar que viveríamos esse sonho?

E Sakura simplesmente jogou tudo pro lado, como se não fosse nada.

Estúpida.

E o pior de tudo... Era que isso estava me fazendo mal.

Pela primeira vez, achei que tinha encontrado alguém parecido comigo. Alguém com quem eu poderia falar abertamente, por saber que entenderia o que eu estava passando.

E eu odiava o fato de ter me enganado com Sakura.

Suspirei.

Da varanda, pude ver a van que havia levado Sakura retornar.

Quer dizer... Eu estava na varanda, há uns 45 minutos atrás, quando notei uma garota entrando apressadamente na van, e supus ser Sakura.

Imaginei que fosse pela mochila — que eu já havia visto no quarto de Sakura — e por ser a única pessoa da cozinha que usava máscara sem estar... Bem... Na cozinha.

E agora, essa mesma van retornava.

Fiquei surpreso ao ver a garota sair da van e caminhar lentamente para longe dos homens, enquanto eles pareciam irritados.

Talvez, mais uma vez, eu estivesse enganado.

Sakura devia estar com os amigos agora.

Aquela deveria ser apenas uma garota da cozinha mesmo.

Mas então... Por que ela estava indo para a área da piscina? Quase ninguém ia pra área da piscina, ainda mais de noite. O tempo era frio demais. Inverno e piscina não combinam.

Mas Sakura... Eu percebia que sempre, uma vez por dia, ela ia até o banheiro da piscina.

O motivo ela não me dizia.

Eu desconfiava que talvez ela tivesse algum celular escondido para ligar para os amigos.

Meu palpite era que a Haruno escondia um celular naquele banheiro.

Afinal... Ela mesma havia me dito que os amigos estavam desconfiados.

Como Sakura saberia que eles estavam desconfiados se não tivesse contato com eles?

Bom... Nesse ponto, não a julgava.

A garota tinha que arranjar uma maneira de manter a farsa com os amigos. Não que eu concordasse. Por mim, ela arrancaria logo a máscara. Mas essa é uma decisão dela.

O fato, era que a garota vestida de cozinheira não parecia muito bem. E eu ainda achava que fosse Sakura.

A curiosidade falou mais forte que a raiva que eu sentia. Por isso, peguei meu casaco e saí do quarto para tirar minhas dúvidas — em relação ao celular no banheiro e à Sakura vestida de cozinheira.

O elevador demorou um pouco para chegar, e eu estava impaciente.

Quando finalmente saí do hotel, apressei meus passos, respondendo com um leve aceno de cabeça a quem me cumprimentava e desejava boa sorte.

Como o esperado, a área da piscina estava vazia.

Assim que dei o primeiro passo em direção ao banheiro, um movimento estranho na água me chamou a atenção.

Entrei em choque ao notar cabelos rosas submersos.

Sakura!

Por alguns segundos, esperei a garota emergir, mas, ao invés disso, os poucos movimentos que ela fazia cessaram.

Com medo crescente em mim, não pensei duas vezes antes de tirar meu casaco e entrar na água.

Caralho!

Estava gelo puro!

Aquela devia ser a pior sensação que eu já tinha sentido.

Horrível!

E para piorar, a piscina era bem mais funda do que eu previra.

Afundei.

Por um instante, cheguei a ficar paralisado com a sensação horrível de estar sendo congelado.

Tirando forças até de onde não tinha, forcei-me abrir os olhos embaixo d'água e agir — o que não foi de muita inteligência, já que meus olhos arderam com o gelo. O mínimo segundo que passei de olho aberto foi o suficiente para eu localizar um vulto, que com certeza era Sakura. Não precisei nadar muito até chegar onde ela estava.

Puxei-a comigo até a superfície.

Sakura inspirou fortemente, como respirasse pela primeira vez, e então, tossiu furiosamente.

Com muito esforço, consegui nos manter emersos e nadei com ela até a beirada da piscina.

Sakura agarrou-se à borda e eu a larguei, impulsionando-me para cima e saindo da água.

O vento gelado de inverno bateu em minha pele gelada, arrepiando-me.

Merda! Estava a ponto de ter hipotermia!

Ajudei Sakura a sair da piscina e assisti enquanto ela se encolhia com o frio.

A garota não me olhava. Seu olhar estava baixo e perdido.

"Que porra foi essa, Sakura?" Perguntei, irritado.

Não queria nem pensar no que levou Sakura a estar quase se afogando na piscina.

Teria sido proposital?

Não.

Claro que não.

Sakura não faria isso.

Ou faria?

Não.

Provavelmente ela tinha caído.

Lentamente, Sakura virou seu olhar para mim.

Perdi o ar por um segundo. Ela parecia tão... Sem vida.

Havia uma máscara branca em seu rosto. Quer dizer... Deveria ser branca, mas agora estava completamente molhada e transparente.

Sim. A garota vestida de cozinheira era ela. Apesar de não estar mais com o uniforme. Só com a máscara.

"O que aconteceu?" Voltei a perguntar.

Nada. Ela não respondeu nada. Apenas se encolheu mais, tirando seu olhar de mim.

Procurei por meu casaco e acabei encontrando, também, sua mochila.

"Sua máscara está aqui dentro?" Apontei para mochila.

Mais uma vez fiquei sem resposta.

Bufei.

Seja lá o que estivesse acontecendo, eu não estava gostando.

Abri a mochila e encontrei a máscara de Lümina, por baixo do disfarce de cozinheira.

Fui até Sakura, colocando a máscara em em seu rosto, sem nenhuma delicadeza. Ela não protestou.

Seu cabelo estava sem o aplique e seus olhos sem lentes.

Suspirei, pegando meu casaco seco e colocando-o em volta de sua cabeça, para cobrí-la.

"Vamos sair daqui antes que fiquemos hipotérmicos." Falei, puxando-a pelo braço e a fazendo levantar.

