As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 13
Primeira Fase: Mãe


Notas iniciais do capítulo

Whitecoffe!!!!!!! MUUUUITO OBRIGADA POR RECOMENDAR A FIC!!!! Fiquei emocionada por seu carinho à AMDS!

Capítulo inteiramente dedicado a vc!

Enjoy!



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Sentados em uma longa mesa com muitos microfones estavam Stuart Camp e Rob Stringer — um homem de aparentes cinquenta anos, que Gaara havia me dito ser o presidente da Columbia Records. Eles estavam ao lado de grandes nomes da música, contratados da gravadora.

Beyoncé, John Mayer, Mariah Carey e Pharrell Williams.

"Você os conhece pessoalmente?" Perguntei a Gaara.

"Claro. Nós somos da mesma gravadora." Respondeu, simplesmente.

Meu queixo caiu, lentamente. Mas tentei me controlar. Algumas vezes eu esquecia o quão grande e poderoso Gaara era.

"Nós precisávamos dessas semanas para poder organizar o concurso da melhor maneira possível." Rob, o presidente, falou. "Mas agora, tudo está pronto e à espera dos novos talentos."

"Como irá funcionar?" Um repórter perguntou.
"Bom..." Começou Stuart. "O concurso se chamará 'Soul Talent', porque procuramos alguém com o talento que venha da alma. As audições ocorrerão em 40 capitais espalhadas pelo mundo. A lista de cidades estará disponível no site do concurso. Os escolhidos na primeira fase viajarão para Nova York, com tudo pago. E então, a verdadeira competição se iniciará. Só haverá um vencedor, que ganhará um contrato com a Columbia Records no valor de vinte milhões de dólares."

"VINTE MILHÕES?" Gritei, extasiada. "Eles vão investir vinte milhões em um artista iniciante? Isso é normal?"

Gaara parecia quase tão surpreso quanto eu. "Não mesmo! O valor é muito alto para um debute. Quando eu debutei, aos doze anos, meu contrato não chegava nem a quinhentos mil e já era considerado alto."

"Você disse que as regras seriam diferentes de tudo visto." Um repórter falou. "O que quis dizer?"

"Vamos aos detalhes." Stuart falou. "Mariah, John, Beyoncé e Pharrell serão os jurados."

Os flashes dispararam. Meu queixo caiu, mais uma vez ao dia. Gaara, ao meu lado, ainda estava tenso.

Ele estava com medo de algo atingí-lo. Podia ver.

Eu, particularmente, achava que o presidente da Columbia Records não deixaria Stuart fazer algo que prejudicasse Gaara. Afinal, ele era um de seus artistas. Mas o ruivo não parecia ver isso. Estava muito preocupado.

Tentando confortá-lo, segurei sua mão. Gaara se assustou, por um segundo, olhando-me confuso. Eu estava prestes a recolher minha mão quando ele virou sua palma para cima, agarrando-a.

Sorri para ele, apoiando-o.

E então, nós voltamos nossas atenções para a TV.

"Uma equipe especializada irá selecionar os concorrentes nas capitais das audições." Stuart continuou. "A competição em si, ocorrerá em Nova York. Como eu disse antes, todos os artistas da Columbia Records poderão estar diretamente envolvidos, se quiserem." Gaara apertou minha mão. Stuart continuou. "Cada um poderá indicar um concorrente que se juntará diretamente aos selecionados na primeira fase, em Nova York. Sem precisar de audição."

Eu e Gaara nos olhamos surpresos.

"Há algumas restrições para as indicações, no entanto." Stuart tomou a palavra, fazendo-nos voltar a olhar para a televisão. "Ninguém da família do artista poderá ser indicado. Nem parentes distantes. Dois de nossos grandes artistas já declararam que usarão seu direito de indicações." Então fez uma pausa, antes de anunciar os nomes. "Adele e Sabaku no Gaara."

"O QUÊ?" Gaara gritou, levantando-se furioso.

Olhei-o assustada. "Calma, Gaara!"

"Eu nunca disse que participaria!" Falou, indignado, andando de um lado para o outro.

"Mas Gaara não está no Japão, afastado de suas atividades?" Perguntou um repórter.

"Quando soube do concurso, Gaara nos contatou." Falou Stuart, arrancando indignação de mim e Gaara. "Disse que seu escolhido iria, definitivamente, vencer a competição, ou então, não renovaria seu contrato com a Columbia Records."

