As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 11
Primeira Fase: Conversas


Notas iniciais do capítulo

JESS! JEEEEEEESS! JEEEEEEEEEEEESSSSSS SUA MARAVILHOSA!!! Muuuuuuuiiiito obrigada pela linda recomendação!!! Quase choro quando li!! E é em sua homenagem que apesar de estar com uma ressaca desgraçada hj, estou postando. Sério! Não postaria hoje se não fosse sua recomendação, pq a situação tá foda, amg! Todo mundo agradeça a Jess!

Capítulo super dedicado a vc, sua linda.

Enjoy!



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Eu havia pedido para Gaara tocar algumas músicas dele para mim. Estava me sentindo em um show particular. Isso era incrível!

"Não sabia que você era minha fã." Falou, sorrindo, logo após finalizar a canção.

"Sou fã da sua música. Não de você. É diferente." Respondi, dando de ombros.

"Não vejo diferença. Eu e minha música somos um só." Gaara rebateu.

"Discordo." Insisti. "Sua música é divina! E você é... Bem... Demoníaco."

Gaara ergueu as sobrancelhas. "Por alguma vez, desde que me conheceu, já me viu fazendo algo demoníaco, Sakura?"

Pensei sobre isso.

Apesar da fama de Demônio, Gaara não tinha nada de demoníaco. Ele era bem legal, para falar a verdade.

Tudo bem que ele tinha essa aura perigosa e sedutora. E um comportamento bem arrogante e superior. Mas, honestamente... Não parecia haver maldade nele. Ele não parecia ser cruel, muito menos alguém de quem se deveria ter medo.

Eu soube disso no primeiro minuto que o vi... Carregando-me em seus braços, com um olhar de preocupação.

Sempre gostei do trabalho de Sabaku no Gaara. Mas o que a mídia dizia sobre ele... Suas atitudes... Fizeram-me decidir que eu não gostava da pessoa 'Sabaku no Gaara.'

Mas desde que eu conheci... Não houve uma vez sequer em que eu senti medo dele. Ao invés de me afastar, havia algo que inexplicavelmente me atraía a ele.

"Você é muito diferente do que a mídia diz." Admiti, finalmente. "De onde isso surgiu? O apelido Demônio, digo. Por que te chamam assim?"

"A mídia é nada mais do que uma grande manipuladora, Sakura." Falou, dedilhando algumas notas no piano. "Ela pode manipular as pessoas ao seu favor, mas também contra."

"Você se se incomoda com o que dizem?" Perguntei, interessada.

"Um pouco." Suspirou. "Eu sou um adolescente de dezesseis anos. Eu faço muita merda. Saio, bebo, cometo erros com as pessoas ao meu redor — até as trato mal. Não sou sempre agradável e algumas vezes me envolvo em brigas. Isso faz de mim um demônio?" Gaara falava tudo como em um desabafo. "A maioria das pessoas é hipócrita. Passam por isso. É normal para um adolescente. Mas por eu ser famoso, sou crucificado... Julgado."

As palavras de Gaara aos poucos me abriam os olhos.

Sasuke-kun vivia se metendo em brigas com Sasori. Até mesmo Ino, constantemente se estranhava com Tayuya.

Havia vezes, quando estávamos no bar dos pais de Shikamaru, que roubávamos algumas garrafas de bebida. Só para experimentar. Também não éramos sempre agradáveis com todo mundo ao nosso redor. Algumas vezes éramos bem mal-criados.

Ninguém nos julgava por isso.

Não julgávamos a nós mesmos por isso. E nem quem estava ao nosso redor.

Porque era normal.

Eu tinha acabado de completar quinze anos. Sasuke-kun e Ino também. Éramos todos adolescentes de quinze/dezesseis anos descobrindo a vida.

Mas por que julgávamos Gaara?

Toda vez que saía uma reportagem mostrando ele sendo carregado bêbado ou saindo de festas cercado de amigos, nós virávamos a cara para ele. Dizíamos que ele estava se destruindo agindo desse jeito.

