As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 19
Primeira Fase: Rumo ao Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Oiii, meus amores!!! Ufa! Já é quaaaaase domingo, mas consegui postar no sábado! 😎

Meu dia foi cheio de imprevistos, então me desculpem!

Eu já estou bem mais animada! Não se preocupem! Provavelmente conseguirei manter as postagens semanais!

Sinto dizer que eu trouxe para esse capítulo cenas que eram do outro, daí ficou grande e... Não é hoje que a Sakura vai cantar. É no próximo, prometo.

Esse é um capítulo bem transitório sem grandes coisas. Mas o próximo vai compensar!

Enjoy!



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"Ufa! Por um momento achei que o velho não fosse te dar o emprego." Comentei.

"Eu também." Neji concordou.

Seguimos até a estação de metrô lotada. Não achamos lugar pra sentar, então tivemos que ficar em pé mesmo.

"Eu achei o salário baixo." Falei. "Só cinco dólares por hora?"

"Melhor que nada." Ele deu de ombros. "Se eu trabalhar bastante, posso até conseguir uma boa grana no fim do mês. Talvez o suficiente para voltar para casa."

"É..." Assenti.

Após muitas procuras nos anúncios de emprego dos jornais, Neji havia encontrado uma vaga de garçom em um restaurante japonês no centro da cidade. O lugar era simples e pequeno, mas já era alguma coisa.

Pelo menos ele não teria que carregar peso em obras, como fez em Tokyo.

O proprietário do restaurante era um japonês ranzinza e idoso. Podia jurar que ele não tinha gostado de Neji, mas no fim, acabou dando a vaga para ele.

Na verdade... Eu achava que era porque ele poderia pagar pouco a Neji. Quer dizer... Eu e meus amigos éramos bem jovens.

Eu só esperava que os outros também tenham sido bem sucedidos em suas tentativas de arrumar emprego.

"Você não me disse até agora..." Neji falou.

"O quê?" Pisquei.

"Por que veio até aqui comigo?" Perguntou. "Você obviamente não estava atrás da vaga de empregada doméstica."

Suspirei, preparando-me para a conversa que teria com Neji.

Desde que eu vi no jornal uma vaga de empregada para uma família que residia praticamente ao lado do restaurante em que Neji trabalharia, saltei dizendo que iria me candidatar à vaga.

Então, quando cada um pegou um metrô diferente para direções distintas, eu me juntei a Neji, já que, supostamente, iríamos para o mesmo local.

Mas ele percebeu que havia algo estranho quando eu disse que tinha desistido do emprego e que devíamos voltar logo para a hospedagem.

Limpei a garganta antes de começar a falar. "Bom... Sabe... Tem um coisa que eu realmente preciso falar com você."

Neji me olhou curioso. "O que é?"

Eu estava desconfortável por falar sobre aquilo no meio de todas aquelas pessoas no metrô. Por mais que ninguém ali prestasse atenção em nós dois, era um pouco lotado demais para discutir um assunto como aquele. Mesmo assim, eu disse: "É... Você poderia ser meu cúmplice em uma coisa muito importante? Tipo... Mentir por mim, dar-me cobertura, manter segredo... Essas coisas..."

Neji estreitou os olhos. "Depende. O que você quer que eu acoberte?"

Respirei fundo. Era melhor falar de uma vez. "Eu queria que você confirmasse pra todo mundo que eu consegui a vaga de empregada."

Vi um brilho de surpresa cruzar seus olhos perolados. "Por quê? Pelo que eu saiba você passou longe da casa que oferecia o emprego."

"Eu vou precisar me ausentar." Expliquei, rezando para que ele concordasse. "E essa é a única desculpa que eu consegui achar para passar tanto tempo longe de vocês. Preciso que confirme que eu estou trabalhando de empregada e que a principal exigência é que eu me mude para a casa dos patrões e fique por lá 24 horas."

"Sakura..." Ela balançou a cabeça. Sua expressão em um misto de curiosidade e preocupação. "Você precisa me explicar isso direito. Você vai pra onde, garota? Estamos em um país estranho e tudo que temos é um ao outro. Precisamos ficar juntos."

"Eu sei..." Passei a mão nos cabelos. "Eu sei. Só que... Sabe... É o Gaara."

Neji arregalou os olhos. Era a primeira vez que eu citava o nome dele.