"NÃO RENOVAR MEU CONTRATO?" Gaara gritou. Ele estava com o rosto vermelho de raiva. Via a hora ele explodir. "QUE PORRA É ESSA?"

"Porque Gaara não renovaria seu contrato?" O repórter perguntou.

"Aparentemente ele está bem confiante quanto ao seu escolhido." Stuart respondeu.

"Que história de renovação de contrato é essa?" Ousei perguntar.

"O meu contrato vence daqui a cinco meses! Geralmente nós renovamos. Mas o Rob disse que se eu não entrasse na linha me mandaria pra fora. Não renovaria comigo." Gaara falou tudo bem rápido.

"Isso é loucura! Você é o artista mais lucrativo deles!" Indignei-me.

"Não é bem assim..." Suspirou. "A Columbia é diferente... Ela preza como nenhuma outra gravadora pela boa imagem. E a minha não está muito limpa, você sabe." O ruivo passou a mão nos cabelos. "Além disso... Eu perdi todos os meus contratos de publicidade por causa dos escândalos. Ninguém me oferece um papel em filmes há tempos. E a venda dos meus cd's despencaram desde que o vídeo da briga com o Stuart foi divulgado."

Fiquei surpresa. Eu não sabia disso.

Não era só a fama que importava?

Fale bem, fale mal, mas fale de mim?

E definitivamente não havia assunto maior e mais comentado que Sabaku no Gaara.

Como que as pessoas estavam o dispensando assim?

Essa indústria do entretenimento é muito esquisita. Não entra na minha cabeça.

"E as regras, quais serão?" Uma repórter loira perguntou. "Quem decide o vencedor?"

"O público, é claro." Rob contou. "Nas primeiras fases, os jurados apenas farão comentários e ajudarão os participantes, de um modo geral. Nós temos aproximadamente 120 artistas ativos em nossa gravadora. Mas não sabemos quantos deles irão indicar e nem quantos aprovados em audições teremos. Porém, provas de corte serão feitas. O público deverá eleger um top 50, com 25 indicados e 25 audicionados. Serão dois grupos. Eliminações ocorrerão até conseguirmos um top 8, com quatro indicados e quatro audicionados."

Stuart continuou. "A partir daí as coisas mudarão. Cada participante terá um mentor. Obviamente, os mentores dos indicados por artistas, serão os próprios artistas que os indicaram. Cada um dos jurados deixará de ser jurado e irá se tornar um mentor para os participantes que tiveram que fazer a audição."

"E como os jurados escolherão quem irão mentorar?" Um dos repórteres perguntou.

"Na verdade..." Rob começou. "Serão os participantes que escolherão seus mentores. O mais votado pelo público será o primeiro a escolher. Depois o segundo... Terceiro... E finalmente o quarto."

"A partir daí como serão as regras?" Um jornalista questionou.

"A partir daí, participantes e mentores lutarão juntos para vencerem o show. Quando for a hora, vocês saberão as regras para os oito finalistas." Stuart falou. "Por agora, vamos nos concentrar apenas nas audições."

"E o que vocês procuram nos participantes?" Mais uma pergunta de repórter.

"Originalidade." Rob falou. "É o que eu procuro em todos os artistas com quem assino. Originalidade. Pode ser alguém que cante e dance muito bem. Alguém com uma voz de ouro. Alguém que seja bom em cantar e tocar instrumentos. Ou alguém que além de cantar componha músicas. Nós estamos abertos a qualquer tipo de talento que venha da alma e mova nossos corações. Alguém que possa dominar o mundo com sua música. Qualquer um pode fazer a audição. Bandas, duplas, cantores solos... Qualquer um que tenha talento suficiente e esteja na idade entre 14 e 30 anos."

A partir de então, a entrevista focou nos jurados, que até aquele momento estavam calados. Eles falaram sobre como se sentiam em relação ao concurso e a importância do que a Columbia Records estava fazendo.

Gaara estava muito silencioso. De braços cruzados e cabeça baixa.

Quando a coletiva de imprensa terminou, o ruivo pegou seu celular e digitou algo com raiva.

"O que você está fazendo?" Perguntei.

"Ligando pro Rob." Respondeu.