Sim. Gaara estava certo.

Éramos um bando de hipócritas.

"Você ficou calada." O ruivo disse.

"Eu nunca tinha parado pra pensar nisso..." Falei, não sabendo ao certo o que dizer. "Deve ser difícil... Crescer em frente às câmeras... Com bilhões de olhos te julgando."

"Você não faz ideia." Gaara assentiu. "Mas eu não trocaria a fama por uma vida normal. Tem seu lado bom, também."

"E qual é?"

"Ah... São várias coisas, Sakura." "Mas de longe, a melhor parte são os shows." O ruivo disse sorrindo. "Sabe... Quando você está em cima do palco com milhares de pessoas gritando seu nome, cantando cada música sua. Se entregando completamente ao momento... E te olhando como se você fosse a pessoa mais incrível do mundo..." Os olhos de Gaara brilhavam ao falar. "Não tem sensação melhor. É indescritível. Não importa se aquelas pessoas tiveram um dia difícil, ou quem sabe até um ano difícil... Não importa se a vida delas está um caos. Porque naquele momento, você é a razão do sorriso delas. A válvula de escape. E eu sou muito sortudo por ter isso em minha vida."

As palavras de Gaara fizeram meu coração se acelerar.

Talvez fosse por nunca ter o visto falar com tanto brilho nos olhos.

Ou talvez fosse porque essa sensação que ele descrevia, era algo que nunca conheceria. Só invejaria.

Resolvi mudar de assunto. "Que tal você cantar outra música?"

Gaara sorriu. "Que tal você cantar uma música?"

"Melhor não." Respondi, incomodada.

"Vamos lá. Não precisa ser uma música sua. A gente pode fazer um dueto. O que acha?"

Eu estava quase cedendo quando a campainha do apartamento tocou.

Olhei assustada para Gaara.

Estaria tudo bem alguém me ver aqui?

Gaara levantou-se do piano e olhou pelo olho-mágico da porta.

Sua expressão ficou surpresa. "Merda!" Xingou, baixinho.

Suspirando, ele abriu a porta.

Era Stuart Camp.

O empresário de Gaara entrou no apartamento como um furacão.

"Já que você não atendia minhas ligações, precisei vir ao Japão." Stuart falou, em inglês.

"Se eu não te atendia, era porque não queria te ver." Respondeu Gaara, em um inglês perfeito, mas com raiva e grosseria em sua voz. Muito diferente de como falava comigo.

Stuart sibilou algumas palavras que não entendi e olhou em volta do apartamento, prendendo seu olhar em mim.

"Quem é essa?" Perguntou, olhando-me de cima a baixo.

"Uma amiga." Gaara respondeu, entredentes. A irritação do ruivo com o empresário era palpável.

"Hum. Acabou o seu bom-gosto? De onde você tirou essa esquisita?" Olhou-me com nojo.

Eu podia socá-lo?

Acho que agora entendia porque Gaara havia batido nele. Eu estava me segurando pra não partir pra cima dele. Odiava que me olhassem com superioridade. Como se eu fosse um nada.

Quase pude ouvir um rosnado de Gaara. Os punhos dele estavam apertados.

"Sakura." O ruivo se dirigiu a mim. "Você pode, por favor, ir para a varanda?" Pediu, em japonês.

Simplesmente assenti e fui para a sacada, fechando as portas de vidro, cobertas por cortinas, atrás de mim.

O apartamento de Gaara era um cômodo único. As únicas portas eram a do banheiro e da varanda.

Eu só podia esperar que ficando do lado de fora pudesse lhe dar alguma privacidade.

Sentei-me em uma das cadeiras que havia ali, encarando a porta, com a cortina não me deixando ver nada do lado de dentro.

O clima estava tenso, podia sentir.

De vez em quando eu ouvia alguns gritos e xingamentos.

Fosse qual fosse a relação daqueles dois, definitivamente não estava em bons termos.

A mim, só restava esperar que a discussão acabasse.