Obviamente, Neji já sabia que eu tinha algum tipo de relação com Gaara, mas ele não sabia exatamente o que era. Entre nós havia um acordo subentendido de não citar nomes.

Acordo esse, que eu tinha acabado da quebrar.

"Você vai ficar com o Sabaku?" Perguntou, em choque.

Merda!

Ele estava pensando besteira!

"Não é o que você imagina!" Afirmei. Pensei na melhor desculpa que poderia dar. "Eu... Eu vou ajudar na produção do Soul Talent. Gaara conseguiu um emprego para mim lá, mas eu não quero que os outros saibam. Você sabe... Pelo que aconteceu e também por que eles não fazem ideia da minha relação com Gaara."

"Você vai trabalhar no Soul Talent?" Piscou, surpreso.

"Sim... Só ajudar na organização mesmo." Menti.

Neji se calou por uns segundos, tirando seu olhar de mim. Ele cruzou os braços, abaixando a cabeça. Parecia pensar... Considerar... Quando finalmente voltou a me olhar, disse: "Eu não gosto da ideia. Nós fomos enxotados de lá. Não nos deixaram nem ter a chance de nos defender. Não pagaram nossas passagens de volta e foderam nossas vidas."

Sim... Foi terrível. Perdemos o direito de eles pagarem nossas despesas de volta. No contrato que eles assinaram para participar do Soul Talent, dizia que caso o participante fosse eliminado, imediatamente teria direito às passagens de volta.

Mas no caso da 3P... Os meninos nem foram ao local do concurso. Ficou como desistência.

O concurso pagaria desde que eles competissem. Como não aconteceu... Bom... Foi uma quebra de contrato.

Mas a culpa não tinha sido deles.

Foi daquele Sasori filho da puta.

E a produção do concurso deveria ao menos ter ouvido... Averiguado. Mas não. Simplesmente expulsaram todo mundo do hotel.

"Eu sei. Foi muito injusto." Falei.

"E tem o Akasuna. Você vai ficar exposta àquele desgraçado."

"Neji... Eu sei. Mas eu já avaliei tudo." Tentei convencê-lo. "O salário é bom e meio que eu sou protegida do Gaara. Ninguém vai mexer comigo."

Neji passou a mão na nuca, balançando a cabeça. "Sei não..."

"Por favor!" Pedi, olhando-o em súplica contida. "É importante pra mim!"

Se Neji não topasse eu estava ferrada!

Meus amigos nunca iriam aceitar que eu me mudasse para a casa de estranhos sem ter a garantia que Neji manteria os olhos em mim.

Se ele me acobertasse seria perfeito! Neji poderia dizer que ia me ver todos os dias. Assim, meus amigos não se preocupariam tanto. E estariam ocupados demais com seus próprios empregos para ir conferir por si mesmos como eu estava.

"Eu tenho uma condição." Falou.

"Qual?" Perguntei, com esperanças.

"Você vai ter que me ligar todos os dias." Sorriu de lado.

O alívio me atingiu. Dei a ele meu melhor sorriso, e pulei em seu pescoço num abraço agradecido. "Obrigada! Obrigada, obrigada, obrigada! Você não sabe como está salvando minha vida!"

Por um instante fiquei com medo da reação das pessoas ao nosso redor. Pensei que poderiam achar nosso abraço em público um desrespeito. Mas então lembrei que esse não era o Japão conservador, e sim os Estados Unidos, onde todo mundo se abraça e beija mesmo sem motivos.

Neji correspondeu ao abraço. Se isso fosse o Japão, estaríamos sendo encarados com olhares de desgosto. Mas aqui, continuávamos invisíveis no meio da multidão.

Agradeci mentalmente. Eu precisava daquele abraço amigo.

Neji acariciou meus cabelos com uma das mãos. "Se é o que você quer e se vai te fazer bem... Então por mim tudo bem."

"Você é o melhor, Neji."

E enquanto voltávamos para a hospedagem, pensei que até aquele momento não havia me dado conta da sorte que eu tinha por ter um amigo como Neji.

*

*

*

"Quantas vezes terei que dizer que não precisam se preocupar?" Neji já estava perdendo a paciência. "Eu e Sakura vamos almoçar juntos todos os dias. Prometo manter um olho nela. Se eu perceber qualquer coisa estranha, trago-a de volta."