Suspirei enquanto o ouvia xingar palavrões em inglês, sem realmente dizer alguma coisa. Quando ele terminou de mandar o presidente se foder e desligou o celular, resolvi falar. "Não deve ter sido uma conversa boa."

Gaara suspirou, frustrado, jogando-se ao meu lado, no sofá.

"O filho da puta disse que vencer o concurso é minha chance de me reerguer." Gaara contou. "Disse que o único jeito de renovar o contrato comigo é vencendo." Soltou um rosnado. "Desgraçado! Isso é só uma desculpa pra me botar pra fora!"

"Eu entendo sua raiva, mas você precisa manter a calma." Aconselhei.

"Como que eu vou vencer essa merda?" Passou a mão nos cabelos. "Como que eu—"

Gaara parou no meio da frase, olhando-me estranho.

"O que foi?" Perguntei.

A raiva de Gaara parecia ter se esvaído e dado lugar a algo entre realização e animação. Então ele sorriu, chegando perto de mim.

"Você!" Apontou para mim.

"Eu o quê?" Perguntei, sem entender. Mas não demorou muito para eu perceber. Seu olhar estava desafiante. "Não. Nem pensar." Fui firme.

Gaara não pareceu ligar para minha negativa. "Cara! É perfeito! Nós dois juntos seremos imbatíveis! É vitória na certa!" Falou animado.

"Está maluco?" Afastei-me dele. "Nem morta que eu entro nessa!"

Gaara me fuzilou com o olhar. "Nem morto que eu deixo essa chance passar! Você é tudo que eles procuram! Voz de ouro, uma excelente compositora e multi-instrumentista! Pode melhorar na dança, mas nada que umas aulinhas comigo não resolvam. Você é a artista completa! Ganha esse show sem dúvidas! Ainda mais com a minha ajuda."

Olhei-o como se ele fosse louco. "Você perdeu a noção. Você acha isso porque é meu amigo! Mas eu definitivamente não passaria nem na primeira fase."

Gaara pareceu se irritar. "Às vezes eu tenho uma vontade muito grande de te sacudir até que você encontre sua sanidade!" Falou, bufando. "Eu não falo isso como seu amigo. E sim como o artista que sou. Como que você não consegue perceber seu talento? Não é como se ele fosse pequeno e pudesse passar despercebido. Ele é tipo o Everest. Não tem como não notar, de tão grande que é."

Cruzei os braços. "Fala sério, Gaara." Ri, nervosa. "Eu sou uma completa amadora."

"Eu juro que vou te sacudir." Gaara respirou fundo. "Isso é um dom, Sakura. Um presente. Porra! Como você pode pensar em escondê-lo? Pior: jogá-lo fora? Eu não vou deixar você fazer isso!"

Ele havia conseguido me tirar do sério. "Gaara! Minha voz é bonitinha, minhas músicas são bonitinhas, eu sou bonitinha. Mas é só isso! Só 'inha'! É ridículo pensar que eu tenho chances!"

Gaara se aproximou de mim, colocando suas mãos em meus ombros. E... Começou a me sacudir!

"Para!" Me debati, mas ele era mais forte e continuava a me balançar.

"Não paro! Você não é porra nenhuma de 'inha' e vou te sacudir até você perceber!"

"Paaaara!" Choraminguei.

Gaara suspirou, soltando-me. Eu estava tonta.

"Por favor, Sakura." Gaara falou. "Eu preciso de você."

Meu coração começou a bater mais forte com o que ele disse. Dizer não era difícil. Mas não havia chances de eu entrar no concurso.

"Desculpa, Gaara. Você terá que procurar outra pessoa." Falei com pesar.

Senti algo muito ruim em meu peito quando ele me olhou com decepção.

"Se você fosse alguém que quisesse ter uma vida normal, eu entenderia." Falou. "Mas não. Eu sei que você sonha com uma vida de música e fama. Uma vida onde você é o ídolo e não a fã. Mas sabe qual é o seu problema?" Fez uma pausa, olhando-me sério. "O medo. O que você tem de talento, tem de medo. E no fundo, você sabe que é a porra da pessoa mais talentosa do mundo. Mas tem medo de admitir."

Que merda Gaara estava falando?

Pessoa mais talentosa do mundo? Ha! Até parece.

Sim, eu tinha esses sonhos. Mas também tinha a consciência de que eles eram loucos e impossíveis.