Guiei Sakura por todo o caminho até o hotel. Ela não parecia consigo mesma. E aquilo já estava me preocupando.

Notei alguns olhares curiosos em nossa direção, mas resolvi ignorar.

No elevador, apertei o botão do andar dela. Foi quando, enfim, a garota falou.

"Sai..." Chamou, baixinho. A voz dela parecia tão quebrada que me assustou. "Eles se beijaram. Eles estão juntos, Sai."

Olhei-a, interrogativamente. Mas ela não me encarava. Seu olhar estava no chão. "Quem?" Perguntei.

Sakura não respondeu.

Como num clique, percebi do que ela falava.

Meu coração perdeu uma batida, e segurei nos ombros de Sakura, virando-a para mim.

"Quem?" Perguntei, novamente. Dessa vez, com uma pontada de desespero na voz. "Ino e Sasuke?"

Sakura se encolheu, como se recebesse um tapa.

Foi toda a resposta que eu precisei.

Larguei seus ombros e tentei continuar em pé, enquanto todas as esperanças de que não era real o que eu tinha notado nos últimos tempos eram derrubadas.

Sasuke e Ino.

Os olhares. A mudança de comportamento entre os dois... Eu não queria acreditar. Queria pensar que estava tudo na minha mente.

Mas, agora, minhas esperanças tinham desaparecido.

Por mais que eu soubesse que nunca tinha, realmente, tido uma chance com Ino, não pude evitar a dor em meu peito.

Apertei meus olhos, respirando fundo.

Eu não podia me deixar ser atingido por isso.

Recomponha-se, Sai. Isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde!

Saber disso não tornava nada mais fácil.

Logo, o elevador parou, abrindo as portas.

Nem eu, nem Sakura fizemos qualquer movimento para sair.

Só quando a porta ia fechando foi que eu resolvi acabar com meu estado de torpor. "Vamos." Disse à Sakura.

Puxei-a pelo corredor até seu quarto, tomando a liberdade de procurar a chave em sua mochila.

Sakura entrou assim que abri a porta.

"Eu quero ficar sozinha." Ela disse, com voz baixa.

Ao ver Sakura de costas para mim e com postura encolhida, senti vontade de abraçá-la e dizer que tudo acabaria bem no final.

Foi então que eu percebi que o quão complexa Sakura era.

Havia um lado seu muito frágil, e outro, extremamente forte.

Mas a garota não era estúpida.

Talvez, o que tinha me deixado com mais raiva, fosse ver o quão parecidos éramos, sendo, ao mesmo tempo, tão diferentes.

Sakura e eu interpretávamos o mesmo papel de coadjuvantes na história de Sasuke e Ino.

Mas, de alguma forma, era diferente para nós dois.

Agora eu podia ver que o amor de Sakura não era infantil como eu pensava antes. Não. Era forte, puro e verdadeiro. Muito diferente daquilo que eu sentia por Ino.

Não escondia de ninguém minha paixão e admiração pela Yamanaka, mas nem se comparava ao que Sakura sentia por Sasuke.

O que eu sentia por Ino não era amor. Eu nem ao menos sei o que é amor.

O que eu sentia era uma paixão passageira e não-correspondida.

Então, definitivamente já estava pronto para seguir em frente e encontrar uma garota legal que gostasse de mim e me valorizasse.

Estava pronto para esquecer Ino.

Mas Sakura... Não a achava pronta para esquecer Sasuke.

E isso chegava a ser triste.

"Eu sei que você está sofrendo." Falei. "Não há nada que eu ou você possamos fazer para mudar o coração deles. Mas eu te digo uma coisa que podemos e devemos fazer: música. Faça sua música. Cante suas dores. Seja a protagonista da sua própria história."

Sakura continuou calada.

Eu deveria deixá-la sozinha, mas parte de mim tinha medo que ela fosse fazer alguma besteira.

Ainda não estava certo do que tinha acontecido na piscina.

"Eu vou ficar bem." Ela falou, de costas. "Obrigada."

Considerei se deveria mesmo deixá-la sozinha.

Acabei decidindo que ela precisava de um momento só seu. E eu precisava, desesperadamente, colocar uma roupa quente.

"Daqui a pouco venho te ver." Avisei.

Sakura acenou com a cabeça e eu saí, fechando a porta.

Essa garota precisava de ajuda. Ela precisava aprender a lidar com corações partidos.

Talvez, no fim, a dor a fortalecesse e Sakura também encontrasse alguém legal, que a valorizasse.

Afinal, já estava mais do que na hora da Haruno seguir em frente.

*

*

*

POV: Sabaku no Temari

Algo havia dado errado na fuga de Sakura do hotel.

Não que alguém tivesse descoberto. Não. Ninguém tinha sequer desconfiado. Mas que alguma coisa não estava certa... Disso eu tinha certeza.

Fato número um: Os cozinheiros a trouxeram de volta rápido demais. Um deles havia me dito que ela nem sequer havia descido da van.

Segundo ele, de uma hora para outra, a garota simplesmente começou a agir estranho, como se não fosse mais ela.

Fato número dois: Estavam circulando na internet fotos de Sai e Sakura — Lümina — andando juntos pelo hotel. Ela estava coberta com um casaco na cabeça e ele a guiava, segurando-a pelo braço.

As manchetes noticiavam que os dois estavam namorando e tinham tido um 'momento quente de paixão e loucura, na piscina gelada'.

Obviamente, tudo não passava de mentiras. Quer dizer... Pelo menos era nisso que eu acreditava.

O último fato que me fazia ter certeza de que algo estava errado, era que Sakura não havia saído do quarto sequer por um momento nos dois dias que se seguiram à fuga.

Sem contar que todas as vezes que a equipe de limpeza tentava arrumar seu quarto, ela, simplesmente, deixava-os batendo até cansarem.

O próprio Sai só faltava arrebentar a porta do quarto da Haruno, mas ela nem sequer dava indícios de querer abrir.

