Imutável escrita por Ane


Capítulo 1
E se?




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Faltavam apenas dois meses. Dois meses extremamente estressantes de provas e mais provas. De questões difíceis como “Você vai para a faculdade?” ou “Qual profissão você vai seguir?”. Ah... Definitivamente seriam meses irritantes, principalmente pelo fato de eu não ter a mínima noção de qual caminho seguir. E apesar de terem suas dúvidas, todos ao meu redor pareciam pelo menos ter interesse em algo. Enquanto eu não conseguia me encaixar e nem me empolgar com muita coisa. Minha cabeça vivia cheia de questões e dúvidas, como por exemplo, como que eu sairia da cidade sendo um Shinigami substituto de Karakura? Se eu fosse para a faculdade, o que eu estudaria? Vamos supor se eu me tornasse um médico, no meio de um plantão ou cirurgia aparece um hollow ou algo acontece na Soul Society, o que eu faria?
Eu teria que deixar de ser um Shinigami?
─Ah... Que irritante. ─ Pensei em voz alta.
─ O que? Eu?!
Keigo e eu estávamos voltando da escola. Ele não morava nada perto da minha casa, mas ele ia para um tipo de estágio que ficava no caminho. Sobre o meu trabalho, minha chefe havia me dado alguns dias de férias por causa das provas, ela era a que mais me enchia a paciência sobre todo esse negócio de faculdade.
─ Não... Relaxa, eu estava pensando em outra coisa.
─ Você nem tá prestando atenção no que eu tô falando né?
─ Eu tô sim... Era sobre...
─ Claro que não tá. Enfim, ─ Ele deu um longo suspiro antes de continuar ─ deixa pra lá.
─ Sobre... ─ Continuei insistindo ─ Como o pessoal da sala tá muito preocupado...?
─ Também... Deixa pra lá, eu já perdi o assunto mesmo.
─ Tá certo então.
─ O que você vai fazer nesse final de semana, Ichigo? A gente poderia marcar com o pessoal de sair e tal, se divertir.
─ Acho bem difícil alguém querer “perder tempo” se divertindo.
─ Argh... Era disso que eu estava falando...
Todos estavam bem tensos nos últimos dias. Inoue todos os dias, depois do trabalho de meio período, estudava com a Tatsuki, Ishida e Sado não pareciam se preocupar muito, porém acho que o Ishida não tem muita dificuldade nos estudos de qualquer forma.
─ O Mizuiro mal fala comigo... ─ Disse Keigo ─ Nessas horas esquecem até dos amigos...
─ Todos estão certos de se preocuparem com os estudos. Você também deveria se concentrar, sabia?
─ Ah fala sério Ichigo. Não quero ouvir isso de você, que vive faltando.
─ Ei! De qualquer forma, minhas notas estão melhorando!
─ Até quem sim... Levando em consideração que você voltou com aquele lance de Shinigami faz umas duas semanas.
Faziam duas semanas da última luta com o Ganju, quando Rukia e outros capitães e tenentes vieram à Karakura para lutar com os Fullbringers, quando eu recuperei meus poderes. Desde então, eu não tinha visto nem a Rukia, nem o Renji, ou qualquer outro Shinigami que estava naquele dia.
─ É... ─ Respondi vagamente.
─ Em falar nisso, que ingrata a Kuchiki-chan... Ela nem veio nos ver...
─ Ela agora é uma tenente, não pode mais ficar perdendo tempo aqui.
─ ... Sei ─ Ele começou a me encarar.
─ O que foi?
─ Essa sua cara ─ disse com uma risada.
─ Que cara?
─ A sua cara quando se toca no assunto “Rukia não está aqui”. ─ Ele começou a fazer umas caretas estranhas ─ Como se você estivesse se segurando para manter essa aparência de que não liga.
─ Deixa de ser idiota ─ Dei um tapa na parte de trás da sua nuca, o que fez ele desfazer a careta na mesma hora ─ Não tem nada de errado com a minha cara!
─ Aham...
─ Cala a boca!