*

*

*

Mais de trinta minutos se passaram até que Gaara abriu a porta da varanda.

"Vem." Chamou-me.

Ele estava diferente. Parecia... Cansado. E chateado.

Definitivamente com um péssimo humor.

"Você não está bem." Comentei. "Há algo que eu possa fazer?"

Gaara suspirou. "Você não entendeu nada do que ele disse naquela hora que estava aqui dentro, certo?"

"Eu falo inglês." Respondi, simplesmente.

O ruivo suspirou novamente. "Eu estava esperando que você não tivesse entendido." Passou as mãos pelo cabelo. Ele parecia tão exausto. "Não liga pra ele. O cara é um babaca."

"Percebi." Ficamos calados por um momento. Até eu quebrar o silêncio. "Você já se meteu tanto na minha vida, que eu meio que me sinto no direito de me meter na sua." Comecei. "Posso saber o que ouve?"

Por alguns segundos Gaara apenas me encarou. Até que se jogou no sofá, passando as mãos no rosto. "A versão resumida da história é que ele desviou muitos milhões da minha conta para a dele. Bom... Não é que ele tenha desviado... Por eu ser menor de idade, quem administra meu dinheiro é minha mãe. Mas nós confiávamos cegamente nele. E o safado se aproveitou disso. Fez minha mãe assinar um documento sem ler, transferindo o dinheiro para a conta dele."

Fiquei chocada. Então o soco que Gaara dera nele foi muito bem dado. "Mas não tem como reverter isso? Sei lá... Por o cara na justiça...?"

"Não. O documento é lei. O dinheiro já era." Gaara bufou. "Todo o dinheiro arrecadado na minha última turnê, na venda dos cds — digitais e físicos — e dos singles. Tudo. Ele pegou tudo."

"E por que você não vai na imprensa e conta isso?"

"Não dá, Sakura." Gaara respondeu. "Stuart poderia me denunciar por calúnia e difamação. Eu não tenho provas. Mas ele tem o documento."

"Mas não é justo!" Falei, indignada. "Todo o seu trabalho..."

"Eu sei. Não é justo mesmo." Concordou. "A minha raiva, não é pelo dinheiro. Juro. Eu tenho grana o suficiente pra viver bem a minha vida inteira sem ter que trabalhar. O problema é a traição. Eu confiava nele mais do que em qualquer um. E ele destruiu isso."

Balancei a cabeça.

Gaara não deveria ter dado apenas um soco no cara. Um espancamento ainda seria pouco.

"E o que ele veio fazer aqui?" Perguntei. "Pedir desculpas?"

Gaara riu, irônico. "Até parece. Ele diz que só está recebendo a comissão que merece por me aturar todos esses anos." Falou, com desgosto. "Mas o pior, é que ele quer continuar trabalhando comigo."

"Mas é muita cara-de-pau!" A minha indignação só crescia.

"Ele disse que eu iria me arrepender de demití-lo." Gaara bagunçou ainda mais o cabelo. "Algo grande vem aí. Eu sei. O cara tem muita influência. E agora, muito dinheiro, também."

"Ei." Sentei-me ao lado de Gaara, colocando minha mão em seu ombro. Ele me olhou. "Nada do que ele diga ou faça vai te derrubar. Você é Sabaku no Gaara, e ele nunca vai ser tão grande."

O ruivo sorriu, colocando sua mão sobre a minha, ainda em seu ombro. "Obrigado, Maluquinha."

Também sorri.

E ali, eu senti o começo de uma bela amizade.

*

*

*

"Obrigada." Agradeci quando Gaara parou o carro perto da minha casa. Não exatamente em frente, para não correr o risco de mamãe ver. "A gente se vê."

"A gente se vê." Repetiu, dando um sorriso de lado.

Algo em mim não queria deixá-lo. Mesmo assim, apenas retribuí o sorriso e saí do carro.