Só sabíamos que a garota continuava viva quando pedia comida. E isso só acontecia de madrugada.

Sim... Ela estava comendo apenas uma vez por dia.

O caso estava sério.

Em apenas dois dias ocorreriam as apresentações e a rosada ainda não havia conversado com ninguém da produção sobre o que pretendia fazer.

Todos os outros participantes estavam empenhados, enquanto ela nem sequer dava as caras.

Sakura — ou Lümina — era a indicada de meu irmão. O contrato de Gaara na Columbia Records estava dependendo de seu sucesso. Então... Se eu precisasse tomar medidas drásticas para que a garota voltasse a si... Que fosse. Eu não hesitaria.

Quer dizer... Até que hesitei um pouquinho... Na hora de dizer a Gaara que eu tinha armado para Sakura sair do hotel.

Meu irmãozinho mais novo não ficava nada agradável quando estava com raiva.

Sorte que eu tinha falado com ele por telefone. Se tivesse sido pessoalmente, provavelmente teria sido esganada.

Eu sabia que não tinha sido inteligente deixá-la fugir por algumas horas, mas a garota parecia tão desesperada que eu não consegui dizer não.

Achei que isso até iria ajudar no seu desempenho, já que ela não estava se concentrando na próxima apresentação.

No fim, acabei piorando tudo.

E aqui estava eu de novo... Quebrando as regras.

Já era quase um rotina subornar o pessoal da equipe de cozinha. Eles não eram muito — nada — honestos.

Por um lado, isso era bom pra mim. Por outro, sabia que devia ficar de olhos nele. Se Sakura estivesse certa, Sasori teria os subornado para que colocassem sonífero na comida dos integrantes da 3P, causando a expulsão imediata da banda do Soul Talent.

E realmente... O Akasuna não parecia ser honesto. Ainda mais por que eu percebi uma relação entre ele e o segurança mais insuportável do mundo: Roger.

Resumindo: todo cuidado era pouco.

Mas enquanto eu pudesse usar a equipe de cozinha ao meu favor, eu usaria sem remorsos.

Por essa razão, em plena madrugada, meu irmão estava vestido com roupa de servente de cozinha e pronto para levar a comida que Sakura havia pedido.

Afinal, se havia alguém que podia colocar juízo na cabeça dela, esse alguém era ele.

*

*

*

POV: Haruno Sakura

Eu estava quase dormindo. Finalmente o cansaço estava roubando minha consciência, depois de dois dias praticamente em claro.

Mas então, batidas na porta interromperam meu quase-sono.

Só não fiquei mais irritada porque minha barriga precisava urgentemente de comida, depois de um dia inteiro em jejum.

Levantei-me com um pouco de esforço. Sentia-me fraca. Não sabia se era pela falta de sono ou de comida. Provavelmente pelos dois.

Coloquei minha máscara de Lümina, e me arrastei até a porta, abrindo-a.

Antes que eu pudesse prever, a pessoa que trazia a comida entrou no quarto, empurrando o carrinho com meu lanche e fechando minha porta, trancando-a.

Fiquei assustada e olhei para o cara, com olhos arregalados.

Meu coração deu um pulo ao me deparar com Gaara parado em minha frente.

O que ele estava fazendo aqui?

"Gaara..." Sussurrei. Um pequeno — mínimo — sorriso surgiu em meu rosto ao vê-lo.

Oh! Como eu estava com saudades!

Tirei a máscara, largando-a no móvel mais próximo e dei um passo na direção do ruivo, mas ele apenas me dirigiu um olhar duro.

"Você quer me explicar que porra está acontecendo?" Perguntou, firme.

Apenas o encarei, sem dizer nada.

"Responde, Sakura!" Exigiu. "Fiquei sabendo que você não está se preparando para a próxima apresentação, que mal come e nem ao menos sai do quarto. A propósito, você está péssima."

Engoli em seco, surpresa com suas palavras. "Gaara..." Comecei.

"Você está tentando se auto-sabotar?" Perguntou, irritado. "E que porra de fotos são aquelas de você e Sai?!"

Franzi o cenho, confusa. "Fotos?"

"Sim! Estão circulando fotos de você e Sai, andando pelo hotel, completamente encharcados." Sorriu, falsamente. "Que. Imagens. Lindas." Falou, irônico. "A hashtag 'SaiLümi' está bombando nas redes sociais. Parabéns!"

Pisquei, tentando assimilar o que ele dizia.

SaiLümi...?

"Eu não tenho nada com o Sai, Gaara." Afirmei.

Seu olhar continuou duro. "Eu sei." Ele andou até a cama, sentando-se e cruzando os braços. "Mas você tem muita coisa para explicar. E eu exijo que me diga o que está acontecendo."

Respirei fundo, aproximando-me dele.

"Não aconteceu nada." Falei.

"Para mim você não mente, Sakura." Descruzou os braços. "Temari me contou da sua pequena fuga. Contou também como você tem estado estranha desde então."

Novamente, fiquei surpresa.

Temari havia contado? Não fora ela quem tinha pedido segredo sobre a fuga inúmeras vezes?

"Eu não quero falar sobre isso." Falei.

Gaara bufou, levantando-se e me encarando furiosamente.

"Você não tem noção de como eu estou puto!" Jogou as palavras em mim. "O que deu na sua cabeça para fugir do hotel? Você ficou louca de vez, é isso? Ou eu me enganei esse tempo inteiro e você não quer isso aqui tanto quanto eu pensei que queria?"

As palavras duras de Gaara me atingiram. Eu não gostava do jeito que ele estava falando comigo.

Meu coração se apertou.

Por que ele não voltava a ser o Gaara que sempre me apoiava?

Eu não estava bem. E seu jeito de me tratar não fazia eu me sentir nem um pouco melhor.

"Eu precisava ver meus amigos." Disse-lhe.

Gaara riu, seco. "Quer dizer que você arriscou seu sonho e tudo que já conquistou só para ver aqueles idiotas?" Gaara bufou. "Nossa, Sakura... Essa história está cada vez melhor." Ironizou.