Gaara estava perdido se achava que eu tinha chances de sobreviver nem que fosse ao primeiro corte do concurso.

"Gaara..." Comecei. "Tem os meus amigos da 3P. Eles são ótimos e podem—"

"Que se fodam eles!" Gaara me interrompeu. "Eu quero você!"

"Se você continuar nesse disco quebrado—"

"Foda-se." Interrompeu-me novamente. "Eu não vou desistir! Vou te colocar no palco do Soul Talent, você vai ver!"

Suspirei. "Meus amigos vão querer tanto ir... Nem que fosse para as audições. Mas ninguém tem dinheiro para bancar as passagens para seja qual for a capital em que elas ocorrerão. Provavelmente será Tokyo. Hunf. E você aqui, me oferecendo um passe direto para a competição em Nova York! É tão injusto!"
Gaara me deu um longo olhar, como se refletisse no que eu dizia.

Argh. Não teria paciência para ele hoje. Às vezes ele sabia ser bem irritante.

Resolvi ir para casa mais cedo. Mamãe ainda estaria no trabalho e eu teria um pouco de paz.

Matar aula no refúgio não seria uma boa ideia. Gaara era muito insistente. O melhor seria voltar para casa mesmo.

*

*

*

À tarde, depois de estudar, resolvi assistir a um filme. Mas logo fui interrompida por batidas na porta.

Era Sasuke-kun.

"Precisamos conversar." Ele disse. Dei-lhe passagem e ele entrou em minha casa. "O que a Tenten disse hoje... Foi muito rude."

"Foi sim." Respondi, fechando a porta e cruzando os braços.

"Mas você também não foi nada legal." Continuou.

"Ah! Porque eu sou obrigada a ouvir tudo calada, não é mesmo?" Perguntei, irônica.

Sasuke-kun me olhou, sério. "Eu não estou te reconhecendo, Sakura."

Suspirei. "Talvez eu esteja mudando."

O moreno se aproximou. "Está acontecendo alguma coisa?"

"Não." Menti.

Sasuke-kun claramente não acreditou em mim.
"Bom... Se você não quer falar, não vou te pressionar..." Falou. "Mas eu vim aqui por outra coisa."

"E o que é?" Perguntei.

"Você está sabendo do concurso?" Acenei com a cabeça. "Eu fui olhar no site. Serão feitas audições em Tokyo. Três dias de audição. O primeiro é daqui a dois dias."

Levantei as sobrancelhas.

Mas já?

Em apenas dois dias?

Eles definitivamente queriam começar logo esse concurso.

"A 3P irá?" Perguntei.

"Sim." Respondeu. "Estamos todos querendo ir e eu vim aqui pra te chamar."

Sasuke-kun me pegou de surpresa. Senti que toda a defesa que eu havia tentado construir contra ele havia caído com o simples convite.

"Minha mãe nunca me deixaria." Tentei ser sensata.

"Mamãe fala com ela. Mebuki-san sempre a escuta." Falou.

Bom... Isso era verdade. Mas ainda assim...

"E como pretendem ir?" Perguntei. "Com que dinheiro? Passagens, hospedagens, comida... Nenhum de nós tem grana, Sasuke-kun!"

"Você não está sabendo?" Perguntou.

"O quê?" Rebati.

"É... Você foi embora cedo. Não tinha como saber." Deu de ombros. "No final da aula, Sabaku no Gaara disse que contrataria um avião para levar todos os alunos que quisessem fazer as audições em Tokyo."

Arregalei os olhos.

Gaara havia feito o quê?

"N-não acredito..." Falei, perplexa.

"Pra você ver..." Sasuke-kun deu um sorriso de lado. "Às vezes ele faz merda, às vezes faz coisas maravilhosas, como essa. Mesmo depois de ele ter sido um nojo comigo, não consigo decidir se gosto ou não dele. Não depois disso! Ele está dando a chance que a 3P tanto precisa."

Minha cabeça rodava.

Gaara não teria feito aquilo apenas porque eu havia comentado que nós não tínhamos dinheiro... Teria?

Meu Deus! Gaara não existia!

"Mas e a hospedagem?" Perguntei.

"Ele disse que pagava o hotel de quem não tivesse onde ficar." Falou. "Mas nós temos."

Pisquei. "Temos?"