Eu fiz a pequena caminhada até em casa sentindo seus olhos sobre mim. Apenas quando eu alcancei a porta, ele deu partida no carro. E foi a minha vez de assistí-lo, até que sumisse na esquina.

Suspirei enquanto entrava em casa.

Era estranho. Eu o conhecia há tanto tempo, mas até semana passada, ele nem sabia da minha existência.

Agora que o conheço pessoalmente... Ele é tão diferente do que a mídia diz. E mesmo assim eu tenho esse sentimento de que sempre o conheci.

Gaara é tão estranhamente familiar. E... Ele me faz tão bem.

"Sakura!" Assustei-me com a voz de Ino, vindo da cozinha. "Amiga!"

"O que você está fazendo aqui, Ino?" Perguntei, encarando-a. "Já é noite, deve ir pra casa."

"É domingo, Sakura. Nós sempre dormimos uma na casa da outra nos domingos." Falou, com cautela.

Sim, eu não havia esquecido. Mas depois do que ela me disse lá na quadra, a última coisa que eu esperava era sua visita.

"Onde você estava?" Ela perguntou, vindo até mim.

"Não é da sua conta." Respondi, ríspida.
Ino recuou, assustada com minhas palavras.

"Você está chateada." Afirmou. A loira voltou a se aproximar. "Amiga, desculpa. Eu não sei o que me deu pra falar com você daquele jeito. Por que a gente não passa uma borracha nesse assunto?"

Ha! Só se fosse uma borracha na consciência dela.

Eu estava tão, tão, tão chateada.

Ino havia feito piada das vezes que eu havia me declarado para Sasuke-kun, dizendo que eu merecia o prêmio de mais rejeitada.

Ela não tinha o direito.

"Vai pra casa, Ino. A gente conversa depois." Falei. Eu não sabia se conseguiria me controlar se conversasse com ela agora. Tudo tem limite.

Tudo. Eu aguentei tudo sobre essa história dela com o Sasuke-kun. E por mais raiva que eu sentisse, sempre coloquei nossa amizade de tantos anos na frente.

Mas ela não teve a mesma consideração comigo quando resolveu me zoar na frente das meninas.

"Eu não vou, Sakura." Falou firme. A próxima coisa que eu senti foi seu abraço de urso em mim.

"Sai, Ino." Tentei empurrá-la.

"Não." Apertou-se mais em mim.

Doeu.

"Ai, Ino!" Reclamei de dor. "Para! Eu estou machucada."

Ino me soltou, dando-se conta de meu estado. "Desculpa, eu havia esquecido que você está toda arrebentada." Disse, olhando-me com lágrimas nos olhos.

"Ino." Chamei, surpresa. "Você está chorando?"

"Eu não quis dizer aquilo! Perdão, Sakura." Falou chorando.

Eu derreti.

Não aguentava vê-la chorar.

Merda!

Ao mesmo tempo que eu queria botá-la pra fora de minha casa, eu queria perdoá-la.

Porque ela é a minha melhor amiga.

E eu preciso dela.

Eu não sou ninguém sem ela.

"Para de chorar." Falei, suspirando. "Está desculpada."

O olhar de Ino se iluminou quando ela sorriu, jogando-se em cima de mim, novamente.

"Ai!" Choraminguei de dor.

"Desculpa." Soltou-me. "Desculpa."

"Tudo bem." Suspirei. "Só não faz de novo."

"Não vou. Prometo!" Falou animada. E eu sabia que ela estava se referindo ao que rolou na quadra.

Nossa reconciliação foi interrompida por minha mãe, que chegou em casa.

"Ino!" Mamãe sorriu de orelha a orelha quando viu minha amiga.

"Oi, tia!" Correu para abraçá-la. Minha mãe a recebeu a apertou em seus braços por alguns segundos.

"Que bom que você veio. Como foi sua semana?" Mamãe perguntou.

"Tudo normal." Respondeu Ino, simpática.

"Ah! Fala sério! Essa semana tem sido tudo menos normal em Konoha! Sabaku no Gaara está aqui!" As duas deram um pequeno gritinho animado.