"Para de falar assim." Pedi. Eu não estava gostando do jeito dele.

"Ah, claro. Você está esperando que eu passe a mão na sua cabeça, não é?" Encarou-me. "Não, Sakura. Você agiu feito a idiota bobona que todos acham que você é. Puta que pariu! Até agora eu não estou acreditando que você realmente foi burra a esse ponto."

Um nó se formou na minha garganta. "Você não entende." Falei.

"Não mesmo." Concordou. "Depois de tudo que você superou para estar aqui... Colocar a si mesma em perigo só para ver aqueles imbecis que não estão nem aí para você... Realmente... Desculpa, mas eu não entendo mesmo."

"Você não sabe de nada, Gaara!" Irritei-me. O nó em minha garganta só aumentava. "Eles se importam muito comigo!"

Gaara riu. "Com toda certeza!" Foi sarcástico. "Fala sério, Sakura! Nem você acredita mais nisso!"

A pontada em meu coração foi dolorosa.

Abaixei o olhar, triste.

Esse era o meu maior medo... Que Gaara tivesse razão.

E se no fim, eu me importasse mais com meus amigos do que eles comigo?

Afinal... Há quanto tempo Ino e Sasuke estavam me fazendo de idiota? Fingindo que nada estava acontecendo, enquanto se beijavam às minhas costas?

Toda vez que minha mente me levava por esse caminho, eu me refreava. Não era algo em que eu queria pensar.

"Você pode estar certo." Tive que admitir.

"O quê?" Notei um tom surpreso em sua voz. "Você está concordando comigo?"

Olhei-o. "Eu não sei de mais nada, Gaara. Não tenho mais nenhuma certeza."

Senti lágrimas se formando em meus olhos e fiquei surpresa. Nos últimos dias eu tinha vivido como um zumbi, mas não havia chorado sequer uma vez.

"Fala, Sakura." A voz de Gaara estava num tom mais brando. "Conta. O que aconteceu?"

Meus olhos arderam.

Eu precisava dizer a Gaara. Talvez se eu compartilhasse isso, ele parasse de me tratar com frieza. Meu peito estava apertado com seu jeito de me tratar.

"Eu vi Sasuke-kun e Ino se beijando." Contei, com voz falha. Dizer aquilo em voz alta parecia tornar as coisas mais reais. Levei a mão ao peito tentando aliviar a dor.

"O quê?" Perguntou, em tom surpreso. "Ino... Não é sua melhor amiga?"

Tentei segurar o choro ao ouvir suas palavras.

A dor estava ficando insuportável.

"É..." Foi tudo que consegui dizer.

"Ela e Sasuke estão juntos? Você já sabia?" Continuou a perguntar.

Limpei a garganta antes de falar. "Já faz um tempo que eu sei que eles se gostam. Mas só agora os vi juntos."

O silêncio pairou entre nós. Continuei com os olhos voltados para o chão, tentando me controlar.

"É revoltante que você goste tanto assim deles." Falou, em voz baixa. "Porra! Eles não merecem nem uma única lágrima sua."

Balancei a cabeça, e olhei em seus olhos. "Você não entende, Gaara. Ninguém entende. Eles cuidaram de mim, protegeram-me, quando eu era apenas uma garotinha de oito anos vítima de bullying. Eles me ampararam quando o meu avô morreu e me levantaram do chão quando foi a vez de meu pai ir embora. Eu cresci com eles. Nós já passamos por muita coisa juntos. Aquelas pessoas que você diz que não merecem minhas lágrimas, são a única família que eu tenho. Pelo menos, a única na qual eu pude me apoiar. Por que minha mãe... Ela sempre agiu mais como uma madrasta."

O olhar de Gaara estava firme no meu.

"Ok, Sakura." Gaara assentiu. "Mas há tantas coisas erradas nessa relação de vocês que eu não sei nem por onde começar. E no fundo, quem criou essa situação foi você. Caralho... Desde o início você tinha que ter sido sincera, já que diz confiar tanto neles. Mas, ao invés, fez o contrário. Cobriu-se com tantas mentiras que houve uma hora que ninguém mais conseguia te ver. Nem você mesma."

"Acha mesmo que eu nunca me perguntei o porquê de ser assim?" Encarei-o, sendo honesta. "Sempre. O tempo inteiro tento encontrar a resposta para essa pergunta. Mas eu não sei. Em algum ponto eu comecei a ter medo. Comecei a me afastar e a criar uma barreira em minha volta. Mas não foi culpa dos meus amigos."

"Isso se chama insegurança." Gaara disse. "Você é insegura, Sakura. Sofreu bullying quando era criança, perdeu o pai e sentiu a rejeição na pele por causa de sua mãe e do imbecil do cara que você gosta. Talvez seja essa a razão de você não enxergar o que está debaixo do seu nariz."

"Como assim?"

Gaara riu, seco. "Você está cega, Sakura. Sua insegurança não te permite enxergar a si mesma. Continua se diminuindo, mesmo que inconscientemente. Depois de tantas rejeições, não consegue olhar pro lado e ver quem realmente se importa com você."

Meu coração bateu mais rápido.

"Eu sei que você se importa comigo, Gaara." Afirmei. "Você é meu amigo. Mas é diferente. Sem querer, você acabou me vendo em situações que os outros nunca viram."

"Porra!" Gaara passou as mãos nos cabelos. "Você não entende nada do que eu digo. Ou então... Não quer entender."

Franzi o cenho, confusa.

"Como assim?" Voltei a perguntar.

Gaara suspirou. "Deixa pra lá. Eu não vou desenhar pra você. Até por que... Não acho que valha mais a pena." Gaara endureceu o olhar. "Eu só vim aqui para te dizer que ou você leva esse concurso a sério, ou então sai de uma vez da competição."