"Sim." Respondeu. "O tio da Hinata, pai do Neji, mora em Tokyo, você sabe. Então... Ele disse que a casa dele tem dois andares. Ele mora no de baixo e em cima está vazio. Disse que podemos ficar lá. Comida e transporte a gente se arruma. É por pouco tempo. Se passarmos na audição, iremos pra Nova York com tudo pago!"

"Irão passar." Afirmei, sem dúvida alguma.

"Então... Você vai?" Perguntou.

Eu não acho que haveria um dia em que conseguiria, realmente, dizer 'não' para o Sasuke-kun.

"É só convencer a mamãe." Respondi, com um suspiro.

*

*

*

"Você acha mesmo que ela vai deixar?" Perguntei, nervosa. "As duas já estão lá dentro há um bom tempo.

"Relaxa." Sasuke-kun falou. "Mamãe vai domar a fera."

Eu não tinha tanta certeza.

Já fazia uns vinte minutos que nós dois estávamos no quarto de instrumentos, esperando nossas mães terminarem de conversar na sala.

Elas disseram que iam nos chamar, mas até agora...

"Mamãe nunca vai deixar!" Choraminguei.

"Relaxa, garota!" Sasuke-kun repetiu. "Não vai adiantar nada se desesperar agora. Vamos esperar."

Dez minutos depois elas finalmente nos chamaram para sala.

Mamãe não estava com uma cara nada boa.

"E então?" Sasuke-kun perguntou.

Mikoto-san sorriu de orelha a orelha. "Ela deixou!" Contou, animada.

Soltei um gritinho de felicidade! Sasuke-kun sorria e estava com aquela expressão de 'eu-te-disse' dele.

"Eu preciso falar a sós com a minha filha." Mamãe falou, séria.

Mikoto-san e Sasuke-kun entenderam o recado e se dirigiram à porta.

"Nós partimos amanhã, às oito da manhã." Sasuke-kun avisou. "Leve todos os seus documentos. Inclusive passaporte, porque a gente pode sair de Tokyo direto para Nova York."*

"Ok." Assenti.

Nunca pensei que meu passaporte fosse ser útil, algum dia.

"Sua mãe terá que ir ao aeroporto para permitir sua viagem." Mikoto-san falou. "Você sabe... Menor de idade não viaja sem permissão." Piscou para mim.

Apenas assenti, sorrindo, e me despedi deles.

"Então..." Mamãe começou, assim que fechei a porta. "Você simplesmente vai largar a escola pra seguir esse garoto por aí?"

Fiquei surpresa. Achei que ela fosse falar do almoço e sobre quem limparia a casa. Mas não... Ela estava falando como uma... Mãe.

"Não vai ser por muito tempo." Respondi.

"Nós duas sabemos que não é verdade." Ela respondeu. "Aquela banda do Sasuke é sensacional. Eles com certeza passarão na audição. E aí? Vai seguí-los até Nova York e passar, sei lá... Meses... Só os apoiando nessa competição?"

"Mãe..." Tentei falar.

"Você sabe como pode se prejudicar na escola por conta disso?" Interrompeu-me.

"O grupo sempre esteve unido. E isso... É algo grande pra 3P. Eu não posso simplesmente não apoiá-los." Falei, séria.

"Você não precisa defender seu ponto de vista." Mamãe suspirou. "Eu já deixei. Aquela Uchiha foi bem insistente."

"Obrigada." Agradeci. "Sobre a comida e a limpeza da casa..."

"Mikoto garantiu que sempre que fizesse comida em sua casa, faria um pouco para mim." Contou. "Também disse que me ajudaria com a limpeza."

Algo em mim se emocionou. Mikoto-san faria isso por mim?

"Vai dar tudo certo." Garanti a mamãe. Ela estava tão estranha. Tão... Mãe.

"A razão principal para eu te deixar ir, não é por ninguém que não seja você." Ela falou, deixando-me surpresa. Mas não tanto como fiquei com sua próxima frase: "Faça a audição."

Olhei-a, com puro choque.

"O quê?" Ofeguei. "Eu não—"

"A escolha é sua." Cortou-me. "Mas espero que seja sensata ao menos uma vez na vida e escolha algo por você e não por Sasuke."

"Eu não sei do que a senhora está falando." Tentei me esquivar.

"Ah, Sakura!" Mamãe pareceu ainda mais irritada. "Você não pode realmente achar que eu nunca escutei sua música! Não é como se o quarto de instrumentos tivesse isolamento acústico."

