As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 10
Primeira Fase: Contra a Parede


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, boa tarde. Segundamente... OMG, night psychopath! Eu quase infartei quando vi que você recomendou a fic! MUITO OBRIGADA! Você não faz ideia do que isso significa para uma escritora iniciante! Colocou um sorriso enorme em meu rosto e aqueceu meu coração!

Esse capítulo é dedicado inteiramente a você!

Enjoy!



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O domingo estava tão monótono quanto sempre. Até Naruto vir em minha casa me arrastar pro treino do time de futebol.

Os Snakes teriam que jogar contra os Wolfs sem o Sasuke-kun, já que ele estava suspenso.

Isso seria um grande desfalque.

Sasori e os outros Wolfs podiam ser bandidos, mas ninguém podia negar que eles jogavam muito bem.

Jogos escolares deveriam ser apenas por diversão. Mas a rivalidade entre os dois grupos não deixava brecha para 'amistosos'.

Ninguém nunca sabia quem iria ganhar. Às vezes os Snakes eram vencedores, e em outras os Wolfs levavam a melhor.

No entanto, com Sasuke-kun fora do time, as coisas se apertariam para os Snakes.

Eu não estava me sentindo bem, mas me esforçava para dar força aos meus amigos.

"Você não deveria ter vindo, Sakura." Hinata comentou.

"É. Não está com uma cara nada boa." Concordou Ino.

Eu e as meninas estávamos sentadas na arquibancada da quadra da escola assistindo o jogo dos meninos.

Somente os times podiam ter acesso à escola aos sábados e domingos. Para poderem treinar.

Era uma sorte os Wolfs usarem a quadra da casa de Deidara, ou isso não seria um campo de treinamento, e sim de guerra.

Sasuke-kun estava gritando ordens para o time, tentando prepará-los da melhor maneira. Shikamaru iria substituí-lo, mas nem de longe tinha o mesmo preparo. Ele ficava na reserva e na verdade só fazia parte do time porque os meninos insistiram muito.

Dos reservas, não tinha nenhum que pudesse ser aproveitado. Shikamaru era ruim, mas ainda assim era o melhor entre eles.

"Eu sei." Concordei com minhas amigas. "Mas vocês conhecem o Naruto. Faz questão de ter platéia e não aceita 'não' como resposta."

As meninas riram.

"N-Naruto-kun só gosta de t-ter seus amigos sempre por p-perto." Defendeu Hinata, corando e gaguejando.

"Que bonitinha!" Ino disse, rindo. "Quando é que você vai se declarar, Hina?"

"E-eu n-não gosto dele!" Rebateu Hinata.

"Fala sério!" Tenten rolou os olhos. "Seu amor por ele é tão óbvio quanto o da Sakura pelo Sasuke."

Sim. Era verdade. "Só o próprio Naruto que não percebe." Completei.

"Talvez você devesse dar umas aulas a ela, Sakura." Ino disse, e eu notei um estranho sarcasmo em sua voz. "De como ter coragem para se declarar. Afinal... Você fez isso tantas vezes que já é coisa boba pra você, certo?" Olhei-a chocada. "Mas pensando bem, Hinata... Melhor não pegar conselho com ela... Porque se tivesse um prêmio de mais rejeitada, com certeza seria da Sakura."

Meu queixo caiu. Suas palavras me ferindo mais do que as de Tayuya.

O tom de sarcasmo de Ino havia se transformado em um de raiva.

O clima de repente ficou tenso.

Ino nunca havia falado assim comigo.

Isso tudo era por causa de... Sasuke-kun?

Sério mesmo?

Eu que devia estar com raiva!

Era por ela que ele havia se apaixonado.

Ino... Como se atrevia a se apaixonar por ele mesmo sabendo que eu já o amava há muito tempo?

Pensando bem, eu já tinha percebido que todo o grupo já sabia sobre esse 'lance' entre Sasuke-kun e Ino.

Mesmo assim, eu não jogava minha raiva em cima de ninguém. Eu a transformava em dor e guardava tudo só pra mim, priorizando sempre a nossa amizade de tantos anos.

Que direito ela tem de falar assim comigo?

"Er..." Hinata cortou o silêncio. "Eu acho que vou ao banheiro."