Arregalei os olhos. "Eu não quero sair da competição, Gaara. Nunca disse que não estava levando esse concurso a sério. Isso aqui é a única coisa que me resta."

"Então para de agir como se o concurso fosse uma brincadeira." Falou, duro. "Todos os participantes restantes tem enormes chances de ganhar. O próprio Sai é um dos grandes favoritos. Mas eles não estão se acomodando, ao contrário de você. Eles estão lutando com unhas e dentes. Vivem e respiram essa competição, ensaiando por horas e horas, dias e dias. Enquanto isso, você está deitada, sofrendo nessa cama por duas pessoas que estão juntas, felizes e provavelmente nem lembram da sua existência."

"Já chega, Gaara. Você esta indo longe demais. Eu não quero mais falar sobre meus amigos." Falei, séria. "Eu sei que errei ao ter fugido do hotel. Mas eu também estou respirando música. Tudo que eu tenho feito nos últimos dias é escrever músicas."

"Porra, Sakura! Não é sobre quantidade, é sobre qualidade. Você tem que escolher uma música e trabalhar nela como se sua vida dependesse disso! Tem noção de como esse corte vai ser difícil? Sobraram apenas os melhores dos melhores e mais da metade serão cortados. Se você não fizer nada, sinto dizer, mas não vai conseguir passar de fase. Ficar trancafiada aqui dentro como se estivesse de luto não vai te fazer ganhar o concurso."

Abaixei os olhos.

O problema era que eu não tinha vontade de fazer nada. Só de compor. Era a única coisa que aliviava minha dor. E funcionava. Eu já estava bem melhor.

"Você tem praticamente só o dia de amanhã para preparar algo incrível. Boa sorte." Falou, frio.

Gaara começou a caminhar até a porta.

"Espera." Eu disse. O ruivo parou. "Você vai sair assim?"

"Assim como?" Perguntou, de costas.

"Desse jeito... Com raiva de mim."

"Eu não estou com raiva de você, Sakura." Afirmou.

"Está sim." Falei. O nó em minha garganta começava a voltar. Com tudo que estava acontecendo, a última coisa que eu queria era ficar de mal com Gaara. "Fica mais um pouco." Pedi.

"Eu preciso ir." Respondeu. "Já é madrugada e eu estou quebrando as regras por ter vindo aqui."

Em nenhum momento ele se virou para mim, continuando de costas.

Segurei em sua camisa. "Desculpa, Gaara. Eu errei. Desculpa."

Senti seus ombros ficarem tensos.

Ele demorou alguns segundos para falar, quase como se hesitasse. "Está muito machucado?"

"O quê?" Perguntei.

"Seu coração."

O nó em minha garganta aumentou, e senti meus olhos lagrimarem.

"Demais."

Gaara assentiu com a cabeça, tenso. "E você não pode deixar de gostar daquele cara?"

Tentei controlar meu choro, mas estava cada vez mais difícil. Ter Gaara me questionando sobre meu amor por Sasuke-kun era doloroso.

Aproximei-me mais do ruivo, encostando minha testa em suas costas.

"Eu quero. Mas não sei se consigo." Falei, com a voz embargada.

Gaara ficou quieto por um tempo.

Mas então, disse: "Preciso ir, Sakura."

Não!

Eu não queria que ele fosse embora.

Queria ele do meu lado.

Queria que ele voltasse a falar carinhosamente comigo e me chamasse de Maluquinha.

A ideia de Gaara estar minimamente chateado comigo era insuportável.

Ele era a pessoa que eu menos queria decepcionar no mundo.

Quando senti o ruivo se movendo para ir até a porta, segurei-o, envolvendo meus braços em sua cintura e descansando minha cabeça em suas costas.

"Não vai. Por favor." Pedi, com lágrimas nos olhos. "Você não sabe como tem sido pra mim. Nunca me senti tão só em toda minha vida. Eu não quero ficar sozinha. Por favor."

Gaara ficou parado por alguns instantes. Logo, ele acariciou minhas mãos, sem dizer nada.

O carinho dele trouxe um pouco de luz para mim, aliviando o aperto em meu coração.

O ruivo se mexeu, virando-se e prendendo seu olhar no meu.

Ele levou uma de suas mãos até meu rosto, fazendo uma leve carícia.

"Você é uma garota muito forte. Mas tudo em relação aquele cara te deixa fraca. Não te faz bem." Falou, encarando-me com seriedade.

"Mas eu não posso evitar. Eu o amo." Disse, com voz embargada.

O ruivo endureceu. "Eu sei. Mas está na hora de seguir em frente. Esse caminho que você está querendo percorrer... O caminho da música... Não é fácil. Para permanecer nele, é preciso abrir mão de muitas coisas e sempre se colocar em primeiro lugar."

"Eu não sei como fazer isso." Admiti.

Gaara deu um sorriso de lado, continuando sua carícia em meu rosto. "E eu não sei como te ensinar. Na verdade, acho que é algo que você tem que aprender sozinha. No mundo da música, só os fortes sobrevivem. E se você acha que não aguenta, desista agora enquanto ninguém sabe quem está por trás da Lümina e você pode voltar ao anonimato."

"Mas eu não quero desistir." Respondi, firme. "Eu quero ir até o fim. Eu quero vencer. E a hora em que eu receber meu prêmio, será a hora em que eu vou tirar minha máscara."

Os olhos de Gaara brilharam. "Finalmente você está falando como uma participante do maior reality musical do mundo."

"Então... Você me desculpa?" Perguntei. "Não está mais chateado? Estamos de bem?"

Gaara sorriu de lado.

E então, inclinou-se, beijando minha bochecha suavemente. Nos segundos em que seus lábios ficaram em contato com minha pele, meu coração acelerou e eu me senti formigar por inteira.

O ruivo se afastou momentaneamente para beijar minha outra bochecha, com igual delicadeza.

Quando se afastou novamente, olhou-me profundamente.