"Eu sei!" Ino riu. "Ele está na minha sala!"

"Não brinca!" Mamãe arregalou os olhos. "Pode me contar tudo! Eu quero saber cada detalhe!"

Eu estava me sentindo deslocada. Excluída.
Ino tinha uma ótima relação com a minha mãe. Do tipo que eu nunca teria.

Mas eu já estava acostumada.

"Sakura." Mamãe me chamou. Olhei para ela esperançosa. Quem sabe ela iria me incluir na conversa? "Você já fez o jantar?"

Murchei um pouco.

"Não... Vou já fazer." Respondi.

"Ah, não precisa! Eu pedi pizza! Daqui a pouco deve chegar." Ino falou.

"Sério?" Mamãe perguntou animada. "Você é tão preciosa, Ino. Quem dera eu tivesse uma filha como você."

Doeu.

E dessa vez não havia sido meu corpo, e sim meu coração.

Ino sorriu, desconfortável. Lançou-me um olhar preocupado.

Apenas lhe sorri.

E quando a pizza chegou, as duas continuaram a conversar como melhores amigas, na sala. Gargalhando e falando bobagens.

Meu peito doía e meus olhos ardiam.

E sabendo que elas não perceberiam, peguei meu casaco e saí de casa.

Ar.

Precisava de ar.

*

*

*

A Lua estava esplêndida em sua forma completa. As estrelas pintavam o céu escuro com a cor de luz.

Ali, sentada na frente de casa, eu me perguntava se em algum outro lugar do mundo se poderia ver um céu tão bonito como em Konoha.

"Linda noite, não é?" Ouvi uma voz conhecida vinda da casa ao lado.

Sorri.

"Boa noite, Mikoto-san." Cumprimentei.

"Boa noite, menina Sakura." Respondeu a mãe de Sasuke-kun. "Posso me sentar aí com você?"

"Claro!"

Mikoto-san percorreu a pequena distância da casa dela até a minha e sentou ao meu lado.

Ela estava linda, como sempre. Nem parecia ter quase quarenta anos, com sua aparência jovial.

Seus longos cabelos negros estavam amarrados em um coque e ela carregava um cobertor ao redor de seu corpo magro.

Sasuke-kun tinha a quem puxar a beleza.

De fato, eu não conhecia nenhum Uchiha feio.

"O que faz aqui fora, criança?" Perguntou-me, com seu olhar gentil.

"Apenas respirando." Dei de ombros.

"Hum." Mikoto-san assentiu. "Mas há algum problema? Eu vi Ino chegando mais cedo. Por que não está com ela?"

"Problema nenhum." Tentei despistar, mas estava incerta sobre o que dizer.

A Uchiha me deu um sorriso compreensivo. "Se você não quer falar, eu não vou insistir."

Nós duas ficamos caladas, apenas na companhia uma da outra.

Foi ela quem interrompeu o silêncio. "Não seria incrível se uma estrela cadente passasse nesse minuto?" Falou, com seus olhos negros brilhando ao olhar o céu.

"Nunca vi uma." Comentei.

"O que você pediria?" Perguntou. Quando eu estava prestes a responder o óbvio, ela voltou a falar, rindo. "E não pode ser o Sasuke."

Ri junto. "Ah... Então eu estou ferrada. Seu filho é tudo em que eu posso pensar em pedir."

Mikoto-san balançou a cabeça, sorrindo. "Não se pede por amor, menina Sakura. Esse mundo é repleto de coisas maravilhosas. E entre todas, o amor é, sem dúvida alguma, a melhor. No entanto, também é a única maravilha que você não pode pedir."