Eu e Keigo andamos ainda por alguns minutos e então ele dobrou em uma rua e eu segui direto, faltavam ainda umas duas quadras para eu poder chegar em casa. Tentei não pensar em tudo aquilo de novo. Lutar com um hollow até que me distrairia, mas o capitão Ukitake havia mandado um Shinigami do 13º esquadrão para ficar em meu lugar no período de provas. Todo mundo ao meu redor parecia bem preocupado com isso, o que era extremamente irritante.
─ Cheguei...
Não havia ninguém em casa. Procurei em todos os cômodos, na clínica, mas nada. Quando eu estava começando a me preocupar, notei um bilhete em cima da mesa:
Nós fomos para o festival! Assim que chegar, corre logo pra lá!!!!!
P.S: Tem uma surpresa pra você.....hihihihihihi
Ass. O pai mais incrível de todos os tempos”
─ Ah droga, o maldito festival...
Yuu e meu pai estavam falando sobre esse festival por semanas, e eu de alguma forma consegui me esquecer. Karin com certeza teria ido forçada. Mas tudo bem, até que poderia ser uma boa oportunidade para desviar minha atenção.
Subi as escadas e fui para o meu quarto e, assim que cheguei, larguei a bolsa no chão e caí na cama. Minhas costas estavam um caco. Eu estava um caco. Naquele momento eu até cogitei passar a eternidade naquela cama. Mas eu tinha que tomar um banho, trocar de roupa, caminhar até esse tal festival, e passar uma meia hora procurando minha família... Eu não estava com saco nem para me levantar, imagina tudo isso. Sentei na cama e depois de um tempo resistindo para não me deitar novamente e dormir, acabei me levantando e fui até meu armário pegar uma roupa.
Porém eu acabei encontrando algo inesperado.
Rukia.
─ Aahh!! ─ Ela deu um grito que me fez recuar de susto ─ Seu... Seu idiota!! Você me aparece na hora que o monstro tá atrás da menina?! ─ Ela estava com um livro em uma das mãos e na outra uma lanterna. ─ Cadê a privacidade?
─ Rukia o que... O que diabos você tá fazendo aqui?! Você quase me mata de susto! Eu pensei que fosse um ladrão, eu quase te bati agora! E, privacidade? Esse armário é meu, sua idiota!
─ A partir do momento em que eu ponho os pés nessa casa ─ Ela apontou a lanterna na minha cara ─ Esse armário pertence a mim. ─ Ela dizia calmamente piscando aqueles grandes olhos pra mim.
─ Claro que não... ─ Encostei um dedo em sua testa ─ Como entrou aqui na forma humana?
─ Seu pai me deixou entrar... Sai da frente ─ Ela pulou para fora do armário com o livro na mão, deixando a lanterna ligada lá dentro ─ Ele me disse pra eu me esconder até você chegar, pra fazer uma surpresa e tal, mas aí eu comecei a ler esse livro e... Simplesmente me esqueci.
─ Ah tá, a tal “surpresa”...
─ Enfim Ichigo, muito legal esse livro... ─ Ela ficou revirando e folheando o livro ─ Oh... Você deveria ter devolvido esse livro pra biblioteca há algumas semanas atrás...
─ Você andou mexendo nas minhas coisas? Ah droga... Rukia, o que diabos você tá fazendo aqui?
─ O que foi? Quer que eu vá embora? Vai receber alguma namorada aqui? Nossa... O que 17 meses não fazem... Até namorada você arranjou.
─ O que?! Não... Quem foi que falou de namorada sua... Ah... É porque agora você é tenente e desde aquele dia você nem apareceu, sei lá, você deve ser muito ocupada agora.
A verdade é que eu tinha medo do “provavelmente”. Provavelmente muita coisa poderia ter mudado. Rukia provavelmente havia arranjado novos amigos, provavelmente supervisionando outros Shinigamis, provavelmente ocupada com outras milhares de coisas. Provavelmente não éramos mais como antes, tanto individualmente, como nossa relação.
─ Essas últimas semanas foram um pouco complicadas mesmo, ─ Ela se virou em direção à escrivaninha e sentou na cadeira à frente ─ mas eu soube que você estava em época de provas então achei que atrapalharia.