Tremi com seu olhar, sentindo-me viva, pela primeira vez em dias.

"Gaara..." Sussurrei seu nome.

Ele estava tão próximo de mim, que podia sentir sua respiração.

Sem conseguir me conter, levei minha mão até seu rosto, sentindo seu maxilar tenso.

Gaara encostou a testa na minha e eu senti meu coração explodir. Da melhor maneira possível. Como se voltasse à vida.

Eu queria lhe perguntar se ele sentia as mesmas coisas que eu. Mas eu não queria parecer estúpida.

Na verdade... Eu não conseguia entender meus sentimentos por Gaara. Estava tudo tão confuso.

Sim. Eu amava Sasuke-kun. Mas por que meu coração explodia a cada aproximação de Gaara?

Era um carinho anormal. Uma vontade de que ele não saísse do meu lado.

Mas eu amava Sasuke-kun.

Pensando bem... Nunca tive um amigo como Gaara. Talvez esse sentimento que eu tinha por ele fosse um tipo de sentimento amigo que eu ainda não havia experimentado.

Minha mente gritava que só podia ser isso.

Mas minha vontade era de trazer Gaara para mais perto. Queria abraçá-lo até que a saudade que eu vinha sentindo dele sumisse.

Interrompendo meu momento de sentimentos confusos, o ruivo se afastou abruptamente de mim, dando alguns passos para trás.

"Desculpa." Falou, andando até a porta.

Quando ele destrancou o quarto, apressei-me em sua direção, segurando seu pulso, na tentativa de fazê-lo ficar.

"Gaara... Por favor." Voltei a pedir. "Eu não quero que você vá."

Ainda estou com saudades, quis dizer.

Gaara me deu um sorriso um tanto quanto triste. "Desculpa, Sakura. Mas eu não quero curar um coração que pertence a outro cara. Não vou interpretar esse papel."

Sem demora, puxou seu pulso de minhas mãos e saiu, batendo a porta.

Foi só então que, enfim, a primeira de minhas lágrimas acumuladas caiu.

*

*

*

Já era o dia das apresentações.

Meus concorrentes arrasavam no palco, como nunca antes.

Eles não estavam de brincadeira.

Gaara tinha razão. Se eu não fizesse tudo certo hoje, seria eliminada.

Só que eu não estava me sentindo bem.

Tudo que eu queria era ficar trancada em meu quarto com meu coração partido e minha cabeça confusa.

Mas eu não podia. O concurso era a única coisa em minha vida na qual eu podia me agarrar.

A conversa com Gaara havia me feito perceber como eu estava cavando minha própria eliminação.

Quando finalmente resolvi sair do quarto e preparar minha performance, percebi o empenho que todos estavam tendo. E isso se refletia nos verdadeiros espetáculos que eles estavam dando no palco, dignos de grandes produções.

Minha apresentação seria bem simples, se comparada a deles.

Apenas eu, o piano e uma singela iluminação azul.

Fora tudo que eu consegui preparar em tão pouco tempo.

No entanto... Por mais que eu quisesse desesperadamente continuar na competição, minha maior vontade era de sair correndo dali.

Ainda mais por que eu iria cantar uma de minhas músicas para Sasuke-kun.

Nos dias em que eu não comia e não saía do quarto, tudo que eu sabia fazer era escrever — apenas a letra, sem melodia.

Eu apenas precisava escrever. Precisava colocar minha dor para fora.

No fim, haviam letras de todos os tipos: agressivas, acusadoras, enfurecidas, magoadas...

Bom... A lista era grande.

E por mais que eu tenha tido vontade de continuar a escrever depois da visita de Gaara — principalmente depois da confusão em que ficou minha cabeça —, não pude. Precisei trabalhar em minha performance, antes que fosse tarde.

Acabei mesclando uma das letras novas com uma composição instrumental de piano que eu tinha feito há alguns meses — quando eu nem sonhava que minha vida tomaria esse rumo.

E a letra escolhida não era enfurecida ou acusadora. Não. Havia sido a última que eu tinha composto, e percebi o quanto ela destoava das outras.

Eu havia tomado a decisão de seguir em frente antes mesmo de minha conversa com Gaara. E nem havia percebido.

Apenas quando reli o que tinha escrito — o desabafo sincero de meu coração — foi que eu soube.

A decisão de viver minha vida sem Sasuke-kun já estava tomada.

Essa realização me fez derramar lágrimas por algumas horas. Chorei tudo que não tinha chorado nos dias anteriores. Para completar o quadro, ainda havia a confusão que Gaara havia causado em mim.

Merda! Eu não tinha estruturas para pensar no que tudo aquilo significava. Já era demais ter que lidar com os estragos que Sasuke-kun e Ino haviam causado em meu coração.

Como Gaara ousava me tirar mais ainda do eixo?

De qualquer maneira... Eu sabia que cantar uma de minhas músicas mais sinceras em frente ao mundo inteiro seria minha prova de fogo.

A prova de que eu podia usar a dor ao meu favor.

"Lümina." Um dos homens da produção me chamou. "Você é a próxima."

Respirei fundo e segui até o lado do palco, aguardando ser chamada. Dei uma leve ajeitada em meu apertado tomara-que-caia branco e brilhante.

Eu mentiria se dissesse que não estava nervosa. Estava. Mas... Era diferente.

Nas outras vezes era um nervoso misturado com ansiedade.

Só que agora... Apenas queria que tudo acabasse o mais rápido possível.

Eu estava emocionalmente esgotada.

Quando Ryan Seacrest finalmente anunciou minha entrada, caminhei até o piano no centro do palco, sendo recebida com palmas e gritos fervorosos da plateia.

Mas resolvi ignorá-los.

Eu cantaria para mim. Para Sasuke-kun. Mais ninguém.

Cantaria como se ninguém estivesse me olhando.

Entrei na bolha.

E comecei a tocar como se nada no mundo importasse mais.

