A tarde daquele dia foi perfeitamente normal. Tirando que, cada vez que Holly Jefferson, irmã da Carolyn, passava por mim, ela me dava um empurrão. Eu me segurei muito para não arremessar minha espada na cara dela.

Tive outras aulas além de esgrima e arco e flecha. Na corrida, eu não era tão ruim assim, mas também não era boa. As ninfas do bosque, que davam as aulas eram realmente muito rápidas. Harry me disse que deve ser porque elas passavam o tempo correndo dos sátiros que as perseguiam.

Quando fui treinar na parede de escalada com lava, escorreguei e quase caí. Se não fosse por Harry ter me segurado eu cairia na lava.

— Tome cuidado aí. — Ele sorriu enquanto me puxava de volta.

Na hora do jantar, me sentei na mesa de Zeus com Amy. Me servi de hambúrguer com batatas fritas e pedi um refrigerante.

— É ótimo não ter que comer sozinha todos os dias — disse Amy, com um sorrisinho no canto da boca. — Estava precisando mesmo de um novo irmão.

O que ela quis dizer com novo irmão? Será que o Chalé 1 tinha mais de dois campistas morando lá antes?

— Novo irmão? — perguntei.

— Ahn... — o olhar dela parecia distante. — Deixa pra lá.

Imediatamente descartei aquele pensamento, e quando eu estava prestes a comer, Amy me impediu.

— Não coma ainda!

— Mas por quê?

— Venha. — Amy chamou.— E pegue seu prato.

De repente, todos os campistas se levantaram com seus pratos em mãos. Segui Amy até uma espécie de churrasqueira de pedra.

— O que estamos fazendo? — perguntei. Os campistas estavam jogando parte de seus jantares no fogo e murmurando coisas.

— Estamos mandando oferendas aos deuses — disse minha irmã.— Geralmente, mandamos para nossos pais, sabe.

Ela jogou metade de seu prato cheio de coisas saudáveis nas chamas e fechou os olhos.

— Para Zeus — murmurou.

— Está certo — joguei um pouco das minhas batatas fritas no fogo.— Para Zeus. E... ahn, obrigada pelo presente.

Tudo correu bem durante uma semana. Eu frequentava todas as aulas disponíveis no acampamento, até mesmo as aulas que ensinam a plantar flores. Mas, na noite do meu 9º dia, tudo mudou.

Naquela noite, tive um sonho estranho.

Eu estava num parque. Havia um garoto de costas, ajoelhado com a cabeça baixa. Ele murmurava coisas para a terra. Ele parecia um garoto que fugiu de um manicômio, com seus cabelos loiros totalmente desarrumados, roupa imunda e rasgada.

Enquanto ele murmurava, a terra começou a vibrar de leve. Então ele começou a falar mais auto.

— Mais gente está se juntando à nossa causa. Logo seremos mais poderosos que os deuses. Logo iremos fazer o que não conseguiram da outra vez, o que Cronos não conseguiu fazer. Ó, Gaia, a deusa mais poderosa de todas, levante-se! Se livre do seu sono!

A terra ainda estava vibrando. Então, ela parou.

O garoto se levantou e murmurou:

— Sem sucesso. De novo.

Ele se virou para a minha direção.

— Ah, você está aí, irmãzinha! — disse ele. — Você e seus amiguinhos não vão conseguir me derrotar. Logo Gaia irá despertar e derrotar os deuses.

Ele começou a correr em minha direção com uma expressão de raiva no rosto. Tentei correr, mas era como se eu estivesse presa a alguma coisa. Quando ele estava prestes a me alcançar, meu sonho mudou.

Estava tudo muito escuro, estava tudo preto. Então minha visão se clareou um pouco. Deu pra ver, fracamente, uma garota ruiva adormecida em uma cadeira. Então, a boca dela se abriu. Névoa verde saiu de sua boca. E, uma voz assustadora ditou:

A filha dos céus deve liderar
Uma jornada cheia de empecilhos a lidar
Os filhos do Rei da Morte deverão impedir
Uma primeira vez, o meio-sangue traidor o Olimpo destruir
Depois de ser derrotado sua raiva irá liberar
E no final, apenas dois semideuses irão voltar.

Acordei suando. Estava quase sem ar.

— O que foi? — perguntou Amy.

— Tive um sonho muito estranho — respondi, ofegante.

— Me conte! — ela disse, se sentando ao meu lado no beliche.

Contei todo meu sonho a ela. Enquanto eu falava, ela não disse nada, ficou apenas parada me olhando, o que eu não conseguiria fazer com o meu TDAH.

— Você deveria contar tudo isso ao Quíron! — disse ela quando terminei de dizer.

Amy me acompanhou até a Casa Grande. Quando chegamos lá, bati na porta e quase imediatamente Quíron atendeu.

— O que fazem acordadas á essa hora? — perguntou.

— Chloe tem uma coisa a lhe falar, Quíron — disse Amy.— Ela teve um sonho.

Entramos, nos sentamos e contei meu sonho ao Quíron.

— Meio-sangue traidor... — ele e Amy se olharam. Olhei para Amy, ela tinha um olhar triste.— E quanto á garota ruiva que ditou a profecia, deve ser Rachel, nossa orácula. Ela não está aqui no momento. Você, Chloe, deverá liderar uma missão. Essa profecia fala sobre você, e, Filhos do Rei da Morte... devem ser filhos de Hades. A decisão vai ser sua, você escolhe seus parceiros.

Por um momento, só ouvimos o barulho das ondas do mar perto do acampamento. Quíron sequer tocou no assunto de que apenas dois de nós iria voltar.

— Mas, vamos discutir a missão amanhã, na reunião dos conselheiros — disse Quíron.— Agora, vão para os seus chalés e tentem dormir.

Dormir iria ser uma ação difícil.

A filha dos céus deve liderar dizia a profecia. Aquela devia ser eu. A profecia falava sobre um meio-sangue traidor. Pensei no garoto do meu sonho, ele havia me chamado de irmãzinha. Era estranha a sensação de ter uma missão para liderar. Era muita responsabilidade para uma garota que chegou no acampamento á dois dias. E ainda, um de nós iria ficar para trás, ou talvez, morrer.

Então, parei meu corpo e pensei Você tem que dormir, tem uma missão para completar. Depois de alguns segundos, finalmente consegui dormir.