Ela se levantou, saindo da arquibancada.

"Eu também." Afirmei. "Vou lá com a Hinata... Ensinar pra ela exatamente como 'não' se declarar." Falei, sarcástica, olhando para Ino.

Ela suspirou. "Desculpa, Sakura. Não sei o que me deu..."

Não queria escutar suas desculpas. Simplesmente dei-lhe as costas, seguindo Hinata — lentamente, por causa dos machucados.

*

*

*

Olhava-me no espelho do banheiro, enquanto lavava minhas mãos doloridas e tentava lidar com a raiva que sentia.

"Ela não falou por mal." Hinata tentou defender Ino. "Ela só está..."

"Apaixonada por Sasuke-kun." Completei, com a verdade que Hinata não teria coragem de falar. Pelo espelho, vi quando seus olhos se arregalaram.

"N-não..." Hinata gaguejou, mexendo suas mãos nervosamente. Diferente de mim, ela era um livro aberto. "N-n-não, S-Sakura! De onde v-você tirou isso?"

"Eu não sou tão boba quanto vocês pensam." Falei, séria. "Muito menos cega."

Eu podia perceber que Hinata estava perplexa. Mas estava na hora de tirar essa história a limpo.

"Hinata. Sinto lhe dizer, mas você não vai sair desse banheiro até me contar tudo que sabe." Coloquei-a contra parede.

"E-eu n-não sei de n-nada." Falou, tremendo e evitando meus olhos.

"Mentira. Eu sempre sei quando você está mentindo."

"S-Sakura... P-por favor..."

"A música nova do Sasuke-kun foi escrita pra Ino." Afirmei. Hinata estava assustada. Claro. Ela nunca havia me visto ser tão firme assim. E também era outra que achava que eu era estúpida demais para ver o que estava bem em minha frente. "Não adianta negar. Eu sei. Enquanto Sasuke-kun apresentava a música, Ino estava o olhando com cara de boba apaixonada. E segurando a sua mão, Hinata. Como se vocês duas fossem cúmplices."

Hinata virou de costas, mexendo nervosamente os dedos. Não adiantou muito. Eu ainda a via pelo espelho.

"E-eu não t-tenho nada haver com i-isso."

Resolvi apelar. "Você realmente não é minha amiga. Nenhum de vocês! Todos sempre mentindo e escondendo coisas de mim." Joguei as palavras nela. Não havia mentira em minhas palavras. Mas de todos eles, eu era a menos indicada para falar de honestidade. Era eu quem vivia me escondendo e fingindo.

O truque, no entanto, pareceu funcionar com Hinata. Ela se virou e veio para mim. "Não é nada disso!" Falou, chorosa, mas sem gaguejar. "Nós somos amigas de infância e eu te adoro. Nós todos te adoramos! Só não queremos te ver machucada..."

"Por isso vocês escondem a relação do Sasuke-kun e da Ino de mim?"

Ha! Ridículo! Será que ninguém via que eu já estava machucada? E o fato de todos saberem e esconderem de mim, só me feria ainda mais.

"S-Sakura-chan..." Disse, triste. "Não tem relacionamento nenhum entre eles..."

"Tem sim!" Rebati. "Tem sentimento! Quer uma relação mais forte que essa?"

Hinata suspirou.

"Eles se gostam." Afirmou.

Respirei fundo. Eu já sabia. Mas por que ouvir isso doeu tanto?

"Prossiga." Disse, entredentes. Precisava de controle.

"Você sabe que eles não se davam bem." Falou. Confirmei com a cabeça. "Mas teve uma noite que a Ino estava voltando sozinha para casa. O Sasori e o Deidara apareceram e tentaram abusar dela."

O quê?

Como assim?

Eu não sabia disso! Ino nunca me contou! Por que ela nunca me contou?

"Ela estava muito assustada. Eles chegaram a rasgar a blusa dela e você sabe... Passar a mão." Continuou relatando. Eu estava em choque. A minha amiga passou por uma coisa horrível como essa e eu nem imaginava. "Só não aconteceu coisa pior porque o Sasuke apareceu e salvou ela."

Aquilo foi um baque em mim. Desnorteada, encostei-me na pia.

Sasuke-kun havia salvo a Ino. Foi aí que tudo começou.