Eu vou recolher meu coração

Não vou dizer uma palavra

Não há nada para ser dito

Então, por que não podemos apenas fingir?

Como se não estivéssemos com medo do que está por vir

Ou com medo de que não nos reste nada

Olhe... Não me interprete mal

Eu sei que não há futuro para nós dois

Cantei o primeiro verso derramando toda a dor que eu sentia em minha voz.

O mundo parecia em silêncio, preenchido apenas pela minha voz.

Em meu âmago, rezei para que minhas palavra chegassem até Sasuke-kun, mesmo que ele não fizesse ideia de que Lümina sou eu e que a música é para ele. Eu queria que Sasuke-kun me escutasse. Queria que seu coração fosse tocado por mim, nem que fosse através da música.

Tudo que eu peço é...

Na nossa despedida

Abrace-me como se eu fosse mais do que apenas uma amiga

Dê-me uma memória que eu possa usar

Leve-me pela mão, enquanto nós fazemos o que os apaixonados fazem

Importa como isso vai terminar

Por que e se eu nunca amar de novo?

Um nó começou a se formar em minha garganta e eu tive que me esforçar para afastá-lo. Meu canto não podia ser atrapalhado.

Essa música era diferente de tudo que eu já havia escrito para Sasuke-kun.

Era meu pedido de compaixão.

Eu não preciso da sua honestidade

Já está em seus olhos e eu tenho certeza que os meus falam por mim

Ninguém te conhece como eu

E já que você foi o único amor em minha vida, diga-me para quem eu devo correr?

Olhe... Não me interprete mal

Eu sei que não há futuro para nós dois

Tantas vezes eu cobrei amor de Sasuke-kun, achando que ele me devia isso. Droga! Como eu pude ser tão idiota?

Amor não se implora e nem se exige. Agora eu sabia. Um pouco tarde demais... Porém a lição foi aprendida.

Eu perdi Sasuke-kun.

Quer dizer... Ele nunca nem sequer foi meu, para começo de conversa.

No fim, quem roubou seu coração foi Ino.

Tudo que eu peço é...

Na nossa despedida

Abrace-me como se eu fosse mais do que apenas uma amiga

Dê-me uma memória que eu possa usar

Leve-me pela mão, enquanto nós fazemos o que os apaixonados fazem

Importa como isso vai terminar

Por que e se eu nunca amar de novo?

Minha voz estava carregada de emoção e meus olhos úmidos.

Sentia como se houvessem lágrimas em minha garganta.

Tudo que eu podia pedir era por compaixão.

Já que seu amor não era algo que eu poderia ter, então que ele me desse uma memória. Qualquer coisa na qual eu pudesse me agarrar enquanto lhe dizia adeus. Qualquer coisa que me desse a chance de seguir em frente de coração liberto, apesar das feridas. E um dia, quem sabe, apaixonar-me por outra pessoa sem medos ou barreiras.

Sim.

Na próxima vez que eu ver Sasuke-kun, vou me certificar de abraçá-lo bem forte e lhe fazer sorrir. Vou lhe contar algumas piadas e pedir para que toque algumas músicas. Acariciarei suas mãos e beijarei seu rosto.

E então direi adeus.

Que esta seja a nossa lição de amor

Que esta seja a nossa forma de nos recordar

Eu não quero ser cruel ou injusta

E eu não estou pedindo por desculpas

Não queria nenhum tipo de desculpa ou explicação de Sasuke-kun e Ino.

Não queria que me olhassem com pena, enquanto contam que não queriam se apaixonar, mas não conseguiram evitar.

Não. Isso seria apenas mais uma facada em meu coração.

Eu os amava. Mas eles me faziam mal. E eu precisava ser livre.

Longe deles.

Então, tudo que precisava era de uma despedida sincera e bonita.

Tudo que eu peço é...

Na nossa despedida

Abrace-me como se eu fosse mais do que apenas uma amiga

Dê-me uma memória que eu possa usar

Leve-me pela mão, enquanto nós fazemos o que os apaixonados fazem

Importa como isso vai terminar

Por que e se eu nunca amar de novo?

Com meus olhos cheios de lágrimas, finalizei a canção.

Por um segundo, todos continuaram em silêncio.

E então... O lugar explodiu em palmas e gritos.

Olhei para os jurados e a plateia. Todos de pé, aparentando muita emoção. Pude até ver os jurados enxugando os olhos.

Mas a música não era para eles.

Educadamente, levantei-me do piano e curvei-me em respeito e agradecimento a todos.

E então, fiz o que achei certo: saí do palco imediatamente, antes de receber os comentários dos jurados.

Quando fiquei longe das câmeras, uma mulher da produção me parou, dizendo que eu tinha voltar para ouvir a opinião dos jurados.

Apenas lhe sorri, afastando-me.

Não queria receber comentários sobre minha apresentação, muito menos sobre a música. Havia sido íntima demais e destinada apenas a uma pessoa.

Se fosse o suficiente para passar de fase seria ótimo. Mas se não... Tudo bem. Eu sei que entreguei tudo de mim naquele palco.

Minha cabeça poderia estar uma bagunça, mas minha consciência estava tranquila.

Pelo menos isso.

"Lümina." Virei-me para ver quem me chamava.

"Sai." Acenei com a cabeça. Depois do fatídico dia da piscina — que eu não gostava nem de lembrar — nós ainda não tínhamos nos falado.

"Sua apresentação foi incrível." Elogiou.

"Obrigada." Agradeci. Senti que ainda haviam lágrimas em meus olhos e tratei de limpá-las. "Você é o próximo?"

"Sim. Quando o Mike sair eu entro." Respondeu, referindo-se ao audicionado que estava no palco.

"Hum..." Assenti. Sai com certeza iria arrebentar. Estava preparando sua performance desde o primeiro dia. Seu empenho seria bem recompensado, disso eu tinha certeza.

Ele se aproximou de mim. "Será que a gente pode esquecer nossa briga e voltar pro nosso projeto de amizade?"