Meus amigos se negavam a aceitar que eu me mudasse pra casa de meus supostos patrões.

Suas tentativas para conseguir trabalho tinham sido todas falhas. Só Neji tinha sucedido, afinal. E eu, supostamente.

"E se eles forem más pessoas?" Ino balançava o pé, impaciente.

"E se tentarem abusar de você?" Naruto adicionou.

"Você é menor de idade. Estrangeira. Sem visto de trabalho..." Sasuke-kun pontuou. "Não tem chance nenhuma de te deixarmos ir morar na casa de pessoas que você não faz ideia de quem são."

Olhei para Neji, quase em desespero, num pedido silencioso de ajuda.

"Os donos são um casal de idosos." Neji falou, surpreendendo-me.

Idosos?

"Idosos?" Tenten ecoou meus pensamentos.

"Sim. Eles têm uns sessenta anos." Neji continuou com a mentira. "Eu fui lá com a Sakura. São pessoas de bem, que estão precisando de ajuda nas tarefas de casa. Eles gostaram dela. Por isso resolveram empregá-la."

Eu não sabia se as mentiras de Neji iriam convencer, mas eu balançava a cabeça confirmando tudo.

"Filhos? Netos? Ou são só os velhos?" Sasuke-kun perguntou.

"Eles têm uma filha que não mora com eles." Neji respondeu. "São pessoas de bem, garanto. Ou você acha que eu arriscaria a Sakura? Eu vou estar por perto o tempo inteiro. Não vai ter perigo."

O grupo pareceu ponderar.

Após alguns segundos de silêncio, Sasuke-kun perguntou: "Você tem absoluta certeza que quer fazer isso, Sakura?"

Assenti freneticamente. "Sim! Eu gostei daqueles senhores! E o serviço não é pesado!"

Sasuke-kun suspirou, assentindo. "Ok... Você venceu. Quando se muda?"

Sorri abertamente. "Amanhã!"

*

*

*

Eu estava eufórica.

Precisava contar minha decisão à Gaara, mas ainda não tinha tido a chance de ligar para ele.

Meus amigos e eu passamos nosso tempo fazendo ligações internacionais — caras — para o Japão. Tivemos que gastar um dinheiro a mais para comprar crédito o suficiente pra que todos falássemos com nossas famílias.

Falei apenas com Kabuto. Ele se ofereceu para pagar a minha passagem de volta, mas isso era a última coisa que eu queria, no momento. E não havia chances de eu deixar meus amigos em Nova York e voltar sozinha para Konoha. Kabuto só tinha dinheiro para uma passagem. Por isso, apenas recusei e não comentei a oferta com meus amigos.

Os pais de meus amigos ficaram arrasados com o ocorrido, mas não havia nada que pudessem fazer. Nem tinham como pagar as passagens de volta. No entanto, disseram que iriam mandar dinheiro para ajudar nas despesas.

Mikoto-san disse que minha mãe estava bem. E calma. Talvez fosse por eu não estar a incomodando com minha presença.

Suspirei.

Já era quase fim de tarde, e estávamos todos assistindo ao segundo dia de apresentações dos audicionados.

Eu ficava nervosa só de pensar em estar naquele palco, em frente à multidão de espectadores e aos jurados.

Por Deus! Eram Beyoncé, Mariah Carey, John Mayer e Pharell Williams!

Lendas! Eu chegaria perto de lendas! E ainda cantaria para eles!

Meu estômago embrulhava só de imaginar.

Melhor não pensar muito nisso, senão as probabilidades de eu vomitar seriam grandes.

O apresentador, Ryan Seacrest, era extremamente carismático e profissional. Um sopro de descontração em toda aquela competição brutal.

Cada participante que eu assistia me fazia reconsiderar seriamente a minha ideia de entrar no concurso.

Era um mais talentoso que o outro.

Não havia nenhum que você dissesse que era bom. Porque todos eram estupidamente excelentes!

Falando sério... Quais as minhas chances?

Não!

Não, não, não!

Eu já tomei minha decisão!

Não posso voltar atrás!

Não posso me deixar ser intimidada.

Foco!

Preciso de foco!

Minha atenção foi aguçada quando Ryan Seacrest anunciou a apresentação de Sasori.

Senti o clima ficar tenso.