Eu estava dividida em alívio e ciúmes.

Alívio por alguém ter aparecido e impedido o nojento do Sasori de estuprar a Ino, e com ciúmes por esse alguém ter sido Sasuke-kun.

Que tipo de destino era esse? De todas as pessoas, por que tinha que ser Sasuke a salvá-la?

"Você está bem, Sakura?" Perguntou-me Hinata.

"Continue." Respondi, com a voz fraca.

A morena suspirou, mas atendeu a meu pedido. "Naquela noite, o Sasuke levou Ino para casa. Foi naquele tempo em que os pais dela estavam em Tokyo. Ino estava sozinha em casa e muito abalada. Então, o Sasuke passou a noite cuidando dela, tentando confortá-la e acalmá-la."

Arregalei os olhos, em choque. "Eles passaram a noite juntos?"

"Não aconteceu nada, Sakura. Mas no dia seguinte, as coisas estavam mudadas entre eles. Aquela implicância que tinham um com o outro começou a se transformar."

Senti meu coração doer e as lágrimas se formarem em meus olhos. "Por que a Ino não me contou?" Perguntei num fio de voz.

"Ela achou que você não ia gostar nada de ela ter passado a noite com o Sasuke." Respondeu.

Irritei-me.

Eu não gosto disso agora! Porque sei que eles tem sentimentos um pelo outro e porque sei que a Ino está bem.

Mas se ela tivesse me contado logo quando aconteceu, eu não ficaria com raiva. Só aliviada pela minha amiga estar bem!

Eu era assim tão mesquinha aos olhos de Ino?

"Sakura-chan..." Hinata veio até mim, colocando sua mão em meu ombro.

Olhei em seu olhos. "Se eles se gostam tanto... Por que não estão juntos?"

"Você sabe o porquê." Respondeu.

Sim. Eu sabia. "Por mim." Não era uma pergunta. Era uma afirmação.

Por mim.

Eu era o empecilho entre Sasuke-kun e Ino.

Isso me dava mais raiva do que qualquer outra coisa!

Porque se eles simplesmente se assumissem, eu poderia me sentir ofendida e descontar tudo neles.

Mas com Ino e Sasuke-kun se mantendo afastados por causa de mim... Parecia que era eu que os ofendia.

Isso fazia de mim a vilã da história.

Quis desabar. Quis chorar.

Mas Hinata estava na minha frente e eu não podia deixá-la ver o quão quebrada eu estava.

Então, forcei-me a engolir o choro e olhar para ela de queixo erguido.

"Isso fica entre a gente. Ok, Hinata?"

A morena confirmou com a cabeça. "Ino não gostaria de saber que eu te contei tudo isso."

"Ela não precisa saber." Afirmei. "Eu vou continuar fingindo que não sei de nada, e você continua a fingir que está me escondendo tudo."

Hinata me olhou triste. "Certo." Concordou. "Mas você vai ficar bem?"

Não. Claro que não.

Mas isso era algo que ela não precisava saber.

"Vou sim. Fiquei chateada, é claro. Mas nem tanto pelo o Sasuke-kun e sim por vocês esconderem isso de mim." Menti. Hinata me olhou com desconfiança, não acreditando em minhas palavras. Precisava de uma mentira melhor. "Ei! Posso te contar um segredo?" Perguntei, forçando um sorriso.

"Claro!" Como sempre, ela não percebeu meu sorriso falso.

"Acho que estou finalmente superando o Sasuke-kun."

Que. Mentira.

Hinata também não pareceu acreditar. "Conta outra." Ela disse.

"É a verdade. Afinal, quem precisa de Uchiha Sasuke quando se é a parceira de química de Sabaku no Gaara?

Hinata abriu a boca, surpresa. "Você está afim de Sabaku no Gaara?" Perguntou, em choque.

"Talvez." Pisquei para ela. Meu teatro parecia funcionar.

Hinata sorriu. "Você definitivamente pulou de um amor difícil para um impossível, Sakura!" Disse, balançando a cabeça.

"Eu gosto de desafios."

"Deveria ser mais 'pé no chão'." Afirmou. "Por que não dá uma chance para alguém mais do seu nível?"

"Tipo?"

"Tipo o Lee." Sorriu.