"Projeto?" Sorri, minimamente. "Achei que já fôssemos amigos."

Sai sorriu, parecendo aliviado. "Sim. Acho que sim."

"Você realmente se importa com meu desempenho na competição. Sinceramente quer que eu me saia bem." Constatei. "Por quê? Nós somos concorrentes!"

"Você por acaso quer que eu me saia mal?"

"Óbvio que não!" Neguei. Claro que eu queria que ele se saísse bem. "Mas é que... Quando eu me arrisquei... Na fuga... Você realmente ficou chateado com a possibilidade de eu sair."

Sai suspirou. "Sei lá... Eu meio que vejo um pouco de mim em você. E isso pode ser uma competição, mas não necessariamente apenas o vencedor vai se dar bem. Nós já temos fama. Mesmo que eu ou você não ganhemos o contrato milionário com a Columbia Records... Outra gravadora pode querer a gente. E quanto mais longe chegarmos, mais podemos mostrar nosso trabalho. Em outras palavras... Nossa vida já mudou, Sakura."

Assenti, concordando. "A sua sim. Mas a minha... Bem... A garota por detrás da máscara não tem fama nenhuma."

"Mas isso é fácil de mudar." Sai disse. "É só tirar a máscara."

Dei de ombros. "Quem sabe um dia."

"Se você não ganhar... O que pretende fazer depois do concurso?" Perguntou. "Voltar para Konoha?"

Fiz uma careta. "Isso não é uma opção."

"Então...?" Sai arqueou uma sobrancelha.

"Não sei..." Suspirei. "Quero viver de música. Estabelecer minha vida em Nova York... Sei lá... Não estou pensando muito nisso. Minha cabeça está um nó que você não faz ideia."

Eu tinha que voltar a estudar... Procurar um lugar pra morar... Conseguir uma maneira de me sustentar — fosse com a música, ou qualquer outra coisa, caso nenhuma gravadora me quisesse.

A lista era grande. Mas voltar para Konoha não era opção.

O problema era que para viver em Nova York eu precisaria do Green Card. E eu não fazia ideia de como conseguir isso. Sem falar na minha mãe...

Meu Deus! Eu realmente não iria pensar nisso agora!

"Sai!" O homem da produção chamou. "Você é o próximo."

O Uchiha me olhou, nervoso.

Pus uma de minhas mãos em seu ombro. "Vai dar tudo certo. Boa sorte!"

Sai assentiu. "Obrigado."

Quando ele começou a se afastar, chamei-o e ele voltou a se virar para mim.

"Obrigada por salvar minha vida." Agradeci, sincera.

Sai pareceu surpreso, mas logo sua expressão se iluminou e ele piscou um olho. "Disponha."

E então, saiu em disparada para o lado do palco, à espera de ser chamado.

Senti-me bem por alguns segundos — poucos, mas significativos. Em meio ao turbilhão que estava minha vida, Sai era o único ponto de calmaria.

Ele não me causava dor, como Sasuke-kun fazia, nem virava a minha cabeça do avesso, como era a especialidade de Gaara.

Não. Ficar na presença de Sai era tranquilizante. Calmo. Sem emoções dolorosas ou malucas. E isso para mim era um alívio.

Sentia uma amizade verdadeira crescendo entre nós. Sai e eu nos entendíamos.

Ele poderia ter entregado minha fuga à produção e eu teria sido expulsa. Mas desde o começo eu sabia que ele não faria isso.

Meu instinto que sempre me fez simpatizar com Sai, não havia errado.

Sorri.

Eu tinha encontrado um bom amigo.


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Notas finais do capítulo

IMPORTANTE: A música do capítulo é 'All I Ask' da rainha Adele. Porém, pra mim é muito importante ressaltar que meu amor, Bruno Mars, compôs essa música com ela! Pequenas adaptações na letra foram feitas, pq eu não me contenho e vcs já me conhecem!

Ah! Eu recebi mensagem privada de uma das leitoras da fic (Lia) que pediu para eu explicar um pouco do Sasuke! Então vamos lá... Vou explicar a todos, à título de curiosidade: Sasuke NÃO está com a personalidade moldada. Ele teve uma vida confortável, cercado do amor da família e de amigos. Nunca passou dificuldades. Então... ÓBVIO que ele é diferente do Sasuke que vemos no anime/mangá que se tornou uma pessoa dura e amarga por causa das circunstâncias. No entanto, como eu disse... O Sasuke dessa fic não está moldado. Assim como a própria Sakura. Sakura era diferente no começo da fic e mudou aos poucos. Sasuke também passará por poucas e boas. Aliás, um dos motivos de eu ter optado por começar a fic com eles nessa idade foi pq é uma idade confusa, maleável e de mudanças. Enfim... Tem muita coisa para acontecer e logo vocês vão entender onde eu quero chegar. Juro que é logo, logo!

Bom. É isso. Obrigada a todos que tem paciência com a fic! Sei que meu ritmo é lento, mas olhem pelo lado bom: tem toda semana!

Quando eu entrar de férias vou poder escrever mais e TENTAREI postar duas vezes por semana. Vou revelar um segredinho pra vcs. Lembram de quando eu perdi a fic? Então... Eu tinha escrito 26 caps e 4 especiais. As coisas, no entanto, mudaram. Enfim... Vai ser mais caps que o previsto, porque eu acrescentei uma coisa que vai ocupar alguns caps. Fiz isso pq, gente... Eu não conseguiria escrever a mesma coisa e andar pelo mesmo caminho. Não dava. Tive que mudar pra recuperar meu interesse em escrever pra essa fic.

Mas vamos todos fazer macumba online pra primeira fase terminar no capítulo 30. Quero terminar a primeira fase esse ano ainda postando duas vezes por semana acho que dá. Os especiais acho que não vou conseguir recuperar...

Férias, vem ni mim, sua linda!

XOXO

P.s.: Estão com saudades do Sasori?