"Não é melhor mudar de canal enquanto ele se apresenta?" Hinata sugeriu.

"De jeito nenhum." Sasuke-kun falou. "Eu preciso saber o tamanho do talento desse bandido."

Silenciosamente, concordei com Sasuke-kun.

Sasori subiu no palco de cabeça erguida. Não havia um pingo de nervosismo nele.

Uma coisa era certa... Confiança era o que não faltava nele.

Sasori estava consideravelmente bonito com sua jaqueta de couro preta. E eu me espanquei mentalmente por ter pensado isso, mas era a verdade.

As primeiras notas inconfundíveis de 'It's my life' do Bon Jovi começaram a tocar.

Nenhum de nós ousava fazer um barulho sequer, enquanto encarávamos a televisão.

E então, ele começou a cantar.

This ain't a song for the broken-hearted

No silent prayer for faith-departed

I ain't gonna be just a face in the crowd

You're gonna hear my voice

When I shout it out loud

Esta não é uma canção para quem tem o coração partido

Não é uma oração para a fé perdida

Eu não serei só um rosto na multidão

Você vai ouvir minha voz

Quando eu gritar bem alto

Eu não conseguia lembrar de um momento em minha vida em que eu estivesse tão chocada.

Sasori era... Irrefutavelmente magnífico.

Não havia como negar. Não havia como tentar dizer que ele não era tão bom assim. Porque ele passava do ponto de excelência!

Poderosa. Sua voz era poderosa, com uma rouquidão grave que encaixava perfeitamente na música.

It's my life

It's now or never

I ain't gonna live forever

I just want to live while I'm alive

(It's my life)

My heart is like an open highway

Like Frankie said

I did it my way

I just wanna live while I'm alive

It's my life

É a minha vida

É agora ou nunca

Eu não vou viver para sempre

Eu só quero viver enquanto eu estou vivo

(É a minha vida)

Meu coração é como uma rodovia aberta

Como Frankie disse

Eu fiz do meu jeito

Eu só quero viver enquanto eu estou vivo

É a minha vida

Foi com pesar que eu tive que reconhecer que o talento de Sasori ia além da voz.

Ele cantava como se sua vida dependesse disso. Dando significado a cada palavra da música.

O Akasuna tinha a postura agressiva. O perigo exalava de todo seu corpo. Ele dominava o espaço como ninguém. Sem instrumentos. Apenas com sua personalidade e presença de palco absurda.

Fenomenal.

Eu já havia assistido muitos competidores. Todos excelentes. Mas Sasori...

Havia algo sobre ele que não podia ser explicado. Era quase como um encanto.

Aquele garoto arrasando no palco não se encaixava na imagem que eu tinha do Akasuna.

Apenas... Não se encaixava!

Como? Como ele podia ser tão talentoso assim?

Não era justo.

Ele não merecia esse dom.

Se possível, Sasori só melhorava conforme a música ia tocando.

Ele se entregava cada vez mais. E o público correspondia a altura, cantando com ele, gritando para ele.

Quando a apresentação terminou com um 'It's my life' carregado de significado, os quatro jurados se levantaram, aplaudindo-o de pé. A plateia estava eufórica.

O peito de Sasori subia e descia com rapidez, e seu rosto foi tomado por um sorriso orgulhoso.

Os jurados o elogiaram muito.

John Mayer lhe disse que aquela tinha sido a melhor performance do dia.

E provavelmente tinha sido mesmo.

Eu não conseguia formular nada coerente para dizer a meus amigos.

E nem eles falaram nada.

Um silêncio absoluto perseverou entre nós. Ninguém ousava fazer o menor ruído. Todos estavam petrificados.

E assim permanecemos: encarando a televisão como se fôssemos estátuas.

Iríamos dizer o quê?

Sasori era deslealmente talentoso.

Por mais que agora estivéssemos bem avisados disso, ninguém tinha coragem de admitir em voz alta. E como não tinha absolutamente nada ruim para pontuar, calados ficamos.

Não havia muito que pudéssemos fazer.

O clima pesado permaneceu enquanto os participantes seguintes apresentavam-se.

Mas então, anunciaram a vez de Sai.

"Ele é um participante japonês que conquistou o carinho do público logo na sua primeira apresentação." Ryan Seacrest apresentou. "Soul Talent, recebam Sai Uchiha, cantando sua composição original 'Blowin' in the wind'!"