"Ugh, Hinata. Assim você me ofende."

Ela gargalhou. Eu forcei mais um riso.

"Acho melhor a gente voltar para a quadra."

"Vai indo. Eu vou daqui a pouco." Precisava ficar sozinha.

"Tudo bem. Não demora." Hinata disse, antes de sair.

Finalmente, meus joelhos cederam e eu caí no chão do banheiro.

Deixei minhas lágrimas descerem enquanto amaldiçoava a minha vida e tudo em que ela tinha se transformado.

Quando foi que eu virei a vilã do meu próprio conto de fadas?

Eu e Sasuke-kun devíamos estar destinados!

Eu sempre acreditei nisso. Como a nossa história deu um giro tão absurdo desses?

Porra!

Eles me viam como uma coitada. Até mesmo a doce Hinata havia confessado — mesmo que sem querer — que também pensava assim, quando disse que eu deveria ficar com alguém do meu nível.

Oi?

Eu era assim tão indigna?

Enquanto eu achava que fosse explodir de raiva, meu celular tocou.

Era Gaara.

"Oi." Atendi, tentando fazer com que minha voz soasse normal. Não acho que tenha funcionado.

"Você está chorando?" Perguntou. É... Definitivamente não havia funcionado.

"Não." Neguei.

"Mentira." Rebateu.

Respirei fundo. "Não estou de bom humor. O que você quer?"

"Está onde?"

"Na escola." Respondi.

"O que você está fazendo na escola no domingo? Olha eu sei que você é maluca, mas isso..." Gaara provocou.

"O que você quer?" Perguntei sem paciência.

O ruivo ficou em silêncio por alguns segundos. "Eu vou passar aí pra te pegar." Finalmente falou.

"O quê? Pra quê?" Estranhei. "Eu estou ocupada. Não posso."

"Não foi uma pergunta, Sakura." Gaara afirmou. "Olha... É importante. Eu não estou longe daí. Passo em uns dez minutos. Espera por mim na entrada." E desligou. Nem esperou que eu respondesse.

Suspirei.

Bom... Não é como se eu fosse fazer alguma falta no grupo.

E para falar a verdade, eu não queria voltar para a quadra.

Então mandei uma mensagem para Hinata dizendo que Kabuto estava passando para me buscar.

Ela não questionou. Só mandou um "ok".

Então eu levantei, sequei as lágrimas e fui esperar o Demônio.

*

*

*

"Como que você tem permissão para dirigir?" Perguntei assim que entrei no carro de Gaara. "Não deveria ser só aos dezoito anos?"

"Nos Estados Unidos pode tirar a carteira com dezesseis." Respondeu. "Como eu sou, tecnicamente, de lá... E já tirei a carteira... Eu posso dirigir."

"Como assim tecnicamente?"

"Bom... Eu nasci aqui no Japão, mas eu tenho o Green Card." Falou.

"Não entendi." Admiti.

"Para um estrangeiro morar e trabalhar nos Estados Unidos tem que ter das duas uma: ou Green Card, ou nacionalidade. É quase a mesma coisa, mas o Green Card tem algumas restrições. A nacionalidade não." Explicou.

"E como se consegue?" Perguntei, interessada.

"Tem várias maneiras, para várias situações. No meu caso, foi graças ao meu pai. Ele morou nos Estados Unidos com o Green Card. Depois de muitos anos, finalmente pôde se candidatar para ganhar a nacionalidade. E conseguiu. Para um naturalizado americano é muito fácil patrocinar o Green Card para parentes imediatos. Ele patrocinou o meu."

"Mas... E para dirigir? Não tem que fazer nenhuma prova pra validar a carteira aqui no Japão?" Continuei a fazer perguntas.

O ruivo sorriu de lado. "Eu sou Sabaku no Gaara."

Claro. Isso bastava.

Resolvi mudar de assunto. "Para onde estamos indo?"

"Pro meu apartamento." Respondeu. Lancei-lhe um olhar acusador. "Eu não vou abusar de você, Maluquinha." Falou, bufando.

"Maluquinha?" Não entendi. Eu era super normal.

"É o que você é."

"Hum. Demônio." Sussurrei.

"O quê?"

"Demônio. É o que você é."

Gaara sorriu, arrogante. "E você não tem medo?"