Recebi suas palavras como quem recebe um tapa.

O quarto de instrumentos ficava do lado oposto do quarto da mamãe. A casa era pequena, mas ele era o mais distante possível.

Eu tomava cuidado para tocar apenas quando ela estava fora de casa ou dormindo. E ainda assim, tocava baixinho para não acordá-la.

"Tem algumas noites, em que eu tenho insônia." Contou. "E então eu te escuto cantar. Às vezes eu me levanto e encosto meu ouvido na porta pra te ouvir melhor."

Meu coração batia rápido. Sentia-me como se tivesse sido pega no flagra.

"Eu não fazia ideia." Admiti.

"Eu sei." Mamãe falou. "Se eu tivesse um talento desses... Pode ter certeza que eu não estaria aqui, hoje." Seu olhar ficou distante. Como se ela recordasse algo. Mas então, voltou a olhar-me. "Por isso eu te deixo ir. Porque eu espero que você tenha a chance que eu não tive."

"Eu não vou fazer a audição." Afirmei. "Sem chances."

"A escolha é sua. Eu apenas estou cumprindo a minha parte e te deixando ir." Mamãe, novamente, ficou com o olhar perdido. "Sabe... Eu sempre odiei a música. Ela afastou seu pai de mim, destruiu tudo de bom que nós tínhamos. O amor que eu tinha por ele se transformou em ódio. E então você... Ha!" Sorriu, amarga. Eu não entendia o que ela estava falando. "Você tinha que ser igual a ele, não é?"

Sobre o que mamãe estava falando?

Que história era essa?

Eles sempre brigaram muito. Nunca vi um gesto de carinho entre eles. Mas ódio?

"Então é por isso que a senhora me odeia?" Ousei perguntar. Meus olhos formando lágrimas. "Por eu ser parecida com meu pai?"

Mamãe me olhou com algo próximo ao nojo e amargura. Senti meu coração doer.

"Eu só quero que você vá embora antes que me destrua como ele destruiu." Cuspiu as palavras em mim.

E então ela foi até o quarto, voltando alguns segundos depois.

Eu continuava paralisada no mesmo lugar. Lágrimas lutando para se libertarem.

Mamãe marchou até mim e pôs algo em minhas mãos, sem nunca olhar em meus olhos. Era dinheiro.

"Isso é tudo que eu posso te dar." Falou, de cabeça baixa. "Faça bom proveito. E se você for sensata, não voltará."

Arregalei os olhos. "A senhora está me expulsando?" Minha voz falhou.

"Não." Respondeu, firme. "Estou dizendo que se você tiver um pouco de sensatez não irá deixar essa chance escapar. Não é uma oportunidade que aparece duas vezes na vida."

E então, ela voltou para o quarto, deixando-me novamente sozinha.

Tentei, desesperadamente, engolir o nó em minha garganta.

*

*

*

No aeroporto, mamãe foi assinar alguns documentos necessários.

E eu me encontrei com o grupo.

Estavam todos lá, esperando serem chamados. Tinha também muitos alunos de Konoha School que eu via apenas de passagem. Todos querendo uma chance nas audições.

A escola deveria estar bem vazia hoje.

No entanto, o que mais me incomodou foi ver Sasori e sua gangue, prontos para embarcar. Fala sério! Ninguém merece! Eles tinham algum talento que não fosse maltratar os outros?

Suspirei. Pelo menos Kabuto havia vindo se despedir de mim. Ha! Como se eu fosse passar tanto tempo assim fora. Mas ele fazia questão de vir, de qualquer jeito.

Eu estava sentada ao lado dos meus amigos. Ninguém havia comentado o ocorrido de ontem.

Melhor assim.

Melhor simplesmente ignorar. Fingir que nada aconteceu.

Mesmo assim, podia sentir o clima entre Tenten e eu um pouco tenso.

Mas não estava me importando.

Eu continuaria do lado deles, mas não os deixaria me botarem para baixo nunca mais.

Cansei de ser subestimada.

Enquanto eles conversavam, meu olhar apenas conseguia procurar por Gaara.

Ele viria, certo?

O avião estava sendo pago por ele. Não era possível que ele não viesse.

"O que foi, Sakura?" Kabuto perguntou. "Está procurando alguém?"

"Hã?" Voltei minha atenção ao médico.