Primeiro, estranhei o nome de Sai sendo falado com as posições invertidas, mas sabia que no Ocidente o nome vinha antes do sobrenome. Não deixava de ser estranho.

Depois, fiquei um pouco surpresa com o fato de Sai cantar uma música original. Não fazia ideia de que ele compunha.

Logo, ele apareceu no palco de cabeça baixa e carregando um violão, enquanto a plateia o recebia calorosamente.

Diferente de Sasori, ele parecia bem nervoso.

"Ele sabe tocar?" Ino perguntou.

Sasuke-kun deu de ombros.

Isso era outra novidade.

'Sasuke não é o único com talento na família Uchiha.' Lembrei das poucas palavras que Sai me disse no avião.

Então, ele se posicionou na frente do pedestal com o microfone, fechou os olhos e respirou fundo.

Assim que abriu os olhos, começou a tocar, e não demorou muito para sua voz preencher o lugar.

How many roads must a man walk down

Before you call him a man?

How many seas must a white dove sail

Before she can sleep in the sand?

How many times must cannonballs fly

Before they're forever banned?

The answer, my friend, is blowin' in the wind

The answer is blowin' in the wind

Quantas estradas um homem precisará andar

Antes que possam chamá-lo de homem?

Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar

Antes que ela possa dormir na areia?

Quantas vezes balas de canhão precisarão voar

Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Um sorriso involuntário se formou em meus lábios.

Eu já imaginava que Sai fosse excelente, afinal, ele estava na maior competição musical do mundo.

Mesmo assim, não pude deixar de ficar surpresa.

A voz dele não era poderosa ou agressiva como a de Sasori. Não. Era calma, suave e com um timbre melódico extremamente bonito.

"Que voz maravilhosa!" Ino comentou, com um sorriso encantado no rosto. Seus olhos grudados na televisão.

How many years can a mountain exist

Before it's washed to the sea

How many years can some people exist

Before they're allowed to be free?

How many times can a man turn his head

And pretend that he just doesn't see?

The answer, my friend, is blowin' in the wind

The answer is blowin' in the wind

Quantos anos uma montanha pode existir

Antes que ela seja dissolvida pelo mar?

Quantos anos algumas pessoas podem existir

Até que sejam permitidas a serem livres?

Quantas vezes um homem pode virar sua cabeça

E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sai cantava linearmente. Ele não subiu o tom e nem tentou mostrar sua extensão vocal com notas agudas, como a grande maioria dos participantes faziam.

Mas isso em nenhum momento tirava a beleza de sua apresentação.

Ele não precisava de nenhuma firula para ter o público na palma de sua mão.

E o que era aquela música?

Incrível!

A melodia parecia ter o poder de acalmar a maior das tempestades e a letra era nada menos que perfeição! Linda e inspiradora.

How many times must a man look up

Before he really sees the sky?

How many ears must one person have

Before he can hear people cry?

How many deaths will it take 'till he knows

That too many people have died

The answer, my friend, is blowin' in the wind

The answer is blowin' in the wind

Quantas vezes um homem precisará olhar para cima

Antes que ele realmente veja o céu?

Quantos ouvidos um homem precisará ter

Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?

Quantas mortes ele causará até saber

Que pessoas demais morreram

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sai terminou de cantar levantando a plateia e os jurados, que o aplaudiram fervorosamente.

Ele fez uma pequena reverência. Tinha um olhar espantado. Como se não acreditasse que toda aquela comoção era por ele.

Eu só tinha visto os jurados aplaudirem de pé seis vezes: para Sasori, para dois americanos, um britânico, um sueco e, agora, para Sai.

Os comentários sobre a música não poderiam terem sido melhores.

Pharrell fez um comentário engraçado sobre como o mundo tinha que ter cuidado com os asiáticos. Disse também que Sai tinha sido genial, deixando-o visivelmente emocionado.

"Galera! O que foi isso?" Tenten tinha os olhos arregalados. "O Sai é maravilhoso!"

"Eu não sabia que ele era tão fodidamente talentoso." Shikamaru comentou.

"Ninguém sabia." Ino falou, aparentando ainda estar surpresa.

"Cara... Eu preciso dessa música! É incrível! Já quero escutar de novo!" Naruto disse.