"Está no inferno, abraça o capeta." Respondi, simplesmente.

"Você quer me abraçar, Maluquinha?" Perguntou zombeteiro.

Olhei-o, indignada. "Você entendeu." Bufei. "Vou começar a te chamar de Demo."

"Não é tão original."

"Foda-se."

Gaara riu. "Ui. Você sabe falar palavrão."

Cruzei os braços, virando o rosto. "Só dirige."

O ruivo me ignorou. "Agora me diz... O que estava fazendo na escola?"

"Meus amigos jogam futebol num dos times da escola. Eles estavam treinando. Eu e minhas amigas fomos só dar apoio mesmo." Respondi, descruzando os braços.

"Quantos times tem na escola?"

"Dois. O time dos Snakes, que os meus amigos fazem parte, e o dos Wolfs." Olhei-o. "Por quê? Você joga?"

Gaara fez uma careta. "Nem um pouco."

Ri. "Finalmente algo que Sabaku no Gaara não saiba fazer!" Zombei.

"Cala a boca." Falou emburrado.

Gargalhei. Gaara ameaçou dar um sorriso, mas conseguiu manter a pose séria.

Logo, reconheci a fachada do prédio de Gaara.

"Chegamos." Falou assim que parou no estacionamento. Quando eu ia abrindo a porta ele me parou, segurando meu cotovelo. "Espera."

Gaara remexeu no porta-luvas tirando um boné, moletom e óculos escuros.

"Sério mesmo?" Perguntei, arqueando as sobrancelhas. "Você precisa de tudo isso só pra subir no elevador?"

"Eu não." Afirmou, jogando as coisas em cima de mim. "Você precisa."

"Fala sério, Gaara!"

"É sério. Já foi um risco ter que te pegar na escola. O carro tem insulfilm, não dá pra ver nada do lado de fora. É seguro. O prédio é bem privado, mas nunca se sabe quando tem alguém que resolve tirar uma foto." O ruivo disse.

Suspirei, vestindo o moletom e colocando o boné. "Isso é totalmente desnecessário."

"Você não faz ideia do inferno que viraria sua vida se te vissem andando por aí comigo." Falou sério.

Ele tinha razão. Provavelmente eu não teria paz.

Coloquei o óculos e ajustei o capuz sobre o boné. "Tudo certo?" Questionei.

"Quase." Respondeu entregando-me uma máscara cirúrgica branca.

Estranhei. No Japão era muito comum o uso de máscaras por causa das doenças respiratórias. E os famosos usam e abusam delas para se camuflar. Afinal, é tão normal, que ninguém estranha. Mas isso é no Japão. Na Ásia, em geral. Que eu saiba, nos Estados Unidos não há esse costume. Se virem alguém de máscara por lá, com certeza estranham e acham que a pessoa está doente. Para os famosos, ao invés de se camuflarem, chamariam ainda mais atenção.

E bom... Acho que depois de tantos anos na América, Gaara é mais americano do que japonês.

Como que se lesse meus pensamentos, ele disse: "Uma coisa boa do Japão, é que o uso dessas máscaras é normal. Facilita o disfarce."

Acenti enquanto colocava a máscara.

Gaara puxou o capuz de sua roupa, ajeitou sua máscara e colocou o óculos. "Vamos lá."

E nós saímos de seu carro em direção ao elevador.

Por debaixo da máscara eu sorri. Não consegui evitar o sentimento de que eu estava tão legal, no momento... Andando disfarçada ao lado de uma celebridade.

Ha!

Se me contassem, eu nunca acreditaria.

*

*

*

"Você já conhece meu apartamento." Gaara disse enquanto trancava a porta. "Fique à vontade."

Suspirei olhando o lugar. Tão impecavelmente luxuoso. Do jeito que eu lembrava.

"Agora fala... Pra quê você me trouxe aqui?" Perguntei, quando eu e Gaara terminamos de tirar o disfarce.

"Senta. Vamos conversar." O ruivo falou sério, conduzindo-me ao sofá. Ele sentou na mesa de centro, ficando bem a minha frente.

"Então?" Indaguei. Eu já estava curiosa. E nervosa. "Eu realmente não gosto de suspense. Fala logo."