"Braços cruzados, pés batendo impacientemente e olhando pra todos os lados." Kabuto observou. Imediatamente descruzei os braços e aquietei meus pés. Não havia percebido que estava agindo assim. "Quem você está procurando?"

"Mamãe." Respondi rápido, mentindo. Ele pareceu desconfiado. "Não vou acreditar que ela vai me deixar ir até ver os papéis de autorização assinados." Tentei melhorar a desculpa.

"Ah sim." Pareceu acreditar. "Mas relaxa. Se ela não fosse assinar nem teria vindo aqui." Sorriu.

Apenas assenti.

Será que o Gaara não vinha mesmo?

Minha mãe apareceu, junto com os pais dos meus amigos e dos colegas que eu não conhecia.

Nossa! Era muita gente!

E então anunciaram o embarque.

Kabuto me tirou do chão com um abraço de urso.

"Assim você me mata, Kabuto!" Reclamei, rindo.

Ele afrouxou o aperto. "E-mails, mensagens e ligações! Ai de você se não me ligar!"

Afastei-me para olhá-lo. Seu carinho por mim era palpável. Chegava a me emocionar. "Logo, logo, eu estou de volta!" Sorri. "Você não vai se ver livre de mim."

Ele deu um beijo cheio de ternura na minha testa. "Boa viagem." Sorriu. "E juízo."

Assenti com a cabeça, separando-me dele.

Então, eu assisti todos os filhos se despedindo dos pais com abraços apertados, sorrisos e desejos de boa sorte. Por um curto segundo, invejei-os.

Minha mãe apenas veio até mim, entregando-me os papéis de autorização.

Era tão estranha essa distância que havia entre a gente. E dolorosa, também. Pelo menos para mim.

"Obrigada." Agradeci.

Nós nos olhamos por um momento constrangedor.

E então, ela, lentamente, pôs seus braços ao meu redor em um abraço desajeitado.

Nós duas não sabíamos como nos abraçar. Era tão estranho.

Lutei contra a vontade de chorar que imediatamente se alastrou em mim.

Eu não lembrava da última vez que minha mãe havia me abraçado.

Nem nos meus aniversários, nem nos natais...

Que triste... Não se lembrar do último abraço que sua mãe lhe deu.

Abracei-a de volta.

Quantas vezes eu não havia desejado fazer aquilo?

Apenas um carinho... Quantas vezes não desejei apenas um carinho?

De repente, a janela do aeroporto balançou, fazendo um grande barulho, roubando nossa atenção.

Separamo-nos. Eu enxuguei as lágrimas de meus olhos enquanto observava as árvores do lado de fora baterem violentamente na grande janela do aeroporto, devido ao vento que apareceu do nada.

E então mamãe repetiu o que sempre me dizia: "Sabe, Sakura... Ventania fora de época é sinal de mudanças." Disse, olhando-me. O primeiro olhar sincero que havia visto ser direcionado a mim em muito tempo. "Vai..." Falou. "Vai e ganha o mundo."

E enquanto eu me dirigia para o avião junto com os outros, vi Gaara passar na minha frente, dando-me um rápido olhar cúmplice. Então, pela primeira vez, achei que minha mãe podia estar certa.

Talvez as coisas fossem mesmo mudar.


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Notas finais do capítulo

* Observação: Segundo algumas pesquisas que eu fiz, e à Ale, minha leitora querida, os japoneses não precisam de visto para entrar nos EUA, e nem os americanos precisam de visto para entrar no Japão. Só de passaporte mesmo.

Mari, também leitora querida, ajudou-me a escolher o nome do concurso "Soul Talent".

Valeu, Ale e Mari. Vcs ajudaram em pequenos-grandes detalhes.

Trecho do próximo capítulo:

{Comecei a lagrimar. Mas diferente de todas as vezes em que chorei, não foi a dor ou tristeza que formaram as lágrimas em meus olhos. Também não era bem felicidade. Era algo que eu nunca havia sentido antes. Uma emoção pura e genuína. Um calor em meu coração.

Sabaku no Gaara havia escrito uma música para mim! E não era qualquer música. Era uma que mostrava o seu apoio verdadeiro. Que me dizia que ele estaria ao meu lado, [...].

[...] E aquilo era tão importante e especial para mim de tantas maneiras que eu não podia explicar.}

XOXO ❤️