─ Ah droga, até você...
─ Mas enfim, por que eu estou aqui, não é? O capitão Ukitake me deu umas folgas e eu achei que deveria vir aqui, já que é final de semana e etc.
─ Folga?
─ Sim. E sabe de uma coisa? Lembra da última vez que eu estive aqui e você me levou para aquele lugar de patinação? Bem... Eu sempre pensei que se algum dia eu pudesse ter um tempo com você de novo, eu iria te retribuir o favor e te levar para algum lugar também, sabe, pra agradecer. ─ Ela dizia isso com um jeito meio envergonhado, com os braços cruzados ─ Então, já que agora eu tô de folga e você não tá estudando por pelo menos esses dois dias, eu pensei que eu poderia finalmente fazer isso, hein? O que você acha?
─ Por que você acha que me deve alguma coisa?
─ Sei lá, eu fiquei com isso na cabeça. Mas não é só por isso, a gente também precisa conversar, faz quase dois anos que a gente não se vê.
E eu temia isso.
Muitas coisas poderiam ter mudado.
─ E também, ─ Continuou ─ Você parece preocupado. Aconteceu alguma coisa? Deve ser todo esse estresse de escola não é? Com certeza, tem algo errado.
Parece que não.
Rukia tinha essa incrível capacidade de conseguir me ler ou saber o que eu estava sentindo ou pensando só de me olhar. E pelo visto o tempo não prejudicou essa sua habilidade.
─ Como você faz isso? ─ Perguntei com uma expressão séria depois de encará-la por alguns segundos.
─ Faz o que? ─ Ela franziu a testa demonstrando estar confusa ─ Eu não fiz nada.
─ Ah... ─ Dei um longo suspiro e então me aproximei dela.
─ O que foi?
Dei um peteleco na sua testa e deixei escapar um sorriso, logo em seguida fui em direção à cama novamente e me deitei.
─ Por que diabos você fez isso?
─ Shiu... Eu vou dormir.
─ Mas e então?
─ Então o que?
─ O nosso “grande passeio”.
─ Tá.
─Tá o que?
─ Tá... ─ Apoiei um dos braços nos meus olhos para bloquear a luz ─ Agora me deixa cochilar por um tempo aqui.
─ E o festival? Seu pai me disse que estaria nos esperando lá assim que você chegasse.
─ Não vou.
─ Por que não?
─ Não quero.
─ Ichigo... ─ Ela falou em um tom repreensivo ─ Nós deveríamos ir. Sua família está nos esperando lá.
─ Hum...
─ Se você não vai então eu acho melhor eu ir, pelo menos...
─ Não, você fica aí.
─ Por quê?
─ Porque sim... Porque... Você tem um livro pra terminar! Agora me deixa dormir.
Tudo permaneceu em silêncio por algum tempo, então finalmente tudo estava como era antes. Eu estava cansado, mas não queria dormir. Queria apenas ouvir a Rukia passando as páginas do livro e as expressões de surpresa ou agitação que ela soltava em alguns momentos. Era incrivelmente bom tê-la por perto, por mais que eu não deixasse isso bem claro.
─ Ichigo...
─ O que foi?
─ Essa cadeira tá me deixando com dor nas costas...
─ Deita aqui ent-
Antes que eu pudesse completar a frase eu fui surpreendido por uma pancada na barriga, provavelmente com um livro.
─ Ai! ─ Eu não pude deixar de rir ao ver a cara dela ─ Você nem me deixou completar a frase!
─ Você realmente... ─ Ela mantinha uma expressão irritada, mas ao mesmo tempo envergonhada ─ Vou manter distância de você, sabe-se lá em que tipo de pervertido você se transformou nesse último ano... ─ Ela pegou o livro que havia jogado em mim segundos atrás e foi pra dentro do armário resmungando alguma coisa.
─ Por que você ficou tão irritada? ─ Eu continuava rindo, mas a dor da pancada começava a aparecer ─ Ai... Isso doeu sua idiota!
─ Cala a boca!
E então eu finalmente havia me esquecido por um momento dos meus problemas.
E eu continuava rindo.
Como nos velhos tempos.


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