Gaara retirou o celular do bolso e mexeu nele por alguns segundos. "Eu quero que você se escute."

Logo algumas notas familiares começaram a tocar. Olhei para ele assustada.

Não podia ser!

Quando a minha própria voz preencheu o ambiente eu tive certeza. "Você me gravou!" Falei indignada.

Gaara assentiu, pausando a gravação. "Você não faz ideia de quantas vezes eu já escutei isso aqui. É incrível!"

Respirei fundo algumas vezes, tentando me acalmar. "Apaga." Sibilei.

Gaara me ignorou. "Eu pesquisei cada verso na internet. Não encontrei nada. É original. Você compôs, não foi?"

"Gaara." Comecei. "Eu não vou entrar nesse assunto com você, novamente."

"Por quê? O que te incomoda tanto?" O ruivo se levantou. "Você tem talento, garota! Não desperdice!"

"O que você quer que eu faça?" Levantei irritada, encarando-o. "Olha pra mim, cara! Eu não sou como você! Não tenho chance nenhuma na música."

"Eu não vejo nada errado em você." Falou, sustentando meu olhar. "Tirando, claro, seu comportamento bipolar."

"Vai se foder." Falei, irritada. "Não devia ter vindo." Dirigi-me à porta.

Gaara segurou meu braço. "Eu não estou te pedindo pra subir num palco. Por agora, eu só quero que você assuma o que a música significa pra você. Eu posso te ajudar." O ruivo apontou para seu mini-estúdio incrível. "Você pode usá-lo se quiser. O da escola também. Pode fazer arranjos para sua música. Eu posso até te ensinar algumas coisas."

Pisquei surpresa. Aquilo era absolutamente tentador. Poder usar um estúdio era um sonho que eu nunca achei que pudesse realizar. E depois da morte do meu avô e do meu pai, achei que ninguém nunca mais fosse me ensinar nada relacionado à música.

E aqui estava esse cantor/compositor incrível na minha frente, oferecendo ajuda.
Cada parte do meu cérebro gritava para sair correndo dali.

Não o deixe se aproximar, Sakura.

Proteja-se, Sakura.

Fuja!

Afaste-o!

Ponha sua máscara!

Eu continuava dizendo coisas a mim mesma.

Eu continuava a me dizer para correr.

Mas, no meu coração, eu podia sentir a sinceridade daquele Demônio. Eu podia ver em seus olhos.

"Por quê?" Perguntei em um fio de voz. "Por que você quer me ajudar?"

"Porque você vale a pena." Gaara respondeu, usando sua sinceridade como uma arma para rachar minha barreira.

E havia conseguido.

A minha barreira, tão fortemente construída e escondida sob máscaras, havia rachado.

Talvez fosse por eu admirá-lo tanto. Por gostar tanto de sua música. Por ele ser tão estranhamente familiar.

Eu havia crescido assistindo-o e ouvindo suas músicas. Ele podia me conhecer há pouco tempo. Mas para mim, ele já fazia, indiretamente, parte da minha vida há tempos.

Ou talvez fosse porque eu estava cansada. Cansada de sempre me esconder. De sempre fingir. E, finalmente, havia alguém com quem eu não precisava fazer nada disso.

Gaara havia me visto chorar e me descontrolar tanto, em tão pouco tempo. E, principalmente, ele havia ouvido minha música.

Mesmo que fosse por acaso, ele havia visto o que eu não deixava ninguém ver. Ele sempre estava no lugar certo, na hora certa para me ver em situações que ninguém mais via.

Talvez fosse mesmo o acaso. Mas de todas as pessoas, havia sido Gaara.

E, oh, eu estava tão cansada.

E machucada.

Eu estava me destruindo aos poucos, podia sentir.

Se eu ao menos pudesse ser eu mesma com alguém, com apenas uma pessoa... Talvez eu ganhasse forças para seguir em frente.

Tudo em mim gritava para correr daquele apartamento. Daquele garoto.

Tudo exceto meu coração.

E pela primeira vez, eu deixei-o vencer minha mente gritante.

"É como eu disse..." Falei. "Está no inferno, abraça o capeta."


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Notas finais do capítulo

Postei uma Oneshot! Se quiserem ler...

https://fanfiction.com.br/historia/644062/Destrua-me/



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