As palavras da Uchiha me atingiram. "Sabe... Eu desisti do seu filho." Mikoto-san me olhou surpresa. "Não que eu vá parar de amá-lo ou sair do seu lado. Não. Isso é impossível." Minha voz ficou embargada. Meus olhos ardiam. "É só que... Eu percebi que ele nunca vai retribuir o sentimento. Eu tentei tanto... Tanto. Ninguém pode dizer que eu não tentei. Humilhei-me, pedi, e até mesmo implorei pelo amor dele. Mesmo assim, eu não mudei seu coração. Talvez a senhora esteja certa. Não se pede por amor. Talvez esse tenha sido meu erro desde o princípio. Mas como não pedir pela única coisa de que eu preciso?"

Mikoto-san olhava-me, com lágrimas nos olhos. Ela segurou a minha mão. "Você é tão jovem, criança. E já carrega um amor como esse com você. Se eu pudesse... Se eu escolhesse... Sasuke ficaria com você. Porque eu sei que ninguém nunca vai amá-lo como você ama. Mas a escolha não é minha." Ela derramou uma lágrima. "Por mais difícil que seja, você precisa viver a sua vida. Sem Sasuke. Precisa aprender a depender de si mesma. A não se apoiar ninguém. Porque você mesma é tudo de que precisa para viver."

Tentei conter o choro e abaixei a cabeça, mas não pude evitar que algumas lágrimas caíssem. "Eu não consigo. Eu não sou o suficiente. Nunca vou ser."

"Ei." Mikoto-san levou sua mão ao meu queixo, levantando minha cabeça. "Você é linda. Inteligente. Amável. Especial. E muito mais do que suficiente. Nunca deixe ninguém lhe dizer o contrário." Ela olhou bem dentro de meus olhos chorosos. "Você tem olhos tão tristes. Mas eu tenho certeza de que um dia será muito feliz. E se o meu filho for um cara de sorte, ele estará ao seu lado."

Então ela me abraçou. Calorosamente.

Eu não sabia o que era um abraço de mãe.

Mas eu suspeitava de que era muito parecido com aquele.

*

*

*

"Sua vez." Falei. Eu e Mikoto-san ainda estávamos sentadas na frente de minha casa, já recompostas da crise de choro. "O que a senhora pediria a uma estrela cadente?" Perguntei.

A Uchiha suspirou. "Eu pediria que Itachi desse notícias."

Olhei-a. "Nada ainda?"

"Nem ao menos um telefonema. Ou uma carta. Nem mesmo um e-mail só avisando que está vivo. Nada." Respondeu, amargurada.

"Dizem que a ausência de notícias é uma boa notícia." Tentei confortá-la. "Se algo ruim tivesse acontecido com ele, nós saberíamos."

"Eu sei. Ainda assim, não diminui a falta de consideração que esse moleque está tendo com a família." Mikoto-san passou a mão no rosto. "Fugaku está enlouquecendo. Eu estou enlouquecendo."

Itachi era um idiota.

Apesar de ser irmão do Sakuke-kun, os dois eram muito diferentes.

Itachi era totalmente inconsequente. A única coisa que tinha na cabeça era deixar Konoha.

E conseguiu. Assim que completou 18 anos, terminou os estudos e convenceu os pais de que uma emancipação o ajudaria a conseguir um emprego melhor. Claro, porque ele não podia esperar mais dois anos para completar a maioridade.*

Assim que a emancipação saiu, ele fugiu, deixando Konoha para trás e partindo o coração de Sasuke-kun e dos pais.

Já havia seis meses.

Ele não mandou nenhum recado.

Nada.

"Ele vai aparecer." Afirmei. Mikoto-san deu um fraco sorriso.

"Mikoto." Ouvimos a voz grave do senhor Uchiha chamar, da casa ao lado. "Vamos jantar, querida."

"Claro. Estou indo." Ela respondeu.

"Está convidada, menina Sakura." Fugaku-san falou.

"Obrigada, mas eu já jantei." Respondi, educada.

Mikoto-san dirigiu-se a mim. "Obrigada pela conversa, menina Sakura. Durma bem." Falou, sorrindo.

"A senhora também." Retribuí o sorriso.

Mikoto-san caminhou até seu marido.