Eu me senti feliz por Sai. Eu nunca soube por que, mas eu realmente simpatizava com ele, mesmo que nunca tivéssemos nos falado muito.

Sempre quis que a Ino desse uma chance para ele.

Mas, aparentemente, o interesse dela era em outro Uchiha.

Sasuke estava quieto. Tão calado como na apresentação de Sasori.

Eu acho que podia imaginar o que ele estava sentindo. Devia ser doloroso assistir ao programa e ainda ver o cara que o sabotou, e o primo com quem não se dava bem arrasando em suas performances.

Mas não havia nada que eu pudesse fazer para mudar aquilo.

*

*

*

À noite, os resultados foram anunciados após o público votar pelo Twitter e pelo site do concurso.

Obviamente, Sai e Sasori avançaram para o terceiro dia, classificando-se entre os 250 escolhidos.

Após um dia quase inteiro no ar, o programa terminou com a promessa de mais um corte no dia seguinte.

Enquanto meus amigos comentavam sobre o concurso — nunca mencionado Sasori — eu me esgueirei para o banheiro, liguei o chuveiro para que o barulho da água abafasse minha voz e fiz minha ligação para Gaara.

"Sakura?" Ele atendeu no terceiro toque.

"Eu preciso falar com você urgentemente." Disse. "Tem como me encontrar na esquina da rua em que eu estou?"

"Onde? Agora?"

"Sim. Vem pra cá agora. É muito importante. Eu vou te mandar o endereço por mensagem."

"Sakura... Isso aqui é Nova York. Eu tenho paparazzis na minha cola 24h por dia. E não são poucos. É muito arriscado."

Suspirei. Gaara estava certo. Era arriscado.

Então, apesar de querer muito ver a reação dele quando lhe contasse minha decisão, resolvi que o melhor seria contar por telefone.

Respirei fundo e limpei minha garganta.

"Decidi participar do concurso." Soltei de uma vez.

Mas a resposta não veio.

Somente o silêncio.

"Gaara?" Chamei. "Você ouviu o que eu disse?"

"Não." Falou com a voz grave. "Não ouvi."

"Eu quero participar do concurso." Repeti.

Novamente silêncio.

Comecei a ficar preocupada.

E se ele já tivesse escolhido outra pessoa? E se ele estava sem palavras por não saber como me dar a notícia de que não iria mais me indicar? Fazia até sentido.

Já havia algum tempo que Gaara não falava sobre o concurso comigo. Estávamos perto do dia de estreia dos indicados, mas ele não tinha mais tocado no assunto.

Talvez fosse isso... Talvez ele tivesse achado alguém para colocar no meu lugar.

Pelo celular, ouvi a respiração de Gaara se alterar.

E então ele riu.

"Você está falando sério?!" Perguntou com a voz animada.

Sorri, involuntariamente. Algo dentro de mim se aliviando. "Se você ainda não tiver arrumado ninguém para colocar no meu lugar..."

"Fala sério, Maluquinha!" Disse. Sua voz estava bem eufórica. O que eu não daria para ver sua expressão? "Quantas vezes eu vou ter que repetir? Se não não for você, não será mais ninguém!"

Sorri, com um calorzinho no coração.

"Então..." Comecei. "Eu disse pros meus amigos que vou trabalhar em uma casa de família como empregada e que terei que morar lá. Pro Neji eu disse que você conseguiu um emprego para mim no Soul Talent."

Gaara sabia que Neji tinha conhecimento da minha relação com ele.

"Você é bem esperta, não é?" Falou. "Quer dizer que amanhã cedo eu posso mandar te buscar? Temos que trabalhar no seu lado Lümina!"

"Tenho até medo do que isso quer dizer."

Gaara riu. "Vai dar tudo certo! Você vai ver!"

Suspirei. "Tomara, Demo. Tomara mesmo."

*

*

*

Eu quase não conseguia conter meu nervosismo.

Minha mala já estava pronta e era quase hora de virem me buscar.

Gaara disse que seu motorista estaria me esperando às oito em frente ao Walmart — supermercado enorme que ficava na esquina da rua — em um sedã prata.

Faltavam apenas dez minutos.

Eu sei que já deveria estar indo, mas... Deus!

Eu estava tão nervosa!

Eu não sabia o que seria de minha vida no momento em que eu entrasse naquele carro, porque quando eu o fizesse, não teria volta.

Respirei fundo.

