“Cem, noventa e sete, noventa e quatro, noventa e um... Respira! Aguenta só mais um pouco. Na próxima estação você desce, é só aguentar até a próxima. Você não vai desmaiar. Respira!”

Você não escolhe sentir medo e não é tão simples fugir dele.

Não há um motivo para o descompassar das batidas do seu coração, mas ele treme diante de inúmeras situações. Quando pensa no hoje e quando pensa no amanhã, no trabalho ou em casa.

A paz não existe e você tenta buscá-la desesperadamente. Há pequenos momentos em que ela lhe abraça, nesses você esquece o sofrimento que é carregar um medo sem fundamento e uma ansiedade injustificada. Mas o abraço logo se afrouxa, na verdade é você que se solta dele alimentando o fantasma que lhe ronda.

Os lugares e as situações lhe devoram como fossem capazes disso. Os meios de transporte se transformam em prisões, as vozes gritam em seu ouvido. Tudo lhe tira do prumo. Os passos dados na sala parecem caminhar no seu coração, trepidam sua calma e sossego. Os barulhos da cozinha ensurdecem seu ouvido e a mistura dessas coisas tão simples o sufoca como se o oprimisse. Um inferno pessoal que se vive todos os dias, onde se luta diariamente.

Você não se lembra direito quando começou. Uns meses atrás quando era besteira crer na possibilidade, algum tempo depois de se perguntar “como alguém pode ter medo de sair de casa”? Parecia tão estúpido e sem sentido que julgava absurdo, e não mudou de ideia, continua achando absurdo e incompreensível. Mas é o que acontece, e você sabe o quão difícil é extinguir as sensações que se aglomeram em seu íntimo bagunçando sua ótica e sentidos.

Sabe que não pode compartilhar isto com qualquer pessoa porque já o fez e escutou com todas as palavras que “parasse de palhaçada”. Como se fosse sua escolha sentir medo, como se você se deliciasse com o pensamento de morte e a sensação de seu coração batendo tão forte que poderia rasgar seu peito. Como se não lutasse contra isso todos os dias a ponto de quase enlouquecer pela dificuldade de sair dessa prisão...

Você sabe que não é fraco. Nenhum fraco tem a coragem de admitir e enfrentar seus temores.