Fugaku-san pegou sua mão e dirigiu-me um olhar gentil. "Boa noite, menina Sakura." Falou, com ternura.

"Boa noite, Fugaku-san." Dei-lhe meu melhor sorriso.

O senhor Uchiha não era de sorrisos, mas seu olhar me deixava saber que eu era querida.

Os dois entraram na casa de mãos dadas.

E mesmo que fosse uma noite fria, em meu coração, eu pude sentir o calor deles.

*

*

*

"Sakura!" Ino praticamente gritou quando eu entrei em casa. Ela estava sentada no sofá, com a minha mãe, assistindo televisão. "Onde você se enfiou, garota! Está perdendo um babado! Vem assistir!"

"Ah, Ino. Não estou afim de assistir nada..." Respondi. Até que eu ouvi o nome de Gaara. Aquilo me chamou a atenção.

"É uma conferência de imprensa feita de última hora com o empresário do Gaara." Ino falou, em tom de fofoca. "Está sendo feita agora mesmo aqui em Konoha. A imprensa local e internacional está toda lá. Ba-ba-do!"

"Eu estive com o Gaara hoje." Stuart Camp disse.

Ele estava sentado em uma mesa cheia de microfones. Suas palavras eram, simultaneamente, traduzidas ao japonês pela conhecida voz do apresentador do noticiário local.

Preferia que deixassem só o empresário falando, em inglês mesmo. Dava agonia essa história de que um fala o outro traduz. Fora que a tradução nem sempre saía correta, já que o tradutor se apressava para acompanhar a fala da pessoa e acabava se perdendo, por vezes. Mas eu entendia que nem todo mundo falava inglês. Minha mãe era um exemplo.

"A conversa não foi nada boa." Continuou Stuart. "Gaara foi agressivo e me despediu." O burburinho entre os repórteres foi audível. "Mas não tem problema. Gaara não é o centro do universo. Eu tenho um plano B."

"Que seria...?" Um dos jornalistas perguntou.

"É algo grande." Respondeu. "Algo que eu e a gravadora de Gaara, Columbia Records, já vínhamos planejando há algum tempo, mas só agora o projeto finalmente sairá do papel."

"Será algo que prejudicará Gaara?" Mais uma pergunta de repórter.

"Absolutamente não." Stuart negou, firmemente. "Ele até terá chance de se levantar. Os detalhes serão apresentados em alguns dias. Por hoje, vocês só saberão o necessário. Nós iremos transcender todas as barreiras mundiais e criar algo poderoso, cercado por pessoas poderosas."

"Porra! Fala logo!" Mamãe reclamou, impaciente. Eu também estava, devo confessar.

Stuart fez uma pausa dramática e finalmente soltou a bomba.

"Nós criaremos o maior concurso de talentos do mundo." Os flashes de câmera foram disparados. Os repórteres faziam muitas perguntas ao mesmo tempo. Stuart continuou a falar. "Terão seleções em toda a parte do mundo. E as regras serão muito especiais. Vocês nunca viram nada parecido. Todos os artistas da gravadora, como Gaara, estarão diretamente envolvidos. Claro, se quiserem. O talento vencedor, ganhará um contrato milionário com a Columbia Records."

Mais perguntas. Stuart Camp apenas sorriu e se levantou, desaparecendo da vista dos repórteres e das câmeras.

"Oh. Meu. Deus." Ino verbalizou meus pensamentos.

Sim.

Oh. Meu. Deus.


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Notas finais do capítulo

IMPORTANTE: No Japão a maioridade civil é 20 anos. Para dirigir é 18.

O capítulo doze vem com uma pequena passagem de tempo e vocês irão ver uma Sakura não tão calada quanto antes.

Pequeno trecho do próximo capítulo:

["Você se escutou, Tenten?" Perguntei, apertando os punhos.

"Qual foi, Sakura?" Respondeu, com o rosto vermelho, graças à crise de riso. "Eu só estou zoando."

"Não." Rebati. "Você está sendo uma completa vadia."]

XOXO ❤️