Minha decisão já estava tomada. E eu precisava mantê-la.

"Bom... Já vou indo." Falei a meus amigos.

Eles estavam se arrumando para irem novamente em busca de emprego.

As meninas pararam de pentear os cabelos e vieram até mim, prendendo em um abraço coletivo de garotas.

"Cuide-se!" Ino falou.

"Boa sorte." Hinata sussurrou em meu ouvido.

"Estamos aqui se precisar de qualquer coisa!" Tenten completou.

"Obrigada, meninas." Agradeci.

Assim que nos separamos, Naruto me deu um de seus abraços de urso, levantando-me do chão. Ele era o cara mais 'abraçador' que eu conhecia. Muito incomum, para um japonês.

"Sakura-chan!" Balançou-me, arrancando um sorriso meu. "Se qualquer coisa der errado pode me chamar que eu vou lá bater nos velhos!"

Empurrei-o, dando-lhe um tapa no braço. "Que coisa feia, Naruto!" Briguei.

Ele me deu um de seus sorrisos brilhantes, desarmando-me.

Hunf. Naruto-baka!

Shikamaru deu-me um leve aceno com a cabeça. "Tome cuidado e boa sorte."

"Obrigada, Shika." Sorri para ele.

E então Sasuke-kun veio até mim.

"Bom..." Ele começou. "Isso aqui está parecendo uma despedida para muito tempo. Mas... Er... A gente se vê logo." Falou, meio sem jeito.
Ele surpreendeu-me com um rápido abraço. Não tive nem tempo de reagir. Em um piscar de olhos seus braços me envolviam, e em outro, ele já tinha se afastado.

Meu estômago fez aquelas coisas engraçadas de novo.

"Liga pra gente." Ele disse.

Eu apenas assenti, encarando-o.

Por alguns segundos, nossos olhos ficaram presos um no outro, mas ele logo desviou o olhar.

Neji segurou suavemente em meu braço, captando minha atenção.

"Vamos?" Perguntou.

Supostamente, iríamos pegar o mesmo metrô para irmos ao mesmo lugar. Então, tínhamos que sair juntos.

"Vamos." Respondi.

Neji pegou minha mala e nós seguimos até a porta.

Olhei carinhosamente para meus amigos e sorri, em despedida.

Talvez eu passasse semanas sem vê-los.

O sentimento que isso causava em mim era assustador.

Então, saí antes que mudasse de ideia e resolvesse ficar.

Os pensamentos conflitantes me acompanharam por todo o caminho até a esquina.

Neji carregava minha mala e estava mais silencioso que de costume.

Quando avistamos o Walmart, percebi o sedã prata já estacionado, à minha espera.

Virei-me para Neji, parando de andar.

"Acho que é aqui que eu fico." Disse a ele.

O Hyuuga assentiu, entregando-me a mala.

"Eu acho que deveria dizer para você ter juízo." Ele falou. "Mas o que eu quero mesmo é que saiba que pode me ligar a qualquer hora, seja lá para o que for. Eu vou sempre te ajudar no que eu puder."

"Eu já sei disso." Afirmei, emocionando-me.

Neji levou sua mão ao lado do meu rosto, fazendo uma leve carícia. "Então boa sorte, Sakura."

Dei a Neji meu sorriso mais sincero.

Respirando fundo, afastei-me dele seguindo até o carro.

O motorista saiu do carro, recebendo-me com uma reverência.

Ele colocou minha bagagem no porta-malas e abriu a porta para mim.

Dei um aceno para Neji e entrei no carro, com o coração batendo forte de nervosismo.

Eu não fazia ideia do que me esperava.

E tinha medo de descobrir.

Mas de alguma forma, a imagem de Neji parado, acompanhando com seu olhar sagaz o carro em que eu estava, até que sumisse de sua vista, acalmou-me.

Porque se tudo desse errado, eu tinha amigos para os quais voltar.


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Notas finais do capítulo

IMPORTANTE: As músicas do capítulo são: It's my life, do Bon Jovi. E Blowin' in the wind do Bob Dylan, mas eu imaginei a cersão do Dan Torres. Então procurem a versão do Dan Torres, ok? Ela é linda!

Próximo cap tem Tsunade, Chiyo, Shizune, Temari e Karin! E claro... A tão aguardada estreia.

XOXO ❤️